IX – ‘’Se um mago chi manter contato com algum mago desertor, pode ser acusado por traição.’’

Li se encontrava em sua cama dormindo, enfaixada onde estava ferido. Seu tio entrou em seu quarto com um prato de sopa nas mãos. Sentou ao seu lado deu um cutucão para acordá-la.

- Hm...que horas são? – resmungou ela.

- Nove e alguma coisa...

- Que?! Nove horas?! Escola! Eu tenho que... – ela ia se levantar, mas seu tio a impediu.

- Ora, sossegue! Alem do mais, não adianta você chegar atrasada na aula!

- Mas o mal não descansa então eu não devo descansar!

- A escola não é o mal!

- Você que pensa...

- Li, você gastou muito chi e está muito fraca! Por isso fiz uma sopa pra você recuperar as forças!

- Ah, eu não quero comer sopa de mato! – disse ela com uma cara amarrada ao olhar o prato.

- Não é mato, é espinafre! Essa é a minha super canja de galinha do tio Li!

- Aquela que dá diarréia?

- Não faça manha, afinal você precisa desses nutrientes!...e fortalecer esse seu estômago fresco!

- Tá, isso não pode ser pior do que ontem...

- Ainda se lamentando sobre o que aconteceu?

- Tio, tenho que, contar uma coisa: Quando eu estava lutando contra Ichirou, foi um garoto que me ajudou a derrota-lo.

- Que garoto?

- Um ninja chamado Kenji. Ele soube sobre os magos chi porque Ichirou ficou falando...

- Ai, não consegue fazer nada direito...- disse ele meio desapontado, mas nada surpreso.

- Eu sinto muito...

Um silêncio pairou no lugar.

- Tio, acha que eu fiz a escolha certa?

- Hm?

- Acho que não nasci pra ser maga chi. Não sou forte, estrago tudo, sou azarada...

- Li, do fundo do seu coração, o que você quer fazer?

- Eu queria ser a maior maga chi que já existiu!

- ‘’Queria’’?

- Eu quero mas...como eu poderia?

- Eu me lembro do dia em que você chegou pra mim com a cara vermelha de raiva, reclamando de um tal Wong. Desde então, você vem querendo derrotá-lo. Mas Li, você quer ser maga chi por você o pelo Wong?

- Por mim é claro! E pela família Li!

- Então você fez a escolha certa...

Li fica um pouco surpresa, e dá um leve sorriso ao ouvir o incentivo.

- E se você manter isso na sua cabeça, não vai mais se perder na indecisão.

- Valeu tio... Mas o que eu faço agora?

- Sobre Ichirou ou Kenji?

- Hm, os dois...

- Já informei ao conselho chi sobre a ameaça que Ichirou representa. Quanto a este Kenji, fica a seu critério.

- Como assim meu critério?

- Descubra se ele é, ou pode vir a ser uma ameaça, então tome as providências necessárias.

- Tio assim, apagar a memória dele?

- Você ainda não tem habilidade pra isso. Se algo der errado, você pode fazer um estrago na cuca do garoto.

- Então quer que eu faça o que?

- Use a sua imaginação!

- Hunf, entendi...

O tio então se levantou, e pegando o prato vazio, se dirigiu até a porta.

- Tio, não importam as minhas condições, amanhã eu vou pra escola!

- Você que sabe...

Após o tio sair do quarto, Li voltou a se acomodar em sua cama. Algum tempo pensando enquanto olhava para o teto, notou que um corvo havia pousado em sua janela. Ela o observava e achou estranho ele permanecer ali, então, tentando fazer pouco esforço, se levantou e foi até a janela. Ao se aproximar, ele deu um piado e voou pra fora, pousando no ombro de um rapaz que passava pela rua. Ela não pôde ver seu rosto devido ao chapéu chinês que ele usava.

No andar de baixo, o tio ouvir um bater na porta, e ao abrir, se deparou com o mesmo garoto de chapéu chinês. Ele tinha um cabelo até o pescoço preto, usava uma roupa vermelha com detalhes amarelos, sandalhas igualmente vermelhas mesmo que velhas, e um short alaranjado.

- Hunf, até que foi rápido! Espere aqui e não toque em nada...- disse o tio, enquanto saia da sala.

Li desceu as escadas e viu o garoto lá em pé observando a casa. Ela viu que ele tinha olhos vermelhos rubi, quando este tirou seu chapéu.

- Quem é você?

- Ah, me chamo Chang Huang. Mensageiro do conselho chi.

- Conselho chi? Os  chefões? Essa não, me ferrei! O que foi que eu fiz??

- Hã, sei lá...só vim aqui pegar alguma coisa..

- Li, você não deveria se levantar! – disse o tio ao entrar na sala com as peças em mãos.

- Eu queria saber o que estava acontecendo aqui...

- Aff, não tem jeito...aproveite que está aqui e descreva como era o garoto que te atacou!

- Hã, ele tinha cabelo preto e desarrumado, olhos verdes, usava uma roupa de tom vermelho ferrugem, braceletes de cor igual, uma capa esverdeada, acho que ele usava coturno.

- Só isso?...não tem mais nenhum detalhe tipo, a cor da cueca dele? – brincou Chang

- Não!... – respondeu ela encarada

- Pois bem, pode assinar isso senhor Li

- Ai, quanta burocracia!..

- Nem tanto, olha que eu acabo de chegar da Europa e já tive que vir pra cá!

- E quem se importa com isso?! – exclamou o tio, saído da sala.

- É, quem se importa com mensageiros??... resmungou ele com uma cara abatida.

Li olhava o rapaz e sentiu um pouco de pena ao vê-lo sendo esculachado pelo seu tio.

- Aí, gostaria de comer algo antes de partir?

- Hm? Ah, sim, seria ótimo! – disse ele com olhos brilhando, enquanto a seguia até a cozinha.

- Vejamos, deve ter sobrado algum bolinho de peixe...olha não ligue pro meu tio, ele é assim mesmo...

- Ah, tudo bem, já ouvi coisa pior...

- Aqui olha, experimenta!

- Hm, hmmmmmmmm são deliciosos!

- Obrigada, sou eu quem faz!

- Parabéns! Tem uma ótima mão!

- Pelo menos algo que faça direito...aí, qual é a do seu pássaro?

- É o meu corvo de estimação, o nome dele é Bu-gu!

- Bu-gu? ‘’o passarinho cuco’’?

- É, eu estava sem inspiração pra nomes no momento...

- Que coisa incomum, criar um corvo...

- Eu sei, geralmente mensageiros tem um falcão para ajudá-los nas entregas...mas eu tenho um corvo!

- Deve ser complicado...

- Era difícil no começo... eu vivia com marcas de cocô de corvo na minha roupa.

Ele deu uma risadinha, enquanto Li, com uma cara de gota, apenas sorriu.

- Mas e você, o que houve? Tá parecendo uma múmia...

- Nada demais, apenas me feri em combate.

- Ah sim, vocês magos se arriscam em missões, nós apenas enviamos recados...deve ser difícil pra você...

- Como é?...

- Nada não, só estava pensando alto.

- Sei...- disse ela meio desconfiada.

- Olha, o rango tava bom, mas eu preciso ir!

- Tudo bem, eu te acompanho até a porta.

- Não tudo bem, não se incomode..

- Estou ferida, não inválida! Posso muito bem andar até a porta! – Li anda caminha bruscamente até a porta, com passos firmes.

- Viu...

- N-não é isso que está pensando...não precisava se, ah deixa pra lá!

Chang sai da casa enquanto Li fechava a porta, o tio aparece encostado na porta próxima à escada.

- Tio, eu tenho um pedido a fazer...

- Que foi?

- Eu quero ficar mais forte, e gostaria que você me treinasse pra isso.

- Eu sempre a treinei.

- Sempre tive ensinamentos para um aprendiz. Agora quero ser treinada para ser uma vencedora!

O tio observou o olhar decidido da sobrinha por alguns instantes.

- Ok, depois que você se recuperar totalmente, a brincadeira vai acabar.