XII – ‘’ A recusa de uma ordem do conselho chi é uma falta grave, e em o fizer, pode ser afastado por tempo indeterminado.’’

Wong já havia retornado do deserto. O conselho foi avisado sobre o pergaminho, e logo a noticia se chegou aos magos. Chang Huang, que foi à casa dos Li uma vez, voltou para lhe dar a noticio sobre o sumiço do pergaminho.

- Bom dia senhor Li...Li-chan... Uia que confusão está lá no conselho!

- Ai ai, o que veio fazer aqui afinal?

- Mensagem urgente do conselho para todos os magos chi! – ele lhe entrega um pergaminho.

- Do que se trata? – perguntou Li.

- Ah, um bafafá que deu lá no conselho...E pensar que nos pobres mensageiros temos que rodar o mundo para dar esta mensagem....Bem, eu preciso ir, afinal, tenho uma longa jornada.

- O que aconteceu tio?

- Hm, o Shan Hai Jing foi posto em circulação em nosso mundo.

- O Shan Hai Jing?! Isso é mau!

- ‘’ Todos os magos chi devem ficar atentos ao seu paradeiro’’.

- Nossa, não acredito! – exclamou ela ao ler a mensagem – Wong que foi atrás dele! Há, ele é um idiota! Se ferrou! Não conseguiu nem cumprir uma simples tarefa dessas! – festejou ela.

O tio dá um peteleco na sua testa.

- Li, isso não foi uma tarefa simples!!

- Hã, por que não?

- Você sabe como coisas mágicas vêm parar no nosso mundo?

- Hm...não...

- Elas são roubadas pelos Renegados.

- Quem são esses?

- Eles, um dia foram magos chi comuns, mas quebraram tantas regras, que acabaram banidos. Mas ao invés de aceitarem o banimento, continuaram suas praticas.

- Hã...sério é... – disse ela totalmente sem graça.

- Vários deles são praticantes das artes das trevas...entre outras coisas...Tudo que eles querem é poder, e não se importam com as conseqüências para consegui-lo.

- Puxa mas...eles são assim tão fortes?

- Todo o que nós pegamos é guardado em uma sala especial no conselho. E sua importância é tanta, que esta sala á guardada por um descendente de dragão Um tal de...Futs-Long...um dos mais poderosos que existem. Por isso não é qualquer um que consegue entrar naquela sala, ainda mais sair vivo.

- Nossa...mas o wong sendo tão ‘’poderoso’’ deveria ter êxito na missão!

- Ai, não comece...

- Mas é verdade! A propósito, quando começa o meu treinamento sério tio?

- Ai ai, quanta impaciência! Tem certeza de que você agüenta?

- Claro! Eu já estou bem melhor!

- Ok, vamos aproveitar esse fim de semana, e partir para China.

- *Esse fim de...semana?..*. – pensou Li, afinal, ela sabia bem o que tinha de especial nesses dias.

Naquela mesma madrugada de sexta-feira, Li e seu tio arrumaram as malas e partiram para Hong Kong. O tio ainda teve o capricho de proteger a loja com um feitiço mágico.

Ao chegarem lá, pararam no caminho numa floricultura, a fim de comprar flores para o túmulo dos pais de Li. Naquele sábado seria o aniversário de óbito deles, e todo ano, eles iam lá, para prestar suas homenagens. Estavam diante dos túmulos, ajoelhados de mãos justapostas.

Depois de um tempo em silencio, o tio se levantou e, do bolso, tirou uma nota de dinheiro, e com o isqueiro, a queimou.

Li olhou para seu tio um pouco confusa, e então falou:

- Hã, tio...a nota falsa estava comigo....

O tio esbugalhou os olhos ao ouvir aquilo, e deu um grito de indignação um pouco comprimido.

Após o tio ter literalmente ‘’torrado uma grana’’, partiram de Hong Kong com destino ao deserto de Gobi. O mesmo em que Wong estivera antes.

Um longo tempo caminhando, pararam em um lugar qualquer, onde Li desfazia as malas, enquanto o tio fazia uma inscrição na areia.

- O que exatamente pretende fazer tio?

- Uma simulação onde se corre um perigo real.

- Se corre um perigo real, então não é uma simulação...

- Não discute a sabedoria do tio!

- Tá, tá...mas o que é isso exatamente?

- Estou abrindo o portal do mundo dos Gaki.

- O mundo dos Gaki? Mas isso fica no mundo das trevas! Isso não é proibido?

- As regras dizem que não se pode praticar magia negra, mas para abrir um portal, mesmo um do mundo das trevas, usa-se magia normal!

- *Nossa, uma brecha nas regras...não sabia que o tio era tão sabido...* - pensou Li, um pouco impressionada.

- Li, você sabe o que é um Gaki?

- Claro que sei! São demônios comedores de carne humana!

- Bom, eles não são exatamente demônios, mas enfim... antes de abrir o portal, vou lhe explicar o que deve fazer, portanto preste atenção!

- Tá!

- Quando o portal abrir, dele sairá um gaki, e você deve derrotá-lo. Você sabe como se derrota um gaki?

- Eu, hã....nunca enfrentei um antes....

- Pois bem, eles são facilmente derrotados com magia mais pura que existe, o chamado fogo branco!

- Fogo branco? Não tem outro jeito?

- Ter, até tem! Mas se você usar magia comum em um gaki, vai se desgastar demais até ele sofrer algum dano.

- Mas, pra se fazer o fogo branco, é necessário limpar todas as impurezas da mente. Eu não sei se consigo...

- Relaxe, você vai ter muito tempo pra se concentrar. Não é eu abrir o portal, que vai pular uma renca de gakis.

- Por isso viemos pra cá?

- Sim, aqui ninguém vai nos ver, ou correr riscos.

- Da próxima vez que pensar nisso, dá pra escolher um lugar um pouco mais frio?

- Ai, ai! Tá pensando que o tio é rico pra ficar viajando por aí?

- Ai, tá bom...mas, eu só uso magia branca no gaki e pronto?

- Você vai precisar se esforçar um pouco mais do que isso. Não é qualquer chaminha que vai derrota-lo. A família Hotaru por exemplo, é conhecida no conselho chi, por ser uma grande fornecedora de armas para derrotar seres das trevas. Uma arma mágica contra um gaki, é muito eficiente.

- Que tipo de armas?

- Isso não é importante! Mais uma coisa: ao derrota-lo, você mesma vai fechar o portal.

- O que?? – questionou ela, um pouco surpresa.

- Eu te ensinei a fazer isso certo?

- S-sim, mas...

- O portal do mundo das trevas, é como uma fenda. Quanto mais tempo aberta, maior vai ficar, e mais difícil de fechá-la.

- M-mas, mas...

- Na se preocupe com o tempo. A fenda demora bastante para se abrir.

- E-eu não sei se consigo...

- Ora, seja mais segura de si mesma Li! Você é um homem ou um rato?

- Hã...nenhum dos dois...

- Quero dizer...você é um homem ou é covarde?

- Nenhum dos dois! – disse ela com um tom confiante, entendendo o que ele quis dizer.

- Pois bem, eu vou abrir o portal. Você está pronta?

- Estou!

Ele confirmou com a cabeça. Se aproximou da inscrição e com um movimento das mãos, lançou um feitiço, pronunciando algumas em chinês, que fez o selo brilhar e abrir um fenda no ar, onde se podia ver uma paisagem densa e sombria do outro lado.

O tio se afastou da fenda, passou pela sua sobrinha, e se afastou um pouco mais, se aproximando de um rochedo.

- Mais uma coisa: estou aqui apenas para observar. Ou melhor, eu nem estou aqui! Vai ter que fazer tudo sozinha!

Ela olhou um pouco apreensiva para seu tio. Depois, apenas voltou seus olhos para a fenda, esperando o que havia por vir.