O amanhã não vai vir, aproveite o hoje, faça hoje, diga hoje. Pois, amanha é tarde... Tarde de mais.

Uchiha Itachi, um homem de vinte e nove anos, sem família e sem amigos. Vive sua vida desprezando tudo e todos, passa seus dias trabalhando e suas noites bebendo. Um homem sem nada a perder, a não ser a própria vida, coisa que nunca teve grande ou mesmo nenhum valor.

Itachi poderia ser mais um solitário como muitos outros. Mas, algo muito especial o tornava especial... Muito especial.

Ele tinha o dom de conseguir ver o futuro, todas as manhas ele via o seu próximo dia, poderia haver vida mais enfadonha do que uma em que já se sabe o próximo dia? Não, sem duvida que não.

Mas, nesta manhã... Algo foi diferente das outras. O lobo solitário não teve visão alguma, nada... Seu próximo dia simplesmente não existia. O que poderia isso querer dizer?

Itachi sabia o que isso significava.

O amanha não chegaria, não para ele.

- Então é assim... – O moreno de longos e negros cabelos murmurou sentado na cama. – Hoje é o fim? – Questionou sem vontade, como se esperasse uma resposta. – Que seja então. – Completou com um leve sorriso, quando não se tem nada a perder, a morte não parece tão ruim assim.

Sem animo se levantou e tomou seu duche como nos outros dias, talvez se sua vida fosse diferente neste momento estaria chorando pelos cantos se lamentando por saber que era o fim, ou correndo para se despedir dos entes queridos. Mas no seu caso... Era apenas mais um dia.

Era o ultimo? Sim. E depois? Para alguém como ele, viver era apenas uma obrigação. Não uma benção.  Se este era o fim, o iria viver como outro dia qualquer, apenas com uma leve mudança. O viveria com um sorriso no rosto. Afinal, nada mais doce que o fim.

Após fazer a higiene matinal e colocar alguma coisa no estomago, o Uchiha vestiu algo confortável e saiu para dar um passeio. Um último passeio.

Itachi caminhava por um jardim cheio de pessoas, famílias e crianças. Por ser sábado muitas famílias aproveitavam o inicio de dia para passear. Vários risos e carinhos eram tudo o que os olhos negros do moreno viam em seu redor, alem de muito amor.

- Tolos. – Murmurou seco. Para Itachi o amor sempre foi um sentimento falso e desnecessário. Afinal que credibilidade há num sentimento que se pode transformar em ódio num segundo.

Nenhuma. Essa era a resposta.

Durante mais alguns minutos caminhou lentamente observando tudo em seu redor, não que fosse sentir saudades. Apenas queria se lembrar de alguma coisa boa na hora que seus olhos se fechassem, e nada melhor que visualizar um jardim florido recheado de tolos, tolos que não sabem como viver a vida.

E ele sabia?

Não.

Mas isso ele já sabia há imenso tempo... Desde que se deixou ficar sem ninguém. Mas isso era algo que não queria lembrar no seu ultimo dia. No inferno teria tempo de sobra para recordar tudo.

Por fim farto de estar naquele lugar, seguiu caminho para um pequeno bar. Uma dose de álcool agora caia bem.

O primeiro estabelecimento que encontrou foi onde adentrou. Era um lugar pequeno apenas com três ou quatro mesas. Apenas uma estava ocupada, e nela permanecia sentada uma jovem de longos cabelos negros como breu e uma áurea sombria. Atrás do pequeno balcão esperava um homem de idade e longos cabelos brancos.

Itachi não se lembrava de nunca ter estado nesse sitio, alias nem se lembrava desse lugar existir aqui ontem. Provavelmente andava distraído...

- Um Gin Tonico, por favor. – Pediu com um leve sorriso, sorriso que o acompanharia hoje.

Em poucos segundos um copo alto recheado de bastante gelo foi colocado em cima do balcão. Com um agradecimento mudo, Itachi bebeu tudo num só gole sentindo a garganta queimar e o estomago apertar. Essa por essa sensação que ele procurava sempre que bebia.

- Outro. – Pediu batendo o copo no balcão.

O velho home franziu a testa pela falta de modos do rapaz, e voltou a encher o copo. Que foi esvaziado em segundos.

- Enche essa porra. – O moreno voltou a pedir batendo novamente o copo no balcão.

A misteriosa jovem que estava sentada numa das poucas mesas observava o moreno, o observava com gosto e vontade. Com um leve e arrepiante sorriso a mulher levantou e caminhou imponentemente até Itachi se colocando ao lado dele no balcão.

- Isso ainda te vai matar. – A mulher segredou sensualmente apontando para o copo.

Itachi olhou de relance e rolou os olhos descontente.

- Duvido... – Foi tudo o que o moreno silibou não dando atenção á mulher ao seu lado, e logo estava bebendo mais um copo num só gole.

A deslumbrante e misteriosa mulher sorriu de canto fazendo Itachi e o homem atrás do balcão arrepiarem, aquele sorriso era sinistro e com um toque de beleza.

- Depois não diga que não avisei. – A mulher murmurou sorridente ainda com aquele riso de perfurar a alma e acariciar as entranhas. – Te vejo mais tarde. – Disse ocultando o sorriso e da mesma forma deslumbrante com que se aproximou também se foi. Ficando o moreno totalmente sozinho com o velhote.

- Mais um. – Disse engolindo em seco. Definitivamente algo naquela mulher o tinha arrepiado. Tão estranha e misteriosa ao mesmo tempo em que de uma forma sobrenatural totalmente linda.

Itachi bebeu novamente tudo num só gole e pagou a conta, deixando uma boa nota de gorjeta. Afinal no inferno não se deve usar dinheiro.

A pouco e pouco o dia se foi passando e a noite chegando, nunca a noite fora tão desejada como naquele dia.

Itachi já estava em casa, comia uma pequena fatia de pizza de queijo e presunto sentando no sofá vermelho da sala. A hora estava próxima, ele sabia que sim.

Após terminar sua leve refeição o Uchiha tomou um duche e vestiu sua melhor roupa. A mesma roupa que usou no funeral de seus familiares a roupa que usou no dia em que sua vida deixou de valer a pena.

Terminando de se certificar que estava apresentável para agradar as almas do inferno, o moreno pegou o primeiro livro que viu na frente, apagou as luzes por onde ia passando deixando somente a da sala ligada. Deitou-se no sofá e abriu o livro começando a ler sem muito gosto o conteúdo, estava lendo só por ler. Assim chegaria mais rápido o seu trem.

Num certo momento da vida, não é a esperança a última a morrer, mas a morte é a última esperança.

Itachi bufou lendo aquela frase no livro. Como a porcaria de um livro á anos poderia saber tão bem o que ele estava sentindo.

Decidido a não ler mais nada sobre a sua vida no livro, o fechou e jogou-o no chão. Colocou os braços atrás da cabeça servindo de apoio. Suspirou profundamente e fechou os olhos vendo as pessoas que já perdeu passarem na sua frente a sorrir.

Talvez estivessem a sorrir pelo breve encontro que estava prestes a suceder.

O moreno respirou profundamente como se fosse a ultima vez que faria aquele movimento. Sorriu mesmo com os olhos fechados. Nunca a morte lhe pareceu tão agradável.

Com o sorriso nos lábios o corpo de Itachi foi relaxando, ficando leve como que se pudesse flutuar. Todas as dores e horrores sumiam como que magia. Tudo começava a parecer tão tranquilo e agradável.

- É o fim. – Sussurrou com uma ultima réstia de força antes de perder totalmente seu corpo e sua alma ser levada para outro lugar.

Um lugar onde já não sofreria mais, não mais.

Lentamente Itachi abriu os olhos. Tudo estava escuro. Não se via um palmo na frente. Apenas se sentia uma corrente de ar arrepiante e ao mesmo tempo gostosa. No ar era palpável uma áurea misteriosa e horripilante.

- Eu disse que aquilo ainda te mataria. – Uma voz sussurrante e reconhecida pelo moreno se fez ouvir num eco profundo.

Itachi sorri, o que a mulher do bar estava ali fazendo?

A escuridão deu lugar á luz. Deixando assim o Uchiha contemplar um mar de nada. Aquele lugar era como uma nuvem. Nada em volta, nada no chão, nada de nada. Apenas a sensação de flutuar e a mulher... Aquela mulher ao seu lado.

- Ficou com medo? – A misteriosa mulher questionou mostrando aquele sorriso arrepiante, que de alguma forma já não parecia tão medonho.

Itachi sorriu com vontade. Pela primeira vez em muitos anos, pela primeira vez desde que morrera. E com serenidade respondeu se aproximando mais e mais da mulher, da misteriosa mulher que todos temem.

- A morte parece menos terrível quando se está cansado.

Fim.