Se sentia algo por Chester? Não, não sentia, e disso eu tinha certeza. Tentei agarrar-me à hipótese de ele estar apenas a gozar comigo para ver como reagia; era a única explicação possível.

Entrei em casa e vi malas junto à porta, assim como um casaco em cima do sofá da sala. Ergui o sobrolho, confusa, até porque sabia de quem eram as coisas que estavam espalhadas pelo chão, indicando a partida de alguém.

– Jared? – Chamei assim que ouvi movimento dentro da cozinha de Ceci. Notei a falta do casaco dela no bengaleiro e imaginei que tivesse saído para tratar de algum assunto.

Jared ouviu a minha voz e saiu calmamente da cozinha, caminhando até mim com uma expressão que não conseguia decifrar. Permaneci junto ao sofá, olhando-o confusa.

– Vais-te embora? – Não esperava uma resposta, pois sabia qual era.

Ele suspirou.

– Desculpa, Ari, mas eu tenho de voltar para casa. A minha família está à minha espera, e eu tenho saudades deles. – A sua voz estava calma e inexpressiva, como se estivesse a falar com um completo estranho.

Sentia-me magoada; sabia que era ingénua, sabia também que não era uma modelo como a mulher dele nem tinha metade do que ela lhe oferecia. Ainda assim, ele não tinha o direito de gozar com a minha cara.

– Estás agora a aperceber-te disso? – Acusei. – Tu estiveste comigo, disseste todas aquelas coisas, e agora vens com essa calma toda?! Bem, querido Jared, podes ir para o Inferno porque é lá que mereces estar!

Não costumava ser assim nem sentir-me assim, mas se havia pessoa que conseguia tocar-me nos pontos fracos era ele. Podia ser muito mariquinhas e tudo o mais, mas quando me magoavam, eu conseguia mudar totalmente.

– Não sejas assim Arianna! Sempre soubeste que eu tinha família e eu iria voltar, cedo ou tarde! – Vestiu o casaco sem sequer falar isto olhando na minha cara. – Se eu vou para o inferno, para onde achas tu que vais, quando dormiste com homens casados?!

Ia responder, mas não tinha voz para isso. Ele tinha razão, eu era má pessoa por ter feito aquilo que fizera, e acabaria por ir para o Inferno por isso.

– Bem me parecia que tinha razão. – Acabou por dizer Jared, pegando nas malas e saindo sem dizer mais nada, nem um adeus.

Fiquei a vê-lo pegas em todas as suas coisas e sair, sem saber se queria chorar ou apenas esmurrar a parede que estava ao meu lado. Atirei as chaves de casa para a taça que estava na mesa da entrada e fui até ao quarto.

Por mais que fosse estranho, eu permanecia calma. Tirei os lençóis da cama onde tínhamos dormido nos últimos dias e coloquei novos, com o cheiro a lavanda do meu detergente favorito. Peguei nos que estavam na cama anteriormente e fui queimá-los na varanda, dentro de um caixote de metal.

**

– Arianna? – Ceci chamou-me e eu ergui a cabeça da almofada, com os olhos semicerrados. – O que se passou? Vi uns lençóis queimados num caixote e tens papéis de desistência da Universidade espalhados na mesa.

Bocejei e suspirei depois, sentando-me no colchão e batendo no espaço à minha frente, para que se sentasse lá. Ela assim fez e eu esfreguei os olhos para os abrir. Depois, contei-lhe da partida de Jared e como isso tinha mudado a minha perspectiva em relação a várias coisas na minha vida.

– E pronto, basicamente, cansei-me de tentar fazer o acertado. Quero seguir o que mais amo, em vez do que será melhor em questões de emprego, quero encontrar alguém que goste mesmo de mim e quero esmurrar o Jared! – Falei levada pela raiva e a Ceci não conseguiu evitar rir-se.

Sabia que se existia pessoa que entendia o que tinha acabado de dizer, era ela.

– Bem, eu concordo! Finalmente, vais fazer o que queres! Mas sabes que a transferência pode demorar, certo? – Perguntou-me, entusiasmada com a minha decisão

Eu sorri e abracei-a com força.

– Sim, por isso é que vou passar uns dias a casa do Brian. Ele convidou-me, depois de eu ligar a todos à procura do Johnny para conversar, e pareceu-me boa ideia. – Apontei para as malas.

– Oh, menina viajada! Boa ideia, acho que fazes bem. – Sorriu-me.

Após terminarmos a conversa e eu lhe contar que partiria dali a umas horas, fui arranjar-me para depois ir até ao aeroporto. Custava a acreditar que em tão pouco tempo me tinha tornado uma pessoa diferente. Não acreditava que fosse uma má mudança, mas sim uma boa mudança.

Era inconstante, e muitas vezes isso fazia-me pensar que era má pessoa. Agora, tinha começado a tentar mudar isso e esperava que fosse resolver o assunto.

**

Era já de noite quando cheguei ao aeroporto perto de Huntington Beach. Não se viam lá muitas pessoas, e eu deduzi que Brian já estaria ferrado ou até mesmo bêbedo demais para me vir buscar. Não tinha medo de apanhar um táxi, mas ia matá-lo no dia seguinte.

Procurei-o vagamente com o olhar e não o encontrei, desistindo rapidamente de o encontrar. Ia a caminhar até à saída quando alguém me parou, visto que parecia um armário.

– Tens-me em muito pouca consideração. – Exclamou fingindo-se ofendido comigo.