O sangue escorria. Miku acordou gritando.

Ela respirou fundo algumas vezes olhando seu quarto. Seu coração batia acelerado.

“Não!” – pensava.

Ela tirou, arrancou praticamente, as cobertas e desceu as escadas de sua casa de pijamas de alho-poro.

Miku bateu na porta dos pais algumas vezes, suspirando ao ouvir a voz embargada dos dois.

– Já é meio dia? – perguntaram.

A garota deslizou até o chão, abraçando os joelhos.

“Que pesadelo horrível!”

Ela respirou fundo mais algumas vezes e se levantou, voltando para seu quarto. Miku se lavou, se trocou, penteando, por fim, seus lindos cabelos verdes.

No espelho a aparência de uma menina assustada pairava.

Ela desviou os pensamentos. Mudar de cidade não seria tão mau, afinal.

Miku terminou de se arrumar e desceu novamente as escadas. Seus pais a aguardavam no café, todos vestidos como empresários. Porque, obviamente, eles eram empresários.

A menina se serviu de torradas e chá, sendo a todo instante, observada pelos pais.

– Então, o que você vai fazer hoje? – perguntou sua mãe, que tinha os cabelos da cor e do comprimento da filha.

– Hum... Acho que eu vou respirar – falou Miku.

Seu pai se engasgou com seu croissant.

– Miku Hatsune! Como se atreve? – perguntou sua mãe, dando lhe um olhar mortífero.

“Me atrevendo” – pensou, porém nada disse. Como ela estava estranha hoje! Nunca dera uma resposta tão obvia para sua mãe como aquela.

Certamente que a senhora Hatsune estava decepcionada.

– Desculpe mamãe. – disse.

Sua mãe fingiu que não ouviu. Miku respirou fundo. Seria um dia daqueles.

Miku terminou seu café da manhã, dando um beijo nos pais, e sai apressada. Não podia chegar atrasada!

Ela caminhou pela rua, distraída, com seu fone de ouvido no volume máximo.

Ela cantava tão animadamente, e, talvez por isso, ou pelo alto volume do som, Miku não escutou o grito atrás dela.

– Cuidado!!!!- gritou um menino de estranhos cabelos azuis.

Ele desviou sua bicicleta, para não bater na menina, e acabou se esfolando no chão.

Finalmente, Miku se desligou da música.

Estava, claro, preocupada com o garoto caído em sua frente, mas estava mais interessada em outra coisa. Como ele era bonito.

Miku corou instantaneamente, desviando o olhar. O garoto estatelado fez o mesmo.

– Precisa de ajuda? – perguntou Miku, ainda sem olha-lo.

– N-não, obrigado. – disse o menino. Ele se levantou, tirando a poeira da roupa. Decidiu, aleluia, olhar a linda garota que se estendia em seus olhos.

– M-meu nome é Kaito. – falou, estendendo a mão.

Miku olhou para ele, corando ainda mais.

– M-miku! – disse, tocando sua mão. Os dois retiraram as mãos rapidamente. O choque foi grande quando as mãos se encontraram.

– Ah, ahn, Miku, eu, bem, eu, eu tenho que ir agora. – disse o garoto, tropeçando em sua bicicleta antes de andar nela.

Miku esboçou um sorriso. Mudar de cidade não parecia tão ruim agora.

Ela caminhou até sua escola. Suspirou. Detestava escolas novas. Era tão difícil se apresentar.

Ela respirou profundamente algumas vezes antes de entrar na escola. Logo que entrou, duas crianças, um menino e uma menina, loiras, estavam com faixas escritas: NOVATOS, AQUI!

Miku sorriu. Os dois eram muito fofos.

A menina, que parecia mandar em tudo – Miku não duvidou que ela fosse da máfia – foi em sua direção.

– NOVATA! – gritou. Miku recuou alguns passos.

– Ahn? – perguntou.

– Novata! Você ser novata, mim ser vetarana. Entendeu? – perguntou a menina. Miku balançou a cabeça. – Ah! Esqueça! – falou a pequena, por fim. – Eu sou Rin Kagamine, e esse é meu irmão Len. – disse, apontando o menino loiro. Ele afinava uma guitarra.

– E ai? – perguntou Len.

– Sou – por um estranho momento, Miku esqueceu o próprio nome, quando viu quem mais estava lá, e o pior, com quem estava. Negou com a cabeça. – Miku, Miku Hatsune.

Rin e Len começaram a conversar com Miku. Ela achou que já tinha feito amigos, pois até teve de apartar um pequeno UFC dos dois.

Um gongo soou atrapalhando a luta que prometia.

Len e Rin pegaram, cada um, as mãos de Miku, e a arrastaram até o pátio.

– O que está acontecendo? – perguntou.

– Ahn, nada de mais. – disse Rin.

– É, você só vai ter que se apresentar na frente do colégio. – falou Len.

Miku ficou paralisada. Na frente da escola toda = na frente de Kaito.

– Eu, eu não posso. – disse.

Rin a olhou como se ela fosse louca.

– Claro que pode. E é o dever de todo novato. Deve fazer uma apresentação.

Miku estava nervosa. Seu coração batia acelerado, novamente.

“Não! Não o sonho” – pensou.

As pessoas falavam com ela, todas ao mesmo tempo, mas Miku não as escutava. Estava acontecendo como o sonho.

– Miku? – perguntou uma voz atrás dela. Era Kaito. Miku descongelou. Ela virou desesperada.

– Por favor, Kaito. Eu, eu não posso cantar! – disse Miku.

– Miku, é claro que você pode. Eu ouvi você cantar. – disse Kaito, corando. – Você é ótima.

Se Miku precisava de um incentivo, aquele pareceu perfeito. Ela subiu os degraus e começou a cantar How Are You

Todos aplaudiram de pé. Miku sorriu, orgulhosa, mas corou quando viu que Kaito assobiava.

Ela saiu do palco, passando por uma menina séria de cabelos rosa que segurava um livro.

– E agora, com vocês, Luka Megurine!