No início havia confusão. Havia beijos forçados e palavras sem sentido sendo sussurradas em seus ouvidos. Haviam mãos finas e fortes arrastando-se por seu corpo e risadas estridentes ecoando em seus ouvidos. Havia agonia e pesadelos. Tudo isso misturado em um estado de devaneio que aumentava ainda mais o seu pânico... Era horrível não ter controle sobre nada. Ele não sabia aonde estava e aquilo o assustava. Ele não sabia o que havia acontecido e aquilo fazia o pavor crescer dentro de si. Ele sabia, no entanto, que estava sozinho, sem a sua família, e aquilo o fazia ficar na beira de um ataque de pânico.

E Merope era a fonte dessa confusão. Ele não tinha idéia de quando aquilo começara, de como fora parar ali, de quando a garota havia ganhado a sua confiança para tocá-lo daquela forma. Ficar perto dela por mais tempo seria a mesma coisa que enlouquecer, pois sabia que ela havia feito algo para tê-lo ali e aquilo o estava levando à loucura. Merope dizia que o amava e que tal sentimento era mútuo, mas ele não se lembrava de nada disso. Não se lembrava de ter sentido qualquer coisa por Merope Gaunt, fosse amor na sua forma mais pura, como ela dizia sentir por ele, ou ódio, ou nojo... Ele apenas nunca pensara nela.

Como ela conseguia dizer que eles eram feitos um para o outro da maneira como fazia enquanto inclinava-se sobre ele para beijá-lo mais uma vez? Ela nunca conhecera, nunca sequer falara com ele. Tom até duvidava que ela soubesse o nome de seus pais ou o dia do seu aniversário... Mas ela dizia que o conhecia melhor do que todos e que o seu amor por ele era a única coisa verdadeira naquele mundo. Mas ele sabia que não era verdade. Seus pais o amavam mais do que qualquer outra coisa, Cecília o amava, ele tinha certeza disso, e seus amigos, também... Eles o conheciam e amavam o Tom Riddle verdadeiro, não o Tom Riddle que dizia amar Merope Gaunt e que trocara até mesmo a sua família.

Merope dizia-se ser a sua vida: o seu céu, as suas estrelas, o seu ar, a sua alma... Mas como ela poderia ser tudo aquilo se ele não a conhecia? A única Merope a qual ele conhecia estava no céu, brilhando durante a noite após ter sido transformada em uma estrela para ser protegida de Orion, que a perseguira por ter se apaixonado por ela, mas ali, naquela situação, Merope Gaunt estava mais para Orion, o que perseguia a obsessão, enquanto ele se enquadrava no papel da plêiade que tentava fugir daquilo. Merope tentava isolá-lo do mundo e dizia estar tentando protegê-lo. Merope dizia-se sua, se corpo e alma, assim como dizia que ele era dela e que, para o seu terror, ninguém nunca iria mudar tal realidade.