Algumas semanas depois...

Hermione mexia e remexia a comida em seu prato sem ao menos tocá-la. Não tinha fome e depois do ocorrido na noite anterior não tinha vontade de comer.

Fred estava ao seu lado com uma expressão também um tanto preocupada na face olhando-a mexer na comida sem levar o garfo à boca.

A refeição estava com uma cara ótima – isso ela não poderia negar – mas sentia-se enjoada e com um nó na garganta. A fumaça em espiral subia do prato indicando que o conteúdo ainda estava quente mesmo depois de 10 minutos sendo cutucado.

– Você tem que comer – Fred disse afetuosamente pegando o garfo da mão de Hermione e levando-o a boca da garota. – Isso só piorará as coisas.

A morena empurrou a mão do ruivo e negou com a cabeça. Não queria, não conseguia comer.

– Não, obrigada.

– Você vai acabar passando mal – Fred insistiu. – Não coloca comida no estômago há tempos.

– Fred tem razão, Mione – agora Harry falava enfiando uma garfada à boca. – Acredite! Experiência própria!

Muito a contragosto – e sentindo vontade de vomitar – Hermione comeu algumas garfadas da comida que estava no prato deixando-os dois mais aliviados. Ela tinha certeza de que se Ginny estivesse ali também estaria implicando para que comesse, e sabia que não podia ficar sem comida.

– Agora está melhor – Fred disse satisfeito enquanto pegava seu copo com suco de abóbora de cima da mesa. – Aquilo também não me agradou muito, aliás, acho que a ninguém, mas não adianta ficar sem comer. Isso não irá resolver.

– Eu sei... eu sei...

Hermione queria muito ir a biblioteca pesquisar mas ainda não havia tido tempo. Estava certa de que no fim da tarde teria chance e alimentava esperanças de encontrar algo, nem que um texto de 5 linhas sobre o que a atormentava.

Como se não bastasse, não dormira direito na noite anterior e estava morta de sono. Tinha a impressão de que desmaiaria de sono a qualquer momento. Também não era pra menos: o sonho viera atormentá-la mais uma noite.

As imagens do “Fred-fantasma” a assombravam e aumentavam mais ainda o aperto em seu coração. Não queria perde-lo, não queria que nada de ruim acontecesse ao ruivo.

Foi libertada de seu transe pelo estalido dos pratos e talheres sumindo da mesa. Logo em seguida bolos e outros doces apareceram a sua frente enquanto os alunos da Grifinória partiam para cima como cães esfomeados, mas ela não. Normalmente estaria enchendo a boca com os doces maravilhosos que os elfos de Hogwarts preparavam para as refeições. Mas não queria e dessa vez seus amigos não conseguiram força-la.

– Vou indo gente – ela virou-se para Fred. – Não, não quero torta – disse ao ruivo que apontara para o próprio prato.

Já dado por vencido Fred deu de ombros voltando sua atenção para a comida.

X-X-X-X-X-X

Penas e pergaminho se espalhavam pela mesa em que estava sentada. Hermione estava atolada de tarefas atrasadas, afinal, nos últimos dias não tinha se preocupado com as lições. Dedicava seu tempo livre na biblioteca procurando algo sobre ela e Fred.

Olhou para a janela onde o sol se punha por detrás das montanhas. Havia combinado com Harry e Rony de fazer uma visita a Hagrid. De fato, essa não era inteiramente sua vontade, todavia não visitavam-no já fazia um tempo e ela sabia que isso deixava Hagrid um tanto chateado.

Fechou os livros e devolveu-os às prateleiras certas. Com as penas e pergaminhos colocados em sua mochila foi caminhando em direção à Torre da Grifinória para guardar o material e juntar-se aos amigos na cabana do meio-gigante.

Os corredores estavam vazios e somente os seus passos ecoavam pelo local. Sentia-se um tanto exausta e definitivamente sua cama seria uma ótima companheira naquele momento.

Esfregou os olhos e apertou com mais força o livro que pegara emprestado contra o peito. Teria que se distrair com algo e certamente aquele livro poderia conforta-la nas horas vagas.

– Granger! – uma voz seca gritou por trás de seus ombros.

Hermione virou-se deparando com os olhos cinza claros do loiro. Ele estava com uma aparência péssima: em volta de seus olhos grandes olheiras pretas, os cabelos geralmente sempre bem arrumados estavam bagunçados e visivelmente não viam um pente fazia algum tempo, as vestes amarrotadas e os olhos avermelhados. Decididamente aquele não era o Draco que ela conhecia.

– O que você quer Malfoy? – falou friamente ainda encarando os olhos do loiro.

– Obrigado pela delicadeza, Granger – um sorriso sarcástico brincando em seus lábios. Talvez a aparência tivesse mudado, contudo, infelizmente continuava sendo o mesmo cínico, arrogante e sem escrúpulos que ela sempre conheceu.

– De nada. Agora, se não se importa, tenho mais o que fazer.

Hermione girou os calcanhares mas foi interrompida por Draco que a segurou pelo braço.

– Assim você me deixa magoado – ele fingiu indignação. – Mas agora falando sério: preciso falar com você.

– Estou esperando. – Hermione cruzou os braços e apoiou-se na parede observando o loiro cerrando os olhos. Já estava atrasada e não lhe agradava nem um pouco trocar palavras com a doninha quicante.

– Bem, as notícias correm e fiquei sabendo de um acidente com uma taça...

– Como você sabe disso? – Ela perguntou surpresa encarando os olhos acinzentados.

– Vi o Potter falando sobre isso com o Weasley na aula de poções.

– E agora você começou a ouvir a conversa dos outros?

– Se envolve meu nome no meio – ele falou novamente fingindo indignação – é natural que eu apure os ouvidos para ouvir. Agora, por favor poderia deixar-me falar?

– Desde quando um Malfoy – ela procurou expressar nojo ao pronunciar o nome da família da loiro – pede “por favor”? – também fez questão de grifar as duas últimas palavras.

– Você não vai mesmo me deixar falar? Que droga Granger! Eu sei a causa de você ter sentido a dor, sei porque quando seu namoradinho levou um balaço na cabeça semana passada você também desmaiou e porque não dorme direito já faz semanas.

– Como sabe que não durmo direito?

– Porque – ele procurou falar pausadamente – você sempre aparecesse cansada nas aulas e quando acorda seus olhos estão sempre vermelhos.

– E qual seria a causa?

– Nem o Lorde das Trevas sabe dizer.

– E o que Voldemort tem a ver com isso? – ela fechou a cara.

– Por favor, não diga o nome dele – ele olhou para os lados como que certificando-se que ninguém os ouvia ou observava. Levantou a manga do braço esquerdo mostrando-lhe a caveira com a cobra saindo pela boca tatuada em seu antebraço. – Ele passou-me tarefas. Está ameaçando meus pais.

– Ok, ok... o que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado tem a ver com isso?

– Ano passado quando você e seus amigos invadiram o Ministério e meu pai foi preso, Darglows, um comensal, temendo a fúria do Lorde das Trevas pegou uma profecia qualquer do chão e levou-a para Você-Sabe-Quem. – Ele olhou novamente para os lados – O Lorde das Trevas temendo que a profecia de alguma forma pudesse influenciar em seus planos, achou que ela não viera parar em suas mãos por acaso e que isso fora um “obra do destino”. Ele pediu para que eu impedisse que ela se realizasse.

– Novamente pergunto: O que isso tem a ver comigo e com Fred?

– A considerada impura e o considerado traidor por ama-la, ligados pelo fio da vida perecerão no leito do fogo. A ligação mais pura das puras sempre existirá e tornará aqueles que a possuem incomparáveis aos demais. – Olhando a expressão confusa de Hermione ele continuou. – Não percebe? “A considerada impura e o considerado traidor por amá-la” são você e o Weasley!!

– Isso foi a profecia?

– Exatamente! O Lorde das Trevas acha que isso de alguma forma pode atingi-lo “A ligação mais pura das puras sempre existirá e tornará aqueles que a possuem incomparáveis aos demais”. É essa parte que ele teme!