POV Gina

É claro que Harry não poderia aguardar até o próximo final de semana para contar a eles a novidade, então saímos juntos do trabalho direto para a casa dos nossos irmãos. Harry ligou no caminho perguntando se eles estariam lá e dizendo que precisava contar algo a eles, e o resultado disso foi uma Hermione paranoica nos esperando na porta com cara de aflição.

—Está tudo bem, não está? - Nos perguntou assim que descemos do carro.

—Claro que está, Mi. É uma coisa boa. - Me antecipei a responder sua pergunta e abracei minha amiga em cumprimento.

—Vamos lá, mini Lily, não precisa se preocupar. - Harry brincou, fazendo menção às preocupações as vezes exageradas da mãe.

Mione riu satisfeita com o comentário e o dei um beijo rápido no rosto, abrindo espaço para passarmos. Ela adorava quando a comparavam à mãe.

—E aí, cabeçuda? - Ron me saudou com o apelido carinhoso de sempre, sem se levantar do sofá onde estava sentado.

Me joguei ao seu lado e o abracei pela cintura, sendo retribuída imediatamente.

—Se divertiram na viagem? - Perguntou a nós dois assim que Harry se acomodou no sofá em frente ao que estávamos.

Mione aparentemente estava mexendo em algumas coisas espalhadas pelo tapete, e se sentou ali novamente.

Contamos com detalhes as partes mais marcantes da viagem e também as coisas engraçadas que aconteceram. Dediquei um tempo maior aos restaurantes e as comidas diferentes, e Harry fez questão de falar sobre algumas lojas legais que encontramos pelo caminho.

—Ron, melhor irmos jantar antes que esfrie, não acha? - Mione comentou, ainda mexendo no que eu identifiquei serem molduras de fotos personalizáveis.

—Desde quando você gosta de artesanato? - Perguntei, estranhando seu novo hobbie.

—Não gosto. Mas achei essas molduras lindas. - Justificou e se levantou para nos acompanhar.

Ron revirou os olhos e a seguiu, Harry e eu fomos logo atrás. Nos sentamos e esperamos que eles trouxessem as coisas necessárias para nosso jantar, e quando tudo já estava posto e todos servidos é que meu namorado contou sobre sua mudança de emprego e a ascensão de cargo.

—Não acredito! -Ron exclamou assim que ele terminou.

—Parabéns, Harry! - Mione felicitou o irmão, estendendo uma mão para ele por cima da mesa de jantar.

—Foi muito rápido tudo isso, e eles já querem que você comece em uma semana! - Meu irmão exclamou, feliz pelo amigo.

—Sim, mas eu pedi pelo menos duas semanas, porque tenho que formalizar as coisas e não quero simplesmente abandonar meu trabalho atual, quero deixar tudo em ordem. - Explicou-se.

—Você faz bem, não é legal deixar tudo de qualquer jeito para trás. - Hermione concordou com sua postura. - Mas e você, o que achou disso tudo? - Me perguntou, sabendo que isso também afetaria minha rotina.

—Achei ótimo para ele, claro, mas vai ser estranho não nos vermos mais o dia todo.

—Já disse para ela que o lado bom é que a saudade vai nos deixar mais animados quando a gente se encontrar. - Meu namorado falou com uma expressão brincalhona e me puxando para um beijo no rosto.

—Cadê o Percy nessas horas para impor limite a esses comentários? - Ron comentou, irônico, nos fazendo rir.

Passamos um tempo muito agradável juntos, como sempre eram nossos encontros, e nos despedimos já com o próximo jantar agendado para o final de semana seguinte.

Fomos direto para minha casa, como combinado, e tomamos um banho juntos enquanto discutíamos o melhor momento para que Harry desse a notícia de seu desligamento ao Sr. Black.

Ele achou melhor formalizar logo as coisas e esclarecer tudo o quanto antes, ele estava decidido a não considerar nenhuma proposta do nosso chefe em comum, por isso achou desnecessário fazer rodeios. Assim, na manhã seguinte entrou em contato com ele em nossa outra filial para marcar um almoço juntos e saiu logo depois, me deixando sozinha com uma prévia de como seriam meus dias daqui pouco tempo.

Luna almoçava conosco de vez em quando, então a chamei para ir comigo hoje e conversar um pouco só nós duas. Acabamos passando um pouco do nosso horário habitual de voltar e quanto cheguei Harry já estava em sua mesa.

—Não posso sair dez minutos que você já para de trabalhar? Espero que sozinha não faça essas coisas. - Provocou divertido enquanto eu me dirigia ao meu lugar.

—Como foi com o Sr. Black? - Quis saber, ignorando sua provocação.

—Mais fácil que pensei, embora ele tenha tentado me convencer a ficar aqui.

—Ele te fez alguma proposta?

—Sim, ele me disse que o gerente da filial que ele cuida está se aposentando e me ofereceu a vaga, financeiramente foi muito tentador também. - Informou, me contando os detalhes do que lhe tinha sido oferecido.

—É uma oportunidade e tanto, não acha? - Elogiei, sabendo que aquilo era realmente ótimo.

—Sim, seria uma oportunidade ótima, mas só para mim. Eu realmente acho que se sair daqui suas oportunidades também serão ótimas. - Esclareceu, e eu gostei de saber que ele pensava também em mim quando planejava sua vida.

—Vou ficar com saudades. - Mudei o foco da conversa, mantendo meu sorriso.

—Eu também. Acho até que vou começar a usar mais minhas chaves novas. - Confidenciou me fazendo rir.

No dia seguinte tivemos a visita do nosso gerente, que passou boa parte da manhã em reunião com meu namorado e, vendo que não tinha jeito, desistiu de suas investidas para que ele ficasse conosco e me comunicou brevemente que em quinze dias, quando Harry nos deixasse, eu deveria reservar um dia inteiro de reuniões para decidirmos o que será feito dali em diante.

Assim que ele saiu, fechando a porta ao passar, Harry piscou para mim com aquela cara de “eu não disse?”, e eu não me contive ao sorrir de volta.

Os últimos dias dele como meu chefe passaram rápido e em meio a muitos papéis e e-mails com delegação de tarefas que agora seriam de responsabilidade exclusiva minha, ao menos por enquanto. Devido a correria, quando nos demos conta já havia chegado o dia em que não seríamos mais funcionários da mesma empresa e nem nos veríamos mais o dia inteiro.

—Ainda não acredito que amanhã você não estará sentado na minha frente o tempo todo. - Resmunguei pela décima vez durante o mesmo filme.

—Você vai ter a sala só pra você. - Tentou me animar.

—É, vou me sentir tão a vontade que acho que trabalharei sem roupa. - Ironizei e ele riu, me arrancando também um sorriso.

—Assim vou ser obrigado a voltar, duvido que terei um ambiente tão bom na National. - Afirmou beijando meu pescoço e mudando de assunto em seguida. - Sabe, você deveria vir pra cá amanhã depois do trabalho, o que acha? Assim jantamos juntos e te conto as novidades.

—Não deveria não, eu já estou aqui hoje, então o justo é você ir para minha casa amanhã. -Neguei, mantendo minha decisão de não me ausentar da minha casa por dias consecutivos.

—Vou pensar no seu caso. - Fez charme.

—Pense com carinho para não sair perdendo. - Comentei presunçosa, encerrando o assunto.

Acabamos dormindo um pouco no sofá e só fomos nos deitar em sua cama quando já era bem tarde. Acordamos um pouco mais cedo que o normal porque Harry gostaria de chegar alguns minutos antes, e eu estava inclinada a dormir alguns minutos a mais e sair no meu horário habitual, mas ele me convenceu a acordar quando me pediu uma carona até lá.

A empresa na qual ele trabalharia não era exatamente caminho para mim, mas também não era longe, e ele me pediu que o deixasse lá porque ainda não sabia detalhes sobre onde poderia estacionar o carro, assim na volta para casa eu o buscaríamos e nós dois iríamos para minha casa, como eu tinha sugerido.

Descemos nos elevador abraçados e nos dirigimos ao meu carro, que estava parado ao lado do dele. Fizemos todo o trajeto com sua mão apoiada em minha perna, como ele me disse que faria e realmente faz, e conversamos por meia hora enquanto eu driblava o trânsito matinal para deixá-lo em seu destino.

Aproveitei uma vaga destinada a desembarque e parei o carro por alguns minutos para me despedir dele.

—Obrigado, amor. - Agradeceu enquanto tirava o cinto de segurança e pegava sua pasta apoiada no banco traseiro.

—Por nada. - Me inclinei e inspirei seu perfume enquanto ele se empenhava na tarefa. - Bom trabalho para você. E boa sorte em tentar se virar sem mim.

Ele riu do meu comentário e se virou para frente, apoiando seu objeto no colo e me abraçando da maneira que os assentos paralelos permitiam.

—Eu também não acredito que não vamos nos ver o dia inteiro. - Reafirmou minha relutância em aceitar nossa nova rotina.

Nos beijamos brevemente, aproveitando a privacidade dos vidros escuros e sorri confiante para ele quando nos separamos.

—Boa sorte no primeiro dia. Vai lá e arrasa.

—Obrigado. Vou pensar em você o dia todo.

Olhei por alguns segundos enquanto ele batia a porta e entrava no prédio, para então seguir meu caminho para a nova rotina que me aguardava e eu ainda não sabia qual era.