06 meses após o rompimento

Acordei sentindo algumas pontadas nas costas e no baixo ventre. Meu bebê estava inquieto há alguns dias. Tomei banho, lavei a louça, coloquei a roupa na máquina e comecei a faxina.

Desde que havia mudado para a casa de minha mãe, cuidar da casa era minha responsabilidade. No começo, até consegui um trabalho de atendente de mercearia por meio período, mas quando minha barriga começou a aparecer, me dispensaram. Conforme os dias foram passando, ficou mais difícil conseguir emprego. Phil determinou que já que eu não poderia partilhar as despesas, deveria compensar de alguma forma.

Ambos – Renée e Phil -, trabalhavam o dia todo e só voltavam para casa ao anoitecer. A comida também ficou sob minha responsabilidade. A vida não era fácil, mas eu não me deixei cair. A barriga estava grande e pesada e somado à minha natural falta de jeito eu era praticamente uma suicida ambulante.

Tive certeza disso quando, lavando o banheiro do corredor, escorreguei. Estava descalça e o chão cheio de sabão. Só pensei no meu bebezinho, que não tinha nem nome. Por incrível que pareça, consegui me segurar na pia. Os pés escorregaram para lados opostos, mas eu não cai. Suspirei de alívio enquanto meu coração estava disparado com o susto. Tentei me acalmar. Podia ter sido pior.

Terminei a faxina algumas horas depois e ia começar a preparar o meu almoço quando senti um líquido quente escorrer por entre minhas pernas - minha bolsa rompeu antes de completar os nove meses.

- Mãe? – tentei não entrar em pânico enquanto pedia ajuda.

- O que foi agora, Bella?

Respirei fundo. – Mãe, você poderia me levar ao hospital? Minha bolsa rompeu...

Reneé bufou audivelmente. – Estou ocupada agora, Isabella. Ligue para a emergência. Tenho que voltar ao trabalho. Mais tarde conversamos.

O nó que se formou na minha garganta não permitiu que eu dissesse qualquer coisa antes de desligar o telefone. Eu estava com tanto medo do que poderia acontecer daquele momento em diante. Quero dizer, eu tinha lido bastante para saber que um parto com 24 semanas era arriscado.

Tentando não tropeçar em meus próprios pés, caminhei lentamente e com todo cuidado do mundo para o meu quarto, arrumei uma mochila com minhas roupas e as poucas peças que comprei para meu anjinho e liguei para a emergência. Expliquei a situação e a atendente tratou de me acalmar até que o socorro chegasse.

Fiquei três dias internada antes de conhecer meu pequeno.

- Isabella, nossa intenção era adiar o parto por mais algumas semanas, mas pelos exames desta manhã, decidimos que uma cesariana de emergência é o melhor procedimento que podemos seguir. O feto está começando a sofrer e não queremos isso.

Eu queria a opinião da minha mãe ou de qualquer pessoa além do médico, mas desde que fui internada não recebi visitas. Apenas um telefonema de minha mãe perguntando quando eu voltaria para casa.

Resolvi acreditar que o médico era qualificado o suficiente para determinar o melhor para nós. Assinei o consentimento e comecei a ser preparada para a cirurgia.

Os minutos a seguir passaram como horas; as horas como semanas. Eu estava apreensiva. Muito. Medo e ansiedade também eram sentimentos que me confundiam.

Foi somente quando ouvi um chorinho baixo e triste que cai na realidade. Eu era mãe. Mesmo que não tivesse preparo, estrutura ou experiência, não havia volta. Aquele serzinho chorão dependia de mim.

- É um menino, Isabella – o médico me informou, mostrando-me rapidamente o pacotinho de cabelos avermelhados. Meu coração parou e voltou a bater. Eu teria alguém para me lembrar meu grande amor pelo resto da vida.

Meu filho era realmente pequeno. Nasceu com pouco mais de um quilo e 900 gramas e imediatamente foi levado de perto de mim.