Capítulo 14:

[Edward]

Eu assisti àquela discussão calado, porque, muito surpreso, vi Bella se defendendo de cada ataque contra ela. Ela não estava precisando de mim.

- Eu sei que você guarda muitos ressentimentos contra nossa família, e eu peço desculpas por tudo o que lhe fizemos, mas-

Bella simplesmente não permitiu que meu pai continuasse seu discurso.

- Carlisle, a mim não interessam as suas desculpas. Apenas eu sei o que é perder o amor da minha vida, me descobrir grávida e sem o pai do meu filho por perto. Eu – e somente eu – sei o medo que senti ao passar por um parto prematuro. Apenas eu sei o que é ter que escolher entre o que causa alergia ou nenhum, por não ter dinheiro para comprar o adequado. E só eu sei o que é depender de piedade alheia para ter a certeza de que o meu filho terá o que comer.

“Não me venha com as suas desculpas, porque elas nunca vão apagar a droga de vida que eu pude oferecer ao meu filho. Quando o Eric for adulto, quem sabe você conquiste o seu perdão. Enquanto depender de mim, você pode ter certeza que jamais poderá colocar sua cabeça num travesseiro tranquilamente e dormir como um anjo, pois o meu filho, esta criança que você insiste em dizer que é seu neto com todo orgulho, foi privado de coisas básicas apenas para que você mantivesse as aparências.

Todos nós ficamos chocados e calados apenas vendo Bella levar meu filho embora. Ela teria que me esperar lá fora, já que veio comigo no Volvo, mas ela, pelo menos, externou tudo o que sentia.

De longe, não era mais a Bella com quem eu perdi minha virgindade, dei meu primeiro beijo e fiz meu primeiro pedido e único de namoro. Aquela menina deu lugar a uma mulher forte e decidida. E eu viveria cada dia da minha vida para reconquistá-la. E assim que conseguisse, passaria o resto dos meus dias fazendo-a feliz. Desta vez, a escolha seria minha.

Rapidamente peguei Lilly e fui ao encontro de Bella. Lá fora, no quintal, ela andava de um lado para o outro com Eric abraçado à ela. Estava bastante frio, e dava para ver pela condensação, como ela ofegava.

Me aproximei sorrindo. – Você me deixou muito orgulhoso lá dentro.

Acomodei Lilly no meu braço esquerdo e com a mão direita pude acariciar o rosto de Bella. Ao meu toque, ela fechou os olhos e começou a se acalmar. Foi a primeira vez que ela me permitiu um gesto carinhoso.

- Já está ficando tarde. Leva a gente embora? – suspirou.

- Mamãe? – assim que Bella o olhou, ele abriu um grande sorriso de poucos dentes, a alegrando com o simples gesto.

- Elic, o papai vai cuidá da mamãe sua  – Lilly informou o irmão com tanta segurança que eu quis acreditar que seria capaz de cuidar de Bella. Por mais que tê-la de volta era o meu maior desejo, eu tinha medo que o passado pudesse voltar para nos atormentar com tanta frequência que a convivência se tornaria impossível. Eu tinha medo de não saber ser maduro o suficiente para levar um relacionamento com Bella adiante. Quero dizer, eu não tinha experiência alguma com isso. O único namoro que tive acabou como acabou. Será que eu não estragaria tudo outra vez?

Coloquei as duas crianças em seus assentos no banco traseiro enquanto Bella se acomodava no banco do passageiro. Logo me juntei à eles e seguimos de volta à Forks. Para não perder o costume, o silêncio imperou por todo o trajeto, mas eu teria que quebrar o gelo.

Poucos minutos mais tarde, estacionei o Volvo bem em frente à casa dos Swan e Bella não fez qualquer movimento para sair. Olhei pelo espelho e me certifiquei que o silêncio no banco de trás era causado pela soneca dos meus pequenos.

Virei meu corpo na direção de Bella e tomei coragem. – Quando vocês vão embora?

Bella recostou no banco. – Amanhã pela manhã. Por quê?

- Não quero ficar longe de vocês – confessei.

- Edward – suspirou profundamente. – Você já sabe que o Eric é seu filho. Eu já sei que você tem direitos como pai. Assim que um juiz definir, você poderá visitar o Eric. Mas não espere algo mais. Eu não tenho estrutura para passar por tudo aquilo de novo.

- Não, vida. Não teria “tudo aquilo de novo” – fiz aspas com as mãos. – Eu amadureci, Bella. Eu quero formar uma família com você e com o Eric –

- Se você tivesse amadurecido, não estaria insistindo em um relacionamento que você sequer pode oferecer. Você é casado, Edward, e por mais que me diga que vai pedir o divórcio, isso não é uma coisa simples... Eu vi o que aconteceu com os meus pais.

Estava me segurando para não chorar. – Eu vou fazer funcionar para nós quatro. Eu posso prometer isso para você e para o nosso filho. Eu só preciso que você espere eu resolver minha vida.

- Você é sempre tão egoísta. Eu sei que você jamais largaria a Faculdade de Medicina, e ainda faltam o quê? Uns cinco anos? Será que em algum momento você está pensando na vida que construí com muito custo? Ou você acha que eu ainda sou aquela menina boba e idiota que se achava a precoce? A vida ensina e eu aprendi tanta coisa nos últimos dois anos... A primeira delas é que acima de tudo vem o meu filho.

Nem percebi quando as primeiras lágrimas escorreram pelas minhas bochechas. – Volta pra mim? Por favor? Eu só preciso de uns meses para resolver minha vida. Eu juro, Bella, eu seria capaz de transferir minha matrícula para a Universidade de Port Angeles se você pedisse.

Bella fungou, então percebi que estava sendo difícil para ela também. – Prove?

- O quê?

- Prove que você merece outra chance. Eu não quero nem saber como você vai fazer isso, mas será apenas uma oportunidade.

Inesperadamente, a puxei para um beijo, que durou apenas um toque de lábios. Bella nos afastou, séria. Olhou nos meus olhos e avisou:

– Não faça eu me arrepender!

Abriu a porta do carro, pegou Eric pela porta traseira, acariciou o rostinho da minha filha e deu alguns passos para trás, nos observando partir. Posso ter sonhado, mas juro que vi pelo retrovisor um discreto sorriso em seus lábios.