All Because Of You escrita por ThequeenL


Capítulo 4
Iv


Notas iniciais do capítulo

Ei gente, tudo bem? Bom, tenho certeza que a maioria as pessoas que estavam lendo devem ter pensado que eu tinha abandonado a fic. Peço desculpa pela demora, considerem apenas como um grande hiato. Bom, se alguém ainda estiver acompanhando, boa leitura!



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Dos quinze aos vinte se vai em seis linhas

anos trajados de gente,

usam medos inocentes para enganar as feridas

daquilo que se foi com o passar dos dias.

Ela olhava para mim. Por um minuto, pensei que ela me reconhecia, que sabia que eu era o Rich, que pertencia a ela. Levantou-se lentamente, ainda me olhando nos olhos, e caminhou rumo à cerca que nos separava. Esbocei um sorriso, mesmo estando nervoso pra caralho, e ela permaneceu séria. O rosto que me olhava era da minha Grace, mas o tom de voz com o qual se dirigiu a mim era o de uma desconhecida.

“Como você teve coragem de sair por aí atacando senhores de família? Meu está com o rosto inchado até agora!” Ela advertiu.

“Grace” Foi só o que consegui expressar verbalmente. Eu a amava mais do que tudo no mundo, e seria capaz de bater no Sr. Blood novamente só para garantir que ela falasse comigo de novo. Ela me fitou confusa, a raiva se esvaindo aos poucos. Estreitou os olhos, como se estivesse tentando se lembrar de alguma coisa. Perguntou com mais calma:

“Você me conhece?”

Tentei pensar em algo que valesse a pena dizer, mas nenhuma lembrança que eu evocasse parecia ser suficiente no momento. Me contentei, então, e responder com outra pergunta

“Você não se lembra de mim?”

Ela levantou uma sobrancelha e pareceu vasculhar na memória por uns instantes. Olhou para o lado e balançou a cabeça.

“Você me parece... familiar. Eu tenho essa, hm, impressão, de eu já te vi antes. Quer dizer, antes de você atacar meu pai aquele dia. Talvez eu já tenha te visto por aí, antes do acidente.”

“Acidente? Você se lembra do acidente?” Perguntei surpreso. Seria possível ela se lembrar do que aconteceu sem se recordar de mim, ou da Franky?

“Não muito. Quando estava no hospital fiquei um tempo tendo essas alucinações com um carro capotando, mas papai me explicou que era fruto do trauma. Como você sabe do acidente?”

“Eu estava perto do local do acidente” Respondi atônito

“Então você estava na platéia, Rich?”

O meu nome. Ela disse o meu nome. Rapidamente, esqueci do assunto que estávamos falando. Esforcei-me para não saltar a cerca e beijá-la no mesmo instante.

“Você me chamou de Rich.” Foi o que consegui verbalizar, embasbacado. Ela ruborizou. E céus, como era perfeito ver sua pele morena ficando vermelha, mostrando que ela estava viva, sem sombra de dúvidas, sem erro.

“Esse não é o seu nome? Foi o que você disse naquele dia...”

“Você se lembra de tudo o que eu disse?”

Ela corou ainda mais.

“Você estava nervoso, falou coisas sem pensar”

“Como o quê?” Obriguei-a a revelar

“Como quando chamou o meu pai de merda, e depois disse que, bem...” Ela tomou fôlego, cautelosa “quando disse que era o meu Richard”

“Desculpe por ter chamado seu pai de merda, aquilo foi mesmo sem pensar” Apressei a me retratar. Olhando para ela firmemente, terminei a frase “Sobre pertencer a você, bem, isso eu falei pensando”

Grace não me encarou de volta, desviou o olhar. Ela jamais seria capaz de imaginar a dimensão da dor que me causava por não se lembrar de algo tão simples e tão forte quanto o que havia entre nós. Percebi que não havia mais nada que pudesse ser dito. Ela não se recordaria de mim naquele breve momento. Eu precisaria falar com outra pessoa, se quisesse realmente fazê-la lembrar.

“O senhor Blood está?” Perguntei depois de um tempo admirando-a enquanto ela admirava os próprios sapatos

“Pretende bater nele de novo?” Ela retrucou rápida. Não consegui evitar um meio sorriso. Embora não estivesse completa, era ainda sim a minha Grace lá dentro, em algum lugar.

“Prometo não tocar um dedo sequer nele. Posso entrar?”

“Ele está no trabalho, na verdade. Mas deixou ordens claras para nunca recebermos você. Essa conversa nem devia estar acontecendo agora, se meu pai souber é capaz de mandar murar o jardim.”

“Bem, talvez ele aceite receber a minha amiga, Franky. A que estava comigo aquele dia.” Tentei, me segurando em uma fina esperança. Grace pensou um pouco antes de responder

“Bom, ele não fez nenhuma restrição a ela. Imagino que tenha sido porque estava muito preocupado com você.”

“Por que, afinal de contas, você ajudaria o cara que acertou seu pai no meio da cara?” Perguntei meio desconfiado pela amabilidade toda dela. Eu sei que ela me ama, mas ela – em tese – não sabe disso.

Grace não esperava por essa pergunta. Olhou para mim, claramente surpresa antes de ficar extremamente vermelha. Voltou a desviar o olhar antes de responder

“Você parece saber bem do acidente. Não são muitas pessoas que falam sobre ele. E eu, sinceramente, não consigo me lembrar de quase nada da minha vida antes dele. Mas tem algo sobre você, sobre essa Franky, que me faz sentir em casa. Depois daquele dia, comecei a ter uns sonhos estranhos, com jeito de memórias, talvez. Mas são coisas tão sem sentido... Enfim, talvez eu só esteja sendo muito boba, mas tem uma espécie de bússola interna me dizendo que é importante ouvir vocês.”

Ela jamais será capaz de medir a importância que aquelas palavras tiveram pra mim. Foi a luz no fim do túnel, o último lampejo de probabilidade positiva. Não respondi nada, não esbocei expressão alguma. Só por não ter vontade. Naquele instante a única vontade que eu tinha era observá-la e, talvez, escutar sua voz dizer meu nome de novo. Queria dançar com ela, queria dormir com ela, queria ser eterno com ela

...

Não posso dizer que me lembro de como cheguei ao Chateau. Sequer posso dizer que tinha algo em mente além dela, porque realmente não tinha. Posso ter dirigido tranquilamente, assim como posso ter avançado cem sinais.

A primeira coisa que fiz foi procurar Francesca. Ainda era relativamente cedo – levando em conta que nenhum de nós acorda espontaneamente antes do meio dia – e o silêncio não podia ser mais melodioso. Os planos pro dia eram altos, Alo e o resto da turma queriam ver Grace de qualquer jeito, mesmo que de longe. Depois de confirmado o fato (a hipótese de que eu e Franky estávamos apenas em uma viagem alucinógena muito louca ainda era cogitada), seria organizada uma festa de proporções épicas para comemorar como nos velhos tempos. Mas, enquanto ninguém mais acordava, nós poderíamos pensar em como trazer minha menina de volta.

Franky acordou rápido com meu chamado, esfregou os olhos e me acompanhou até a cozinha, descendo sonolenta pelas escadas. Contei a ela sobre a saída de Matt e meu encontro com Grace, e ela me olhou desconfiada, como se eu pudesse estar inventando tudo só para convencê-la a falar com o Sr. Blood. Mas depois de analisar minha expressão de súplica, acabou convencida.

“Acho que posso tentar me aproximar, mas não hoje. O Sr. Blood ainda deve estar puto com você, e com todos nós por projeção. Hoje o máximo que podemos fazer é uma tocaia.”

“Uma tocaia?” Perguntei, meio confuso. Franky me lançou um olhar maroto e sorriu

“Sim, a galera quer vê-la, então bolamos um plano. Você vem?”

Nem precisei verbalizar a resposta. Franky me puxou pela mão em direção a cozinha, onde enchemos todos os baldes disponíveis de água, e voltamos pé ante pé até a sala enorme que fizemos de quarto coletivo na última noite. Contamos até 3 baixinho antes de despejarmos água em Alo e Mini, e tivemos que correr para acertar Liv, que acordava com o barulho. Depois de uma rápida guerra de água (que por fim acabou acordando Lucy também), fomos todos nos secar e ficar apresentáveis. Liv ligou para uma agência de aluguel de carros, já que o que estava conosco antes já era conhecido pelo Sr. Blood e Mini distribuiu a cada um de nós um par de óculos escuros de sua coleção imensa, para os disfarces.

Quando o carro chegou pensei que fosse algum tipo de piada. Era uma Kombi antiga, com o fundo amarelo coberto por desenhos extravagantemente coloridos. Seria impossível que um veículo desses passasse despercebido, não só pelo Sr. Blood, mas pela Suíça inteira.

“Que raio de carro é esse?” Perguntei, certo de que tudo daria errado.

“Eu sei, não é perfeito?” Perguntou Liv, super animada.

“É tão óbvio que chega a ser improvável.” Alo explicou.

Continuei perplexo com aquela lógica, mas a possibilidade de ver Grace duas vezes no mesmo dia me entorpeceu o suficiente para entrar na Kombi sem maiores reclamações. Mini me passou um boné e lenços de cabeça para Franky e Liv. Alo achou melhor colocar uma peruca loira e peitos falsos, o que fazia com que fosse quase impossível manter a seriedade do momento.

Franky estacionou no alto da rua, e preferiu esperar no carro com Lucy enquanto o resto de nós tentávamos espiar por entre a cerca branca. Alo teve um pouco de dificuldade de andar com os saltos, mas conseguimos alcançar um lugar de boa visibilidade. Vimos a Sra Blood pela janela da cozinha, mexendo uma panela.

“Aquela definitivamente é a mãe dela” Disse Mini. “Mas isso não prova nada, Rich. Você tem certeza que não se confundiu...?”

“Shiiu, espera um pouco. Ela deve estar no quarto, ou algo assim” Falei, esperançoso.

“Esse salto machuca pra caralho” reclamou Alo.

“Quieto, Alo!” Exclamamos eu, Liv e Mini juntos. O barulho chamou a atenção da Sr. Blood, que olhou em volta. Nos abaixamos na cerca por uns segundos, e a escutamos chamar pela filha. Meu coração disparou, ansioso por vê-la outra vez. Tomei coragem para levantar um pouco a cabeça e lá estava ela, na janela. Com o mesmo vestido de mais cedo, mas agora com o cabelo solto, Grace era, mesmo de longe, a mais linda das visões que meus olhos já captaram. E ela estava lá, de carne e osso, cem por cento real para quem quisesse vê-la. Os quatro anos só tinham lhe feito bem. Seu cabelo havia crescido em longos cachos até pouco acima da cintura, os olhos estavam mais brilhantes, a boca mais desenhada, a pele mais corada. E, no entanto, parecia a mesma de antes. Tinha a mesma leveza no andar, e o mesmo modo de sorrir, e a mesma capacidade de me hipnotizar com sua simples presença. Mini e Liv não conseguiam fechar a boca, e os olhos de Alo estavam tão esbugalhados que pensei que fossem sair de órbita.

“Nós não dissemos que era pra valer?” A voz de Frany perguntou atrás de nós, de repente.

“O que você está fazendo aqui?” Perguntou Liv “era pra ter ficado vigiando o carro.”

“Lucy queria conhecer a tia Grace. Além do mais é só um segundo, foda-se o carro”

“O cara da agência falou que estava com um problema, parece que o feio de mão não pega...”

O rosto de Franky empalideceu em um segundo, e todos entendemos. Viramos a cabeça para trás ao mesmo tempo, e vimos a Kombi descendo a rua, lentamente.

...

Foi uma loucura, tentar correr sem fazer muito alarde. Lucy teve uma crise de riso no colo de Franky, e Alo deixou um dos peitos falsos para trás na correria. Por fim conseguimos alcançar o carro antes que ele batesse em algum poste, e voltamos para o Chateau, onde pelo menos uma centena de pessoas desconhecidas (amigas de Matt, ao que parece) chegavam com equipamentos para a festa.

Fazia muito tempo que eu não participava de um conjunto como aquele. A música, as roupas, as pessoas, a bebida, tudo me levava a viajar no tempo e espaço. Estavam todos tão felizes que nem ligavam de não conhecer mais da metade dos presentes. Me contentei em ficar sentado num sofá, fumando. Minha felicidade era grande demais para caber ali. Mas o medo de não conseguir ter Grace de volta ainda me rondava, como uma sombra. Subi as escadas e fui ver como Lucy estava, se havia conseguido dormir com todo aquele barulho. Abri uma fresta da porta do quarto e a vi sentada no chão, olhando para uma projeção na parede. Tossi antes de conseguir falar.

“Assistindo um filme, Lucy?”

“Quer ver também, tio?” A menina perguntou, com toda a fofura que uma criança poderia ter. Abri a porta e sentei ao seu lado, e quase engasguei quando olhei para a imagem projetada.

“Quem te deu essa gravação” Perguntei. Alguém devia ter mexido nas minhas coisas. Só eu tinha aqueles vídeos, lembro-me bem de tê-los pegado da antiga casa dos Blood.

“Tia Franky. Eu queria ver de novo a tia Grace. Mamãe disse que ela vai vir com a gente pra casa, mas só depois. Ela é tão bonita... Você não acha, tio Rich?” Lucy perguntou, olhando para mim, curiosa. Ainda com os olhos na parede, onde a imagem de Grace rodopiando pela sala de Ballet fluía, deixei cair uma lágrima e dei um meio sorriso, embasbacado.

“Sim Lucy, a tia Grace é, sem dúvida, a mais linda.”


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Notas finais do capítulo

e então, algum comentário? Tentarei ser mais rápida com o próximo capítulo. Feliz 2014!