A chuva castigava o tempo de céu escuro e nuvens lânguidas. O corpo inerte sobre o sofá. Era madrugado alto, o relógio marcava três. Gotas de sangue escoriam pela pele pálida como gelo. Quanta vez havia feito aquilo? Já se passaram dois meses... Não parou para poder contar. Abriu os olhos e colocou a mão sobre o corte não muito profundo. Impulsionou o corpo para frente. Tudo pareceu desbotar... Tonta por algum instante. Decidiu ir até o quarto. Ao seu lado ou um pouco mais á frente deveria estar o loiro de expressivos olhos turquesa.

Falta maldita!

Naruto havia saído de sua casa. Alugara outra que era perto da escola. Lugar movimentado e modesto. O caminho não conseguia fazer por completo. Os nomes das ruas a confundiam. Ele queria ter “seu” próprio lugar. Não poderia impedi-lo, nem pedir para ficar. Não poderia comandar as vontades e planos de seu “tio”. Uma vez disse que por ela, correria o mundo. Talvez tivesse ouvido mal. Fechou a porta do quarto e viu as roupas da Escola de Dança. Saíra de lá algumas semanas atrás. Era a principal na apresentação. Está consumia seus sonhos e seu tempo. Treinava arduamente. Conseguiu atrair inveja das outras. Sem duvidas, era a mais apropriada. Seu corpo correspondia os comandos da professora e girava, contorcia-se. Uma tinha o cabelo loiro... Seria a predileta se caso Kori não se chame para si à atenção. Reparou que sempre era seguida. Uma e mais outra. Percebia as provocações e a ira que crescia. Lembrava do dia da sua primeira surra, afinal, em seguida vieram outras. Fora mês atrás. Sentiu seu pulso sendo segurado e suas costas ir de encontro á parede. Estava em um beco. Por lá cortava caminho e economizava tempo. Chutes e socos acompanhados de risadas histéricas. Desgraçadas!, Gritava á medida que sentia o sangue banhar sua boca e a dor aumentar. “- Levanta, Uchiha! Eu quero ver você... Vamos lá!”, era o que ouvia quando estava sendo violentada, não só com gestos, mas, com palavras. Perdia os sentidos e pedia para poder morrer ali mesmo. Todos os dias... Ela sofria calada. Não queria envolver Sasuke naquela história. Poderia ela mesma resolver, mas, não conseguiu. Saíra da Escola. Adeus apresentação. As marcas em seu corpo... Ela não queria mais.  Sorriso e pó. Era assim que seguia durante o dia. O pulso já não sangrava. Cortava-se para poder aliviar o desespero, a repulsa... Odiava-se!

“- Sair Kori, por que?”, seu pai lhe perguntou quando de manhã, dera a noticia. Deu uma desculpa qualquer, disse que queria outra coisa. Tentou ser convincente e aprendeu a mentir. Não as veria mais... Porém, a tortura continuaria. Recordaria sempre da perfeita derrotada que fora em não seguir com afinco aquilo que estava disposta a fazer. Queria ser abraçada e não tinha Naruto para poder se aconchegar. Idiota! Não o via fazia tempos! As aulas continuavam as mesmas. Sentava debaixo de uma árvore de uma sombra. Pegava um livro e o lia. Assim que o sinal bateu, arrumou suas coisas e viu todos saírem. Para o inferno... Todos. Queria chorar e correr... Perde-se. Foi até o banheiro e pegou uma gilete que guardava como se fosse um tesouro. Sentiu o sangue escorrer e as lamurias fazendo com que desfalecesse. As pernas cederam e a cabeça poderia se partir em duas.

Saiu do banheiro assim que conseguiu controlar o liquido vermelho. Chupara-º Tinha um gosto diferente daquele que achava que tinha. Era doce. Seus pés a levavam. A mochila na mão e se viu no mesmo beco. Há uma semana estaria gritando e sendo jogada de um lado para o outro. Sentou-se perto de uma lata de lixo e decidiu fazer o que seu coração pedia. Iria achar Naruto e vê-lo. Seu pai poderia falar mal-la. Estava morrendo por fora. Uma razão para ao menos poder sentir-se viva. Naruto. Confundia os nomes, mas, perguntava tendo as referências que havia decorado. Logo que chegou ao endereço, lembrou da casa que Naruto estava. Foi até a porta e bateu. Escondeu o pulso com a blusa de frio que vestia e esperou.

Gelou assim que dois pares de orbes azuis lhe encaravam. As lágrimas começaram á cair. Jogou-se no pescoço do loiro que surpreso, pegou-ª O cheiro que a pele dela trazia era inesquecível. A razão deveria permanecer. Seria melhor sair. Não poderia se manter através de seu amigo que lhe acolhera. Deveria ter suas coisas e, pensar no que estava fazendo com a confiança entre eles. Era apenas uma menina. Era homem e com certeza haveria de se interessar por uma mulher. Não por uma menina que mal saíra das fraldas. A via quando a saudade apertava. De longe para não piorar a situação. O amigo estava reparando naquela aproximação. Nunca soubera esconder os sentimentos. Melhor sair da vida de Kori e Sasuke para não causar desentendimentos, apesar de querer saber o porquê seus pés pareciam prender ao chão.

_ Naruto... Naruto... _ dizia Kori entre soluços.

_ Kori... Meu Deus... Aposto que Sasuke não faz idéia de que está aqui... _ disse Naruto adornando com as mãos, a cintura da menor.

_ Não importa... _ disse Kori jogando-o contra a parede _ Não quero que ele saiba... Beija-me...

A nuca sentiu o pequeno impacto. Olhou-a nos olhos e pensou o porquê de não tira-la de seus braços. Tomou-lhe os lábios com veracidade. Se não fosse ela, quem mais seria? Ela permanecia em sua cabeça e diversa vez chegara a chamá-la. O sonho agora parecia real e ele poderia tocá-la. As línguas esfomeadas, procurando “comer” cada espaço existente. O pulmão pedia por ar e eles não queriam parar. Ela o trazia ainda mais para perto e o coração estava disparado. Descompassado... Precisava daquele beijo.

_ Não vai me convidar para entrar? _ perguntou dando as costas para ele, deitando a cabeça no peitoral de Naruto que mantinha sua cintura rente ao corpo.

_ Depois te levo para casa... _ disse largando-a _ Não quero problemas com seu pai...

_ Faça como quiser, mas, agora eu quero ficar com você _ disse Kori entrando _ Não sabe o quanto andei para poder chegar até aqui...

Entraram e Naruto fechou a porta. Kori sentou-se o sofá creme. Estavam completamente as “nuvens”. Tirou a blusa de frio e jogo-a por ali. Naruto ficou ao seu lado. Entrelaçou as mãos e queria que aquilo permanecesse. A rosada colocou a cabeça na perna do loiro que mechia em seu cabelo. Os dedos dela percorrendo minuciosamente cada pedaço daquele corpo, como se quisesse guardá-lo em suas memórias. Dedilhava e chegou a ponto de imaginar, por cima da calça do loiro, “ Deve ser...Grande?...”. Ficou de quatro, surpreendendo o outro que lhe sorria malicioso. Voltou com a mão para a coxa, subindo até o zíper. Estava começando a abri-lo.

_ O que pensa que está fazendo, Kori? – perguntou com o dedo o queixo da menor _ Quer me dar prazer?

_ Vai me negar esse momento? _ indagou maliciosa.

Dobrou os joelhos. Girou a outra mão para poder apoiar no peito do loiro. Naruto logo percebeu cortes e, curioso, prendeu os pulsos de Kori. A rosada apoiou com a mão que estava livre e surpreendeu-se com a pergunta que o loiro fez.  Ao queria ter que responder. Droga! Tinha que se esquecer desse lugar!

_ Vou perguntar outra vez _ disse Naruto sério _ Você está se cortando?

_ Não parece obvio?... Só cego para não ver... _ respondeu áspera _ Mas, isso não importa...

_ Isso me interessa – respondeu Naruto.

Kori se levantou do sofá. Teriam que conversar sobre isso. Conhecia Naruto para saber que isso não passaria despercebido. Não queria ter que contar. Era como ir ao inferno peal segunda vez. Entre protestos, o viu ficar em silêncio. Não tinha escapatória. Poderia mentir, afinal, aprendera a fazer isso. Porém, o olhar firme não a deixou fazer tal ato. Abaixou a cabeça e fez rodeios. Ficaram horas, minutos, nem ela sabia dizer. Seria melhor acabar com aquilo. Em casa poderia fazer algo á respeito.

_ Pronto _ disse Kori olhado para a janela _ Acho que ao deixei escapar nenhum detalhe. Podemos esquecer esse assunto?

_ Não é o suficiente _ disse Naruto _ Deixei-me ter orgulho de você... Eu sei que quando sair daqui e estiver em casa, vai fazer à mesma coisa... Tenho vergonha, Kori, pensei que era mais forte. Sua mãe teria vergonha de você.

Aquelas palavras haviam sido fortes demais. A memória de sua mãe... Em momento algum haviam tocado no nome dela! Sabia que no fundo, Naruto tinha razão. Era o que sentia quando se via o espelho. Era uma derrotada sem objetivos. Será que morrer seria a melhor opção?. Não poderia dar esse gosto ao azar. Deveria mudar sua linha de raciocino. Foi até ele e o abraçou.

_ Por que você tem que ter razão? _ perguntou divertida _ Acho que devo mudar...

_ Faça isso não por mim, mas, por você _ disse Naruto _ Não suportarei te ver cair outra vez...  

Ficaram calados. Naruto não queria levá-la para casa. Esse tempo que ficaram separados foi o suficiente para ver que queria estar com ela. Tinha que resolver a situação entre eles... Falar com Sasuke era uma de suas metas.