Got My Heart In Your Hands escrita por Julia


Capítulo 67
Ultrapassando os limites




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/231096/chapter/67

Eles saíram daquele casarão felizes por terem libertado uma criança. Sébastien era mesmo um gênio... Como havia conseguido descobrir o código? Mas isso não vinha ao caso agora... Saindo de lá, decidiram organizar uma festa onde Pierre morava. Os vizinhos tinham ido viajar, então a casa estava liberada para qualquer tipo de bagunça. Avril levou o dominó que ganhara quando criança, e um pega varetas. David e ela costumavam brincar, pois eram amigos de infância, e sempre brincavam no quintal da casa. Ela espalhou os mesmos até a mesa, e começou a brincar de pega varetas com os amigos.

– Nada de trapaças. – Avril deu de ombros.

– Mas esse é o mais legal de tudo. – Disse Pierre com uma voz sacana.

– Não vale, Pierre. – Novamente Avril deu de ombros.

– Está bem. Eu começo. – Pierre pegou uma vareta da mesa, que estava até fácil. Os amigos só observaram, e começaram a zombar, afinal, ele havia escolhido a vareta mais simples de se pegar.

– Pierre, assim até eu, né. – Jeff se queixou.

– Calma, careca. É só pra aquecer.

Jeff não deu bola, e tirou a vareta que estava mais difícil, presa em duas varetas. Ele retirou sem movimentar nada da mesa.

– Mexeu. – Falou Patrick, como forma de provocação.

– Não mexeu. – Jeff olhou torto para Patrick.

– Mexeu sim. – Ele insistiu, para provocar ainda mais o Jeff.

– É lógico que eu não mexi, Patrick estrela.

Todos riram.

– David, sua vez. – Disse Avril, e David pegou uma vareta, sem que ela se mexesse.

– Nossa, o David conseguiu.

– Por acaso achou que eu não seria capaz, meu amor?

– Não, amor.

E assim foi prosseguindo o jogo. Ao voltar na vez de Pierre novamente, ele saiu correndo. Disse que não queria mais brincar e foi para o seu quarto. Ninguém havia entendido o que tinha acontecido com ele, mas o fato é que ele sentiu a presença de um espírito. Podia ser Lachelle. Foi até o seu quarto e abriu o seu diário, começando a escrever.

“Querido Diário... Senti algo tão estranho invadir o meu interior. Algo como a presença de um espírito, e por isso, tive que interromper a brincadeira com meus amigos. Hoje era pra ser um dia comum... Acordei 8 a.m. com o canto dos pássaros em minha janela, e a luz do sol iluminando o meu rosto. O verão em Montreal já estava começando. Gosto muito de nadar nos dias quentes, é uma terapia para mim, já que minha cabeça estava tão atordoada com o lance do Nemours e da Lachelle. Comecei a sentir falta daquela loira. Mesmo que ela tenha me feito sofrer por muito tempo, eu não consigo sentir ódio dela, e nem rancor. Curioso hoje pensar que o motivo de minhas lágrimas, é motivo de minhas alegrias, que nem numa tarde tão bela eu conseguia mostrar isso. Confiança demais me permite achar que sempre estou no controle do mundo. Ou seria meu lado egoísta e egocêntrico? Simplesmente achava que não me importava, até você ir. Ok, confesso que não te amei, mas como doeu ver você partir, porque de uma forma tão única e simples eu podia ser apenas eu. Sem meus clichês ou minhas frases ensaiadas e bem pensadas, sem meu senso de auto controle e de menino bem equilibrado, apenas verdadeiro como a vida deve ser. Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraçá-la. Sonhe com aquilo que você quiser. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que se quer. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz. As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas. Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos. A felicidade aparece para aqueles que choram. Para aqueles que se machucam. Para aqueles que buscam e tentam sempre. E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas. O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido. Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado. A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar duram uma eternidade. A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre. Fases, delas eu me faço e me desfaço também. E são tantas... Definição? Não há. Ainda busco uma para esse eu, qualquer coisa que me distinga de toda essa complexidade. Detesto rótulos, eu sou tudo e não sou nada... Vou me tornando uma fusão de coisas e tantas outras, de tudo que vou vivendo. Às vezes me perco no que eu quero, nunca sei, mas sempre sei o que eu não quero. Sonhador. Sonhar... Ah, isso eu ainda faço. Inevitável. Mas o que eu quero agora e sempre, é continuar a ter um sincero sorriso no rosto e dar boas gargalhadas, porque a vida pode não ser perfeita, mas os momentos sim e, inesquecíveis serão... De resto? A gente improvisa. Vou sair por aí vestindo meu jeans velho, calçarei meu All Star rabiscado, e viverei cada momento com intensidade. Descobri que o mundo não vai me poupar. Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim. Passageiro... Assim te defino. E, não me refiro às coisas passageiras da vida que inevitavelmente passam, mas sim as que simplesmente se vão. Se vão sem que ao menos se saiba com que propósito vieram. Compreendo isso com a absurda clareza das coisas que são inexplicáveis. Nessa atual ausência baseado na sua passada presença, concluo que você nunca foi aquilo que aparentava ser. E mesmo assim, sinto falta do que nunca existiu. Não me reconheço. Sempre procurei me achar nessa constante busca que me leva incessantemente a descobrir-me. E, nessa confusão existente que já é parte do que sou, do que cada dia me torna, eu ainda tento... Tento definir minhas indefinições, decifrar, em que tão alto grau de dificuldade chega a me parecer uma espécie de código. Surpreendo-me com o desconhecido e isso me assusta. Assusta-me não saber do que se trata, nem aonde isso e tudo isso vai me levar. Será que isso já existia em mim e, eu nunca percebi? Porque sentir isso, sei que nunca senti. As pessoas mudam ou se tornam no que verdadeiramente são? Porque já não sei se mudei ou se me tornei em não sei o que. Hoje olho, e não me reconheço... E na medida em que vou vivendo me entendo menos e compreendo tudo um pouquinho mais. Olho o mundo de quem olha a vida pela janela. Vejo e percebo. Vou compreendendo, na medida em que vou vivendo... Não sei por aonde vou, nem os caminhos que tomarei, mas sei que irei até onde minhas mãos alcançarem e, eu sinto que posso tocar os céus. Em meio ao caos, eu observo. A vida passa, e passa rápido. Tudo parece igual, nada parece mudar. Até que um belo dia você se dará conta que tudo já está diferente e, nada será como antes. Foi a vida, que simplesmente passou... Ainda sonhando, de olhos fechados, suspiro fundo: 1... 2... 3 e acordo. Percebo o que é real, me frustro, mas foi melhor assim. Agora sigo em frente, sabendo que está em um lugar melhor. Você se foi e levou parte do meu coração. Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas, continuarei a escrever. Eu também escreverei... Escreverei o que não sei e o que acho que sei, o que não entendo e o que acho que entendo. Escreverei sem saber o que sinto, achando saber o que sinto. Escreverei... Mesmo não sabendo escrever e, achando que sei, eu escreverei... Talvez não com a mesma profundidade, não com as mesmas verdades, e até na ausência das palavras certas. E mesmo assim... Eu tentarei e escreverei.... Queria deixar que a vida falasse por mim, mas me preocupo demais com tudo e com todos. Talvez um dia eu aprenda a fazer diferente, seria mais fácil, mas até lá... Continuarei me preocupando. Busco o que ainda não sei. Sei que se trata de uma busca diária, algo incansável que me cansa, me exausta. Uma procura por algo que não perdi ou, que talvez tenha perdido, não se sabe... Só sei que falta. Dúvidas sempre me perseguem, meus medos me aprisionam, perguntas sem respostas... Confusão. E assim me perco. Não me entendo, nada entendo e, não entendo não entender... Me questiono, nada sei... Eu grito, grito o mais alto que posso. Berro, pra que me falte a voz. Choro, até que a última lágrima caia... Não podem me ouvir, não posso ser ouvido... Não enxergam minhas lágrimas, não podem vê-las. O som que sai de mim, não é audível. Meu estado de prantos, não é visível. Posso escutar o silêncio, me perder nessa ausência de som, e assim, sem que haja um sopro qualquer... Me acho, me descubro, e sem saber por quanto tempo me manterei assim, dono de mim... Perco-me mais uma vez. Esperarei que um novo estado de graça se apodere de mim, para que eu possa me redescobrir e assim, perder-me novamente... E, toda vez que esse ciclo se repete, sinto que encontro um pedacinho de mim, vagando por aí. Procure o seu verdadeiro eu e agarre-se a ele. Coisas estão sempre mudando, não importa o quanto queremos que elas permaneçam as mesmas. Então aproveite seus dias e viva eles profundamente. Sinta-se afortunado(a), porque há boas chances de que você realmente seja.

Olá, agora
Aonde você foi?

Você me deixou aqui tão inesperado
Você mudou minha vida
Espero que você saiba
Porque agora eu estou perdido
Tão desprotegido
Em um piscar de olhos
Nunca cheguei a dizer adeus
Como uma estrela cadente
Voando pela sala
Tão rápido até o momento
Você se foi cedo demais
Você é parte de mim
E eu nunca serei
O mesmo aqui sem você
Você se foi cedo demais
Você estava sempre lá
E como a luz que brilha
Nos meu dias mais sombrios
Você estava lá para me guiar
Oh, eu sinto sua falta agora
Eu gostaria que você pudesse ver
O quanto a sua memória
Sempre significará para mim
Em um piscar de olhos
Nunca cheguei a dizer adeus
Como uma estrela cadente
Voando pela sala
Tão rápido até o momento
Você se foi cedo demais
Você é parte de mim
E eu nunca serei
O mesmo aqui sem você
Você se foi cedo demais
Brilhe! brilhe!
Para um lugar melhor
Brilhe! brilhe!
Nunca mais será o mesmo
Como uma estrela cadente
Voando pela sala
Tão rápido até o momento
Você se foi cedo demais
Você é parte de mim
E eu nunca serei
O mesmo aqui sem você
Você se foi cedo demais
Brilhe! brilhe!
Você se foi cedo demais
Brilhe! brilhe!
Você se foi cedo demais
Brilhe! brilhe!
Você se foi cedo demais.”

Slipped Away - Avril Lavigne

De repente, Lachelle surgiu como um passe de mágica... Aliás, não foi um passe de mágica, mas seu espírito percorria o apartamento de Pierre. Ela o vigiava o tempo todo, e via o quanto ele era cuidadoso com a sua filha. E então, decidiu aparecer somente para ele.

– Pierre. – Ele olhou para trás, e viu Lachelle em um manto branco. Não acreditou no que viu, e abriu e fechou os olhos rapidamente, para ver se era verdadeiro.

– Lachelle, o que faz aqui?

– Não diga em voz alta. Eu não quero que ninguém descubra que estou aqui. Só quero aparecer somente para você. Como está a Lennon Rose?

Pierre suspirou profundamente. Ela sabia o nome da filha.

– Fico feliz por ter escolhido esse nome para ela, e ter colocado Rose como o segundo nome. Sempre gostei de Rose, me lembra rosas. – Ela completou olhando para Pierre, sorrindo. – Posso ver a minha filha?

Pierre balançou a cabeça positivamente, como forma de resposta, e a guiou até o quarto onde Lennon estava brincando com o seu chocalho.

– Ela é linda. Não tive tempo de conhecê-la. Ela se parece com você, tem os seus traços...

Pierre abriu um largo sorriso nos lábios, e logo a respondeu:

– Você acha? Porque ela não é minha filha de verdade, mas considero como tal.

– Está sendo um ótimo pai para ela.

– Obrigado. – Pierre sorriu de forma tímida, e olhou para Lennon, que estava no colo de Lachelle. Lennon também conseguia vê-la, e ficou quieta no colo da mãe, como se realmente a conhecesse. – Ela é linda, não é?

– Muito. – Disse Lachelle em meio a um sorriso. – Bom, eu preciso ir agora, mas quando precisar de algo, me chama. Estarei te observando lá de cima.

Pierre balançou a cabeça positivamente por mais uma vez, e ela se foi.

– Pierre, vamos lá jogar. Você se afastou de repente. – Hayley adentrava ao quarto de Pierre.

– Ah, me desculpe, é que eu escutei o choro da Lennon e vim acalmá-la.

– Estranho, eu não ouvi nada. Mas agora ela dormiu, vamos lá para a sala.

– Sim.

Pierre voltou para a sala, mas Jay e Marie Lee não estavam lá. Eles tinham ido até a varanda, e sentaram na grama, olhando para o céu estrelado.

– Que linda noite, não? – Marie Lee olhava para o céu.

– Marie, eu preciso te dizer uma coisa. – Jay respirou fundo.

– Pode falar. – Marie olhou nos olhos de Jay, que estavam brilhando intensamente.

– Eu... Eu... – Jay travava nas palavras. Estalava os dedos de forma repentina, e Marie olhava para ele, suspirando profundamente, aguardando que ele falasse.

– Fala, Jay.

– Eu estou apaixonado por você. Só não sabia como lhe falar isso.

Ela olhou diretamente nos olhos de Jay, e aproximou o rosto, colando a testa na dele.

– Eu também estou apaixonada por você, Jay. Você sempre foi muito gentil comigo, e me conquistou com o seu jeito. Esse amor que está ultrapassando os limites.

Jay não disse nada, e uniu seus lábios com o de Marie, dando início a um beijo lento e intenso.

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que se ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence o vencedor,
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade;
Se tão contrário a si é o mesmo amor? – Luís de Camões

I Can Wait Forever - Simple Plan


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Got My Heart In Your Hands" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.