Pierre’s POV: On

E de repente eu havia acordado ali, na escola, eu não sabia o que eu estava fazendo lá. Me levantei e comecei a observar as pessoas, estavam todas felizes, não sei o porquê. Eu estava tão assustado, eu avistei Seb, ele estava olhando pra Laurence, mas ele estava diferente, o cabelo estava diferente, era como se eu estivesse no passado. Resolvi falar com ele:

– Seb, está tudo bem?

Fiquei observando-o, ele nem ao menos olhou pra mim e manteve seu olhar fixo em Laurence que estava conversando com algumas amigas do outro lado do corredor.

– Sébastien? - Eu disse sacudindo-o.

Ele parecia não sentir, parecia que eu não estava lá. Andei mais um pouco e encontrei Chuck e Pat, conversando.

– Pessoal, que bom que achei vocês!

No momento que falei isso eles continuaram andando, então eu comecei a gritar, mas ninguém podia me ouvir. Entrei em desespero, o que diabos estava acontecendo comigo?

Eu saí do prédio e fui até a parte exterior, onde havia um extenso gramado onde os alunos podiam relaxar nos intervalos ou mesmo depois das aulas. Sentei-me perto de uma árvore e vi Lachelle, espera, Lachelle? Mas ela... Eu devo estar ficando doido, isso é tudo coisa da minha cabeça, isso Pierre, você vai acordar e perceber que foi tudo um sonho.

Abaixei minha cabeça, e coloquei minhas mãos sobre a mesma. Respirei por alguns instantes e ergui o rosto, dei uma olhada pelo gramado e pude ver David caminhando sozinho, parecia triste, dentre todas as pessoas sorrindo naquela escola, ele era o único que continuava com a cara fechada. Estava como ele era... Antes de me conhecer? É isso? É como eu não existisse? Como se eu nunca tivesse existido?

Eu tinha que confirmar isso, fui até a sala dos professores, e lá estava aquela maldita professora de química que tanto implicava conosco, eu abri o livro de chamada dela, sim, eu podia tocar nas coisas, mas nas pessoas não, e desci meus olhos até a letra P, vejamos, Paul... Peter... Robert... Nada de Pierre? Então... É como se eu não existisse mesmo?

Senti uma forte pontada no peito, e tudo ficou escuro.

“O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou.
O que está acontecendo?”

...

Abri meus olhos com dificuldade e percebi que eu estava em um cemitério. Estava chovendo e frio, e eu podia sentir a tristeza do ambiente. A única coisa que eu queria naquele instante era sair dali, meu corpo estava dolorido.

Finalmente consegui me levantar, e perceber uma pequena “multidão” que se formava em volta de um túmulo. Cheguei mais perto pra ver do que se tratava e de repente vi rostos familiares: Pat, Seb, Chuck, Jeff, Marie Lee, Laurence, Jay, Jonathan, Melanie, Lennon, Carol, Hayley, Avril, Laura e David, todos vestidos de preto... Muitos chorando, eu não entendia o porquê. Aproximei-me mais e vi a mim mesmo no caixão que estava com a tampa aberta, fiquei paralisado, eu havia morrido? Como? No dia anterior estava tudo tão bem, e agora eu tinha morrido?

Não, eu não posso aceitar isso, eu estou ficando maluco, anda Pierre, cai na real! Uma voz doce e triste, mas ainda doce, eu pude ouvir, era David em meio aos seus prantos, abaixado ao lado do túmulo que estava prestes a ser fechado.

– Pierre, você sabe o quanto eu te amei, e o quanto eu te amo. Você foi assim, tão de repente, como uma estrela cadente. Gone Too Soon, lembra? - Ele fez uma pausa e deu um sorriso fraco em meio às lágrimas. – Esse foi o hino de muitas pessoas que perderam pessoas que amavam e agora é o meu também, eu nunca vou me esquecer de você, da sua linda voz, como um anjo. Nós brigamos, e eu estou me sentindo muito culpado por ficar irritado com você, e não poder me desculpar, eu não consigo acreditar que você nos deixou, estou tentando encontrar forças em algum lugar, que eu não consigo encontrar, talvez essa fonte nem exista, mas eu sei que do lugar que você está, deve estar olhando por nós e não iria querer que eu desistisse. Eu admito, assim que recebi essa notícia a minha única vontade era de me matar, pois sem você é impossível viver, mas pensei em Lennon, Melanie, nossos amigos, Delilah, como eu poderia deixá-los? Duas perdas seriam demais. Queria que você estivesse aqui agora, meu amor. Um dia eu te encontrarei, não importa o quão longe, eu sei que te encontrarei. - Ele disse despencando em choro.

Vendo aquela cena eu comecei a chorar também, fui pra perto de David, tentei abraçá-lo, mas ele não podia me sentir.

– Eu estou aqui David, eu estou aqui! - Eu gritava em uma tentativa inútil de que ele me ouvisse.

– É horrível, não é?

Aquela voz...

– Lachelle?

– Calma, Pierre.

– O que está acontecendo? Eu morri? Mas como?

– Não, você não morreu ainda.

– Então, o que está acontecendo?

– Você quer saber o porquê de estar passando por isso, não é mesmo?

– Por favor, me diga!

– Eu vi exatamente isso quando eu morri, mas eu estava em paz. Você está sendo testado e alertado.

– Como assim?

– A questão é, Pierre, você estaria pronto pra deixá-los? Estaria pronto para morrer?

Nesse momento meu coração disparou, não, é claro que eu não estaria pronto e acho que também nunca vou estar.

– Isso é um alerta, você tem vivido o máximo dos seus dias? Tem aproveitado cada momento com as pessoas que ama? Disse tudo que queria dizer?

Eu fiquei em silêncio, talvez eu não estivesse aproveitando a minha vida do jeito que deveria.

– Agora pense, isso tudo pode estar muito próximo de você.

– Então, isso é o futuro? - Eu disse perplexo.

– Digamos que sim e digamos que não, o futuro pode mudar e isso só depende de você, por isso escolha bem os seus passos.

Me surpreendi, como Lachelle poderia estar falando aquilo na mais pura calma? Talvez fosse uma de suas missões, mas isso me assustava.

– Então, eu posso mudar isso?

– Pode. Agora me prometa que vai aproveitar a sua vida o máximo que puder, que viverá na felicidade, sem rancor, sem tristeza.

Eu olhei para David chorando ao lado de meu túmulo e voltei meus olhos para Lachelle. Eu sorri e concordei com a cabeça.

...

E logo eu havia acordado no sofá da sala, todos estavam lá, algumas caixas de pizza da noite anterior ainda estavam lá, David ao meu lado, eu o abracei e tudo que eu consegui dizer foi:

– Eu estou vivo.

Eu sonhei que estava desaparecendo

Você estava tão assustada

Mas ninguém podia ouvir

Pois ninguém mais se importava

Depois do meu sonho

Eu acordei com esse medo

O que eu estou deixando

Quando eu morrer?

Então se você está me perguntando,

Eu quero que você saiba:

Quando minha hora chegar,

Esqueça os erros que eu cometi,

Me ajude deixar pra trás algumas

Razões para ser esquecido.

E, não fique ressentida comigo

E quando você se sentir vazia

Me mantenha em sua memória,

Deixe fora todo o resto

Esqueça todo o resto...

Não tenha medo

De levar minha derrota.

Eu compartilhei o que eu fiz

Eu sou forte na superfície,

Não é todo o caminho.

Eu nunca fui perfeito,

Mas nem você foi.

Então se você está me perguntando,

Eu quero que você saiba:

Quando minha hora chegar,

Esqueça os erros que eu cometi,

Me ajude deixar pra trás algumas

Razões para ser esquecido.

E, não fique ressentida comigo

E quando você se sentir vazia

Me mantenha em sua memória,

Deixe fora todo o resto

Esqueça todo o resto...

Esquecendo

Toda a mágoa

Que você aprendeu a esconder tão bem

Fingindo

Que alguém mais pode chegar

E me salvar de mim mesmo.

Eu não posso ser quem você é.