Got My Heart In Your Hands escrita por Julia


Capítulo 135
Reconciliações


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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David

Acordei depois de sonhar que Pierre havia me visitado e mostrado seus pulsos para mim. Ah, que droga, eu estava sonhando... Como não pude perceber isso? Eu estou morrendo aos poucos, não agüento mais essa solidão.

Toda vez fico olhando para o meu criado-mudo, onde tem um porta-retrato com uma foto minha e do Pierre... Ele sorrindo, e eu também. Nós éramos felizes, por que demos tudo a perder? Eu juro que o perdoaria por tudo, pois não estou mais agüentando ficar sem ele.

─ Onde está o pai Pierre? - Fiquei tão distraído pensando nele que não vi a Melanie se aproximando. Ela estava sentindo falta do Pierre, é claro... Ela vivia grudada no pescoço dele. Ela o amava, e ele também o amava. Seu amor de pai era esplêndido.

─ Ele está... Morto. - Eu disse sem medir as palavras. Afinal, do que eu estava falando? E ainda tive que aturar Melanie perguntando do Pierre. Tudo bem que ela era uma criança, e elas normalmente são curiosas e preocupadas, eu também fui assim... Mas só de falar em Pierre Bouvier, eu começo a chorar. É inevitável. Quando percebo, meus olhos já estão cheios de água.

─ Morto? - Perguntou Melanie aos prantos.

─ Não, gatinha... Ele está vivo, apenas sumiu. Aliás, eu não sei mais. - Pronto, agora piorei a situação. Nunca irei me perdoar por ter feito isso com a Melanie. David, para de dizer bobagens.

─ Liga para ele.

─ Não adianta, princesa. O celular dele está desligado.

O que podemos fazer quando magoamos as pessoas? E depois sentimos falta delas? Será que existe uma cura para isso? Eu queria muito que existisse, pois não sei mais o que eu faço da minha vida. Todas as noites sonho com Pierre me abraçando e dizendo que vai me proteger sempre, mas infelizmente, nada disso é realidade. Apenas queria receber uma mensagem agora dizendo: “Desculpa, te magoei devido à minha ignorância, à minha inconsciência, à minha falta de jeito. Darei o meu melhor para me modificar. Não me atrevo a te dizer mais nada”, mas toda vez que olho para o celular, não há nada de novo. Será que ele pensa em mim como eu penso nele? Ele se foi, e tudo o que me restou agora foram as lembranças de que um dia foi algo bom. Eu me lembro de ter acordado chorando essa noite, e sendo invadido por uma brisa matutina gelada. Talvez eu tenha dormido com a janela aberta. Mas ah, o que me importava? Eu poderia pegar uma pneumonia e morrer agora mesmo, não faria diferença a ninguém.

[...]

Todos os motivos foram poucos para mantê-lo ao meu lado. Ele se foi, e ficaram apenas as coisas sem valor algum para mim. Qualquer barreira que eu colocasse em minha frente, seria fraca demais para deter todo o amor que sinto. Um amor tão grande que chega a doer. Já tentei esquecê-lo, evitar olhar para ele, mas meus olhos teimosos buscam-no. Eu prometi deixar de beijá-lo, mas em meus sonhos, meus lábios se encontram com os dele. Tentei nunca mais lhe tocar, mas minhas mãos podiam senti-lo, mesmo que nada daquilo fosse real.

Faz muito tempo que não nos falamos, não nos sentimos, não nos beijamos, não nos tocamos... Doía muito vê-lo perto de mim, nos palcos, e eu sem poder conversar ou dar um abraço sequer. Eu o sinto distante de mim, porém a presença dele é sensível em meus pensamentos. Por que tem que ser assim? Será que eu fiz algo de errado para merecer isso?

Mas é claro que tudo foi um terrível engano, e eu só queria poder consertar isso. Eu olhava para o meu celular, sem parar, e minhas mãos estavam trêmulas. Eu suava frio, e só podia ouvir os sons de meus soluços e de minha respiração ofegante. Meus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, e meu rosto estava seco devido às lágrimas. Eu estava tendo um interminável ataque de confusão. Tudo estava tão claro em minha memória... Estou aqui, sentado no sofá, olhando para o tapete felpudo sobre o chão, onde Pierre e eu costumávamos ficar nas noites frias. Ele acendia a lareira e me abraçava, enquanto assistíamos televisão debaixo de um cobertor grosso. Eu amava esses momentos. Amava sentir o calor de seu corpo ao entrar em contato com o meu, amava sentir o gosto de seus lábios - eram doces -, amava abraçá-lo... Enfim, eu amava e amo tudo nele. Por Deus, como eu posso amar tanto uma pessoa? Eu jurei para mim mesmo que nunca mais iria pensar em Pierre, mas o fato é que eu não consigo esquecê-lo. Ele domina os meus pensamentos por inteiro, e faz meu coração bater mais forte.

“Vasculhava, procurando o texto que me identificava. Achei um aqui outro ali, mas nenhuma me ajuda, eu só ficava mais confusa. Resolvi escrever um, seria um bom jeito de me entender. Pois bem, primeiramente nunca achei que ia escrever um texto sobre você, que ate semana passada acreditava ser o meu passado. Mas você sempre volta, não sei se o fato de ter sido o meu primeiro amor ajudou. Mas é simplesmente impossível esquecê-lo. O pior é não saber dar nome pro meu sentimento indefinido. Quando começamos foi um jeito estranho, namoro de porta, todo mundo procurando uma brecha para nos entender. Eu, uma garota nova na cidade, namorando um garoto famoso por ter ficado com varias. Mas acreditei na gente, você morando uma rua depois da minha, eu mudei por nós. E eu sei que você também, os seus problemas eram maiores do que os meus. Eu sempre estava ali para você, apesar de ser a ultima pessoa a quem você recorria. Você começou a sumir, começamos a nos afastar ao ponto de você procurar uma brecha para acabar, e acabou. Mudei de cidade, acreditei que seria mais fácil se não te visse, evitava as redes sociais e mantinha a minha cabeça ocupada no Senhor. Mas quando volto acessar, vejo uma coisa que deixa parecer tudo… em vão. Você já tinha me superado, o seu status de relacionamento serio não mentia. Senti um aperto esmagador no peito, minha barriga parecia está gélida e afundando, resolvi que o melhor seria evitar. Fui embora de vez. Não sei bem por que você sentiu a minha falta, mas sentiu. Acredito que sentiu falta de ter alguém pra você, depois de meses veio me procurar, ainda namorando, e eu que estava tentando ser feliz com outro alguém bastou ouvir a sua voz para perceber que não era ele. Começamos a conversar de madrugada, riamos, relembrando o passado. Ate que você me pergunta se eu o amava. Logo eu, que temia dizer alguma coisa a respeito de nós dois, falei que seria melhor se você falasse primeiro. E sem meio termo, você namorando dizendo que me ama. Eu que já estava confusa, a confusão cresceu mais, sabia que você gostava de mim quanto eu gosto de você. Mas você não quer desistir do seu namoro. E assim estamos, eu cá e você lá. Amando-nos, mas não estando juntos. Será que um dia voltarei a ser sua? Não sei, ultimamente tenho feito coisas que nunca imaginei. Como já disse, nunca me imaginei fazer um texto pra você…”

Abri o meu laptop e logo em seguida a Internet. Fui até o meu Facebook, conectei o chat para ver quem estava online e adivinha... Pierre Bouvier online. Meu coração deve ter ido lá à lua e voltado. Minhas mãos começaram a suar, e minhas lágrimas foram ficando cada vez mais profundas. Escorriam por todo o meu rosto, molhavam o meu pescoço e também o teclado do laptop branco da Apple. Eu nunca imaginei que um dia iria usar um laptop de marca. Ou melhor, eu nunca imaginei que um dia teria um laptop. No máximo uma máquina de escrever, mas laptop... Bom, enfim, agora não é hora de pensar em luxo. Fui até o perfil dele e comecei a procurar por todas as fotos. Burrice minha ter feito isso, comecei a chorar mais ainda. Haviam fotos minhas com ele em praticamente todos os álbuns... É, parecia que ele não havia me esquecido, e algumas mensagens de indireta - que estava mais para direta - em seu mural. Todas falando de amor não-correspondido e de separação. É claro que era para mim, estava na cara... Ah, ele ainda me amava.

Deixei um sorriso largo e bobo se formar em meus lábios, e em seguida, abri uma janela de conversa. Escrevi uma mensagem dizendo: “Me encontre no edifício Plymouth, no último andar. Estarei esperando na sacada”, e enviei. Fiquei observando horas e horas o nome dele na janela de conversação, e de repente, apareceu a palavra ‘visualizada’. Ai meu Deus, ele viu a mensagem. Mas não me respondeu, apenas viu. Eu já estava arrumado, e então saí de casa. Eu sei que ele não havia me dado a certeza de que realmente estaria lá, mas eu não perco as esperanças, e acredito que meu amor voltará para mim.

No dia anterior, eu havia visto algumas mensagens de uma menina chamada Priscila no Facebook. Deve ser a tal namorada de Pierre, mas eu não liguei. Eu sabia que ele só estava com ela para esquecer-se de mim.

Pierre

─ Priscila, como eu disse antes... Eu amo o David, e não agüento mais ter que mentir para você. Perdoe-me. - Eu escrevi uma mensagem para ela. Mas agora era tarde, ela já estava longe. E agora a mensagem de David... Ah, eu acho que não vou ao edifício. Ou eu devo ir? Estou tão confuso.

David

“Eu tenho medo da velhice. Sempre tento acumular algum crédito na vida para ter direito a um desejo poderoso. E esse desejo sempre é o mesmo: não quero perder minha sanidade. Prefiro me ausentar do mundo aos sessenta (no máximo) do que agüentar até oitenta, sem saúde e sem consciência. O maior dom que possuo é a capacidade de pensar e sentir. E toda minha peleja até hoje é a tentativa de equilibrar os dois. Ficar sem a razão seria por demais dolorosos, mas ainda que minhas dores que já fazem moradas nesse corpo quarentão. Não é da solidão que tenho medo. Não. É da dependência. Tenho medo de não dar conta de terminar minha garrafa de vinho. Tenho medo de não lembrar mais das músicas que conseguia tocar no violão, por não precisar mais dele. Tenho medo de assistir a um filme muito bom e não mais chorar com seu personagem. Tenho medo de que toda lembrança guardada na caixa se torne apenas matéria bruta. Tenho medo de não dar conta de fazer meus próprios curativos. Tenho medo de não conseguir sair de meus abismos. Tenho medo de me perder em mim. Não quero que meu sentimento caminhe sozinho, sem rumo e sem companhia. Ser pouco racional já é difícil, imagine não ter razão alguma! Tenho medo da velhice. Que a vida já me traga todos os problemas que ainda preciso enfrentar e me salve dessa loucura. Continuarei acumulando meus créditos para garantir meu pedido único. Não me tire a sanidade.”

Caminhei até a porta da sala, indo agora para a rua, após trancar a porta. Melanie quis me seguir, mas eu a deixei cuidando de Lennon. Eu queria resolver meus problemas sozinho. Não sei se era o certo a se fazer, mas preferi que fosse dessa maneira.

“Nem toda a frase a gente anota. Nem todo grito se conta. Nem todo tropeço sangra. Um vício puxa o outro e eu vou dizendo que ainda posso segurar. Vou passando aos passos curtos para que possa me olhar de lado porque de frente a sombra é longa. Disseram-me um dia que não se pode partir. Que esse dizer adeus ou a falta dele acarreta toda uma lembrança. Disseram-me que o erro é quando se volta, porque se diz adeus pensando quando a bilheteria abre no outro mês. Mas devem saber que nesses instantes a imparcialidade deve vigorar, você sempre tem que ficar depois do vidro, para que quando se exploda não venha tudo. Não se pode rasgar tudo e dizer que passará por novas linhas, fomos feitos de tinta, o resto tudo é efeito dos olhos. O que eu quero lhe dizer, é que não se escrevem cartas, porque se chegar e não houver retorno, torna-se uma via sem saída. O que realmente quero apenas sustentar, talvez seja que quem tem que dizer adeus, é quem fica.”

Adentrei a um dos elevadores logo que cheguei ao edifício, e apertei o botão que me levaria até o último andar. Cheguei lá, e apoiei meus braços na sacada, olhando para baixo, a fim de ver Pierre entrando, mas não vi nada, nem a sombra dele.

Uma hora, duas horas, três horas... Já se passou tanto tempo, e nada do Pierre aparecer. Decidi ir embora, mas quando virei o rosto para ir, lá estava Pierre, me olhando.

─ Você veio. - Deixei um sorriso largo se formar em meus lábios após dizer. Eu fiquei o observando por muito tempo. Tempo suficiente para meu coração acelerar. Ele também estava sorrindo para mim. Aquele sorriso perfeito, no qual eu sentia falta de poder vê-lo novamente. Ele estava lindo, com o cabelo ajeitado e aquele perfume gostoso que tanto me encantava, e ele sabia disso. 


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