Got My Heart In Your Hands escrita por Julia


Capítulo 109
Mil e uma feridas


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/231096/chapter/109

POV: Marie Lee

Como agora eu iria ser mãe, eu sabia que teria que arcar com todas as responsabilidades. Aliás, desde pequena eu fui responsável pelos meus atos. Meus pais nunca deram a atenção que eu merecia, mas de qualquer forma, são meus pais. Decidi ligar para eles e contar a notícia:

─ Alô? - Atendeu minha mãe.

─ Mãe, é a Marie.

─ Eu sei que é a Marie. Você é minha única filha.

─ Pois é. Eu liguei pra te contar uma notícia que vai deixar a senhora muito feliz.

─ Desembucha logo, menina.

─ Eu vou ser mamãe.

Escutei o grito de minha mãe e do meu pai no telefone. Ela havia colocado no viva-voz.

─ Você enlouqueceu, sua vadia?

─ Vadia? Mãe, eu já sou maior de idade, vou me casar.

─ É uma vadia, pois se entregou para o primeiro homem que passou.

─ Me entreguei para o homem da minha vida.

─ Você ainda nem saiu das fraldas e já está falando em casar e ter filhos?

─ Mãe! Você está achando que eu sou alguma criança?

─ Pois vai cuidar desse bebê sozinha, sua vagabunda! - Disse minha mãe desligando o telefone na minha cara.

Caí sobre meus joelhos e comecei a chorar, até faltarem lágrimas. Aquilo tinha sido muito cruel, e eu não esperava esse tipo de atitude.

POV: Jay

Fui até a sala e vi que a Marie Lee estava muito triste. Na verdade, chorando sem parar, com direito a soluços. Preocupei-me e fui perguntar.

─ O que houve, meu amor? - Perguntei colocando uma de minhas mãos em seu ombro.

─ Nada, não foi nada.

─ É claro que tem alguma coisa. Isso aí não é de cisco.

─ Ah, Jay... - Ela me abraçou e chorou mais ainda. ─ Você é o que mais se preocupa comigo.

─ Sempre farei isso. Mas o que aconteceu?

─ Minha mãe me chamou de vadia quando contei que estava grávida.

─ O que? Você já é maior de idade.

─ Eu sei, mas pra eles eu sou uma vadiazinha que se entregou pra qualquer um.

─ Sabia... A culpa é toda minha.

─ Não, Jay... Não é você. Você é um doce. O papo é comigo. - Ela chorou mais ainda, e eu só consegui abraçá-la forte e acolhê-la em meus braços.

De qualquer forma, eu senti que estava passando confiança a ela.

“Lembra da nossa primeira conversa? Ou das nossas primeiras risadas? Ou até mesmo quando eu cheguei ao ponto de ser tão idiota só pra arrancar aquele seu sorriso bobo? Eram bons tempos, tempos que a gente não se preocupava com o futuro, vivia o presente, poderia até chegar a fazer planos, mas sem encarar a realidade. Vivíamos em um conto de fadas, mas na vida real é diferente. Vai muito além do desejo, do carinho, afeto e de todo esse amor. Talvez fizessem de tudo pra fechar os olhos e não aceitar a realidade, simplesmente fingir e acreditar que iria da certo, que tudo iria fluir do nosso jeito. Mas o amor é assim mesmo, ele tapa teus olhos do que é certo e errado, para você apenas enxergar o que te faz bem, aquilo que te conforta quando tudo ao seu redor é desagradável. Mas o que eu posso fazer se a vida quis assim? Ou será que esse seu labirinto cheio de caminho e obstáculos foram impostos para serem batidos ou simplesmente porque ali não é o meu lugar? Que talvez essa não seja estrada da minha vida? Essa pode ser pergunta que todos fazem a si mesmo, mas a vida não é simplesmente uma pessoa que possa te responder, você não pode esperar e muito menos cobrar uma resposta. Mas como em um jogo, tem suas regras e exerções.  A vida também tem uma exerção. Ou você fica ai parado, esperando uma resposta que nunca vai até você ou você toma uma atitude e encara tudo isso, encara a vida de frente e descobre o que realmente te espera.”

POV: Laurence

Sébastien e eu estávamos em casa. Mas era incrível, eu nunca havia visto o Seb naquele estado... Bebendo muito, de ficar tonto. Alterei-me e comecei a gritar.

─ Sébastien, para com isso!

─ Cala a boca, sua piranha!

─ O que disse?

─ Piranha.

“Quando tá tudo indo bem, eu sempre tenho a sensação de que alguma coisa, no fundo, tá muito errada. Sei lá, é como se um relacionamento saudável fosse impossível no meio dessa merda toda, e quando eu não posso ver os erros, eu fico com essa certeza de que estou sendo enganada. E fico procurando, investigando, revirando o mundo pra encontrar os vacilos, mentiras, motivos pra terminar. Percebe a loucura? É como se ninguém pudesse me amar e ponto, de tanto colarem o adesivo de 'trouxa' na minha testa, qualquer carinho me parece suspeito. Percebe a tortura? Fico oscilando entre confiar e desconfiar, querendo viver uma história leve e sempre me afundando nas minhas neuroses e cicatrizes. E homem nenhum agüenta isso, homem nenhum percorre meu labirinto até o fim. Mas como eu poderia me entregar, sem antes saber se posso ir inteira? Como posso confiar de novo, sem saber se vai ser realmente diferente? Quero alguém que rompa meus lacres, não que me lacre mais! E sigo estragando tudo, só pra não ficar pior depois. Quando eles finalmente se cansam e caem fora porque eu sou louca de pedra, eu fico satisfeita. Volto pra fossa por um tempo, sem mistérios, já conheço bem o lugar e a porta de saída. E penso 'Viu, sabia que eu tava certa'.Não sei o nome disso que estamos sentindo um pelo outro e também não me importa. Pode ser o ápice ou o precipício, e tudo bem. E também não sei se teremos habilidade para cultivar isso por três semanas ou por três décadas inteiras. Só sei que agora estou interessado em saber como será o próximo passo.”

─ Seb, o que houve?

─ Fica quieta, eu não quero ouvir a sua voz. Você não presta.

Aquela voz ecoou na minha cabeça. Eu não acredito que estava sendo humilhada pelo meu próprio marido. Subi para o meu quarto, chorando, e comecei a arrumar minhas malas. Sébastien continuou bebendo, e estava sendo agressivo comigo. Sabe o quanto está doendo aqui dentro? Uma dor insuportável, uma angústia maior do que se pode imaginar.

“Apaixone-se por alguém que te curte, que te espere, que te compreenda mesmo na loucura; por alguém que te ajude, que te guie, que seja teu apoio, tua esperança. Apaixone-se por alguém que volte para conversar com você depois de uma briga, depois do desencontro, por alguém que caminhe junto a ti, que seja teu companheiro. Apaixone-se por alguém que sente sua falta e que queira estar com você. Não apaixone-se apenas por um corpo ou por um rosto; ou pela idéia de estar apaixonado.”

Pensei em ligar para um dos meus amigos, mas eles iriam dizer para Sébastien, e então decidi sair de casa sem avisar a ninguém. Sébastien estava dormindo no sofá, e eu peguei a minha filha e saí.

“Desapegue. Se desfaça daquelas roupas no fim do armário. Inove. Encontre um novo estilo de vestir, de ouvir música e se comportar. Varie. Acorde de bom humor e sorrindo pro dia. Surpreenda. Fale com aquela pessoa que você perdeu o contato há muito tempo. Perdoe. Abrace quem um dia te magoou. Ame. Diga palavras doces e beije aquela pessoa especial. Saia da rotina. Aproveite o dia pra ficar de pernas pro ar. Vença desafios. Ultrapasse suas limitações. E que tal começar por agora? Sempre é hora de tornar tudo diferente, de mudar o que é monótono, sempre é hora de fazer a vida feliz. Eu tolamente me afundei na mesma melancolia de sempre, deitada a deriva em um cobertor velho e surrado, lá estava eu me culpando pelas mesmas burrices rotineiras. Eu estava ali à deriva, deitada com a cabeça inerte, com os sonhos destroçados e a alma assustada. Eu estava diante dos mesmos problemas infelizes de sempre, cercada pelo fracasso e pela fadiga. Naquele instante meu coração deu um grito fininho, seco e baixinho. Um sussurro do peito, um clamor da alma por uma solução instantânea, como se no caso sumir fosse a única maneira plausível de se evitar a dor.”

POV: Sébastien

Já eram dez da manhã e eu acordei com uma maldita ressaca, acompanhada de dor de cabeça. Fui até a suíte e tomei um banho, para relaxar. Depois que saí, dez minutos depois, fui olhar a Lauren...

─ Onde ela está? Ah, deve ter passeado com a Laurence. Mas que estranho, por que ela não me disse aonde foi?

Andei mais um pouco e havia uma carta sobre a mesa, que dizia o seguinte:

"É fácil entender seu cansaço, seus porquês, seus ais. Difícil é entender sua indiferença, sua distância. Não me peça compreensão, não me peça para não confundir isso com desamor, pois para mim desatenção desamor é. Estou ferida, estou sofrendo. Amor não deveria causar dor, mas é sempre o caminho pelo qual atravessamos. Amar dói. Dói sempre, mesmo quando estamos felizes. E como dói! E desamar não causa alívio. Aí está a difícil escolha. Escolha! Como se tivéssemos! Como se fosse possível comandar a esse pedacinho pulsando dentro de mim e dizer a ele ame ou desame! Ele tem vida própria. Pior, vontade própria. De uma teimosia insólita! De uma insolência extraordinária! E como é mimado, cheio de vontades! Não aprende nunca! E você assim, brincando com ele como se fosse apenas de papel... Se brigamos, jogamos pra fora as mágoas que estão por dentro antes que criem raízes. Mas o silêncio me fere! Ah! Brigue comigo, mas não fique calado. Não suporto a voz do silêncio quando sinto que há tanta coisa que poderia ser dita. Depois que te conheci, passei a ser nós. Agora preciso reaprender a ser uma metade de nós dois em busca de si mesma. Serei de nós dois a parte que ficou. Ficou triste e desamparada, mas cheia de vontade de seguir adiante. Porque a vida não acaba quando um amor acaba, ela apenas toma uma nova direção. Poderei ser sua amiga, a melhor que você já teve, mas não me peça para deixar em pausa meu amor. Ele não saberia se estagnar, mesmo se eu brigasse seriamente com ele. Mas você, você precisa de uma amiga, não de um coração perdidamente apaixonado por você. E você terá. Só que como nunca aprendi a separar bem as coisas, deixo aqui esta carta de despedida. Despeço-me sim, desse amor, para que nasça a amizade que vai te fazer levantar. É mais fácil procurar um ombro amigo que um coração amoroso quando se está infeliz. Pelo menos para alguns. Então deixo meu amor nessas linhas. Tenho ainda lindos momentos para recordar, de tudo o que vivemos. E eles enfeitarão minhas noites como as gotas de chuva na janela. O futuro já não existe. Digo ao meu coração para que não fique triste. Mas ele se escondeu no fundo da minha alma para não me ouvir. Melhor ir dormir e sonhar com estrelas. Amanhã serei apenas um alguém mais no caminho do amor desencontrado. Mas... Por você e para você, nasce uma amiga para te acompanhar em todas as suas horas. Ou não..."

─ Laurence, o que é isso? - Comecei a chorar lendo a carta e fui até a casa de Pierre.

(...)

─ Seb, o que houve? - Ele perguntou.

─ Laurence foi embora.

─ Por quê? - Indagou David assustado.

─ Eu não sei, eu não fiz nada.

─ Tem certeza? Ela não ia te mandar isso do nada, Sébastien. Acho que foi por causa da sua embriaguez. Você disse algo que a machucou? - Disse Pierre.

─ Sinceramente, eu não me lembro de nada. E se fiz, queria ter a chance de pedir perdão.

─ Tarde demais...

─ Obrigado por levantar o meu astral, David.

─ Você queria que eu dissesse o quê, Sébastien Lefebvre? Com certeza você deve ter feito alguma burrada e magoado a pobre da Laurence. Se eu descobrir que você falou alguma coisa que a deixou mal a ponto de tomar essa decisão, você vai se ver comigo, ou eu não me chamo David Phillippe Desrosiers.

─ E vai se ver comigo também. - Pierre me olhou seriamente.

─ Meu Deus! Eu só vim aqui desabafar e é isso que eu ganho?

─ Seb, você magoou a minha melhor amiga, o que mais queria receber depois disso? Cara, na boa, vai embora da minha casa antes que eu acabe brigando com você, e eu não quero isso. - David apontou para a porta e eu saí de lá, cabisbaixo.

POV: Pierre

Mais um problema para mim... Eu só queria encontrar a Lennon, onde ela se meteu? Ah, a Melanie deve saber de algo.

─ Cadê a Melanie? - Dei um grito.

─ Eu não sei, amor.

─ Aquela Sarah tem alguma coisa a ver com isso, eu sei.

─ Vamos procurá-la.

POV: Lachelle

Minha filha desaparecida, meus amigos lidando com uma psicopata, Sébastien se embriagando e humilhando a pobre da Laurence... Deus, o que eu faço? Preciso ajudá-los.

Desci e fui até o Pierre e o David, que estavam dando passos acelerados pela rua.

─ Querem ajuda?

─ Eu estou desesperado, Lachelle. - Pierre chorava.

─ Calma... Eu acho que sei aonde Sarah foi parar com a Lennon e a Melanie.

─ Aonde? - Questionou  David.

─ Na cabana onde Nemours morava e... Estuprou as meninas.

─ Vamos pra lá.

─ Eu só estou dizendo que acho. Não consegui ver lá de cima, tinha outras missões a cumprir.

─ Tudo bem, isso já é uma pista muita boa. Obrigado. - Pierre se despediu e foi correndo para a cabana de Nemours.

POV: David

Fomos até a cabana de Nemours, mas... Sarah não estava lá.

─ VADIA! - Pierre chorou mais ainda.

─ Calma, amor. - Tentei acalmá-lo.

─ Como você ousa me pedir pra ficar calmo numa situação dessas, David? São a Lennon e a Melanie, duas crianças que não sabem se defender.

─ Eu só estou pedindo pra tentar relaxar um pouco.

─ Relaxar como, Desrosiers? Você não tem sentimentos?

─ Claro que eu tenho, e estou tão preocupado quanto você.

─ Pois não é isso que está parecendo.

─ Escuta... Eu estou muito preocupado sim, mas tenta se acalmar. Isso vai ser pior.

─ Enquanto eu não achar as duas, e principalmente VIVAS, eu não vou ficar calmo. Vai pra casa que eu vou encontrar as meninas sozinho.

Pierre me ignorou completamente e entrou novamente ao carro, me deixando sozinho. Fui a pé para casa e levei muito tempo, pois estava longe.

POV: Sarah

─ Vai comer toda essa comida. - Ofereci à Melanie um prato com minhocas.

─ Eu não gosto.

─ COMA!

─ Não! - Melanie jogou o prato na minha cara.

─ O que? Eu te pego, menina.

Peguei a Melanie pelos cabelos e a levei para outro quarto, enquanto Lennon dormia no sofá. É, até que ela parecia um anjo dormindo... Mentira! Pierre deve estar doido procurando pela filha. Risos maléficos. Vou me vingar de todos que duvidaram de minha capacidade. TODOS.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Got My Heart In Your Hands" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.