Montreal, Canadá

Em um simples dia, às sete horas da manhã, como todos os dias, David Desrosiers conduziu-se até a porta da pequena residência para ir à escola com sua irmã mais velha, Julie. Ambos viviam numa residência beneficiada pelo governo, já que a vida de David não era tão fácil como ele queria que fosse, mas ele ainda tinha o sonho de ser músico, pois acreditava que seu sonho iria realizar-se e, assim, sua vida melhoraria completamente.

Ele nasceu em Londres, porém precisou se mudar para Montreal e estudar muito. Seus pais eram separados e, portanto, precisou trabalhar para sustentar ele e a irmã, o que era estranho pensar, já que ele era o irmão mais novo.

No caminho para a escola, David e Julie necessitavam passar por um túnel escuro e extremamente arriscado, no qual ele tinha pânico, mas não havia outra escolha. Logo em seguida escutou-se uma voz furiosa e grossa de um velho homem, que vociferava blasfêmias: era um morador de rua, que assim como David, levava uma vida muito complicada.

Seguiu-se ruído de passos rápidos, era o homem indo embora, e então os jovens puderam sair do túnel na total segurança. Prosseguiram o caminho até chegar finalmente na escola. Primeiro dia de aula, sem conhecer ninguém, sem saber quem eram seus novos colegas, e se iriam gostar.

Da mesma forma, eles entraram e seguiram até a sala correspondente ao número que havia no papel de cada um. David de um lado e sua irmã de outro, só podiam se ver pela janela.

David locomoveu-se até o fundo da classe, colocou sua mochila na cadeira ao lado, tirou seu Ipod do bolso que ganhou de aniversário de uma amiga da sua irmã, e repousou a cabeça na carteira, aguardando o início da aula. Pierre Bouvier, conhecido por toda a escola, aproximou-se de David e bateu em seu ombro, e com uma voz tímida, perguntou:

– Oi, desculpa lhe atrapalhar, mas eu posso me sentar aqui?

David tirou imediatamente sua mochila da cadeira, e olhou para Pierre, e com a face totalmente corada por ter ficado encabulado, respondeu:

– Ah, me desculpe, eu não sabia que existia alguém que sentava aqui.

Pierre sorriu, e disse:

– Eu sempre me sento aqui no fundo. E... – Pierre hesitou ao falar, por estar muito tímido - Você é novo por aqui, não é?

David, ainda com a face corada, olhou para baixo e pronunciou-se:

– Sim, eu sou de Londres, mas me mudei pra Montreal quando tinha 10 anos de idade. Hoje é o meu primeiro dia.

Pierre não desconfiava da vida que David levava, mas continuou a sua conversa, pois havia algo muito especial e humilde em seu novo colega, algo que ele não via em outras pessoas do colegial.

– Seja bem-vindo. Como você se chama?

David tossiu antes de responder Pierre, pois ele não estava acostumado com tanta atenção, e muito menos com pessoas querendo a amizade dele, já que ele era solitário e só tinha a companhia da irmã.

– Obrigado. Ah, o meu nome é David. E você, como se chama? – Novamente a face de David pôs-se a corar.

– Meu nome é Pierre. Prazer em conhecê-lo, David. Espero que goste de sua nova escola. Aqui não é a melhor de todas, mas você sobrevive, vai por mim. – Pierre pôs-se a rir.

O jovem David riu também, e observou um bruto aluno entrar na classe. Era Joel, capitão do time de basquete, que namorava a líder de torcida, Hayley. Os dois muito de nariz empinado, como os colegas costumavam chamá-los. Joel era homofóbico e valentão, maltratava todos os homossexuais que ele via pela frente, ou seja, era um pobre garoto que não conseguia ver igualdade nas pessoas.

Por fim, entrou a professora. Seu nome era Christina. Cabelos pretos e longos, estatura alta, olhos claros, magra... Uma professora muito bonita que dava aula de Química há 12 anos.

David bocejou enquanto a aula começava, pois sempre detestou Química. Não que fosse uma matéria chata, mas ele tinha certo medo da matéria. O motivo era que seu professor em Londres o detestava por sempre chegar atrasado, mesmo com notas excelentíssimas.

Seu professor o beliscava, batia a régua na mão dele e arremessava qualquer objeto que estivesse em ambas às mãos. O bullying sempre foi frequente na vida do pobre Desrosiers, pelo fato de ser homossexual não totalmente assumido, pois o que o torturava por dentro era saber que sua irmã não aceitava pessoas assim diante dela, e também pelo preconceito que ocorria com frequência na sociedade.

Ele era ciente de tudo o que acontecia, já presenciou mortes de gays e lésbicas em sua rua, e isso traumatizou David profundamente e, por isso, não sentia coragem de se abrir com alguém e contar sobre a opção escolhida. Mesmo tendo estudado numa escola só de meninos onde vivia, ele nunca se aproveitou para ficar com alguém de lá, afinal, desde criança ele sofria preconceitos.

Entrou em depressão quando seus colegas acabaram descobrindo sua homossexualidade, os mesmos diziam palavras cruéis contra ele, e já o ameaçaram de morte. Mas mesmo com todos esses problemas, David ainda conseguia levar uma vida normal superando todos os preconceitos e xingamentos.

Ele não sabia ao certo o quê, mas tinha certeza de que algo mudaria depois do primeiro dia no colegial. Temia desvendar o que se escondia por trás daqueles olhos castanhos de Pierre, por tê-lo tratado tão bem, talvez não estivesse preparado para isso.