Segredos Em Família escrita por Carol Bandeira


Capítulo 19
AÇÃO DE GRAÇAS: UM Amor DE AVÓ


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Após terem um tour da casa e deixarem as malas no quarto de hóspedes, Noah e sua mãe estavam na sala de estar conversando com Grissom. O perito ensinava a seu filho noções básicas da linguagem dos sinais americana.

—Não se preocupe com tudo isso, Noah. Sua avó sabe leitura labial como ninguém. Vocês não terão problemas em se comunicar. Além disso, ela já está mais do que feliz em saber que tem outro neto.

Noah deu um sorriso fraco. Ele não conseguia ficar tranquilo com esse encontro, assim como no dia que encontrou com seu pai pela primeira vez. Ele queria muito ser acolhido por essa família como fora pela de sua mãe, mas sabia que o trabalho seria árduo. Afinal, ele já não era mais uma criança fofa, como sua irmã. E mesmo que seu pai se esforçasse para conhece-lo, tem certas coisas que não devia vir por esforço em uma relação entre pai e filho. A esposa de seu pai...ela parecia uma pessoa legal, mas o garoto podia identificar um certo estranhamento dela para com ele. E ela também não ia muito com a cara de sua mãe. Cássia, por sua vez, não parecia muito alegre com a visita dele. O único sorriso que dera foi quando ele deu a ela uma pelúcia da Pepa Pig. Sara fez a pequena agradecer, e tentava a muito custo distrair a menina com a boneca. Mas ela parecia mais interessada em tentar tirar a atenção do pai de Noah para ela. O garoto estava tentando levar numa boa, mas começava a ressentir a pequena.

Sara finalmente conseguira tirar Cássia de perto de Gil ao lembrar a pequena de que ela precisava de ajuda para fazer seus biscoitos especiais. Cássia adorava brincar com a massa e ficava entretida na cozinha. Então Gil pode dar maior atenção a seu filho mais velho. Os dois conseguiram conversar mais um pouco até que o som da campainha reverberou pela casa, juntamente com o ascender e piscar de luzes nos cômodos da casa. Logo em seguida Cássia sai da cozinha gritando

—Vovó, vovó,vovó!- as mãos sujas de farinha e massa de biscoito

Hank vai atrás dela, latindo e com o rabo balançando, e logo em seguida vem Sara, pedindo para sua filha parar de gritar

—Bem, Noah, parece que sua avó acabou de chegar!- ele levantou-se do sofá, deu um tapinha no ombro do garoto e foi em direção a porta, onde a comoção ainda não havia parado.

Noah respirou fundo e sentiu a mão de sua mãe nas dele.

—Fica calmo, filho. Vai dar tudo certo. Vamos, não era isso que você queria?

O garoto se levantou e ele e sua mãe observaram dali a matriarca da família entrar na casa. Elegantemente vestida em um terninho caramelo, um lenço de um azul delicado no pescoço, os cabelos branco e tão curtos quanto os do filho, Betty Grissom entrou na casa de seu filho com um sorriso no rosto. Ela abraçou sua neta com carinho e deu um beijinho nas bochechas fofas dela. Logo em seguida Sara fez um rápido sinal com a mão e a senhora balançou a cabeça e respondeu com os mesmo gestos rápidos. Depois sorriu e deu um abraço na nora. Antes de falar com o filho correu os dedos pelo cachorro que tentava pular em cima dela. Gil puxou a mãe para um abraço apertado e mandou o cachorro se sentar. A fera fez o que foi mandado, e logo a comitiva fechava a porta e ia em direção a sala. Betty parou ao ver os dois desconhecidos em frente ao sofá da família. Mais uns gestos que Noah não entendeu nada em direção ao filho e Gil se precipitou a frente da mãe. Dessa vez ele falou enquanto gesticulava

—Mãe- ele parou o tempo suficiente para que pudesse pegar a mão de Betty e leva-la até seu filho, e ao coloca-la em contato com o garoto continuou- Este aqui é Noah...meu primogênito.

Noah detectou certo orgulho na voz do pai, e ele não pode deixar de estufar o peito em orgulho. Queria falar algo, mas sua voz não saiu. Ele nem se lembrava dos simples gestos para dizer “oi vó”. Mas mesmo se lembrasse não poderia faze-lo, já que a senhora estava agora em posse de suas duas mãos. Ela colocou uma mão no rosto do neto e o examinou com aqueles olhos da cor do mar. Após um tempo, ela o soltou e olhou para seu filho.

“Realmente, você tem o dom de não fazer filhos iguais a você. Somente a covinha e os olhos”

Gil sorriu para a mãe. Quando Cássia nasceu, Betty comentou a mesma coisa, dizendo que se não fosse pelos olhos e pelas covinhas no queixo, não dava para dizer que ela era filha de Gil. Realmente, a menina era a cara de Sara, sem tirar nem por.

“Muito bem vindo a família, meu neto!” ela surpreendeu a todos ao falar em voz alta, mas com certa dificuldade.

Noah ficou um tempo petrificado, mas viu seu pai atrás de sua avó lembrando a ele do sinal que ele havia aprendido. Quando Noah respondeu com um “Obrigado, vó”, a senhora ,não contendo as lágrimas, o abraçou forte.

O resto da família observava, com sentimentos distintos. Ângela de gratidão pela senhora por ter recebido bem a seu filho.  Gil de alívio, Sara comovida (tudo era razão para ela chorar esses dias), e Cássia com um ciúme daquele.

Neto e avó se separaram somente porque uma pequena massa se metera entre eles, implorando pelo colo da avó. Gil, preocupado com o comportamento da filha, a retirou dali, falando baixinho com ela para explicar que hoje a avó viera para conhecer o outro neto dela. Cássia abriu o berreiro, não estava acostumada a não ser o centro das atenções. Sem saber o que fazer, Gil olhou para sua esposa, que revirou os olhos e tomou as rédeas da situação. O que já era de se esperar. Naquela casa a disciplina se dava mais por conta dela. Ninguém poderia imaginar que o Gil Grissom, chefe do laboratório, que fazia todos se submeterem a ele com um olhar, poderia perder a compostura com uma miniatura de gente. Cássia o tinha nas mãos, e todos sabiam disso. Inclusive a pequena garota.

—Cássia, chega de choro- e levou a garota da sala, dando uma “mini bronca” na pequena.

Quando os barulhos diminuíram na sala o homem virou para seus convidados e falou

—Desculpem por isso. Ela geralmente é um amor de menina...

—Relaxa Gil. Obviamente, vai demorar um pouco até ela se acostumar a dividir a atenção com outra pessoa. Noah já é grande o suficiente para entender, não é meu filho?

Se não fosse ela não dera muita saída a ele a não ser concordar com ela.

Foi nessa hora que Betty parou para prestar atenção na ruiva. Elas não se conheciam de vista. Só sabiam uma das outras por comentários de Gil. Antes disso tudo ocorrer, Betty tinha uma impressão positiva da mulher a sua frente. Gil falava muito bem dela, e a mãe sabia pelo tom de voz de seu garoto que ela era uma das poucas pessoas por quem ele se afeiçoara genuinamente. A última vez que Gil comentara sobre ela fora, realmente a uns 16 anos, quando ela se mudara. Depois disso, Betty assumiu que eles perderam contato. A senhora só não podia acreditar no que ela conseguira esconder durante todos esses anos. Como essa mulher tinha coragem de estar de pé na casa dele, diante da família dele, sorrindo como se fosse a coisa mais natural do mundo para uma avó só ter tocado no neto pela primeira vez na vida 15 anos após seu nascimento!

Ângela mais uma vez sentiu a hostilidade vindo em direção a ela, desta vez da mãe de Gil. Ela se perguntou pela milésima vez se fizera a escolha certa ao aceitar o convite. Sabia que havia forçado a mão de Gil ao negar o direito do filho de visita-lo sem sua presença. Disse a Gil que tinha medo dele sozinho lá, e não estava mentindo. Só que essa não era a maior razão. Ela tinha medo de perde-lo. Medo de que Noah, ao ver essa família perfeita aqui, com um pai,uma mãe, a filinha até um cachorro, que ele se afeiçoasse tanto e preferisse ficar aqui. Uma noção ridícula, mas ela não conseguia pensar em outra coisa. Se convenceu de que era melhor estar ali e acompanha-lo na visita, depois voltar para casa com seu filho. Agora, em meio a tantos olhares tortos e ao sentimento de que não era bem vinda aqui ela quase puxou Noah para o quarto a fim de arrumarem as coisas e irem embora. Em vez disso, ela sorriu para Betty e perguntou a Grissom se ele se incomodaria se ela fosse até a varanda para acender um cigarro. Ele simplesmente a levou até fora e, em vez de voltar logo para a casa, parou e colocou as mãos nos bolsos da calça.

—Angie...me desculpe por isso...por Cássia e pela minha mãe.

—Não tem que se desculpar, Gil- ela disse enquanto chacoalhava o maço a procura de um cigarro- as coisas são o que são...as pessoas sentem o que sentem, e estão em seu direito.

—Você está em seu direito de sentir-se chateada- ele replicou

—Sim....- ela acendeu o cigarro e deu uma tragada, deixando a nicotina fazer seu efeito calmante antes de expelir a fumaça pela boca.-Eu...já sabia que seria difícil estar aqui, mas...já passei por coisas piores sabe?- deu uma risada fraca e exalou mais um pouco de fumaça- Só não achei que fosse me abalar desse jeito, sabe?  Mas vai ficar tudo bem. O importante é a felicidade do meu...do nosso filho. Fique com ele Gil...ele está aqui para isso. Eu só vou terminar esse cigarro e já entro.

Gil assentiu e voltou para dentro.    Na sala, encontrou seu filho e sua mãe, ambos entretidos com papel e caneta para conversar. E o papo parecia bem animado, fazendo com que Gil tivesse vontade de rir de sua ingenuidade. Era óbvio que Betty não deixaria a falta de conhecimento de Noah os atrapalhar. Anos de experiência a ensinaram a lidar com todo o tipo de adversidade. Um garoto como Noah nunca seria um problema para ela.

O homem da casa chegou bem perto dos dois, tentando não fazer barulho, para tentar ler por cima dos ombros deles, mas não foi bem sucedido.

“Olá filho! Espionando nossa conversa?”- Betty se virara bem na hora para pegar o filho de surpresa.

Gil teve a decência de parecer envergonhado, mas logo retrucou, sua voz e mãos trabalhando juntos

—Longe disso! Só quero saber do que falavam, para entrar na conversa

“Sempre com a língua afiada, esse seu pai” a avó escreveu, para benefício de seu neto

Noah riu, e disse a seu pai que sua avó só perguntava de sua vida em sua cidade. Com quem ele morava, onde estudava, quais são os hobbies do menino. Gil riu, pensando que sua mãe não perdeu tempo em fazer seu interrogatório. Mas ele entendia o porquê da avidez dela. 15 anos de vida em uns míseros quatro dias não eram o suficiente.

—Bom, já que estão confortáveis um com o outro, vou dar uma olhada lá em cima, para ver como Cássia está.

Antes que ele pudesse subir sua esposa desceu as escadas.

—Deixei ela no quarto. Ainda não tinha tirado sua soneca da tarde. Por isso estava chorosa.

—Ah, sim.

Sara reparou na ausência de Ângela, e perguntou ao marido. O homem respondeu apontando para a varanda, dizendo que ela queria um tempo sozinha. Depois puxou Sara até o sofá e o casal ficou observando avó e neto interagirem. Gil finalmente sentiu que tirou um peso enorme das costas. Agora sua família estava reunida, e Betty parecia aceitar bem o neto. Talvez agora sua vida pudesse se ajeitar.


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