Kushina sentou-se no sofá, ela não chorava, mas era possível ver o quão perdida se sentia por dentro. Afinal seu marido e único filho estavam lá fora, correndo perigo.

Passava das três da madrugada e todas ainda estavam na sala zelando por Gaara, exceto por Ino. Depois de chorar por incansáveis horas a garota relutou em dormir, mas Hinata a levou para seu dormitório com a desculpa de apenas trocar a roupa da loira que estava suja de sangue, chegando lá, espertamente, Hinata deitou Ino na cama, a garota continuou chorando e com os carinhos da amiga no cabelo ela deu-se derrotada pelo sono e finalmente adormeceu.

Decidimos não acordar ninguém da mansão, nem mesmo Kankuro, o outro irmão de Gaara, para não causar maiores tumultos.

Assim que amanhecesse teríamos que levar Gaara para o hospital, mas Karin alertou que alguns dos medicamentos usados por médicos poderiam neutralizar o poder curativo que tinha no sangue que doou a ele. O melhor seria chamar Tsunade, que descobri ser a melhor curandeira de pessoas como nós.

Seria estressante quando os alunos acordassem e vissem um colega machucado dessa forma inconsciente no sofá, então decidimos levar o garoto para um quarto privado na enfermaria, mas isso só seria possível a partir das cinco horas da manhã, pois não era seguro mexer em seu corpo enquanto estivesse tão fraco, precisávamos que o poder de Karin desse algum resultado para leva-lo.

Hinata tentou examina-lo, ver se tinha quebrado alguma coisa, como braços e pernas, ou algo mais grave como a coluna vertebral, ao que parece ela também tinha alguns poderes de cura, mas foi inútil. O novo sangue que corria nas veias do rapaz neutralizava a tentativa de descoberta da garota.

–Se não tivermos algum resultado em menos de quarenta e cinco minutos, lamento, mas acho que não teremos como salvá-lo. – Disse Karin um pouco menos sensível, pois Ino não estava ali e ela poderia falar as coisas diretas ao ponto, mas ela nem sequer pensou no que isso causaria á Temari que escutava a tudo entre soluços. Karin sabia que a garota era mais forte que Ino e poderia suportar a verdade melhor, mesmo que pra ela fosse tão doloroso quanto o sofrimento da namorada do seu irmão.

Seus irmãos eram o que ela mais amava entre todas as coisas, e perder um deles seria como perder uma parte de si.

–Você tem certeza que não há nada mais que possamos fazer? – Perguntou Hinata alarmada.

–Apenas esperar é o que nos resta, se meu sangue não puder curá-lo, nada conseguirá, nem mesmo Tsunade. – Falou a ruiva. – Acho que ele está em estado de coma agora. A ferida prejudicou muitos órgãos essenciais, e seus pulmões estão com problemas também, seu coração não está bombeando sangue corretamente, o que faz com que meu sangue demore a se misturar com o dele, assim sendo não há meio de cicatrizar...-

Eu estava preocupada com Gaara, realmente estava. Entretanto o que acontecia lá fora me intrigava mais, porque estavam demorando tanto? Será que alguém poderia ter... morrido? Peguei-me pensando nessas coisas. Hinata pareceu ter percebido minha aflição e veio se sentar ao meu lado.

–Como você está? – Perguntou-me colocando a mão nos meus ombros. Este pequeno gesto que provavelmente era para me acalmar apenas me fez sentir pior.

–Sei lá...- Suspirei olhando para o teto com os olhos distantes. – Na verdade, acho que não sei o que sinto agora. –

–Naruto comentou sobre você e Sasuke estarem próximos desde que você veio para cá. –

–Sim... Eu pensei que o conhecia Hina... como ele pode ter me enganado dessa forma? Parecia muito verdadeiro o jeito que agia comigo. – Desabafei com ela, com Hinata eu sabia que podia confiar (é o que eu espero).

–Sabe Saky, o Sasuke nunca foi lá a pessoa mais simpática do mundo, mas no fundo todos sabem que ele só demonstra seus sentimentos de outras maneiras... – Os olhos perolados dela se fixaram nos meus – Você não foi enganada, acho que você foi é privilegiada de ver o lado mais carinhoso dele, só Naruto presenciou um ato generoso do Uchiha uma única vez, e olha que se conhecem desde pequenos. –

–Eu sinto como se uma mão esmagasse meu coração sem piedade, mas acho que minha fonte de lágrimas secou por hoje. – Disse levantando do sofá e indo até a escada. - Avisem-me se algo acontecer com Gaara, boa noite a todas. –

Subi o início da escada devagar, transparecendo calma, com passos lerdos, mas assim que saí da vista das garotas na sala, comecei a correr sobre os degraus, muito rápido.

Eu corri e corri, até alcançar meu dormitório.

Abri a porta, dei um passo dentro do quarto e então desabei no chão de joelhos.

Eu havia mentido. Minha fonte de lágrimas não tinha cessado, definitivamente não.

O tapete do dormitório era cheio e macio, um bom lugar para chorar madrugada à dentro.

Não sei ao certo quando acabei adormecendo naquele tapete felpudo, mas parecia que tinha feito uma espécie de desligamento do cérebro ao invés de dormir.

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Assim que tentei me erguer meus ombros doeram muito, não pude conter o gemido de dor.

Fiquei esturrada no chão por mais alguns minutos, eu não tinha forças para me levantar, mesmo que quisesse nem minhas pernas me correspondiam. Meu corpo estava sem forças e dolorido pela noite mal dormida, mas eu queria sair dali, eu precisava saber o que tinha acontecido com Gaara e os outros.

Com toda a força de vontade que encontrei consegui levantar-me, fiquei tonta, mas isso não me impediu de ir até a porta e andar pelo corredor.

No meio do caminho parei, era sobrenatural a dor e as fisgadas que sentia no ombro, a estabilidade das minhas pernas cedeu e cai praticamente de cara no chão, pois não conseguia utilizar meus braços corretamente.

O que estava acontecendo? Porque sentia como se pesasse uma tonelada?

–Sakura? – Uma voz masculina chamou á minha frente. Ouvi passos correndo em minha direção. – Você está bem? – Perguntou o incógnito tentando me levantar. Tentei reconhecer sua voz, mas não consegui, o que significava que não era a de Sasuke, então porque se importar?

Estava tão fraca que abrir os olhos era um esforço enorme, senti o garoto desajeitado tentando me levantar, e finalmente consegui vê-lo. Ele tinha cabelo castanho curto, olhos bonitos e duas marquinhas vermelhas nas bochechas, uma de cada lado.

–Obrigada... – Agradeci pela ajuda. Assim que me pronunciei, novamente fiquei tonta e pendi para frente, onde os braços do garoto me seguraram firmemente.

Ele rodeou minha cintura e colocou um dos meus braços sobre seu ombro largo, mas eu gritei pela dor e ele se assustou.

–Meu ombro dói muito, seria bom se você não mexesse com os meus braços! – Falei rangendo entre dentes, eu tinha ficado com um pouquinho de raiva por esse desconhecido ter me tocado, quem ele pensava que era?

Recordo que deixei Sasuke me tocar da mesma maneira na primeira vez que nos vimos, mas esse garoto não era Sasuke, não tinha esse direito.

–Desculpe. – Ele retirou meu braço com cuidado. – Você não consegue andar sozinha? –

Olhei para ele indignada.

– Mas é claro que eu consigo! Por isso estava jogada no chão, adoro observar o mundo em outras perspectivas. – Falei sarcástica.

–Nossa, só quero ajudar, venha. –Dizendo isso ele me pega no colo, do mesmo modo que um noivo carrega a noiva.

–Não! Me solte. – Eu disse, mas não consegui me debater para me libertar daquele garoto. – Quem é você?

–Sou Kiba. – Ele se apresentou sorrindo, mas logo seu sorriso evaporou. –Você sabe me dizer o que está acontecendo na mansão hoje? –Perguntou-me como se adivinhasse que eu fazia parte da confusão.

–Alguém te disse algo? –

–É, mais ou menos, Neji me contou sobre Gaara que se machucou treinando ontem, mas ninguém sabe como ele se feriu tão gravemente. –

–Gaara está bem? – Não me conti e logo questionei.

–Não diria que ele está bem, mas respirando está, se quer saber. – Respondeu analisando-me. – Os boatos são verdade então. –

–Que boatos? – Perguntei assustada, sobre o que ele sabia?

–Aqueles que dizem que você é realmente linda. –

Fui pega desprevenida, senti minhas bochechas corarem de leve. Ele parecia legal.

–Então é isso que andam falando de mim, bem, obrigada. – Falei séria, estava longe de ficar feliz com um elogio.

Fomos até uma espécie de escritório onde estavam Kushina e Minato em silêncio, fiquei aliviada ao ver que ele estava bem e a salvo. Era menos um pesar no meu coração.

–Até mais, Sakura. – Se despediu Kiba carinhoso.

Ele me colocou deitada num sofá de canto que tinha ali e logo depois se retirou a mandado dos Uzumaki.

–Kushina, você poderia me fazer um favor? – Perguntou Minato à sua mulher.

–Claro, meu bem. –

–Preciso que prepare algo reforçado para Sakura se alimentar, e traga comprimidos para dores musculares também. – Ele fixou o olhar de Kushina. – Não tenha pressa. –

– Entendi.. – Ela compreendeu o recado do marido, e se retirou, para não voltar tão cedo.

O loiro se aproximou e sentou-se à beira do estofado.

–Eu sei que você não está se sentindo muito bem, mas não creio que possa adiar esta conversa com você. –Ele passou a mão nos cabelos dourados e suspirou. – Ontem você viu que Sasuke não estava consciente das coisas que fazia, depois que vocês se retiraram tudo ficou muito pior, Sasuke simplesmente nos atacava loucamente enquanto eu e Naruto tentávamos articular, mas parecia que ele nem sequer sabia falar. –

Vi nos olhos de Minato um pouco de decepção, além de cansaço ele sustentava um pouco de tristeza também.

– Naruto está bem? – Perguntei preocupada.

–Sim, ele está com Hinata agora, ela é a única que consegue acalma-lo. – Minato foi até a mesa pegou uma cadeira e puxou-a até a minha frente, onde se sentou.

–Sakura, enquanto lutávamos contra Sasuke nós vimos um selo sobre seu ombro esquerdo. –

–Um selo? –

–Um selo amaldiçoado. Eu já tinha ouvido falar sobre isso, mas foi a primeira vez que presenciei o poder de quem o possui. Sasuke mataria qualquer um que entrasse no seu caminho por causa desse selo, e não duvide disso nem por um segundo. – Ele me repreendeu.

–Onde Sasuke está? – Falei tentando me levantar.

Senti as mãos de Minato me puxando para baixo novamente para o sofá.

–O que acabei de falar? Desculpe lhe dizer isso Sakura, mas Sasuke se tornará um assassino agora, mesmo que isso não seja algo que ele mesmo queira. –

–Mas ele não tem culpa, tem? Ele não sabia o que estava fazendo! Alguém fez isso com ele.-

–Definitivamente alguém colocou esse terrível selo nele, e nós já temos uma noção de quem tenha sido, mas isso não muda a periculosidade da situação. –

–Eu quero vê-lo, sei que posso ajudá-lo. – Disse olhando para Minato, que balançou a cabeça negativamente devagar.

–Sasuke não está aqui. – Ele disse com os olhos fechados.

–Onde está então? – Perguntei ainda mais aflita.

–Ele foi embora. –Eu logo recebi o baque daquelas palavras. - Depois que eu e Naruto desmaiamos de exaustão, ninguém sabe para onde. –

Senti meu coração apertar, tudo ao meu redor pareceu ter evaporado, só conseguia imaginar os lindos olhos de Sasuke me observando, seu sorriso discreto e muito encantador misturado aos seus beijos quentes e viciantes... que talvez nunca mais receberia.

Tudo ficou embaçado e eu me deixei levar para aquela escuridão infinita que era tudo que sentia.

Minato chamou-me, e sacudiu meu corpo violentamente, o que me fez despertar.

–Aguente firme Sakura, você precisa comer e repor as energias. Ontem você tomou sua forma de arcanjo e parece que seu corpo sofreu os danos só hoje, isso havia acontecido antes? –

O Uzumaki me perguntou e nada respondi, não queria falar ou conversar agora, mas também não gostaria de sair dali, comer algo, ou fazer qualquer outra coisa.

Sasuke havia ido embora, era como se nada mais me restasse. Era patético. Patético que alguém que mal conhecia tivesse me devastado desse jeito, arruinado com a minha vontade de viver e seguir em frente.