Kisame trouxera um café da manhã bem caprichado, com tortinhas de morango e yogurte.

Depois de deliciar-me e ficar satisfeita, lembrei de Tenten.

Minha vida tinha virado de cabeça para baixo em apenas dois dias e tudo que havia vivido naquele orfanato parecia uma realidade muito distante da que vivia agora.

Pedira gentilmente á Itachi seu celular para que pudesse ligar para Tenten e deixá-la informada como tinha prometido.

Tenten atendera quase que imediatamente.

–Alô. – Sua voz soou no aparelho.

–Oi Tenten. –

–Sakura! O que houve com seu celular? Você tá bem? – Disse ela reconhecendo minha voz.

–Calma, eu to bem sim. Passei mal ontem a noite, mas me sinto melhor agora. –

–Como assim passou mal? O que você tem? – Obviamente Tenten ficou preocupada.

–Nada de mais, não tem porque se preocupar. Agora me conta como estão as coisas por aí? –

–Horríveis. Sem você aqui, acabaram por colocar uma nova colega de quarto. – A partir desse ponto Tenten começou a cochichar, talvez alguém estivesse por perto. – Ela é uma chata! Chegou querendo mandar em tudo, como se fosse a dona do pedaço. Imagina a reação dela quando descobriu que a antiga mesa de vidro havia sido quebrada, começou a pensar que éramos loucas de hospício e saíamos quebrando tudo. – Ela comentou aos sussurros.

–Bom, quando você vem me visitar? Daí eu posso te explicar melhor o que aconteceu com a mesa, porque se eu tentar lhe contar por telefone você provavelmente me acharia uma louca de hospício mesmo. –

–Irei esse final de semana, só preciso do endereço. Amiga, preciso ir, tchau. –

–Eu ainda não sei bem onde estou, te ligo mais tarde quando souber, ok? –

–Tá bom, beijos. –

–Tchau, beijos. –

E encerrei a ligação.

–Obrigada. – Disse entregando o celular á Itachi.

–Você não quer ligar para o Sasuke? – Perguntou ele antes de pegar o aparelho.

–Eu posso? –

–É claro, só procurar na agenda de contatos por “ Mano “. Aproveita e diz pra ele que estamos cuidando bem de você, para ele não me encher a paciência quando chegar. –

Procurei o numero de Sasuke, e logo o encontrei.

Apertei o botão Chamar e esperei até o garoto atender.

A resposta de Sasuke foi tão rápida quanto à de Tenten, imediatamente ele atendeu.

–Itachi? O que aconteceu? A Sakura está bem? – Aquela voz preocupada me encheu por dentro, e tive vontade de abraçá-lo, ridiculamente queria ele ali, do meu lado.

–Tô bem sim. –

–Sakura, é você? Cade o Itachi? Ele te deixou sozinha? –

–Não, ele 'tá aqui comigo, ele e Kisame, não se preocupe eles estão me tratando bem. – E tive que rir baixinho, era engraçado ver Sasuke tão preocupado e quase com raiva do irmão.

Vi Itachi e Kisame fazendo sinal positivo com os polegares, gratos por ter-lhes elogiado.

A voz de Sasuke tomou um ar mais calmo.

–E como você está se sentindo? – A ternura em sua voz me deixou mole.

–Só uma dor no ombro, acho que está fora do lugar... –

–Assim que chegar te levarei ao médico.

–E que horas você chega? –

–Lá pelas 6:30 da tarde. –

Ainda eram 10 horas da manhã, teria de passar o dia todo na cama? Que tedioso.

–Se quiser, peça à Itachi levar você pra fazer alguma coisa no shopping.. não sei, coisas de garota. – Disse ele, quase como se tivesse lido meus pensamentos e por um momento pensei se ele era capaz de tal coisa, afinal nada mais me surpreenderia.

–Não posso fazer coisas de garota com um garoto, não acha? –Brinquei.

–É, você tem razão. –

Uma voz feminina e aguda chamou no outro lado da linha. Não entendi o que havia pronunciado.

–Sakura, preciso desligar. Até mais tarde. –

Ele encerrou a ligação sem me dar oportunidade de lhe dar tchau.

Apoio minhas costas na cabeceira da cama impaciente. O dia não poderia ficar mais tedioso.

Ficar de cama em casa pode ser melhor do que ficar em um hospital, mas no momento, sair um pouco daquele quarto parecia melhor que qualquer coisa.

Apoiada sobre os cobertores, minha cabeça começou a enevoar-se, meus pensamentos ficaram confusos de súbito e eu sabia bem o que está vindo a seguir.

Olhei atordoada para o teto com meu corpo todo tremendo e enxergei claramente o homem encapuzado correndo confiante na chuva. Diferente das outras vezes, havia algo muito orgulhoso nesse correr, o homem estava empolgado com algo e corria mais rápido que jamais o tinha visto fazer. Com energia e fôlego renovados.

Me pego gritando a plenos pulmões, como de costume. Depois de tantos anos havia me acostumado com essas visões, mas não adiantava conter, o grito de terror saia involuntariamente.

Senti mãos balançando meus ombros com agitação, minha vista focalizou-se devagar nos grandes olhos avermelhados á minha frente. Minha respiração começou a desacelerar longe do pânico inicial, mas ainda continuava muito pesada. Diante de mim um rosto alarmado me observava, aqueles olhos eram inconfundíveis. Abracei Sasuke com força o fazendo se desequilibrar e cair sobre meu corpo na cama. Se ele estava de volta, significava que em algum momento eu cochilei ou fiquei alienada do mundo com a visão por um bom tempo.

Seu rosto se aconchegou no meu ombro esquerdo e sinto-o inalar um pouco de perfume no meu pescoço. A chuva começou a cair lá fora.

Relutantemente afrouxei o aperto de meu abraço, e Sasuke deixou o conforto dos cobertores para me observar melhor.

Ele parecia muito preocupado, e até com medo. Tão frágil e atordoado.

–S-Sakura..- Ele disse assustado.

Sorrio. Era bom escutar a voz dele chamando meu nome.

–Eu ‘tô bem, isso acontece o tempo todo. – Disse tentando tranquiliza-lo, o que não pareceu funcionar.

Ele levantou da cama e começou a andar de um lado para o outro, entrando em desespero. Ele estava se comportando muito estranhamente para o meu gosto.

–Fica aqui, eu já volto. – E sem mais nenhuma palavra ele saiu do quarto apressado, atravessando a parede sem problemas.

O que tinha dado nele? O garoto surtou bem á minha frente, sem razão alguma.

Era normal eu ter essas visões, e ele sabia disso.

Joguei os cobertores para o lado e ergui meu corpo meio frágil, iria atrás dele.

A tapeçaria da mansão era agradável para se correr descalço, mas do que adianta acelerar o passo sem saber para que direção ele tinha ido? Decidi seguir a única trajetória que conhecia, aquela que levava a grande sala ao pé da escada.

Sem sinal dele. Então escolhi uma porta á esquerda e entrei.

O lugar era grande e mal iluminado, o que dava um ar caseiro e confortável.

Várias colunas de livros e poltronas estavam espalhadas pelo ambiente, reconheci como a biblioteca.

Vozes muito altas gritavam no fim da ala 3-b na coluna de livros sobre técnicas de persuasão.

Uma das vozes era a de Sasuke, porque diabos ele estava gritando dessa maneira em uma biblioteca ignorando completamente a placa de “Silêncio” ?

Cheguei um pouco mais perto conseguindo ouvir com nitidez o que Sasuke exclamava. O alarme em sua voz me deixava ainda mais preocupada.

–Não pode ser! Não pode ser! –

–Calma Sasuke, você deve ter se enganado. –

–Não Itachi! Eu tenho certeza do que eu vi, era ele! Aquele maldito! – A fúria do Uchiha mais novo só aumentava. E aquelas palavras não faziam sentido algum para mim. De quem ele estava falando?

–Como você pode ter certeza!? Se acalme! Já pensou o que isso pode significar para a Sakura se você estiver correto? Não perca o controle! –

– Eu sei bem o que isso pode significar, e porque você acha que eu estou assim? Porque logo ela? Ela não tem nada a ver com a nossa família, nem com ninguém daqui! –

–Se ele esta usando-a ... Ela precisará de segurança reforçada, e só pode receber isso aqui. Você sabe que ele não tentaria nada com Minato e Kushina por perto. –

– Desse jeito ela vai morrer, ele vai sugar cada gota de vida e sangue dela. –

Meu coração falhou uma batida...e-eu morreria?

–Se ele não fez nada para ela durante todos esses anos em que esteve á mercê, duvido que faria algo agora. Ela não disse que essas visões são comuns? Você esta se preocupando á toa, irmãozinho.

Minha garganta estava apertada, e lágrimas começaram a escorregar pelo meu rosto. Aquela conversa entre os dois havia me assustado profundamente. Pela primeira vez, quando finalmente pensei ter encontrado um lugar para viver e ser feliz, descubro que estou correndo mais perigo do que jamais corri.

–Você é um inútil mesmo. –Disse Sasuke, logo após sua fala escutei livros caindo ao chão, com certeza ele tinha os derrubado na raiva. Escutei passos vindos em minha direção.

Não conseguia me mover, ainda não havia superado o choque daquelas palavras.

Cobri meu rosto com as mãos, as lágrimas não queriam cessar.

Distraída, percebo braços fortes me rodeando. Gentilmente uma mão retira as minhas próprias do meu rosto. Sasuke me observava triste, e aquilo só piorava minha situação, pois comecei a soluçar fortemente.

Devagar o garoto abaixa a sua boca até meu ouvido, tira meu cabelo para trás da orelha e sussurra sedutoramente.

–Achei que havia mandado você ficar no quarto. –

A sensualidade em sua voz me fez perder a força nos joelhos, e se não estivesse presa a ele teria me estatelado no chão.

–Idiota. – Eu resmungo sobre seu peito molhado com minhas lágrimas. Ouço uma risada fraca, e então Sasuke desliza suas mãos até minhas coxas e me puxa para ele.

Me prendo em seu pescoço e entrelaço as pernas em sua cintura, entendendo que ele me carregaria até o quarto novamente. Estava apenas com a larga camisa de Sasuke me cobrindo, o que significava que estava mostrando mais do que deveria, mas não me importei, na verdade nenhum pensamento malicioso passou pela minha cabeça naquele momento, depois de saber que poderia morrer, que diferença isso faria?

Nessa posição não conseguia enxergar a expressão de Sasuke, mas sabia que ele estava muito preocupado.

Quando estávamos ao inicio da escada, escuto barulhos de salto compassados vindo de algum canto. Desenterrei meu rosto do ombro de Sasuke e observei um trio de garotas vulgarmente vestidas vindo em nossa direção.

A mais alta era Karin que estava no meio, e as outras duas não fazia ideia de quem eram.

Sasuke parou de andar, mas não se virou para trás.

–Sasuke-kun, o que está acontecendo aqui? – Perguntou Karin mexendo no cabelo. Ele então se vira para elas, me deixando admirar a escada logo atrás.

–Nada relacionado á você, o que significa que não é da sua conta. – Ele respondeu ríspido.

Apertei a sua camisa um pouquinho mais forte, pedindo para que subíssemos para o quarto, onde poderia chorar em paz, sem ninguém além dele ao meu lado.

Sasuke entendeu o recado. Ele deu um passo á frente, mas foi interrompido pela voz aguda da outra ruiva á direita de Karin.

–Não acredito que você está transando com essazinha aí. –

Um pouco constrangida, mas ainda assim não me importando nem um pouco com a ofensa dela me aconcheguei mais á Sasuke. Ele sorriu maroto para as outras garotas, eu podia sentir isso no tom de voz que usou.

–A Sakura me deixa louco na cama, como nenhuma de vocês jamais conseguiu fazer. E se nos dão licença estamos indo transar e vocês estão atrapalhando. –

Tive que rir, e se não tivesse com o rosto todo vermelho de choro entraria na brincadeira também. Ele estava irritado e sei que nunca falaria algo como aquilo quando estivesse em total juízo, mas obviamente ele havia dormido com as três, o que me deixou com um pouco de raiva, e admito que também ciúmes.

Eu só queria chegar ao quarto e perguntar tudo sobre o que ele estava falando com Itachi.

Quando entramos no corredor do dormitório masculino, vários garotos passavam por nós e me examinavam.

Minhas pernas estavam completamente á mostra enroladas na cintura do Uchiha, e as mãos de Sasuke estavam apertando minhas coxas. Em outras palavras, realmente parecíamos um casal indo fazer coisas impróprias.

Comprimida á Sasuke, o garoto fez questão de me atravessar pela parede junto com ele. Tinha uma sensação estranha, mas era até gostosinho atravessar paredes.

–Existem portas sabia? – Disse brincando.

–Só para atrasar. – Sasuke se dirige até a cama devagar pousando-me sobre ela.

Deitada á cama, senti o peso do corpo de Sasuke sobre o meu. Já havia soltado meus braços do seu pescoço, mas minhas pernas ainda estavam meio fechadas á sua cintura.

Ele chegou mais perto, o que fez nossos sexos encostarem-se um no outro. Que safado. Ele estava me provocando. Ele fingiu inocência, talvez havia sido sem querer, mas se esse fosse o caso porque continuava sobre mim? Canalha sedutor.

–Então..- E ele se remexeu sobre mim, tive vontade de suspirar. Esse idiota estava passando dos limites. – O que você quer saber? – Ele queria me fazer perder o real propósito de estarmos aqui, sem querer notei que o que ele queria era fugir do assunto.

Levei minha mão ao seu peito o forçando a se afastar, o que foi mais difícil do que pensei. Ele relutou mais saiu de cima de mim.

–Tudo. Você entrou na minha cabeça.. e viu o que eu vi, não foi? ... Conte-me porque você ficou preocupado, e p-porque eu posso morrer por causa disso? –Perguntei querendo chorar mais uma vez.

Sasuke passa a mão pelos cabelos o que me dá visão completa do seu rosto perfeitamente delineado com traços de tirar o fôlego.

–Existe um homem. Ele é muito perigoso... muito. – Ele friza o ‘muito’ olhando para mim, como se dissesse “Não seja louca de chegar perto dele, entendeu” ?

–Na noite da festa, você me perguntou por que as pessoas não gostariam da minha presença... a questão é que esse homem é meu tio. – Ele fez uma pausa como se remoesse terrivelmente o fato de ser familiar desse cara. – O meu tio –ele engole em seco- é a pessoa que você vê em suas visões quando chove... E quer saber porque chove? Não é porque a visão é um aviso, mas sim porque ele faz uma espécie de conexão com você... E no momento em que ele é trazido á este mundo ele joga desgraças, como a tempestade, mas ele parece estar muito fraco, pois não consegue nada além disso, e suas pragas só atingem onde você está localizada. – Sasuke respira forte mais uma vez. – Ele está te usando para voltar á vida, como se você fosse uma porta entre o nosso mundo e a terrível dimensão em que ele está... E quando ele finalmente tiver força o suficiente, não será apenas uma visão Sakura... ele será real, e você estará morta.–