Casa de Constance Leto –

(Elisa´s pov)

Elisa e o pai estavam esperando pela porta ser aberta. Inesperadamente um calafrio percorreu a espinha da jovem.

Calma Elisa é por uma boa causa, você verá o Itzhak Perlman – pensava consigo mesma tentando controlar seu nervosismo enquanto via a porta ser lentamente aberta.

– Boa noite, estávamos a sua espera! – disse uma senhora loira olhando-o para o pai e depois, fitando-a - Vamos, entrem - disse a mulher dando passagem para a família

– Com licença murmurou Donato enquanto entrava na casa sendo acompanhado pelos filhos

– Finalmente veio a minha casa Elisa – disse alegremente – Bem que seu pai disse, você é muito bonita

Elisa olhou o pai de relance, não sabia que o pai a elogiava para outras pessoas. A família era muito unida, porém tanto a moça como o pai tinham certa dificuldade em demonstrar o tal afeto entre pai e filha.

– E esses olhos? São tão bonitos – continuou a senhora novamente fazendo com que a jovem olhasse para o chão. Não gostava que as pessoas a encarassem, muito menos que falassem tão abertamente sobre seus olhos.

Elisa herdara de sua mãe uma disfunção genética chamada heterocromia, pessoas com essa patologia possuíam um olho de cada cor. Em seu caso, tinha um olho azul e outro castanho.

Caminharam até a sala de jantar. Havia dois homens sentados. Apenas um deles levantou-se, aproximando-se da família

– Bem, esse é o Shannon e aquele é o Jared – apresentou a mulher - Esse é o Donato e seus filhos Elisa e Felipe

– É um prazer conhecê-los rapazes – disse Donato solenemente enquanto estendia a mão para cumprimentar Shannon e depois dirigiu-se até Jared fazendo o mesmo aceno.

– Caramba, vocês são do Thirty seconds to mars? Meus amigos não vão acreditar! – disse Felipe entusiasmado enquanto encarava Shannon

– Fã da banda? Já gostei desse moleque – brincou Shannon bagunçando o cabelo do garoto

Não pode se unir a eles! – pensou Elisa ao observar o irmão rapidamente.

– Oi princesa – cumprimentou o baterista dando-lhe um beijo na bochecha

– Oi - respondeu um tanto acanhada

Jared apenas observou-os de relance voltando sua atenção ao celular.

O jantar correu tranquilamente, porém o silêncio presente na mesa estava se tornando algo constrangedor. Constance, como uma boa anfitriã tentava fazer uma “ponte” entre os convidados e seus filhos.

– Então Elise, seu pai me disse que você é violinista...

– Está fazendo uma pergunta ou afirmando – zombou

– Elisa – disse o pai da garota olhando-a com reprovação

– Desculpe, estava brincando

– Tudo bem Donato – falou Constance sorrindo em seguida – Meninos, o Tomo toca violino, não é? - perguntou encarando os filhos

– É... – respondeu Jared monossílabo. O homem não desgrudava os olhos de seu Blackberry. Esporadicamente seus olhos deixavam o aparelho apenas para fitar a jovem.

– E como vão as gravações do novo cd? - perguntou a mulher novamente tentando manter uma conversa

– Ahh isso leva tempo, estamos na fase de pré-produção – respondeu Shannon

– Pelo menos terei meus filhos mais perto de mim - disse abrindo um sincero sorriso

Por um instante resolveu prestar atenção naquelas estranhas pessoas. Não podia negar que se tratava de uma família muito bonita. Pelo que o pai a informara a mulher já contava com seus 60 anos enquanto os filhos tinham 40 e 41 anos, respectivamente.

Esperava encontrar pessoas velhas e rabugentas, porém sua pré-conceito fora por água abaixo a partir do momento em que entrara naquela casa. Não podia imaginar que encontraria com membros de uma banda de rock, sim, ela havia os reconhecido não que gostasse da banda, mas qualquer pessoa munida de internet já tinha ouvido falar deles.

Mesmo sem querer admitir simpatizou-se com a mulher e com o homem mais velho. Shannon transmitia tranquilidade e alegria para as pessoas ao seu redor, isso era algo a ser admirado.

Percebeu que o filho mais novo de Constance, Jared, assim como ela desejaria estar em qualquer outro lugar no planeta menos ali, a diferença era que Jared não fazia a menor questão de ser agradável ou, ao menos, disfarçar sua insatisfação. E isso, de certo modo, a estava incomodando.

Depois do jantar –

– Felipe, porque você não mostra a casa para sua irmã – sugeriu Constance

– Legal! Vêm Lisa – disse o garoto já puxando a moça pelo braço

[...]

– Essa casa é enorme! – disse Elisa enquanto sentava-se em uma cadeira em frente a piscina

– É...nós vamos morar aqui, legal né? – disse o garoto alegremente

Elisa olhou para o irmão chocada – Que história é essa?

– O pai não te contou?

– Não... – respondeu. Não podia acreditar que o pai teria feito isso. Até quando ele iria esconder as coisas dela?

– Gostou dos filhos dela? – perguntou o garoto

– É, o Shannon até que é legal...já o Jared – respondeu lentamente ainda pensando no assunto – Cara metido, nem falou com a gente - disse um tanto indignada.

A moça endireitou-se na cadeira como se ainda estivesse na sala de jantar da casa. Pegou seu celular e começou a fingir que escrevia mensagens fazendo uma careta de pessoa esnobe arrancando altas gargalhadas do irmão. A jovem estava imitando Jared.

– Não fale comigo, meu celular é mais importante que vocês seres inferiores! – dizia Elisa fazendo uma voz grave enquanto tentava parecer o mais fiel possível ao líder da banda de rock

– ´Tá igual a ele! – disse o garoto entre risos

– De tanto ficar me olhando...até que você conseguiu me imitar bem – ouviu uma voz masculina atrás dela que a fez gelar por dentro

– Acho que você escolheu a profissão errada, deveria ser atriz.....ou palhaça – completou numa voz intimidadora

Estava sentindo seu rosto queimar de tanta vergonha. Os irmãos rapidamente se levantaram e se viraram para encarar o dono da voz.

– Continue sua imitação, estava interessante – disse cruzando os braços e encarando a moça

– Um bom comediante, ou melhor, um bom palhaço não conta a piada duas vezes, ele parte para a próxima – disse rapidamente – Vêm Lipe – chamou pelo irmão enquanto se afastava do homem em direção a entrada da sala

– Até que enfim vocês apareceram, precisamos voltar para casa. Amanhã todos nós temos que acordar cedo – disse o pai

– Tchau Elisa – disse Constance abraçando-a amigavelmente – Foi um prazer conhecê-la, espero que volte outras vezes. A moça apenas ofereceu um sorriso como resposta – E você também Felipe

– Tchau princesa – disse Shannon – Ahh garoto, toma um presente – completou o homem entregando uma camiseta para o menino

– Valeu! – disse o garoto ao ver a camiseta que ganhara. Era uma camiseta da banda autografada

A família Bertuzzo se dirigiu até a porta sendo acompanhados por Constance e Shannon.

– Boa noite – disse Constance acenando

Enquanto caminhava para entrar no carro Elisa teve a sensação de estar sendo vigiada. Por impulso olhou para trás tendo seu olhar conectado aos olhos do filho mais novo de Constance, sentiu-se constrangida desviando o olhar rapidamente.

Casa da família Bertuzzo –

– Até quando iria esconder de mim seus planos? – perguntou ao pai assim que adentraram na casa

– Do que você está falando?

– Você quer nos levar para morar com ela! - exclamou enquanto pousava as mãos na cintura. Sempre fazia isso quando estava nervosa

– Bem, eu não te contei antes porque queria que você a conhecesse primeiro – explicou-se – Eu disse que queríamos oficializar nossa relação

– Não pensei que seria dessa forma

– Filha, qual é o problema? No carro você disse que gostou da Constance

– Sim, eu gostei, mas isso não quer dizer que eu queira morar na mesma casa que ela, não conheço essa mulher, nem a família dela....

– A Constance mora sozinha. Vocês viram que a casa dela é enorme. Sugeri que ela viesse morar conosco após o casamento, mas ela prefere que nos mudemos para a casa dela e....

– Casamento? Ai meu Deus...isso está ficando pior - disse sentando-se sobre o sofá apoiando as mãos sobre a cabeça

– Casaremos apenas no civil, faremos um pequeno jantar para os amigos

– Em menos de uma semana eu sou ignorada em uma audição, fico sabendo que meu pai está namorando, que os filhos dela são famosos e que vocês vão se casar! Se você tem mais alguma coisa para me dizer é melhor falar agora

– Não seja dramática

– Não estou sendo dramática e sim realista

– Está sendo pessimista...filha, eu nunca me envolveria com alguém que não fosse uma boa pessoa tanto para mim como para vocês. Por favor, dê uma chance para ela, dê uma chance para nossa família

–...tudo bem – acabou por concordar. Não podia ir contra a felicidade do pai.