Esta é a versão de Peter sobre os fatos...Acredito que Anete e Peter tenham muito mais em comum do que aparentam ter! E o jovem rei já desconfia disso!

Assim que o vôo de Anete decola, embarco e aguardo os familiares e monótonos avisos de segurança. Me aconchego da melhor forma possível em meu acento e passo o vôo de Londres a Roma refletindo sobre esse inesperado encontro. Anete Blury é certamente a moça mais intrigante que já conheci e seu sotaque português a torna um tanto excepcional, se comparada com as garotas londrinas. Ela tem uma aura mágica que me prendeu por completo durante a conversa.

Lembro e relembro cada detalhe da conversa. Lembro dos olhos atentos, da curva da boca em um sorriso espontâneo. Lembro da pergunta que mais quis responde e a qual me calei profundamente. Agora me arrependo de ter calado. Se tivesse lhe contado sobre Nárnia, como ela teria reagido?

Essa questão sempre vai ser o grande ‘e se’ da minha vida: E se eu tivesse contato? E se não tivesse me repreendido para não falar, ela acreditaria? Essas perguntas param de me atormentar quando a voz do piloto anuncia o desembarque em Roma. Passei tanto tempo pensando sobre Anete que nem percebi as horas passar. Isso foi completamente inesperado.

Desembarquei e corri para o ponto de Taxi. Quero logo resolver essa questão. Tirar essa dúvida. Outra que me consome. Onde já se viu, um rei com tantas duvidas? E é então que tenho que me forçar a lembrar. Era Rei, aqui sou um rapaz como outro qualquer. Em busca de algo que é praticamente impossível de achar.

Desço na frente do hotel, onde já tenho um quarto reservado com antecedência. Bastante antecedência. Para ser franco, reservei a hospedagem quase dois meses antes da viagem ser marcada.

Deito-me na cama apenas para fazer hora e mal recosto a cabeça no travesseiro e lá está diante de mim, radiante como sempre. Dourado como nem o Sol se atreve a ser. Com seu olhar manso e terno atravessa minha alma e sua voz irrompe dentro de mim como um trovão. ‘O que está fazendo Peter? Tem certeza do que está procurando?’. Fito aqueles olhos dourados, o semblante amável e quero me lançar sobre sua juba. Mas sempre me contive. Sempre me policiei. Antes que pudesse responder ele vira as costas e começa a andar. Foi duro vê-lo partir. Passo ante passo ele se afasta de mim. Levanto-me de um salto e grito seu nome: ‘Aslam’. Mas é tarde demais. Ele já se foi.

Abro os olhos e percebo que foi um sonho. Ou seria uma revelação? Enxugo o suor da testa. Não é a primeira vez que sonho com Aslam. Os sonhos se repetem desde minha partida de Nárnia. E se tornaram mais intensos a medida que me aproximava do meu destino.

Lavei o rosto e me vesti. Limpei a mente das perguntas lançadas por Ele e vesti meu casaco. Revistei a bolsa e lá estava o documento mais precioso que já possuí, um mapa de Narni.

Os leigos dizem que é só um pedaço de terra, um município italiano, situado na província de Terni. Para mim é um local que carrega o mais fabuloso dos mistérios. Eu Peter Pevensie, Grande Rei de Nárnia irei, enfim descobrir que relação esse pequeno território tem com minha amada nação.

Corro para o Taxi, tenho que chegar no metrô, antes que o trem parta. No caminho o sorriso de Anete continua a encher minha mente, tornando a agunia do inesperado em um tenro sentimento de cumplicidade. ‘Seja lá quem você for, Anete, hei de descobrir também!