Misty September escrita por Ninna Durand


Capítulo 1
Misty September


Notas iniciais do capítulo

Essa é a minha primeira one-shot. Espero que agrade e emocione tanto quanto me emocionou.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/230637/chapter/1

Era um dia de Setembro. Tóquio estava linda, como muitas vezes estivera. Era o último dia da semana e as aulas haviam chegado ao fim. Jovens aproveitavam para ir à procura de atividades que lhes proporcionavam prazer.

                Ícaro aproximou-se do grande prédio de luxo que havia no coração da cidade. Ainda com a farda do colégio, com os seus recém-completados dezesseis anos entrou no elevador e subiu até o trigésimo sexto andar. A porta do grande apartamento já estava aberta e vários sapatos descansavam na entrada. Ele depositou seus sapatos também no mesmo lugar e encontrou os amigos na sala.

                A sala era tipicamente oriental, com quadros de artes, um carpete que cobria todo o chão; uma pintura sóbria e lustres que lembravam origami. Yuka, Shaun, Ghena, Toby e Hanna estavam sobre o carpete com as pernas sobrepostas em um círculo e no meio havia uma garrafa média de vidro presa em um pequeno círculo que havia abaixo.

                - Ele chegou! – comentou Ghena, aliviada por poder começar a brincadeira.

                - Sente-se Ícaro. – pediu Yuka.

                Ele se aproximou do grupo e preencheu o espaço que havia sido liberado entre Shaun e Hanna. Ghena criou certo alvoroço ao girar a garrafa muito rapidamente.

                - Calma Ghena! Não começamos ainda! – disse Toby.

                - O que falta? – perguntou ele, impaciente.

                Toby aproximou sua boca no ouvido de Ghena e automaticamente ele olhou seu amigo que acabara de chegar, da cabeça aos pés.

                - Tem razão. Ninguém começa a brincadeira até você tirar essa gravata e esse casaco. – comentou ela olhando para Ícaro e para os amigos quase que simultaneamente.

                Ícaro tirou a gravata e o casaco e oficialmente ficou livre do que lembrava o uniforme escolar. Ele não estava tão empolgado com aquela brincadeira, mas, a pior coisa para um pessoa do ensino médio era deixar de participar de eventos considerados “descolados”. Era morte social.

                Ghena e Yuka eram irmãs, com seus olhos puxados e castanhos, possuíam cabelos até a cintura – pretos e lisos – e uma era apenas um ano mais velha que a outra, no caso, Ghena. Shaun era o típico oriental, com olhinhos lindamente puxados negros e charmosos, cabelos espetados e curtos, pele branca com sinais em várias partes do pescoço e do corpo. Com seus dezessete anos ele chamava atenção de muitas garotas, mas sabia ser bem reservado. Toby era bem parecido com Shaun, mas usava uns óculos quadrado que entregava a sua personalidade completamente geek. Hanna era diferente, com olhos verdes, cabelos loiros, branca, era filha de uma oriental e de um europeu.

                - Vamos rodar. –disse Yuka colocando a garrafa para girar.

                A garrafa apontou a ponta principal para Hanna e a outra para Toby.

                - Verdade ou desafio? – perguntou Hanna.

                - Verdade. - disse Toby.

                Hanna pensou alguns segundos e disparou sua questão.

                - É verdade que você já se interessou pela Yuka?

                Toby sentiu suas bochechas corarem, mas quando percebeu que Yuka estava claramente curiosa para saber a resposta ele soltou.

                - Sim. No ano passado. Agora é minha vez.

                - Não. – interrompeu Ghena, assim que Toby estava preparado para girar a garrafa.

                - O que foi?

                - Tem que tirar uma peça de roupa. – comentou Shaun em um tom despretensioso.

                Ícaro engoliu em seco. Era do tipo tímido e recluso e a ideia de existir a possibilidade de ele mostrar partes do seu corpo o deixou bem nervoso e com muita vontade de sair porta afora, mas o seu corpo não saiu do lugar.

                - Pronto – disse Toby tirando uma meia e girando a garrafa em seguida.

                A garrafa parou com a parte principal em Yuka e ao outra para Shaun.

                - Verdade ou desafio? – perguntou Yuka.

                - Verdade. – respondeu Shaun.

                - É verdade que você nunca se interessou por nenhuma garota do colégio?

                Shaun arqueou a sobrancelha direita e sem titubear respondeu.

                - Não. Eu já me senti atraído por algumas garotas. Antes que me perguntem, nenhuma delas está aqui. – disse ele, tirando a camisa de mangas compridas logo em seguida.

                Yuka pareceu decepcionada, mas aceitou a resposta e deixou Shaun girar a garrafa. A garrafa apontou a parte principal para Ícaro – que sentiu sua perna tremer – e a outra para Ghena. De tão nervoso ele não percebeu que ele que teria o direito de perguntar.

                - Pode perguntar Ícaro.

                - Verdade ou desafio? – perguntou ele, um pouco nervoso.

                - Desafio. – respondeu Ghena certa de que levaria o jogo a outro nível.

                Ícaro não sabia o que propor. Era iniciante naquele jogo, por sorte Toby percebeu isso e cochichou em seu ouvido uma sugestão, que ele aceitou logo para se livrar.

                - Eu desafio você a olhar nos olhos da Hanna e fazer uma declaração de amor.

                Antes das últimas palavras o clima da sala mudou, Shaun, que estava sentindo um pouco de tédio ergueu o tronco e ficou muito mais interessado no jogo, o mesmo valia para o restante do grupo.

                - Certo. Eu faço. – disse Ghena, que adorava mostrar que não fugia de nenhum desafio.

                - Um momento. – interrompeu Ícaro, surpreendendo-se consigo mesmo.

                - O que foi? – perguntou Ghena, já em pé na frente de Hanna, que também estava em pé.

                - Antes, uma trilha sonora. – disse Toby, pegando a deixa que Ícaro lhe oferecera e tocando a primeira música romântica que encontrou no seu celular.

                - Posso começar?

                - Pode.

                - Hanna... Desde o primeiro momento que eu a vi eu percebi que nunca mais encontraria alguém tão especial e inexplicável na minha vida. Eu te amei desde o primeiro segundo que vi você sorrir. Eu te amo sem medidas. – se declarou ela, enquanto Yuka tentava não gargalhar diante daquela situação.

                Shaun levantou-se e aplaudiu e logo foi seguido pelos os outros. Depois voltaram ao círculo, dispostos a continuar a brincadeira.

                - Muito bom! Você devia ser atriz. – comentou Yuka.

                - Obrigada. E para mostrar que eu tenho espírito esportivo vou tirar a saia. – disse ela, tirando a fita do cabelo, observando a cara de decepção dos homens.

                - Piada sem graça. – comentou Shaun, sentindo sua empolgação esvair-se.

                Yuka girou a garrafa rindo muito com tudo aquilo. A garrafa parou com a parte principal em Hanna, que adorou, e a outra em Shaun.

                - Hora da vingança. – comentou ela, muito animada.

                - Droga. – deixou escapar Shaun.

                - Verdade ou desafio?

                - Para provar que eu não tenho medo desse jogo e que eu respeito sua vontade de vingança, eu escolho desafio. – disse Shaun, se arrependendo segundos depois.

                - Hum... Deixe-me pensar...

                Yuka cochichou no ouvido de Hanna e logo mais Ghena participou - as três literalmente estavam conspirando contra os rapazes.

                - Eu decidi. Nós três queremos ver o Shaun dar um beijo de língua que dure três minutos no... – ela olhou para Toby e em seguida para Ícaro.

                - Diz logo, em quem? – perguntou Shaun, agoniado com a ideia.

                - No Ícaro.

                Shaun levantou-se rapidamente.

                - Nem pensar! Vocês piraram. – disse ele se encaminhando para a porta.

                - Shaun. Se você sair agora vai ser covarde. Todos têm que fazer o que for pedido, esse é o espírito da brincadeira. – comentou Hanna, ainda sentada.

                Shaun pensou alguns segundos e voltou para perto do círculo, enquanto Ícaro tentava não desmaiar com a ideia de beijar outro cara.

                - Eu faço, mas, sem língua.

                - Nada disso! Você fez a Hanna se declarar para mim, não seria justo pedir condições. – comentou Yuka.

                - Vamos Ícaro, levanta. – pediu Hanna.

                Ícaro levantou um pouco trêmulo e ficou parado, tentando controlar a respiração, enquanto o constrangimento tomava conta do seu corpo. Shaun bufou algumas vezes, mas acabou se aproximando de Ícaro para encarar o desafio.

                - Espera. Deixa eu pelo menos vestir minha camisa. – pediu ele.

                - Não Shaun. Ninguém pode vestir a peça de volta até acabar o jogo. – protestou Hanna, empolgadíssima para a cena acontecer.

                - Tudo bem. Mas... Tem que tocar nele?

                - Claro. Vocês precisam convencer que estão apaixonados. Tem que ser um beijo verdadeiro e que dure três minutos... De língua! Não esquece. – disse Hanna.

                - Não quero nem ver. – comentou Toby, cobrindo os olhos.

                Shaun respirou fundo e ficou bem próximo da boca de Ícaro, que estava mais vermelho que um tomate. Enquanto isso as garotas assistiam sentadas, de camarote.

                - Vamos acabar logo com isso. – comentou Shaun colocando as mãos no rosto de Ícaro e beijando-o em seguida, com os olhos fechados e a língua se movendo dentro.

                Ghena marcou o tempo no relógio.

                De repente, faltando dois minutos e meio, Shaun não parecia mais tão incomodado e Ícaro não estava mais tremendo, mas, por dentro seu coração acelerava, sentindo a pele seminua de Shaun.

                - Rapazes? Rapazes!

                Shaun largou rapidamente Ícaro, passando a mão na boca como se estivesse enojado. Ícaro apenas sentou-se e ficou calado, sem saber para onde olhar.

                - Vocês se beijaram por quase quatro minutos. – comentou Hanna.

                - Alguém não marcou o tempo direito. – comentou Shaun sentando-se um pouco irritado.

                - O importante é que você cumpriu seu desafio e foi emocionante! – comentou Hanna, ainda empolgada.

                - Que parte de roupa você vai tirar? – perguntou Hanna.

                - Depois dessa humilhação, vou tirar isso. – disse Shaun tirando a calça e ficando apenas de cueca boxer preta.

                As garotas se levantaram rapidamente.

                - Acabou! Acabou a brincadeira. – disse Hanna, sentindo que aquilo havia ido longe demais.

                - O que foi? Não está gostando? – perguntou Shaun em tom sarcástico.

                - Gente, daqui a pouco o meu pai chega e já está de noite...

                - Não concordo. Você concorda Toby? Concorda Ícaro? – perguntou Shaun.

                - Eu acho que ela tem razão Shaun. Vamos para casa. – comentou Toby.

                Hanna acompanhou os amigos até a porta e se despediu. Ghena e Yuka se despediram dos rapazes e pegaram um ônibus para casa. Toby que morava perto também se despediu e seguiu a pé. Shaun e Ícaro ficaram do lado de fora do prédio, um do lado do outro, com pensamentos muito pessoais.

                - Você mora aonde? – perguntou Shaun.

                - A alguns quarteirões daqui. – disse Ícaro, tentando entende o porque seu coração estava batendo tão forte.

                - Eu também. Podemos caminhar juntos?

                - Sim.

                Os dois começaram a caminhar, com a farda e mochilas nas costas.

                - Loucura esse jogo não foi?

                - Sim.

                - Você deve estar achando que nós somos depravados.

                - Não. Na verdade eu até me diverti. – comentou Ícaro.

                Depois de dois quarteirões.

                - Desculpa pela minha reação. Eu nunca tinha beijado um cara antes. – comentou Shaun.

                - Tudo bem.

                Depois de quatro quarteirões.

                - Posso te perguntar uma coisa?

                - Pode.

                - O que você achou do meu beijo? – perguntou Shaun, com certo constrangimento, coisa que raramente ele sentia.

                Ícaro não sabia como responder. Continuou andando tentando buscar coragem de dizer o que estava pensando.

                Na porta do prédio onde Shaun mora.

                - Eu moro aqui. – disse Shaun, olhando para Ícaro, esperando algo que nem ele sabia ao certo traduzir o que era.

                - Tchau. – disse Ícaro.

                - Tchau. – disse Shaun, sentindo uma frustração tomar conta , enquanto seguia para a entrada do prédio.

                - Shaun... – chamou Ícaro, sentindo o coração na garganta.

                Shaun rapidamente virou-se.

                - Eu não sei como dizer isso... Você perguntou sobre o beijo...

                - O que achou?

                Ícaro sentiu os seus olhos umedecerem, enquanto tinha a sua frente a figura de um garoto tão confuso quanto ele.

                - Eu gostei... Eu gostei muito. – disse Ícaro.

                Shaun empurrou levemente Ícaro até a lateral do prédio.

                - Escuta aqui. Eu não sei o que diabos eu estou sentindo... Eu só sei que eu nunca senti isso que eu senti hoje.

                - Eu também não. Eu nunca beijei um cara. – comentou Ícaro.

                - Nem eu! Entende o quanto isso é loucura?

                - Shaun. Eu não entendo. Eu não entendo nada. Eu sou apenas um garoto tímido que estava tentando se enturmar.

                Shaun balançou a cabeça, mas não conseguia resistir ao que planejava fazer em seguida.

                - Eu preciso... Preciso te beijar outra vez.

                - Eu não sei...

                - Ícaro... Eu preciso ter certeza. É o único jeito.

                Shaun se aproximou e esperando ter a certeza do que estava sentindo o beijou. O beijo durou pouco mais que um minuto.

                - E então? – perguntou Ícaro, com os olhos prestes a derramar gotas de lágrimas.

                - Droga! – disse Shaun o puxando para os seus braços e o beijando novamente.

FIM


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Se você gostou não deixe de comentar.
Beijos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Misty September" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.