Misty September escrita por Ninna Durand
Notas iniciais do capítulo
Essa é a minha primeira one-shot. Espero que agrade e emocione tanto quanto me emocionou.
Era um dia de Setembro. Tóquio estava linda, como muitas vezes estivera. Era o último dia da semana e as aulas haviam chegado ao fim. Jovens aproveitavam para ir à procura de atividades que lhes proporcionavam prazer.
Ícaro aproximou-se do grande prédio de luxo que havia no coração da cidade. Ainda com a farda do colégio, com os seus recém-completados dezesseis anos entrou no elevador e subiu até o trigésimo sexto andar. A porta do grande apartamento já estava aberta e vários sapatos descansavam na entrada. Ele depositou seus sapatos também no mesmo lugar e encontrou os amigos na sala.
A sala era tipicamente oriental, com quadros de artes, um carpete que cobria todo o chão; uma pintura sóbria e lustres que lembravam origami. Yuka, Shaun, Ghena, Toby e Hanna estavam sobre o carpete com as pernas sobrepostas em um círculo e no meio havia uma garrafa média de vidro presa em um pequeno círculo que havia abaixo.
- Ele chegou! – comentou Ghena, aliviada por poder começar a brincadeira.
- Sente-se Ícaro. – pediu Yuka.
Ele se aproximou do grupo e preencheu o espaço que havia sido liberado entre Shaun e Hanna. Ghena criou certo alvoroço ao girar a garrafa muito rapidamente.
- Calma Ghena! Não começamos ainda! – disse Toby.
- O que falta? – perguntou ele, impaciente.
Toby aproximou sua boca no ouvido de Ghena e automaticamente ele olhou seu amigo que acabara de chegar, da cabeça aos pés.
- Tem razão. Ninguém começa a brincadeira até você tirar essa gravata e esse casaco. – comentou ela olhando para Ícaro e para os amigos quase que simultaneamente.
Ícaro tirou a gravata e o casaco e oficialmente ficou livre do que lembrava o uniforme escolar. Ele não estava tão empolgado com aquela brincadeira, mas, a pior coisa para um pessoa do ensino médio era deixar de participar de eventos considerados “descolados”. Era morte social.
Ghena e Yuka eram irmãs, com seus olhos puxados e castanhos, possuíam cabelos até a cintura – pretos e lisos – e uma era apenas um ano mais velha que a outra, no caso, Ghena. Shaun era o típico oriental, com olhinhos lindamente puxados negros e charmosos, cabelos espetados e curtos, pele branca com sinais em várias partes do pescoço e do corpo. Com seus dezessete anos ele chamava atenção de muitas garotas, mas sabia ser bem reservado. Toby era bem parecido com Shaun, mas usava uns óculos quadrado que entregava a sua personalidade completamente geek. Hanna era diferente, com olhos verdes, cabelos loiros, branca, era filha de uma oriental e de um europeu.
- Vamos rodar. –disse Yuka colocando a garrafa para girar.
A garrafa apontou a ponta principal para Hanna e a outra para Toby.
- Verdade ou desafio? – perguntou Hanna.
- Verdade. - disse Toby.
Hanna pensou alguns segundos e disparou sua questão.
- É verdade que você já se interessou pela Yuka?
Toby sentiu suas bochechas corarem, mas quando percebeu que Yuka estava claramente curiosa para saber a resposta ele soltou.
- Sim. No ano passado. Agora é minha vez.
- Não. – interrompeu Ghena, assim que Toby estava preparado para girar a garrafa.
- O que foi?
- Tem que tirar uma peça de roupa. – comentou Shaun em um tom despretensioso.
Ícaro engoliu em seco. Era do tipo tímido e recluso e a ideia de existir a possibilidade de ele mostrar partes do seu corpo o deixou bem nervoso e com muita vontade de sair porta afora, mas o seu corpo não saiu do lugar.
- Pronto – disse Toby tirando uma meia e girando a garrafa em seguida.
A garrafa parou com a parte principal em Yuka e ao outra para Shaun.
- Verdade ou desafio? – perguntou Yuka.
- Verdade. – respondeu Shaun.
- É verdade que você nunca se interessou por nenhuma garota do colégio?
Shaun arqueou a sobrancelha direita e sem titubear respondeu.
- Não. Eu já me senti atraído por algumas garotas. Antes que me perguntem, nenhuma delas está aqui. – disse ele, tirando a camisa de mangas compridas logo em seguida.
Yuka pareceu decepcionada, mas aceitou a resposta e deixou Shaun girar a garrafa. A garrafa apontou a parte principal para Ícaro – que sentiu sua perna tremer – e a outra para Ghena. De tão nervoso ele não percebeu que ele que teria o direito de perguntar.
- Pode perguntar Ícaro.
- Verdade ou desafio? – perguntou ele, um pouco nervoso.
- Desafio. – respondeu Ghena certa de que levaria o jogo a outro nível.
Ícaro não sabia o que propor. Era iniciante naquele jogo, por sorte Toby percebeu isso e cochichou em seu ouvido uma sugestão, que ele aceitou logo para se livrar.
- Eu desafio você a olhar nos olhos da Hanna e fazer uma declaração de amor.
Antes das últimas palavras o clima da sala mudou, Shaun, que estava sentindo um pouco de tédio ergueu o tronco e ficou muito mais interessado no jogo, o mesmo valia para o restante do grupo.
- Certo. Eu faço. – disse Ghena, que adorava mostrar que não fugia de nenhum desafio.
- Um momento. – interrompeu Ícaro, surpreendendo-se consigo mesmo.
- O que foi? – perguntou Ghena, já em pé na frente de Hanna, que também estava em pé.
- Antes, uma trilha sonora. – disse Toby, pegando a deixa que Ícaro lhe oferecera e tocando a primeira música romântica que encontrou no seu celular.
- Posso começar?
- Pode.
- Hanna... Desde o primeiro momento que eu a vi eu percebi que nunca mais encontraria alguém tão especial e inexplicável na minha vida. Eu te amei desde o primeiro segundo que vi você sorrir. Eu te amo sem medidas. – se declarou ela, enquanto Yuka tentava não gargalhar diante daquela situação.
Shaun levantou-se e aplaudiu e logo foi seguido pelos os outros. Depois voltaram ao círculo, dispostos a continuar a brincadeira.
- Muito bom! Você devia ser atriz. – comentou Yuka.
- Obrigada. E para mostrar que eu tenho espírito esportivo vou tirar a saia. – disse ela, tirando a fita do cabelo, observando a cara de decepção dos homens.
- Piada sem graça. – comentou Shaun, sentindo sua empolgação esvair-se.
Yuka girou a garrafa rindo muito com tudo aquilo. A garrafa parou com a parte principal em Hanna, que adorou, e a outra em Shaun.
- Hora da vingança. – comentou ela, muito animada.
- Droga. – deixou escapar Shaun.
- Verdade ou desafio?
- Para provar que eu não tenho medo desse jogo e que eu respeito sua vontade de vingança, eu escolho desafio. – disse Shaun, se arrependendo segundos depois.
- Hum... Deixe-me pensar...
Yuka cochichou no ouvido de Hanna e logo mais Ghena participou - as três literalmente estavam conspirando contra os rapazes.
- Eu decidi. Nós três queremos ver o Shaun dar um beijo de língua que dure três minutos no... – ela olhou para Toby e em seguida para Ícaro.
- Diz logo, em quem? – perguntou Shaun, agoniado com a ideia.
- No Ícaro.
Shaun levantou-se rapidamente.
- Nem pensar! Vocês piraram. – disse ele se encaminhando para a porta.
- Shaun. Se você sair agora vai ser covarde. Todos têm que fazer o que for pedido, esse é o espírito da brincadeira. – comentou Hanna, ainda sentada.
Shaun pensou alguns segundos e voltou para perto do círculo, enquanto Ícaro tentava não desmaiar com a ideia de beijar outro cara.
- Eu faço, mas, sem língua.
- Nada disso! Você fez a Hanna se declarar para mim, não seria justo pedir condições. – comentou Yuka.
- Vamos Ícaro, levanta. – pediu Hanna.
Ícaro levantou um pouco trêmulo e ficou parado, tentando controlar a respiração, enquanto o constrangimento tomava conta do seu corpo. Shaun bufou algumas vezes, mas acabou se aproximando de Ícaro para encarar o desafio.
- Espera. Deixa eu pelo menos vestir minha camisa. – pediu ele.
- Não Shaun. Ninguém pode vestir a peça de volta até acabar o jogo. – protestou Hanna, empolgadíssima para a cena acontecer.
- Tudo bem. Mas... Tem que tocar nele?
- Claro. Vocês precisam convencer que estão apaixonados. Tem que ser um beijo verdadeiro e que dure três minutos... De língua! Não esquece. – disse Hanna.
- Não quero nem ver. – comentou Toby, cobrindo os olhos.
Shaun respirou fundo e ficou bem próximo da boca de Ícaro, que estava mais vermelho que um tomate. Enquanto isso as garotas assistiam sentadas, de camarote.
- Vamos acabar logo com isso. – comentou Shaun colocando as mãos no rosto de Ícaro e beijando-o em seguida, com os olhos fechados e a língua se movendo dentro.
Ghena marcou o tempo no relógio.
De repente, faltando dois minutos e meio, Shaun não parecia mais tão incomodado e Ícaro não estava mais tremendo, mas, por dentro seu coração acelerava, sentindo a pele seminua de Shaun.
- Rapazes? Rapazes!
Shaun largou rapidamente Ícaro, passando a mão na boca como se estivesse enojado. Ícaro apenas sentou-se e ficou calado, sem saber para onde olhar.
- Vocês se beijaram por quase quatro minutos. – comentou Hanna.
- Alguém não marcou o tempo direito. – comentou Shaun sentando-se um pouco irritado.
- O importante é que você cumpriu seu desafio e foi emocionante! – comentou Hanna, ainda empolgada.
- Que parte de roupa você vai tirar? – perguntou Hanna.
- Depois dessa humilhação, vou tirar isso. – disse Shaun tirando a calça e ficando apenas de cueca boxer preta.
As garotas se levantaram rapidamente.
- Acabou! Acabou a brincadeira. – disse Hanna, sentindo que aquilo havia ido longe demais.
- O que foi? Não está gostando? – perguntou Shaun em tom sarcástico.
- Gente, daqui a pouco o meu pai chega e já está de noite...
- Não concordo. Você concorda Toby? Concorda Ícaro? – perguntou Shaun.
- Eu acho que ela tem razão Shaun. Vamos para casa. – comentou Toby.
Hanna acompanhou os amigos até a porta e se despediu. Ghena e Yuka se despediram dos rapazes e pegaram um ônibus para casa. Toby que morava perto também se despediu e seguiu a pé. Shaun e Ícaro ficaram do lado de fora do prédio, um do lado do outro, com pensamentos muito pessoais.
- Você mora aonde? – perguntou Shaun.
- A alguns quarteirões daqui. – disse Ícaro, tentando entende o porque seu coração estava batendo tão forte.
- Eu também. Podemos caminhar juntos?
- Sim.
Os dois começaram a caminhar, com a farda e mochilas nas costas.
- Loucura esse jogo não foi?
- Sim.
- Você deve estar achando que nós somos depravados.
- Não. Na verdade eu até me diverti. – comentou Ícaro.
Depois de dois quarteirões.
- Desculpa pela minha reação. Eu nunca tinha beijado um cara antes. – comentou Shaun.
- Tudo bem.
Depois de quatro quarteirões.
- Posso te perguntar uma coisa?
- Pode.
- O que você achou do meu beijo? – perguntou Shaun, com certo constrangimento, coisa que raramente ele sentia.
Ícaro não sabia como responder. Continuou andando tentando buscar coragem de dizer o que estava pensando.
Na porta do prédio onde Shaun mora.
- Eu moro aqui. – disse Shaun, olhando para Ícaro, esperando algo que nem ele sabia ao certo traduzir o que era.
- Tchau. – disse Ícaro.
- Tchau. – disse Shaun, sentindo uma frustração tomar conta , enquanto seguia para a entrada do prédio.
- Shaun... – chamou Ícaro, sentindo o coração na garganta.
Shaun rapidamente virou-se.
- Eu não sei como dizer isso... Você perguntou sobre o beijo...
- O que achou?
Ícaro sentiu os seus olhos umedecerem, enquanto tinha a sua frente a figura de um garoto tão confuso quanto ele.
- Eu gostei... Eu gostei muito. – disse Ícaro.
Shaun empurrou levemente Ícaro até a lateral do prédio.
- Escuta aqui. Eu não sei o que diabos eu estou sentindo... Eu só sei que eu nunca senti isso que eu senti hoje.
- Eu também não. Eu nunca beijei um cara. – comentou Ícaro.
- Nem eu! Entende o quanto isso é loucura?
- Shaun. Eu não entendo. Eu não entendo nada. Eu sou apenas um garoto tímido que estava tentando se enturmar.
Shaun balançou a cabeça, mas não conseguia resistir ao que planejava fazer em seguida.
- Eu preciso... Preciso te beijar outra vez.
- Eu não sei...
- Ícaro... Eu preciso ter certeza. É o único jeito.
Shaun se aproximou e esperando ter a certeza do que estava sentindo o beijou. O beijo durou pouco mais que um minuto.
- E então? – perguntou Ícaro, com os olhos prestes a derramar gotas de lágrimas.
- Droga! – disse Shaun o puxando para os seus braços e o beijando novamente.
FIM
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Se você gostou não deixe de comentar.
Beijos.