O Único Que Não Posso Esquecer escrita por Machene


Capítulo 7
Meu Início de Vida




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Cap. 7

Meu Início de Vida


– Elie. ^^ Bom dia! – é a Melodia, entrando de novo pela porta do meu quarto – Como está se sentindo essa manhã?

– Bem. Quer dizer, eu deveria me sentir assim depois de acordar de um coma, não é? – sorrio – O que trouxe?

– Ah, café da manhã. – senta na cadeira encostada da cama – Vou deixar aqui na mesinha pra você comer depois. – solta a sacolinha.

– Tomara que tenha tudo o que eu gosto! ^^ - ela não responde – Ah... Melodia, tudo bem? Eu disse alguma coisa?

– Não... – ela tenta sorrir – Só me sinto mal por te ver neste estado.

– Nossa, falando assim até parece que eu vou ficar aleijada ou algo do tipo. uu – junto minhas mãos sobre o colo.

– Mas já faz dias que você está internada, mesmo depois de ter acordado daquele coma horrível! ç ç Estou preocupada.

– O Let está tomando conta de mim, fique tranqüila. ^^

– Tem razão... Eu ando histérica por causa do novo emprego. Ser cantora não é nada fácil, ainda ontem fui perseguida por um grupo de fãs birutas. - -‘

– Falando nisso, como vai Música? Ele está te ajudando, né?

– Sim, ele além de um ótimo noivo é um ótimo empresário. Não bastasse isso tudo, é ele que age como meu segurança particular na hora dos shows! Eu nem sei por que foi que ele contratou tantos agentes. ^^ - rio junto com ela.

– Viu como foi bom eu ter te chamado pra me acompanhar no cassino no dia em que vocês se conheceram? Logo de cara vocês se apaixonaram! ^^

– Pois é... – ela fica parada olhando pra mim com uma cara triste por um tempo, como em outras ocasiões.

– Melodia? Melodia! – ela desperta – Por que você sempre olha pra mim com essa cara de pena? Quer me dizer alguma coisa?

– O quê?... Ah, não! É só que eu... Eu esqueci que preciso preparar o café da manhã daquele bobo. Música não acordou ainda e eu aproveitei pra vir te visitar. – sorri e levanta. Dou de ombros.

– Ah é? Então tá. – abraço-a – Até mais tarde então, na hora do jantar.

– Vou falar com o Let pra saber quando você vai poder ter alta.

– Ok. Tchau. – aceno e ela sai, fechando a porta.


Suspiro e abro a sacola, retirando meu café. Estou prestes a completar os meus vinte e seis anos e passei quase três só em estado de coma. Ainda não sei direito o que aconteceu, por que eu fiquei assim. A única coisa que a Melodia me disse foi que eu sofri um acidente em casa, caindo das escadas do prédio, e bati a cabeça. Ainda sei que tenho uma doença que me faz perder a memória.

A Amtésia é, enfim, a causa de todo o meu mal. Se não tivesse teimado em trazer Melodia e Música até aqui só por causa dos meus motivos egoístas, nada disso teria acontecido. Acabei descobrindo que o homem loiro que eu encontrei no cassino aquele dia não era o garoto a quem eu procurava. Ele já confessou que estava tentando me seduzir só pra ter sua vingança.

Porém, a disputa antiga entre as nossas famílias, finalmente, terminou com uma simples visita dele. Aceitei perdoá-lo, mesmo não entendendo do que ele falava quando disse “Transmita as minhas desculpas ao Haru.”. Afinal, quem é Haru? Ainda perguntei à Música, Melodia e Let, mas as respostas sempre eram diferentes.

Não adianta me esforçar para me lembrar de algum resquício dessa pessoa, se não faço nem idéia de quem seja, mas ainda hoje eu tento recordar do garoto que era meu vizinho. Tive um último sonho ainda ontem. Não compreendi quando ele disse que voltaria para a cidade natal, porque imaginei que ele vivia aqui, em Hip Hop.

Só que seus pais foram nascidos na Ilha Garage e ele também, portanto ele era estrangeiro aqui e, com isso, acabei procurando nos lugares errados.


– Quer um pouco do meu Pudim Marfim, Plue? ^^


O bichinho sobe na cama e começa a lamber a colher que o entreguei. Ele é outro mistério... Lembro de ter visto o Plue pela primeira vez no zoológico municipal da Ilha Garage, como uma espécie nova e sem registro. Música diz que o pessoal que trabalhava lá eram seus amigos e que por isso deixaram que ele ficasse com a gente, com medo também de que alguém o roubasse.


– Não imagino ninguém querendo fazer pesquisas com uma coisinha tão fofa quanto você! ^^ - abraço-o e ele me responde. Olho pela janela assim que sinto uma brisa – O que será que eu vou fazer da minha vida agora?


Realmente, eu não fazia nenhuma idéia. Acordei do coma desnorteada, com a luz do quarto na minha cara e a Melodia chorando e me abraçando. Na hora foi que eu me toquei do peso que eu sou para as pessoas que se importam comigo, da carga que me acompanha quando eu tento fazer amizade com uma pessoa, esperando que não me esqueça dela... E me entristeci...

As palavras que sempre guardo na minha mente para que eu mesma não me esqueça do quanto farei falta se desaparecesse são as mesmas que um dia o garotinho dos meus sonhos me disse com lágrimas nos olhos daquela vez...


– Elie? – Let entra pela porta. Limpo rapidamente a boca com um lenço e deixo a sacola encima da mesa – Bom dia. ^^

– Ah, bom dia Let. Hoje eu acordei bem disposta! ^^

– Estou vendo... Julia mandou lembranças pra você.

– Obrigada, mande para ela também. Como andam seus filhos?

– Bem. Julie está tendo um trabalho pra tomar conta da casa, mas nós já estamos tentando dividir as tarefas. – senta na cadeira – Sente alguma dor?

– Não, e eu deveria sentir alguma? oo

– Não, só perguntei para ter certeza. – ri – Melodia foi me perguntar o dia em que você poderia ter alta, então eu resolvi fazer uma visita. ^^

– E quando eu vou poder sair daqui?

– Se tudo correr bem até a tarde, poderá estar livre para fazer o que quiser ainda antes do pôr do sol de hoje.

– Que ótimo! Não vejo o momento de sair com meus amigos.

– Sim, você merece... – vejo-o diminuir o sorriso – Elie, eu posso te fazer uma pergunta antes de ir embora?

– Claro. Mas por que vai embora já? ¬¬ Eu não sou boa companhia?

– Claro que é, mas eu quero ter certeza de só mais uma coisa.

– ‘ ‘ Pode perguntar. – ele suspira antes.

– Seus sonhos, como estão? Andam ocorrendo com mais freqüência?

– Até que não. Agora, eu sonho cada vez menos com aquele menino.

– E algo novo aconteceu desde a última vez?

– Só que eu sei agora que, na verdade, ele era nascido na Ilha Garage, do mesmo jeito que os pais dele. Eu não tinha entendido antes, por isso sai por aí olhando nos lugares errados... uu

– Entendo... – ele encosta-se à cadeira – Ainda é muito importante pra você achar esse garoto? – nego com a cabeça.

– Eu quero fazer alguma coisa pelas pessoas que são parte da minha vida agora. Não adianta mais ficar procurando respostas do passado. Se as minhas lembranças vão me fazer sofrer, acho que eu prefiro mesmo esquecê-las. – Let fica um pouco calado antes de se levantar.

– Muito bem então... Fique pronta para sair. ^^ - concordo com a cabeça.


Minha única diversão além da televisão é escutar som. Com um rádio do lado, encima da mesinha de canto, fica mais simples trocar as estações. Passo mais tempo ouvindo música do que me entretendo com algum programa, e assim que ligo o rádio na minha estação favorita horas mais tarde escuto a voz do meu amado apresentador.

(** O admiro desde que trouxeram o rádio para este quarto!)


– “Olá ouvintes! Aqui quem fala é o seu apresentador H. G., na estação preferida da tumultuada Hip Hop.”


O que eu mais gosto nele é o suspense! Desde que ele começou a fazer apresentação na rádio, ele nunca revelou nem seu nome e muito menos o rosto pra publicidade. Realmente, ele trabalha na estação favorita de muita gente e o mistério da sua identidade ajudou a subir o ibope! Alguns fãs muito nervosos pediram que dissesse quem é, mas até hoje ele não disse e nem fez nada.


– “Eu espero que muitos dos fãs que eu notei que possuo estejam ouvindo o programa hoje, porque eu tenho um anúncio a fazer...”

– “Anúncio? Mas que anúncio? oo”

– “Muita gente tem curiosidade em saber como eu realmente eu sou. Só os que sabem são aqueles que, claro, trabalham comigo no programa. Foi um pedido meu que omitissem a minha imagem. Mas, sendo que todos já estão ansiosos para saber quem eu sou, resolvi ceder. Assim que o programa de hoje terminar, liguem suas televisões e me vejam mostrando a minha verdadeira identidade ao vivo, na praça central da cidade.”


Mal tenho tempo de me empolgar. A Melodia chega toda alegre com uma bolsa enorme e Música a tira colo, escancarando a porta e dando pulinhos. O jeito é desligar o rádio; tudo indica que eu vou embora.


– Oi! ^^ Olha só quem veio te buscar também.

– Oi Música, como é que você tá? ^^

– Bem... ¬¬ Mas isso depende do ponto de vista.

– Oh meu Deus, o que é que houve dessa vez? - -‘

– ò ó Ele é que é um chato. Só porque eu pedi pra ele me dar uma carona até a área comercial pra eu fazer umas comprinhas de última hora.

– uu’ Nesse ritmo, eu vou ter que economizar pra gasolina.

– O que você comprou de tão urgente Melodia?

– Ora, o de sempre. E pra você – anda na direção dele -, um vestido novinho. – tira de uma das sacolas com Música um vestido branco e longo.

– Nossa, ele é lindo! – sorrio, pegando o Plue no colo assim que o vejo sentado no chão – Deve ter sido caro. ‘ ‘

– Valeu à pena, foi dinheiro bem investido. ^^

– O dinheiro do último show foi todo embora só nessa remessa... - -‘

– Deixa de ser chato, senhor! ¬¬ - rio com a “briguinha” dos dois – Achei a sua cara quando vi dando bobeira em uma loja.

– Obrigada Melodia. Vocês dois têm sido um grande apóio pra mim, e eu agradeço muito por tudo isso.

– Não tem o que agradecer Elie. Fazemos isso porque amamos você. ^^

– ¬¬ E eu espero que você a ame um pouco menos do que eu.

– ** Claro querida, eu não troco você por ninguém! – rio de novo. Plue se ajeita no meu colo e olha pra mim.

– Ah sim, e obrigada a você também Plue, por me fazer companhia. ^^ - ele levanta o braçinho e eu o abraço – Ah, você é tão fofo!

– Elie, na boa, você vai acabar matando ele sufocado! õõ

– oo Nossa, desculpa Plue! – o afasto um pouco – Tudo bem? – ele faz que sim com a cabeça – Ai, ainda bem... uu’

– Bom, sem perder mais tempo, vamos embora deste hospital, né?! Vamos te trocar e logo você vai poder sair com a gente. ^^

– õõ Pra quantos lugares mais você vai querer ir?

– ¬¬ Pra quantos eu quiser, você é meu chofer. ò ó Obedece!

– Sim senhora! oo’ – suspiro e logo depois rio de novo.


Melodia me ajuda a me trocar e eu já saio do hospital com o novo vestido. Dizemos tchau pro Let, prometendo visitá-lo quando pudermos e à Julia e os seus filhos também. Música reclamou antes, mas ele estava louco pra sair do estúdio abafado e curtir um tempo livre ao lado da noiva. Percebendo isso, só peço que me deixem na praça central antes de despistar com uma desculpa.

Prometo que volto antes das dez e eles concordam indo embora para um lugar onde possam ficar a sós. Olho o relógio da praça. Plue está comigo, e se for assim eu não estou sozinha. Daqui a pouco meu programa de rádio deve acabar e como a emissora é aqui perto H. G. deve estar chegando. (Nunca que eu perderia a oportunidade de vê-lo pessoalmente!)

Afasto um pouco meus cabelos do rosto; eles estão bem maiores depois de tanto tempo. Sento na pedra que cerca uma das árvores da praça, ponho Plue no colo e espero. Depois de alguns minutos constato no relógio que acabou o programa e resolvo levantar, pondo o Plue sentado onde antes eu estava. Não há um único sinal de vida de quem poderia ser o apresentador misterioso.

De repente, um grupo de músicos chega e entra numa casinha branca da praça, própria para as pessoas sentarem e curtirem um espaço reservado. No caso deles, começam a tocar uma melodia um pouco agitada e ao mesmo tempo serena; é boa de dançar. (Se a Melodia canta bem, eu danço melhor ainda! ) Sem pensar, começo a mover o corpo no ritmo da música.

Eles me dão mais atenção quando percebem para seguirem no padrão e me ver dançando. Vou me deixando levar, sem dar atenção a mais ninguém se não ao meu próprio coração, pulsando no mesmo ritmo. Assim que a música termina, agradeço a sinfonia, eles por eu ter participado e viro sorrindo pro Plue, mas ele não é mais o único me observando...


– Ah... Oi. – arrisco uma aproximação – Você viu, não é?! ^^’

– É sim, eu vi... – ele responde sem tirar os olhos de mim, o que acaba me encabulando, até que ele se volta pro Plue.

– Ah, ele é um tipo de animal desconhecido ainda. – pego ele no colo – Mas é muito fofo de se apertar! – sorrio. Por algum motivo, Plue está feliz em ver o estranho – Acho que ele gostou de você. – comento. Ele dá um sorriso.

– Posso fazer uma pergunta? – faço que sim com a cabeça – Você sabe quem eu sou? – quando ele pergunta, pergunta sério; é o que me assusta um pouco. Mesmo assim continuo o encarando.

– Não. – respondo. Ele parece ficar meio abalado e meio triste com a resposta, abaixando a cabeça – Ah, desculpe! – chamo sua atenção – Eu devia me lembrar de você, não é?! Eu sinto muito. É que eu tenho uma doença que me faz perder a memória seletiva. Nós já nos vimos antes?

– Já... – ele responde – Mas eu não te culpo por não se lembrar de mim.

– ‘ ‘ Por que não? – ele sorri e põe as mãos nos bolsos da calça.

– Acho que eu sou o tipo de pessoa que precisa ser esquecida... – continuo sem entender, mas ele parece ignorar minha confusão – Conheci o seu amigo, o loiro que trabalha com publicidade.

– Ah, é? – volto a sorrir. Ele confirma com a cabeça – Ele é legal. ^^

– Ele me contou que fez uma besteira com você no passado, mas que já concertou o erro. É verdade?

– Sim. Foi uma rixa boba por causa das nossas famílias, mas ele já pediu desculpas e eu o perdoei. uu

– Ele me contou tudo. – comenta – Você tem um bom coração Elie.

– Ah, soube meu nome através dele? – rio. Ele ainda não sorri um sorriso por inteiro, mas um de canto, confirmando – Obrigada, mas eu nem sei o seu.

– É Haru, Haru Glory. – estende a mão, que eu aperto.

– Muito prazer. – sorrio e faço uma pausa antes de soltar sua mão – oo Espera um pouco!... Haru Glory? H. G.? Você é o locutor misterioso?

– É, sou eu sim. – confessa. Sem perceber, começo a dar alguns pulinhos de alegria e a balançar o Plue de um lado pro outro.

– Que demais! Eu adoro o seu programa, vivo escutando! **

– Mesmo? Mas você gosta de mim ou do programa? ^^

– Dos dois. – sorrio. Do nada, ele parece que fica hipnotizado – Ham...

– Ah, desculpe... – pisca algumas vezes – Você dizia?

– Está tudo bem? Se estiver se sentindo mal, eu...

– Não, não, eu estou bem. É que... – chega mais perto – Você é linda.

– Ham? – sinto meu rosto aquecer, mas tento me controlar e sorrio pra ele – Ah... Obrigada! ^^

– Seu sorriso é lindo também, não mudou nada!

– Olha... Será que você podia me dizer de onde eu te conheço? Eu tô me sentindo um pouco mal por não lembrar quem é você. ‘ ‘

– Não se preocupe, eu posso formar novas lembranças com você. Mas por enquanto, não quer me acompanhar como convidada especial do meu show?

– ** Posso? Ah, seria um prazer! – me empolgo – O devo fazer?

– Só seja você mesma e dará tudo certo.

– Sim senhor capitão! – faço continência. Afinal, ele sorri por inteiro.

Continua...


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