Santuário escrita por Mallagueta Pepper


Capítulo 1
Prólogo




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- Agüenta firme, nós já estamos chegando! – suas amigas falaram e ela não teve forças para responder nada. Seu corpo estava tão fraco que até articular simples palavras era um esforço monumental para ela.

A ninfa apenas se deixou levar pelas duas amigas até elas chegarem ao seu destino, colocando-a sobre as águas de um bonito lago. Era noite e a lua cheia brilhava iluminando tudo com perfeição. As águas do lago pareciam brilhar como se fosse feito de pura luz. A ninfa mergulhou em suas águas e minutos depois emergiu delas sentindo-se revigorada e cheia de energia. As outras também não se privaram de um bom banho restaurador.

Outras ninfas também foram chegando e se servindo das águas do lago. Todas estavam exaustas e sem forças por causa de tantas lutas contra os monstros que arrasavam o equilíbrio do planeta. Se não fosse aquele lugar especial, elas estariam totalmente perdidas. Quando recuperaram suas forças, elas sentaram-se no gramado ao redor do lago, conversando entre si e comentando os fatos daquele dia.

O som suave de uma flauta se fez ouvir. Era um Elemental que tocava tranquilamente seu instrumento, sentado sobre uma pedra e em pouco tempo outros também o acompanhavam com diversos instrumentos, formando uma pequena orquestra que tocava uma música alegre e convidativa. Como que obedecendo a um comando invisível, todos começaram a dançar, ninfas, elementais e outros seres mágicos que habitavam aquele lugar especial. Até os animais pulavam acompanhando a música, mesmo aqueles que não eram noturnos. Festa era sempre festa.

A lua continuava iluminando tudo como um grande holofote e a festa continuou até tarde da noite, quando todos decidiram se recolher e descansar para a batalha do dia seguinte. Nunca havia descanso para ninguém.

Todas as ninfas se recolheram, exceto uma que continuou sentada a beira do lago contemplando tudo com seus olhos levemente rosados. O vento balançava seus cabelos brancos e ela não se importava que as águas do lago molhassem um pouco a barra do seu vestido.

Suas lembranças davam algumas voltas no passado, onde estavam guardados belos cabelos loiros e um par de olhos azuis que ainda povoavam seus sonhos. Ela nunca mais o tinha visto desde então. Apesar do sentimento que um tinha pelo outro, o destino pareceu querer algo diferente e eles tiveram que se separar em nome do dever. Seria justo aquilo?

- Nina, você não vem? – uma ninfa de cabelos rosados a chamou, tirando-a dos seus pensamentos.

- Hum? Eu já vou...

- Você tem andado tão pensativa ultimamente...

- É...

Tália contemplou as águas luminosas do lago por um tempo e depois voltou a olhar para a amiga.

- Já pensou em procurá-lo?

- O que? Como é que você...

- Eu sei, amiga. Eu sei.

- Não posso. Nós dois temos nossos deveres.

- Uma coisa não deveria excluir a outra.

- Mas exclui. Para ficarmos juntos, teríamos que deixar de lado nossa missão e não podemos fazer isso.

- Isso é tão triste.

Nina deu um sorriso, tentando mostrar que estava bem.

- Não se preocupe. Eu penso nele e sei que ele ainda pensa em mim. Enquanto um estiver pensando no outro e lutando para transformar esse mundo num lugar melhor, estaremos juntos ainda que separados pela distância.

- Pode até ser... só não sei se isso precisa ser realmente assim.

- Nem tudo pode ser como queremos. Então temos que aprender a aceitar e a conviver com o que temos.

- ...

- Ah, não vamos mais pensar nisso, certo? Nós tivemos que tomar uma decisão importante e não há arrependimentos. Um bem maior está em jogo.

- Se você diz...

As duas levantaram-se e foram se recolher. Apesar de aparentar tranqüilidade e despreocupação, Nina às vezes se perguntava se aquilo era somente o que a vida tinha a lhe oferecer.

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Enquanto sobrevoava a cidade, ele procurava com olhos atentos por qualquer sinal de alguém que precisasse de sua ajuda. Tudo parecia tranqüilo naquela noite e ele já estava se sentindo muito cansado para continuar sua ronda noturna. Seu corpo apenas pedia uma nuvem bem macia e confortável.

Ângelo voou rapidamente para o céu e procurou um local confortável para dormir. De onde estava, ele podia ver as estrelas que cintilavam no céu daquela noite.

“Tão bonitas e tão distantes... posso ver, mas não posso tocar. Igual a Nina...” ele virou-se para o lado, tentando limpar a mente. Aquele sentimento era proibido para ele. O problema era que sua mente não conseguia entrar em acordo com o coração. Racionalmente ele entendia que aquele amor era impossível, já que eles viviam em mundos diferentes e caso se deixasse levar por um sentimento humano, ele se tornaria humano e não poderia mais desempenhar sua função de anjo da guarda. O problema era que seu coração parecia não se conformar nem um pouco e então começava um dialogo dentro dele.

(Cérebro) “Foi melhor assim. Nossos caminhos estão separados, com cada um fazendo o seu papel pelo bem da humanidade.”

(Coração) “E o bem de vocês dois, como fica?”

(Cérebro) “Há um bem maior em jogo e às vezes sacrifícios são necessários.”

(Coração) “Será que esse é o único jeito? Por que não lhe dão outra alternativa?”

(Cérebro) “Talvez não haja outra alternativa.”

(Coração) “Não acredito que a vida seja tão limitada assim.”

(Cérebro) “Anjos não podem amar.”

(Coração) “E por quê? Por que todas as criaturas do universo podem experimentar esse sentimento e só os anjos ficam de fora?”

(Cérebro) “Porque é assim...”

(Coração) “Isso não é resposta. Por que os anjos são tão limitados? Por que não podem viver plenamente seus sentimentos? Por que isso seria errado?”

(Cérebro) “Talvez os sentimentos atrapalhem nosso trabalho...”

(Coração) “Se sentimentos são ruins, então ninguém deveria ter, nem anjos e nem humanos. Por que os humanos podem ter e os anjos não?”

Aquele diálogo continuou noite adentro sem que nenhuma das partes entrasse em acordo. O pior era saber que na noite seguinte tudo começaria novamente. Tem sido assim durante meses e aquilo não parecia perto de acabar.

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O dia estava quase amanhecendo e os primeiros raios de sol iluminavam o lago, que refletia sua luz por todos os lados acordando animais e seres mágicos como se fosse um despertador. As ninfas foram levantando vôo para cumprirem suas obrigações do dia quando uma delas percebeu uma movimentação diferente nas imediações do lago.

Um grupo de homens caminhavam com passos firmes, pisando nas flores sem nenhuma consideração. Eles carregavam aparelhos e equipamentos que nenhuma delas conhecia e depositavam tudo no solo sem se preocupar onde estavam pisando. Eles conversavam animadamente, apontando para todos os lados enquanto alguns manuseavam os aparelhos e outros faziam anotações.

Nina não pode deixar de notar aquela movimentação estranha e não gostou nem um pouco de ver ali aqueles homens que andavam de um lado para outro como se fossem donos de tudo.

- O que eles querem aqui? – ela perguntou olhando de uma distância segura.

- Eu não sei... coisa boa não deve ser. Nunca é. Por que eles não respeitam o espaço da gente?

- Temos que ficar de olho. – Nina falou, pensativa. – esse lugar é muito importante para nós.

- E se eles planejam fazer alguma coisa aqui? O que a gente faz?

Ela pensou um pouco e tornou, lacônica.

- Busca ajuda. Não tem outro jeito.


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Notas finais do capítulo

E então, gostaram? espero que sim!