Capitulo Um - Duas metades

Sai da casa de Rachel decidido. Eu não queria mais me prender a alguém que não estava trazendo minha felicidade, alguém que nunca mais me fez sentir feliz. Era certo que quando eu a vi pensei que ela fosse a mulher da minha vida, eu pensava que sempre haveria fogo em nossa relação, parecíamos perfeitos um pro outro. Era desejo misturado com tudo que eu não poderia imaginar. Mas não era isso que estava acontecendo nesses últimos anos de nosso casamento. Eu via Annabeth agora como alguém que somente ficava comigo em momentos de lazer por obrigação. Eu não me arrependia de ter casado com ela, eu fui feliz, mas eu somente não era mais. Eu queria ser, queria minha felicidade novamente e sinceramente já estava ficando insuportável minha convivência com ela. Rachel era minha única tirada de tédio, ela era meu fogo e minha paixão. Eu somente nunca percebi.

Eu sabia que seria difícil Annabeth aceitar o divórcio, mas eu não ia desistir. Cheguei em casa e vi Annabeth sentada na mesa da cozinha, suspirei e vi Nicki descer as escadas junto com Chris. Meus filhos eram minha vida, as únicas certezas que eu poderia ter. Pessoas que não importavam o que acontecesse sempre eu os amaria.

– Papai! - Nicki falou vindo pra me abraçar. Sorri e ri pra ela, ela havia pintado a pouco tempo seu cabelo loiro natural, agora ela estava morena, seus cabelos negros em cachos ficavam lindos nela. Uma morena, naturalmente loira, de olhos verdes. Linda. Chris já tinha um estilo diferente, ele também era loiro e tinha cabelo pra cima com seus olhos cinzas em destaque. Era a cópia fiel da mãe, e Nicki a minha cópia fiel. Chris estava arrumado pra ir pra faculdade, assim como Nicki. Ver eles assim, indo garantir um futuro, me enchia de orgulho, esse que eu compartilhava com todos da minha família. Chris sorriu fraco pra mim e eles foram embora dizendo que já estavam atrasados. Fui até onde Annabeth estava e me sentei de frente a ela. Ela estava tão concentrada no que fazia que nem percebeu que eu me sentei ao seu lado. Fiquei segundos olhando suas feições e seu rosto, mas não senti nada. Antes era diferente, eu a via e sentia meu coração bater. Eu guardava minhas recordações da nossa adolescência, pois eram as minhas melhores lembranças. Ela sempre foi difícil, uma garota normal e anormal ao mesmo tempo. Só poderia dizer isso quem conhecesse ela, como eu conhecia. Ela era difícil de lidar quando não tínhamos paciência com a mesma, mas eu sempre fui paciente e a tentei entender, principalmente por tudo que ela estava passando na adolescência. Annabeth tinha muitos problemas de saúde, mas com a ajuda dos pais pode superar todos, e eu fiz parte disso.

–Annabeth!- Ela pareceu despertar de um transe, então me olhou. A expressão cansada era visível. Ela sorriu fraco e eu engoli em seco. Peguei em sua mão por cima da mesa e disse tomando coragem.

–Precisamos conversar.- Ela levantou suas sobrancelhas parecendo curiosa e então assentiu querendo que eu continuasse.

–Eu não agüento mais Annabeth. Nosso casamento está indo pro espaço. Eu não amo você mais ...-Ela pareceu segurar o choro, mas mesmo assim começou a soluçar aos poucos.

–O que você quer dizer com isso? - Ela deu um soluço e continuou. - Eu te amo Percy, e sempre estive ao seu lado, como você pode fazer isso comigo? - Eu assenti sem saber o que falar e uma lágrima caiu de seu rosto.-Fale o que quer de mim? Eu faço. Sei que não posso ser a melhor, mas eu sempre fui a melhor pra você.- Aquelas palavras dela me tocaram, mas eu estava firme na minha decisão. Eu não podia conviver mais naquela situação.

–Eu não te amo, Annabeth. Eu..quero o divórcio.- Eu falei e ela abaixou a cabeça, começando agora a chorar sem dor nem piedade, por um minuto eu somente ouvia seu choro. Eu não queria a abraçar, eu não queria a tocar. Ela depois de quase meia hora parou de chorar e levantou seu olhar pra mim. Ela secou as lágrimas e disse me olhando seriamente.

–Eu assino o divórcio, mas tenho uma condição. Simples! Creio que não será difícil pra você. Será melhor do que não fazer eu não assinar. E eu posso fazer isso.-Eu podia ouvir em sua voz que era mentira, ela queria me coagir pra aceitar a condição, mas mesmo assim porque não ouvir a sua condição?

–Tudo bem fale.- Ela respirou fundo e disse: - É o seguinte, assino o contrato de divórcio se você ficar em casa por mais um mês. - Eu abri minha boca em choque. - E claro me carregando todos os dias pra fora de casa, e me trazendo pra dentro novamente. - Eu quase  ri da condição que ela pois, mas sua expressão me disse pra não fazer isso.

–Annabeth qual é? Porque isso? Que sentido tem? -Ela olhou pra janela. E disse:

–Não te devo explicações mais de nada da minha vida. Acho que de agora em diante somente cumpra seu papel.-Ela disse e eu assenti. Ela se virou e subiu as escadas de casa devagar.

Me joguei no sofá e senti meu celular vibrar. O peguei e vi quem era, era Rachel. Logo atendi e comecei a contar tudo o que eu tinha resolvido em casa.

Pov. Annabeth*

Porque ele tinha que fazer isso comigo? Logo agora? Eu o amo e amava tanto. Era uma dor imensurável e inigualável ele dizer que não me amava mais. Alguém que sempre eu amei e que sempre dizia o mesmo a mim. Eu sempre estive ao seu lado e ele prometeu fazer o mesmo comigo. Eu tentaria fazer com que ele o fizesse. Mas não era mais pro nosso bem, eu acho. Sim os dos nossos filhos, eu queria que eles guardassem a imagem de que um dia seus pais tiveram uma relação que eles valerão a pena lembrar. Para um dia dizer que os pais deles puderam pelo menos parecer felizes juntos. Era isso que eu queria. Deixar lembranças boas a quem era meu maior tesouro. Eu não estava pensando em mim e sim, neles.

Eu sabia porque Percy queria se separar de mim, ele tinha outra. Isso era doloroso, mas se ela o estava fazendo feliz, pelo menos mais do que eu. Tudo bem. Nunca fui egoísta, aprendi com as barreiras da vida a não ser assim. Eu sempre pensava nos outros, e acho que um dia esse pode ter sido meu maior erro, mas mesmo assim não me arrependo. De nada.

Apesar de todas as dores, de todas as barreiras, eu fui feliz. E cumprir a minha missão era somente o que faltava pra mim ficar em paz agora. Fui pra meu quarto depois de conversar com Percy e tirei meu chapéu da cabeça. Meus cachos caíram sobre meus ombros, quem via assim imaginava que eu sempre era cheia de vida, mas na verdade não sabia o que eu escondia por detrás do meu sorriso. Escondia dor e a doença que me consumia aos poucos.Mexi nos meus cachos e esperei. E como sempre veio um pouco de meus cabelos entre meus dedos. Eu estava com os dias contados, exatamente 30 dias. Um mês, um mês que eu faria meus filhos terem recordações de um casal feliz e sem brigas dentro de casa. Tomei um banho e fiquei pensando um pouco debaixo do chuveiro. Eu não iria fazer o tratamento, meu estado estava bastante avançado e não tinha mais solução. As lágrimas caíram e eu tentei não senti a dor de tudo e de todos meus problemas naquele momento.

Depois que terminei de tomar meu banho e arrumar meu cabelo, desci devagar pela as escadas. Então ouvi a voz conhecida de Percy falando no telefone. Eu sabia que ele estava falando com ela, nem me importei mesmo que doesse. Sentei no sofá e liguei a televisão, ele me olhou assustado por um minuto e depois começou a falar formalmente. Eu ri devagar e ele me olhou.

–Qual o motivo do riso? - Ele perguntou me olhando. Eu dei ombros.

–Você tentando fingir que estava conversando com um homem, quando na verdade é uma mulher, pra ser mais exata sua amante, é engraçado.-Ele arregalou os olhos ainda mais e disse novamente ao telefone.- Rachel depois te ligo. - Está vendo? Bingo. Descobri o nome dela, pelo menos ele foi verdadeiro com relação a isso. Eu me lembrava de Rachel, eu na verdade sabia quem ela era. No dia do aniversário de Nicki ele trouxera ela aqui. Era muito bonita, ruiva, olhos verdes e um corpo magnífico.

Ele me olhou por um segundo e pegou o controle da minha mão.

–Ei! O que você está fazendo? Eu estava assistindo televisão sabia?-Ele assentiu e disse.

–O que você está querendo? Porque isso? Não vejo porque essa condição? Eu te carregar pra fora e dentro de casa todos os dias? - Ele riu como se fosse loucura.

–Percy eu não quero que entenda agora. Um dia você vai entender... e talvez seja tarde demais. - Eu disse a última parte baixinho e somente pra mim.

–Mas eu quero entender Annabeth.

–Não importa Percy. E sinceramente eu não quero brigar com você. Me dá o controle que eu irei um assistir filme.- Ele jogou o controle e eu peguei colocando em a verdade nua e crua. Que passava na televisão.

Depois de alguns minutos assistindo filme. Percy me pegou desprevenida.

_Você sabia de Rachel e não falou nada! Como se sente com isso? - Ele sinceramente estava me fazendo ficar pior, eu não queria tocar nesse assunto.

–Você está feliz com ela? - Essa pergunta o pegou de surpresa. Ele pensou por um minuto, e assentiu. Eu dei de ombros.

–Ela está te fazendo feliz e eu não. A escolha é sua. Sabe que eu te amo. Sabe que eu não sou egoísta Percy. Devia saber que isso é que importa pra mim, a felicidade daquelas pessoas que eu amo.- Ele depois se calou e subiu as escadas. Provavelmente foi pensar em tudo o que tinha acontecido hoje. Somente o dia que começaria meus 30 dias com ele. Que ele começaria a entender o sentido de nas nossas alianças e de um dia eu ter escolhido que tivesse escrito “Duas metades”. As duas metades de um só. Nós dois.

Eu comecei a chorar. Eu sabia o motivo da nossa separação e isso somente me machucava. Eu vi a pena no olhar dele, quando eu perguntei o porquê? Eu merecia pena dele? Eu não queria pena, mas essa era nossa situação e eu não podia fazer mais absolutamente nada. Tudo que eu podia fazer eu fiz. Agora era dar tempo ao tempo.

–x-

Na manhã seguinte acordei cedo e me arrumei rapidamente. Eu e Percy desde ontem a noite não dormíamos no mesmo quarto, então esperei ele levantar pra poder sair do meu quarto. Eu iria explicar o porque da minha condição, eu havia pensando melhor e acho que ele tinha o direito de saber.

–Percy pode vir aqui ?-Eu gritei e depois de um minuto bateram na minha porta.

–Entre! - Eu disse e a porta foi aberta. Ele sorriu de lado.

–O que aconteceu? - Ele perguntou e eu sentei na cama, pedi que ele sentasse ao meu lado e assim ele fez.

–Eu pensei na noite anterior e acho que você merece saber o porque da minha condição não? - Ele assentiu e eu comecei a explicar.

–Nossos filhos no próximo mês acabaram suas faculdades, Chris vai acabar de direito e Nicki a de medicina. E eu queria que eles não soubessem ainda do divórcio. Que eles ainda estivessem felizes sem nada pra interromper isso. Entende?-Ele assentiu pensativo. Pra um casal de 38 anos, eu e Percy ainda éramos novos, e meus filhos eu tive realmente nova. Eu era praticamente uma criança, mas não me arrependi de nada. Nicki estava com 21 anos e eu a tive com 17, Chris tinha 22 anos e eu tinha tido ele com 16.

–E Percy você se lembra do dia do nosso casamento? - Ele pareceu pensar por alguns segundos e me olhou nos olhos assentindo.

Por um momento eu me vi de branco sendo carregada por ele pela porta da nossa casa, naquele momento éramos mais que casados, éramos amigos, amantes e confidentes, coisa que com o tempo se acabou.

–Você me carregou pela porta sorrindo, aquela é uma das melhores lembranças da minha vida. Eu quero fazer meus filhos se lembrarem todos os dias disso. Somente por 30 dias Percy?

–Tudo bem, Annabeth.

–Até lá, vamos tentar viver em paz sim? - Eu assenti concordando.

–Tudo bem. - Ele disse e assentiu passando pela porta. Ele antes de sair deixando o quarto somente pra mim disse: - Dois minutos tudo bem? - Eu assenti , olhei pro espelho do meu quarto e suspirei vendo a mulher que eu estava me formando. Eu queria viver os últimos dias de minha vida bem. Somente isso, mesmo que ele não soubesse que eram os últimos dias de minha vida.

Pov. Percy*

Eu entendi o pedido de Annabeth, mas isso não quer dizer que eu não achasse loucura. Pra quê isso? Sinceramente. Mas tudo pelo bem dos meus filhos e do meu tão querido divórcio.

Desci as escadas e Chris sorriu pra mim. Sentei ao lado dele na mesa.

–Onde mamãe está?

–Ela já vai descer, vou ver se ela já vem. Ok? - Ele assentiu e eu subi novamente as escadas. Parei na frente da porta do quarto de Annabeth e disse:

–Annabeth já está pronta?

–Sim. Já estou indo.-Fiquei esperando alguns minutos do lado da porta e ela saiu do quarto. Eu estava sem jeito naquele minuto. Ela veio pra perto de mim e colocou seu braço em volta do meu pescoço. Sinceramente fazia muito tempo que eu e ela não tínhamos contato físico e simplesmente a tocar assim foi muito estranho. Passei os braços por suas pernas e as segurei. Ela fechou os olhos e eu desci as escadas lentamente. Chris e Nicki assim que viram eu e a mãe deles daquele jeito sorriram.

–O papai está carregando a mamãe no colo! - Nicki disse animada me fazendo ficar constrangido, Annabeth deu uma risadinha no meu colo.

–Não conte nada a eles sobre o divórcio.- Eu assenti e continuei carregando ela. Carreguei ela do quarto pra sala, da sala para a porta de entrada de casa, eu devo ter carregado ela por uns dez metros. Quando chegamos na calçada eu a coloquei no chão e ela foi trabalhar na empresa dela. E eu fui pro centro de biologia.

Quando meu trabalho acabou fui pra casa de Rachel contar melhor sobre tudo o que estava acontecendo e o que tinha acontecido.

Bati na porta da casa dela e depois de alguns minutos esperando ela me atendeu sorridente.

–Oi amor!- Ela sorriu.

–Oi. Vim te ver, como você está? - Eu perguntei e ela me deu espaço pra entrar em seu apartamento. Me sentei no sofá e ela veio pro meu lado.

–Eu estou bem.- Ela me olhou e disse.- Então como foi com sua esposa!-Ela disse debochada e eu revirei os olhos.

–Ela me disse que aceitava o divórcio.- Rachel sorriu.

–Sério?

–Sim. Mas ela impôs uma condição.- A cara de Rachel fechou na hora. Comecei a contar pra ela e tudo que ela fez foi rir debochada.

–Ela pensa que pondo isso vai realmente mudar algo entre vocês! Acho melhor ela encarar a situação e aceitar o divórcio.

Fiquei com Rachel até mais tarde naquele dia e fui pra casa. Quando abri a porta de casa. Chris, Nicki e Annabeth estavam na sala vendo um filme enquanto comiam pipoca. Sorri vendo meus filhos abraçarem a mãe deles e subi as escadas de casa cansado.