- Como assim continuar em frente? Endoidou total?? E a Taus?? - Perguntei, cada dia que passava, aquela purpurina maluca ficava pior das ideias. Tenho medo de ser contagiado.

- Simplesmente vamos em frente. - Respondeu ele, com uma das suas raras (e assustadoras) expressões sérias. - Eu sinto, de algum jeito, que é pra seguirmos em frente.

- MA- Eu ia retrucar, mas fui interrompido por Carlos, que segurou o ombro de Sam e olhou bem pro olhos dele.

- Tem certeza?

- Tenho. - Respondeu o anjo sem nenhuma hesitação perante o futebolístico mais assustador de todos os tempos. Carlos abriu um sorriso caloroso e se virou pra mim.

- Então continue no caminho, Dan, ok?

- Certo... - Concordei relutante. E lá vamos nós, guiados pelo instinto feminino de uma purpurina. - Por que todas as garotas do nosso "time" ficam brincando de desaparecer? - Resmunguei pra mim mesmo.

- Talvez porque damos a elas vontade de desaparecer. - Carlos ponderou, brincando, mas uma onda de arrependimento me preencheu. Tentei ignorar e foquei minha atenção à barca, para não acabarmos parando nas fontes termais de lava cheias de demônios peludos e com pancinha de chope - não sei onde eles arranjam chope, deve ser contrabando.

Sam me tirou do transe quando apontou para um ponto vermelho protuberante no horizonte:

- O que é aquilo??

Eu imagino se poderia ser pior...

--x--

Um reconhecível cheiro de enxofre parou no ar.

- Você devia parar de me subestimar, Sin.

- E-euuu?? Subestimar o senhor, chefe? De jeito nenhum!!

- Hmm... - A voz grave ressoou, como se ele tivesse pensando em algo. Senti Sin tremer, mas antes que eu pudesse me preocupar com ela, algo me segurou bruscamente e me levantou.

O Senhor Capetão tinha me pegado.

As minhas opções eram: chorar, cagar de medo, gritar ou parecer confiante. Não achei que nenhuma delas ia me ajudar, mas se era pra morrer que fosse com orgulho, então, ingenuamente, decidi parecer confiante.

- Ora, ora, você aqui de novo? - Exclamei, dando um falso tom se surpresa.

- Mas é claro, meu anjo, esse é meu reino. - Ele deu um sorriso sinistro. Sin estava mais parada do que vaca gorda pastando e seus olhos estavam tão arregalados que me lembraram um cervo prestes a ser atropelado. O Senhor Capetão olhou para ela e depois pra mim. - Queria saber o que você tem de tão especial. Só por isso não vou te matar agora, mas vou fazer você preferir a morte. - Com essa sentença o Senhor Capetão me devolveu pra Sin, fazendo um gesto pra seguirmos ele, e depois dando uma risada de maníaco do parque.

Eu e a morena nos entreolhamos, ela engoliu em seco e seguiu o chefe.

Cada vez eu me complicava mais e mais.

-x-

- Qual é o seu plano? - Lanista perguntou.

- Plano? O que é isso? É de comer? - Respondi.

- Não me diga que nem um plano você fez!!

- Não.

- Cara, acho que burrice é hereditária, você é a mesma cabeça oca que seu pai!

- Também te amo, tio.

Ele freiou Seuk, que bufou.

- Não estamos de brincadeira, Taus. O que vocês queriam fazer? Um resgate suicida? Isso é egoísmo.

- Mas o nosso time era forte! Mais do que parece...

- Mais forte do que o Demônio em pessoa? Até parece! Quem eram os palermas com você?

- O Dan, meu primo... Lembra?

- Sim, sim, outro problemático. Sua família é fogo.

- Não, a parte dele da família é mais forte, acredite. Tem o Sam também...

- Aquele garoto de cabelo preto que parecia Fanta? Não me parecia forte.

- Bem, não sei se classificar voar e usar fralda como forte é certo, mas acho que ele tinha alguma relação com o Chefe.

- Voar e usar fralda?

- Ele é nascido humano, mas transformado em cupido. - Expliquei. - Mas você não deveria se preocupar com o fato dele ter alguma relação com o Chefe?

- Ter relações com o Chefe todo mundo tem. Os humanos são fracos, volta e meia ouvem ele.

- Mas ele não é um humano. É um cupido. CU-PI-DO.

- Tá, tá! - Deu de ombros. - Esse time não está me parecendo forte.

- Mas nós temos Carlos! Ele é um cara vindo do Limbo!! Você tinha que ver o jeito que ele transformou o Cérbero em uma bolinha de gude!!

Lanista balançou a cabeça e tentou esfregar o arco do nariz, mas uma ARMADURA atrapalhou ele.

- Cansei de tentar entender. Vamos simplesmente fazer o que você quer.

- É isso o que eu estava dizendo o tempo todo!!

- Qual o seu objetivo?

- Ir até o Chefe. - Dei um sorriso ameaçador. 

--x--

- O que foi, Danny? Por que você está assim? - Perguntei. Não, eu não estou preocupado com ele!! É só porque se ele não estiver bem vai ser difícil lutar contra o Capetudo, ok?

Ele apertou a lateral da barca até os nós de seus dedos ficarem brancos. Brancos igual sua cara. Carlos se aproximou também, enlaçando o ombro do loiro com o braço e tentando enxergar o que tinha deixado aquele imbecil piranhudo tão perturbado. Ele não respondeu, só mordeu os lábios, preocupado.

Aquilo começou a me irritar.

- RECOMPONHA-SE!! - Gritei. - Minha irmã e SUA namorada. SUA. Nunca quis que vocês namorassem, mas ela era SUA namorada está sumida, e agora sua prima. Pelo amor de Deus! Estamos no meio do inferno, num barquinho e você está tendo uma crise existencial aqui?? Recomponha-se agora mesmo ou eu pinto seu cabelo de rosa e te faço desfilar de biquini na frente da vadia do seu chefe, ok?? - Sacudi ele, que me olhou como se fosse um sapo morto, o que me tirou do sério mais ainda. Estava pronto pra despejar mais uma série de torturas fashion quando o loiro suspirou.

- Aquele ali. - Meneou a cabeça pra protuberância. - É o meu pai.