Ela corria pelos corredores. Não era tão tarde, porém havia poucos alunos nos corredores, e estes estavam a caminho da festa. Os poucos que reconheciam uma Cindy coberta da sujeira e limo sorriam. É claro que, aquilo que ocorreu na Câmara é um completo segredo. Por isso que todos já sabiam. “Só para variar...” pensou a garota, revirando os olhos. “O povo de Hogwarts nem gosta de uma fofoca...” e riu.

   Ela normamente ficaria irritada com isso, entretanto, depois de tudo que passara naquele dia, nada mais a irritaria. Pelo menos por algumas horas. Subiu as escadas pulando de três em três degraus e logo já estava no sexto andar. Mais uns passos e estaria na sala comunal.

  “Sorte que ao menos só Harry e eu sabemos os detalhes de tudo” pensou, diminuindo a velocidade, afinal, estava exausta “Seria horrível se descobrissem meu segredo... Já que todos sabem...” ela reduziu a velocidade do pensamento, algo estava errado. Muito errado.

  Caminhou mais um pouco, parou em frente ao quadro da Mulher Gorda que sorria, a porta abriu-se, mas Cindy estava tão presa em seus pensamentos que nem ouviu o que a Mulher havia dito.

  “Se todos sabem...” pensou ela entrando na sala comunal vazia e silenciosa. Estranho. “Isso significa que...”.

  - Olha só quem resolveu aparecer... – “Eles sabem...” completou o pensamento ao mesmo tempo e congelou como se tivesse sido pega fazendo algo errado. Era Fred, disso tinha certeza.

  - Oi... – disse Cindy, virando-se lentamente.

  - Ah! Agora você lembrou que existimos... – disse Jorge, segurando para não rir, ao lado de seu irmão gêmeo Fred, que estava mais sério. Eles estavam atrás do sofá que estava de costas para ela.

  - Rapazes, sobre hoje, eu... – começou a menina, suspirando.

  - Sabe, essa é uma história muito interessante... – disse Fred. Dava para sentir a ironia em suas palavras.

  - Pois é. Nós fomos para os dormitórios, pretendíamos dormir... – completou Jorge.

  - Só que eu lembrei ao Jorge que tínhamos uma amiga que estaria pior do que nós, já que sua amiga estava morta e elas ainda estavam sem se falar a muito tempo... – disse Fred

  - Então lá fomos nós consolar nossa amiga... – disse Jorge, fazendo carinha de triste, provavelmente tentando imitar a cara da “amiga”.

  - Entretanto, - disse Fred, fazendo uma pausa para enfatizar o seu entretanto - quando fomos atrás dessa nossa triste amiga, ela havia sumido.

  - Desaparecido. – disse Jorge

  - Puf! – disse Fred, abrindo as mãos como se algo estivesse explodido.

  - Nos disseram que ela tinha acabado de sair com nosso irmão mais novo e o Harry. – disse Jorge.

  - Para variar, com o Harry. – disse Fred, dando um sorriso estranho.

  - Para variar, não nos levaram juntos. – disse Jorge, fazendo o mesmo sorriso do irmão. “Deve ser mania de família.” pensou ela, rindo por dentro.

  - Eu queria levar vocês junto... – disse Cindy, muito enrolada.

  - Nós percebemos... – interrompeu Fred, assentindo ironicamente.

  - É sério! O problema é que Harry... – disse ela, agora mais confiante.

  - Sempre o Harry... – interrompeu Fred novamente, revirando os olhos.

  - Será que dá para eu me explicar ou está difícil? – perguntou a garota, pondo as mãos na cintura. Os garotos não responderam, então continuou: - Eu não pensei que as coisas iam chegar a esse ponto. Tudo começou com as vozes, as vozes que só Harry e eu ouvíamos, e no fim, estávamos a não sei quantos metros abaixo do chão lutando com uma cobra gigante e com a memória do Tom.

  Os gêmeos viraram levemente a cabeça para o mesmo lado e olharam confusos para ela.

  - O quê? – disseram uníssono.

  Cindy riu. “Acho que a festa vai ter que esperar mais um pouquinho...”.

   O Salão Principal estava cheio de pessoas vestidas com pijamas, elas riam, comiam e festejavam, mesmo sendo muito tarde. O salão estava todo decorado com bandeiras e cores da Grifinória, “Nós ganhamos!” pensou Cindy. Ela ficou feliz em ver que os alunos petrificados haviam voltado, inclusive Hermione, sentada entre Rony e Harry. E na mesa dos professores, Hagrid se destacava mesmo estando mais magro que antes.

  A menina avançou pelo salão, acompanhada dos ruivos, conquistando milhares de olhares e sorrisos, tirando os alunos da Sonserina, é claro. E, foi nesse momento que ela percebeu que todo o trabalho, sofrimento e dor que ela passara nesses últimos tempos tinham valido a pena.

  Eles sentaram-se e aproveitaram a festa. Pouco tempo depois, mais notícias boas, a Prof. McGonagall se levantou para anunciar que todos os exames haviam sido cancelados, todo salão saudou o aviso, entretanto, Hermione pareceu meio chateada, “Coisa de Hermione...” murmurou Fred, fazendo Cindy e Jorge rirem. Depois foi a vez do Dumbledore, que avisou que o Prof. Lockhart não voltaria mais por seus problemas de memória, trazendo mais comemoração dos alunos e também dos professores!

  - Que pena! – disse Rony, servindo-se de uma rosquinha com geleia. – Eu estava começando a gostar dele.

  O restante do trimestre passou numa névoa resplandecente de sol. Hogwarts voltou ao normal, a não ser por algumas mudanças boas, como não ter mais aula de Defesa Contra as Artes das Trevas (“Era inútil mesmo...” disse Cindy a uma Mione irritada), Lúcio Malfoy não era mais conselheiro da escola, o que era um grande alivio, assim como Draco e Percy pararam de se exibiram “tanto” assim. Por outro lado, Cindy, Gina e Stella passaram a ficar mais tempo juntas, sem brigas ou tristezas.

  Dumbledore chamou a garota na última noite, eles conversaram sobre alguns detalhes da Câmara que ela não tinha explicado ainda. Na hora de se despedirem, Cindy se precipitou, dando um grande abraço no diretor, que de início ficou surpreso, mas depois retribuiu o abraço. Ela sentiria falta dos seus encontros com o diretor.

  Infelizmente, logo chegou a hora de embarcar no Expresso Hogwarts novamente. Cindy tentava ficar feliz com o fato de estar voltando para casa, porém não conseguia. Ela, Harry, Rony, Hermione, Fred, Jorge, Gina e Stella conseguiram uma cabine só para eles. Aproveitaram ao máximo as últimas horas de magia antes das férias.

  - Não podemos usar magia nas férias? – perguntou Cindy.

  - Claro que não... Você não sabia disso? – disse Rony, incrédulo.

  - Mas você nem precisa se preocupar... – disse Jorge rindo.

  - Você não pode usar a varinha nas férias... – terminou Fred e piscou para ela, fazendo-a entender que ela ainda poderia fazer alguns truques enquanto estivesse longe de Hogwarts.

  Eles brincaram de snap explosivo, queimaram os últimos fogos de Filibusteiro de Fred e Jorge e treinaram como desarmar uns aos outros com feitiços. Cindy quase quebrou as costelas de Rony quando estavam duelando, para o choque de quase todos (e os risos dos gêmeos) e então decidiu não participar mais da brincadeira, não em lugares pequenos como cabines de trem. Ficou assistindo aos amigos duelarem e se lembrando de como tivera um ano maravilhoso, apesar de tudo. Ficou triste por Luna não estar ali com eles, ela havia convidado à amiga, que se recusara, argumentando que os amigos de Cindy provavelmente seriam educados demais para dizer que não a queriam à loirinha junto deles.

  Estavam quase chegando a King’s Cross quando Cindy interrompeu o duelo entre Mione e Harry.

  - Gina! – começou ela rindo- Que foi que você viu Percy fazendo, que ele não queria que contasse a todo mundo?

  - Ah aquilo... – disse Gina entre risinhos- Bom... Percy tem uma namorada.

  Fred deixou cair uma pilha de livros na cabeça de Jorge.

  - Quê? – disseram os gêmeos.

  - É aquela monitora da Corvinal, Penelope Clearwater. Foi para ela que esteve escrevendo o verão inteiro. Eles têm se encontrado escondido por toda a escola. Um dia eu peguei os dois se beijando numa sala vazia. Ele ficou tão perturbado quando ela foi... sabe, atacada. – e fez uma cara amarga- Vocês não vão caçoar da cara dele, vão?

  - Eu nem sonharia. – respondeu Fred, com um sorrisinho estampado no rosto.

  - De jeito nenhum. – disse Jorge, abafando o riso.

  - Capaz que seus irmãozinhos vão perder a chance de caçoar de alguém... – acrescentou Cindy, ironicamente, fazendo todos rirem.

  O Expresso de Hogwarts foi diminuindo a velocidade. Todos começaram a juntar suas coisas.

  Harry tirou uma pena e um pedaço de pergaminho e se virou para Rony, Hermione e Cindy.

  - Isto se chama um número de telefone – disse a Rony, e rasgou o pergaminho em três e entregando um pedaço a cada um. – No verão passado, contei ao seu pai como se usa um telefone trouxa, ele vai saber. Me liguem na casa dos Dursley, está bem? Não vou suportar outros dois meses tendo só o Duda para conversar...

  Cindy sorriu. O trem parou. Harry, Rony e Hermione saíram da cabine, e logo depois, Gina e Stella. A garota foi se aproximando da janela e viu que, bem num canto da plataforma, longe de todos os outros pais, estavam os seus. Eles pareciam bravos. Muito bravos.

  - Você não vem, Cindy? – perguntou Fred, com a mochila nas costas.

  - Ah... é claro... – disse ela, pegando a sua mochila de cima do sofá (aquela que ganhara de presente de Natal) e deu uma última olhada para a janela.

  - O que você está olhando? – perguntou Jorge, olhando para a janela também.

  - Está vendo aquele casal lá no fundo. – disse ela e apontou para os seus pais- São meus pais...

  - Não parecem muito alegres... – disse Fred, dando um sorriso torto.

  - E não estão... – disse Cindy, suspirando e saindo da cabine com os gêmeos. – Vai ser umas longas férias...