Sangue Doce escrita por Strauss


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Laura é dona de uma pequena doceria numa cidade onde todo mundo se conhecia, onde todo mundo era amigo e poucas confusões aconteciam por lá. Na sua loja, vendia-se muitos doces deliciosos, dos mais conhecidos aos exóticos! Por um preço baixo, seus clientes nunca a abandonavam e sempre estavam por lá. Ela fazia encomendas também, apesar de muito esforço, ela nunca tirava o sorriso do seu rosto meigo e rosado de menina moça.

– Bom dia, papai - disse ela, enquanto carregava umas caixas para dentro do carro

– Bom dia, minha filha - o pai de Laura era um homem de aparência jovem para sua idade. Com seus quarenta e cinco anos, tinha um porte de um rapaz mais novo e parecia-se mais com o irmão mais velho de sua filha! - Vai fazer entrega?

– Sim! Apesar de eu não saber exatamente aonde é o lugar... É fora da cidade!

– Mas já estás indo tão longe assim? - ele riu, surpreso - Podes me dizer o endereço?

– Hum, posso sim! Aqui está!

Laura entregou ao seu pai um papel um pouco amassado que continha o endereço da sua entrega. Era numa vila que ficava no meio da estrada, recentemente construída, não parecia ser um problema.

– É só você seguir a rodovia principal! Não tem erro, é uma vila no meio do nada da rodovia... - disse o pai, ajudando a filha a colocar as coisas no carro - Mas, toma cuidado com a pista.

– Tudo bem, papai. Tenha um bom dia, qualquer coisa te ligo, tem sinal pra lá, né?

– Provavelmente sim, qualquer coisa, você pode usar um telefone lá.

– Tá bom! Beijos!

Laura entrou em seu sport amarelo que havia ganhado ao se formar e partiu em direção ao lugar onde deveria entregar muitos e muitos doces. No caminho, ela escutava alguma música animada na rádio, mas depois de algum tempo, o som começou a falhar e ela resolveu desligar.

– Caramba...

Ela forçava a vista para ver se enxergava algum vilarejo no meio da estrada, porém nada. Começou a se perguntar se já não havia passado do local, mas tinha certificado-se disso! Não deixou de prestar atenção um minuto se quer!

Ao longo da rodovia, ela viu uma silhueta pequena andando por ali, mas logo foi tomando forma de uma menina mais ou menos da sua idade. Ela carregava nos braços, um cachorro com a perna machucada e Laura resolveu dar carona a ela.

– Obrigada... Mas, já estou chegando em casa! - disse a estranha

– Mas, menina, não há nada por aqui, olha, nada!

A garota deu uma olhada ao seu redor e sorriu abobalhadamente para Laura

– Estou perto.

Laura achou estranho aquilo, mas resolveu deixar a moça em paz.

– Então... Você poderia me dizer, pelo menos, onde fica essa vila aqui? - Laura entregou à moça o papel com o endereço.

– Mas, ora... É pra onde estou indo!

– Então, você poderia entrar aqui no carro e podemos ir juntas até lá! Eu preciso fazer uma entrega de doces...

– Doces?

Os olhos da garota brilharam e um sorriso largo apareceu no rosto manchado de fuligem.

– Sim, muitos doces! - Laura sorriu e abriu a porta para a garota entrar - Vamos!

Algum tempo depois, finalmente Laura conseguiu avistar o vilarejo e suas casinhas coloridas com pessoas simples mas que tinham no rosto um sorriso alegre e convidativo.

– É aqui?

– Sim, senhora - respondeu a menina, acariciando a cabeça do cachorro - Pode me deixar ali naquela mercearia, perto do pé de manga!

Laura fez o que a menina havia dito e agradeceu por ela ter lhe mostrado o caminho

– O lugar que você quer ir... É mais lá pra trás, dona. Numa casa muito grande de fazendeiro.

– Ué... Quem é que é o dono de lá?

– É uma mulher e seu marido que sempre está nos campos.

– Será que vai ter festa? Porque encomendaram muitos doces!

– Deve ser o aniversário das gêmeas.

Laura mais uma vez agradeceu e seguiu seu caminho até a casa da entrega. Em meio a estrada de terra batida, com certa dificuldade, ela conseguiu chegar ao local, onde um peão a parou e pediu identificação.

– Oi, bom dia, senhor! - Laura disse - Eu estou aqui pra fazer uma entrega... Dos doces.

– Ah, sim! Pois bem, moça, vou te levar lá pra dentro, pra te apresentar o chefe e a muié dele. Cê vai ver as minina tamém, sabe. Dexo abrir aqui o portão procê.

Como sempre, muito educada, Laura agradeceu ao peão que ficou encantado com a beleza da moça.

Laura se dirigiu ao casarão ali no meio da fazenda enorme. Havia outros peões trabalhando ali e todos pararam o que estavam fazendo pra poder olhar o carro chegando a fazenda. Laura estacionou bem em frente ao local e desceu, esperando por alguém. E depois de algum tempo chegou o peão que lhe abriu as portas.

– Meu nome é Antônio e se precisá tô sempre aqui por perto, viu, dona - Ele sorriu mostrando os dentes tortos e amarelados e estendeu a mão - E seu nome é?

– Laura! - Ela humildemente segurou firme a mão do homem e sorriu-lhe. - Onde está o dono ou quem vai buscar as entregas?

– Ah, mas eles deve tá tudo ocupado, cê quer que eu ajude a levar as coisa lá pá dentro? Eu ajudo ocê!

– Seria ótimo!

Laura abriu o porta mala pra pegar as caixas e o bruta montes que era o Antônio levou duas de uma só vez!

Ao entrar na casa, Laura percebeu a riqueza do fazendeiro e se perguntou porque ele resolveu contratar seus simples serviços de menininha que acabou de se formar. Antônio chamou as empregadas para ajudar e Laura se viu na cozinha completamente maravilhada com o que estava vendo. Era simplesmente a cozinha dos seus sonhos!

– Uau...

Laura de repente não era apenas a moça que entregava os doces, queria se tornar também a cozinheira dali.

– Antônio?

– Sim, moça?

– Onde está o dono da casa?

– Óia, o dono na casa eu num sei não, mas deve tá as minina e a "mãe" delas.

– É aniversário das meninas?

– Das gêmea? É sim!

– Qual idade delas?

– Vão fazer dezoito...

– Ah... E por quê você enfatizou o "mãe"?

– Porque a mãe delas não é a mãe delas é só outra muié do chefia.

– Oh.

– A madrasta delas tem a mesma idade delas quase, sô.

– Que engraçado - Laura disse - Bom, já entreguei todos os doces então...

– Se cê quiser dar uma olhada na casa, cê pode, viu. Eu vi o jeito que cê ficou maraviada quando viu as coisa aqui...

Laura ruborizou. Não havia percebido que ficara tão deslumbrada com o lugar.

– Tudo bem!

Depois de mexer em tudo quanto é coisa da cozinha e ter conhecido as empregadas que ficavam na casa, ela resolveu se aventurar pela estufa enorme atrás da casa. Laura adorava plantas, achava todas elas bonitas e singulares. E então, ela viu uma que lhe chamou atenção. Uma flor roxa com pétalas enormes que davam uma volta em si mesma e tinha um cheiro muito bom. De longe, parecia tão macia e dócil e quando a tocou, seus dedos queimaram e uma vermelhidão começou a surgir em sua mão, coçando.

– Droga!

– É uma espécie de urticária - disse uma voz rouca e baixa atrás dela - Ela queima e coça.

– Estou vendo... Ai!

Laura ficou um tempo olhando a dona da voz. Ela era muito bonita, tinha no rosto alguns pequenos machucados, mas não mudava nada em seu aspecto delicado e feminino. Olhos azuis levemente puxados, como de uma asiática, constratando com os cabelos cor de fogo, longos e ondulados em seu rosto. Lábios finos e rosados que tinham um sorriso irônico, porém belo. Laura ficou perplexa com a beleza da menina que até esqueceu da mão.

– Acho que tenho que cuidar disso logo, antes que piore.

Quebrando o silêncio, a menina de cabelos cor de fogo aproximou-se da figura pálida que era Laura e tocou-lhe as mãos. Laura arrepiou-se com o toque e tomou um leve susto.

– Tá tudo bem, vivo encostando nessas plantas, mas sei como cuidar. Venha cá! - A menina das plantas puxou Laura devagar pelo braço e a levou para um canto onde tinha uma mesa branca com pequenas caixinhas de remédios e curativas. Tinha umas luvas amareladas em cima da mesa, que a menina tirou para que Laura sentasse.

– Dê-me sua mão - ela pediu - Vamos, não fica assim.

Laura, calada, fez o que ela pediu. A menina passou uma pomada em sua mão e esfregou levemente. Pegou uma espécie de óleo e colocou um pouco no lugar que estava bem vermelho e isso fez com que a coceira aliviasse.

– Hm... É, então... Obrigada. - Laura conseguiu, finalmente, dizer.

– De nada! Mas, então, quem é você e o que tá fazendo na minha estufa?

– Eu sou Laura e... Eu vim entregar os doces.

– Oh! E seu lugar não seria na cozinha?

– Desculpe... É que fiquei maravilhada com o lugar.

A menina vendo a sinceridade e o constrangimento na voz da moça, deixou-a em paz quanto as perguntas que queria fazer. Convidou-a entrar em sua casa e apresentou ela como sua nova coleguinha.

– Acabamos de nos conhecer.

– É, eu sei. E você vai ficar pro meu aniversário.

– O que...?

– Você me parece bem melhor do que os convidados que vão vir pra essa festa. Pareces ser bem mais sincera e agradável do que as pessoas que virão para cá mais tarde.

– Então você é a aniver -

– Shiu! Eu e minha irmã. Ela deve está nadando agora, ela não é muito legal, vai te encher o saco até eu dizer chega e provavelmente vamos brigar por eu ter te convidado.

– Não seria mais prudente eu ir embo -

– Nem pense nisso! Não sabe que é falta de educação recusar convite de gente da nobreza?

Laura não pôde evitar o riso.

– Não acredita que sou da nobreza? - a menina parecia mesmo indignada - Ora...

– Desculpe! É que foi cômico, sei lá... - Laura estava vermelha por ter aguentado rir. Fez a garota rir também - Mas, então, você não me disse o seu nome.

– É, que modo os meus... Me chama de Sol e o nome da minha irmã é Julia.

– Ah...

– E o seu nome, qual é?

– Me chamo Laura.

– Hummm... Então, Laura, o que você faz?

– Eu tenho uma doceria numa cidade próxima daqui.

– Sabe, eu amo doces. Todos!

– Então você vai gostar de uma receita que criei recentemente!

– Quero que me mostre algum dia.

Sol sorriu maliciosamente para Laura, que inocente, não percebeu as intenções da ruiva.

– SOL, QUE MERDA, O QUE VOCÊ FEZ COM MEU ARP-

Outra menina entrou no quarto aos berros, assustando Sol e Laura. Era Julia, que estava toda molhada, com folhas no cabelo e no rosto, parecia bem pálida e estava com os lábios roxos.

– O...Oi - Julia disse - Quem é você?

– Ah... Eu sou a Laura, eu... Sua irmã me chamou aqui e... Eu já tô indo.

Laura pegou sua bolsa e passou direto pela menina, correndo e descendo as escadas.

– Julia, corre atrás delas, por favor? Já que você tá em pé. É sério, não a perca de vista ou você vai ver só.

– Me obrigue!

– Sua chata! Era meu presente de aniversário...

– Uma menina? Sério, vai ter outras melhores.

– Mas... Mas, eu gostei dessa, Julia, eu quero ela, eu quero! - Sol estava vermelha, mimada como só ela, começou a fingir um choro totalmente desagradável.

– Tá bom... Tá bom.

Julia não cansava de fazer o que a irmã pedia, apesar de terem a mesma idade, Sol agia feito criança mandona e mimada.

Enquanto isso, Laura estava entrando no seu carro quando de repente Julia estava dentro.

– Entra aí, vamos ter uma conversa.

– Co-Como você entrou aí?

Julia não respondeu.

– É o seguinte, Laura, certo?

– Sim.

– Você agora é nossa.


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Notas finais do capítulo

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