A Organização escrita por carmpuff


Capítulo 9
Loopholes


Notas iniciais do capítulo

E ESSE É O ÚLTIMOOOOOOOOO ÊEEEEEEEEEEEE ~~confete~~



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            Anne não foi embora. Explicou para December que não era uma mutante e, portanto, não era vinculada à Organização. Matthew também não tinha muito carinho para com regras, e abriu uma brecha para que Anne pudesse conhecer a famosa ruiva de quem tanto falavam.

            Estava três andares abaixo, no setor de maternidade. Com nove meses e duas semanas, o seu filho não queria sair de jeito nenhum. Anne era bem ativa para uma mulher num estado tão avançado de gravidez; subia elevadores num piscar de olhos, irritava enfermeiras de propósito e fazia piadas internas com os residentes.

            Duas horas depois de o time ter dado seus adeus, ela apareceu na porta de December com um sorriso maternal.

            - Oi! - disse. Navegou em sua cadeira de rodas até a beira da cama da garota mais nova. - Como está se sentindo?

            - Boa pergunta. - December falou. - Acho que me doparam tanto que eu tenho sorte de ainda estar falando.

            Anne riu. - Mas olhe o lado bom: amanhã talvez você receba alta!

            December não se animou. Tinha medo de voltar para um motel qualquer, com só uma nota de cinco dólares na carteira e três mudas de roupas. Tinha medo da fome que a perseguia todos os dias, tinha medo dos homens que a seguiam com olhar por qualquer lugar que fosse e agora tinha muito medo do governo, porque eles podiam ir atrás dela.

            - É - se forçou a dizer. - Lado bom. Onde está seu marido relapso?

            - Preso no playground dele lá nos Estados Unidos. - ela suspirou. - Sou inglesa, como pode notar pelo meu sotaque, e me recusei a voltar pros EUA. Aquele lugar é muito estranho. Matthew vai provavelmente se transferir para cá em alguns anos, mas ele tem que tomar um avião pra cá em poucas horas.

            - Boa sorte tirando esse melão de dentro de você. - December sorriu. Anne riu novamente; era mil vezes mais bem-humorada que o grupo que andava com.

            - Vou precisar. Esse bad boy vai sair daqui com uns dezesseis quilos. - bocejou. - Nossa, preciso dormir.

            - Então vai, ué.

            - Não posso. Tenho um exame daqui a alguns minutos. Coisa de grávida.

            - Que horas será que são? - December perguntou. Anne checou seu relógio.

            - São oito da noite. - disse.

            Os olhos de December se arregalaram. Teve uma epifania terrível. Puxou seu celular provisório da mesa de cabeceira e ligou para o número que Matthew havia lhe dado.

            - Oi? - perguntou ele ao atender. - Bennet? O que houve?

            - Hugo Michaelson chegou a Londres às duas. Ele tem um jato particular, que o levaria até Northumbertland em menos de três horas.

            - Meu Deus...

            - Ele está esperando por eles, Matthew - December finalizou. Anne levou uma mão à boca. - Hugo está esperando em Auriville.

            Matthew pausou do outro lado da linha. - Você vai fazer o seguinte - ele falou. - Ponha isso no viva-voz e cheque para ver se tem algum médico por aí.

            Não havia, e as duas se penduraram sob o Nokia.

            - Vou hackear o sistema central do hospital. Vão te dar alta em, no mínimo, dez minutos. Preciso que você se troque, December, e que Anne finja entrar em trabalho de parto para que ninguém (um agente inimigo ou uma possível testemunha) notar que December está indo embora. Vou mandar um jato até você, no qual você vai achar um kevlar, uma pistola e um rádio. Não posso contatar o time porque eles já estão do lado do alvo; mas você vai precisar alertá-los da presença de Hugo.

            - Ok.

            - O jato vai estar aí em quinze minutos, no topo do prédio. Boa sorte.

-x-

            Pôs o short branco que achara quando entrou no banheiro da Organização, uma camisa preta qualquer e um casaco de moletom. No momento que o médico entrou na salinha com a ficha de December, Anne começou a uivar alto de dor.

            December saiu para o corredor, se esgueirando por fileiras de enfermeiras surpresas e pacientes irritados. Calçou-se no elevador; um par de All-Star novos, do tipo que namorava nas vitrines em dias bons.

            Hoje, porém estava longe de ser um deles.

            O último andar parecia a entrada para o Olimpo de tão longe. Ficou pressionando o botão de portas fechadas para impedir alguém de entrar, e manteve a cabeça baixa para não ser vista pela câmera.

            Como Matthew disse, havia um jatinho minúsculo no topo do hospital. December mal teve tempo de ser identificada pelo piloto antes de entrar no veículo.

            Achou um armário colado à parede com três tipos diferentes de armas dentro e vários cartuchos. Pegou uma Glock igual a que Simon dera para ela em NY e esperou, olhos grudados à janela.

            O aviãozinho não demorou a chegar ao final do trajeto. Ainda era noite e o ar estava congelante (o que a lembrava de que era Dezembro e que só não nevava porque ela tinha uma sorte do caramba). December não demorou e pulou imediatamente, o barulho das hélices quase mudo.

            O piloto lhe desejou sorte e jogou um rádio para ela, do qual saiu a voz de Matthew.

            - Eles estão no final do corredor, virando à direita. É um espaço amplo, com dois andares. Devem estar provavelmente no andar de baixo, com Hugo no topo. Sei disso porque temos chips.

            - Não vou nem comentar na estranheza disso tudo.

            Desligou o rádio pequeno e o enfiou no bolso do casaco. Projetou seus poderes para dentro do corredor e o encontrou vazio exceto um carinha na frente da porta da frente.

            Abriu a porta e meteu a coronha da arma direto na aorta do homem. Ele apagou na hora e December pulou seu corpo imóvel.

            Tinha alguém imediatamente na frente da porta da área que Matthew apontara. Sem outras escolhas, ela abriu a porta de metal fino e atirou certinho na nuca do guarda despreparado.

            De relance, viu Brittany em pé no meio dos garotos, com um corte feio na testa. Simon olhou para December, chocado, e Harwood parecia que via um milagre.

            Vieram outros dois guardas, que pularam da sacada. Eram humanos; ela apontou a mão para um deles e o fez atirar em seu colega antes de se suicidar. Pegou a shotgun de um deles e atirou para o grupo desarmado no canto, antes de fechar um olho e acertar outro guarda lá em cima.

            Havia outra pessoa no topo: o rosto de Hugo Michaelson se tornou branco feito cera. Ele não tinha poder nenhum, mas anos de treinamento o protegiam dos poderes de December. Abriu uma porta no final da sacada e saiu correndo por ela.

            December correu até a outra porta no térreo e a jogou para baixo com o ombro, antes de se virar para o trio no meio da sala. - Vocês vêm ou não?

            Harwood carregou a shotgun, Brittany prendeu o cabelo e Simon se preparou para correr. Por um segundo, palavras não eram suficientes para expressar nada.

            Simon quebrou o transe ao correr estilo Flash por December. Ela o seguiu, um pouco mais cautelosa. Simon era obviamente super-rápido e ia abrindo portas enquanto perseguia Hugo.

            Guardas apareciam pelo caminho, muitos dos quais ela precisava chutar ao chão ou esmagar contra paredes. Fez um grupo massivo no corredor ao lado do deles brigar entre si.

            O rádio tremeu no bolso dela enquanto corriam.

            - Achou eles?

            - Achei. - ela respondeu, virando para trás para se certificar da presença dos outros dois. - Hugo está fugindo, mas Simon está atrás dele.

            - Ok - Matthew ofegou. - Preciso ir. Anne realmente está dando a luz.

            Mesmo naquela situação, December conseguiu rir. - Boa sorte então Matthew! Fala para ela que estão todos bem por aqui.

            - Eu vou!

            December não desligou o rádio, porque teve que esmaga-lo na cara de um guardinha. Tinha um elevador no final do corredor, que provavelmente os levaria à pista de decolagem.

            Brittany chutou um homem para longe e December praticamente esmurrou o botão do elevador. Harwood manteve guarda ao lado dela, atirando de vez em quando.

            - Quando descermos - December disse com urgência. - Você precisa me dar cobertura.

            Harwood teve a audácia de sorrir. - Adoro quando você dá uma de mandona.

            O elevador abriu e Brittany conseguiu se jogar dentro a tempo. December foi causando motins pelos andares pelos quais passavam; sua capacidade mental elevada graças ao pânico que a dominava.

            Enfim as portas do elevador abriram e eles encontraram o ar frio da noite inglesa.

            Simon estava no meio da pista. Ele jogou Hugo para fora de um avião e pulou para o chão. O piloto mortal do jato tentou sair, mas December o fez desmaiar.

            Fúria tomou o lugar do sangue de December. Como Hugo se atrevia a por vidas em perigo por dinheiro oferecido pela máfia? Aquela intel era da Segurança Nacional!

            Com essa nova realização, ela quebrou a defesa mental de Hugo. Simon o levantou com uma só mão, longe do nerd que parecia lá nos EUA.

            December podia fazer Hugo morrer naquele minuto. Todas as suas memórias, seus arrependimentos, suas ambições, estavam literalmente subjugadas pela mera vontade dela. Podia fazer com que ele ficasse insano, com que ele nunca mais pudesse falar ou ver ou andar.

            Mas a única coisa que fez foi acenar para Simon. O ruivo deu uma direita violenta no homem, que caiu no chão, nocauteado.

            Houve uma pausa. O ar congelou. December só conseguia sentir o fogo dentro de si ir lentamente se apagando, como uma chama que encontrava o vento.

            Brittany praticamente voou em Simon. December conseguia ouvir os soluços dela de longe. Simon, depois de recuperar o equilíbrio, a abraçou com igual força.

            Harwood saiu de trás dela e correu até o corpo inerte de Hugo. Pescou alguma coisa da maleta que o homem carregava: o bendito pen drive.

            O alívio que tomou conta dela foi tão grande que December quase colapsou ali no asfalto. Harwood voltou rápido e a abraçou.

            - Pensei que você ia embora. - ele falou no ouvido dela, sem acreditar no que estava acontecendo. December não conseguia se soltar (nem queria) e enterrou sua face na curva do ombro dele com o pescoço.

            - Não. - respondeu. Sua voz, para seu constrangimento futuro, estava embargada. - Não vou embora.

            Alguém puxou o casaco dela. Desorientada, se viu abraçada à Brittany. A outra conseguiu tirar os pés dela do chão. - Você não é louca de fazer isso novamente, December!

            Não respondeu nada, só a apertou mais forte. Simon clamou seu turno e trouxe December para seus braços finos. Ele era um palmo mais alto que December e tinha ainda o corpo de um adolescente. Era como um irmão mais novo, que se sentia no direito de proteger sua irmã.

            O jatinho no qual December viera tomou o lugar do de Hugo. O cara que o dirigia levantou o chapéu de condutor como saudação, e seu rosto rechonchudo alegre fez com que December sorrisse.

            Simon soltou December e pôs um braço ao redor de Brittany. Harwood cutucou Hugo com a ponta do sapato.

            - Melhor voltarmos antes que Anne dê a luz. - December falou. - Matthew não deve estar nem na metade do voo.

            - É mesmo! - Brittany não suprimiu sua animação. - Vamos logo!

            Simon se deixou levar para dentro. December fez menção de ir também, mas parou. Harwood a olhou intensamente, seus olhos claros agora cinzas. Ele a puxou para perto e envolveu um braço pela cintura dela.

            December achou que ele fosse a beijar. No entanto, Harwood só a guiou para dentro. Quando a porta fechou ele virou para ela com um sorriso do tipo que ela nunca imaginara ele capaz.

            December se encolheu num banco perto da janela. Um grupo de agentes (americanos ou ingleses) recolhia o corpo de Hugo Michaelson.

            Levantou os pés e os pôs no banco, numa pose tipicamente adolescente. Simon e Brittany se puseram no banco da frente e entrelaçaram as mãos.

            Tirou a pistola e os cartuchos do bolso, colocando-os dentro da caixa novamente. Harwood fez o mesmo, mas teve que por a shotgun debaixo do assento. December se preocupou brevemente com um possível disparo acidental da arma, até Harwood lembrar e esvazia-la.

            O Chefe olhou para ela. O avião começou a se mover.

            - Quando chegarmos em casa - Harwood disse com aquele mesmo sorriso. - Eu vou te levar para jantar.

            - Quem disse que eu aceito esse plano? - December retrucou. Harwood não respondeu, só jogou o braço direito sob os ombros dela. December repousou a cabeça no ombro dele.

            - Você aceita esse plano porque eu sou seu chefe.

            - Não... - ela respondeu. Brittany e Simon estavam alheios ao que acontecia ao redor deles. - Ninguém é meu chefe.

            - Agora você faz parte da Organização, December.

            - Você continua não sendo meu chefe, Cedrick.

            Ele sorriu. - Veremos.


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Notas finais do capítulo

there ya go, outro projeto terminado :D



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