Gimme Your Hand... escrita por Rennan Oliveira


Capítulo 1
Quinn Toma o Lugar ao Lado de Rachel




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Faltavam pouco menos de dez minutos para o fim do intervalo no McKinley High, mas a movimentação ao redor continuava a mesma, alunos uniformizados e outros sem uniforme algum caminhando pelas dependências da escola como um bando de compradores em um grande shopping voltado apenas para o público que ainda não tinha completado 19 anos. O falatório era imenso e os assuntos que percorriam o ar eram diversos, mas não de todo imprevisíveis, já que Rachel sabia que as meninas só falavam sobre os meninos – mais precisamente daqueles que praticavam algum tipo de esporte como atividade extracurricular – e os meninos só falavam das meninas, muito provavelmente daquelas que andavam com suas saias minúsculas, deixando bem à mostra aquilo que devia ser um mistério – pensamentos de Rachel Berry, que fora criada numa família tradicionalista, onde o que mais importava eram a discrição e o bom comportamento.

Todos esses fatores talvez tivessem contribuído para que a garota, naquele dia, ficasse tão desanimada. Ou era isso ou foram os acontecimentos passados que a entristeceram profundamente, fazendo com que enxergasse tudo com olhos negativos e pouco apreciadores. Em outras ocasiões, Rachel estaria caminhando por todos aqueles pátios, cobertos ou ao ar livre, cantarolando enquanto procurava vítimas para entrar para o Clube Glee – isso quando não passava um intervalo inteiro discutindo suas teorias mais mirabolantes sobre musicais da Broadway com Kurt, que não estava ali naquele dia.

Talvez por isso que ela estivesse sozinha.

Ou talvez fosse por causa de sua personalidade opressora e muitas vezes obsessiva, já que Finn, apesar de não ter dito as palavras, dera essa impressão ao largá-la em frente ao seu armário, falando sozinha, enquanto alunos corriam como manadas para suas respectivas salas de aula, já que o sinal acabara de tocar. A memória era encenada na mente de Rachel em câmera lenta, pois, ainda que estivesse triste, ela gostava de ver as coisas com mais glamour, e a câmera lenta fazia a recordação parecer ter sido retirada de um filme musical da década de setenta.

Ainda que o acontecimento tivesse ocorrido há uma semana, era como se sua essência ainda causasse mágoa à garota. Por isso, sentada ao ar livre, segurando um sanduíche que agora já não tinha mais qualquer sabor numa mão que pendia apoiada no joelho, ela chorava. Sentia-se confortável assim, dando mais atenção do que devia para problemas que deviam ser solucionados com duas ou três frases. Mas naquele momento Rachel sentia que devia chorar, imaginando que isso fosse apaziguar a dor presente em seu peito. Se pelo menos Kurt estivesse por perto...

Foi então que alguém se sentou ao seu lado. Com o rosto abaixado, Rachel não enxergou de imediato quem podia ser, mas, com pensamentos tão fortes em mente, por um momento imaginou que pudesse ser Kurt, e logo um sorriso foi estampado em seu rosto, o mesmo que ela mostrou a Quinn assim que a garota percebeu ao lado de quem que estava sentada.

Quinn recebeu o sorriso com surpresa. Rachel o sustentou por um instante mais, mas não porque estava feliz em constatar que era Quinn ali, e sim porque achou o que aconteceu bastante cômico. O sorriso se transformou numa risada, a mesma que contagiou Quinn, que fora obrigada a deixar seu sanduíche de lado para se deixar levar por aquela sensação prazerosa. Assim que os ataques de riso terminaram, foi ela quem começou a falar.

- Você estava chorando.

Rachel assentiu silenciosamente, o sorriso sumindo completamente do rosto, como se jamais tivesse existido.

- Não fique assim – disse Quinn levando uma mão às costas da menina, alisando-a com carinho. – Seja o que for, não há problema que dure para sempre.

Rachel estremeceu no lugar, não só por causa do que ouvira, que lhe serviu como um banho de ânimo, mas por causa do toque de Quinn, algo que ela jamais tinha sentido até então. Já tinham conversado, já tinham discutido, se reconciliado após a discussão, mas dificilmente se tocavam, talvez por causa de algum bloqueio que havia entre as duas. Um bloqueio que Rachel nunca parou para pensar do porquê de existir.

Contudo, com Quinn ao seu lado e ainda a consolá-la, não era mais tão difícil de imaginar.

Rachel aproximou-se um pouco de Quinn, sentindo-se mais à vontade com a presença da amiga.

- Obrigada, Quinn – disse finalmente.

- É o Finn, não é?

Rachel não queria falar sobre ele, não quando estava com Quinn ao seu lado. Mesmo assim, arriscou dizer:

- Ele é o menor dos meus problemas – e procurou rir. – É esse meu ego enorme que simplesmente não sabe aguentar decepções. Às vezes, penso que devia ser um pouquinho mais adulta para aguentar essas dores que aparecem de vez em quando, mas... Céus, como é difícil!

Quinn franziu o cenho, preocupada.

- O que foi? – Rachel quis saber.

- Não sei se concordo com o que você está dizendo...

Quinn jogou no lixo o lanche no qual já não tinha mais interesse nenhum e virou-se um pouco no assento, para fitar melhor o rosto de Rachel.

- Certa vez, ouvi uma frase muito interessante que diz que onde há dor, há algo errado. Isso quer dizer que você não precisa ser muito adulta para se livrar de dores assim. Se há algo que está te incomodando, você deve se livrar dele, porque a gente não nasce e cresce pra ficar convivendo com aquilo que nos faz mal.

Depois disso, foi a vez de Rachel franzir o cenho. Se bem tinha entendido, Quinn acabara de aconselhar que ela deixasse Finn de lado para viver feliz. A princípio, tal afirmação não lhe pareceu muito aceitável, já que, até aquele momento, não tinha pensado num mundo onde Finn não estivesse ao seu lado. Contudo, segundos depois, foi capaz de analisar o discurso de Quinn com mais clareza e até levantou as sobrancelhas, animada. Foi então que percebeu que o que ela havia dito nunca pareceu tão verdadeiro.

- Você tem razão, Quinn. Nunca esteve tão certa – disse.

Quinn apenas sorriu.

As duas ficaram em silêncio por muito tempo depois disso. Os dez minutos que faltavam para o fim do intervalo se passaram, assim como mais outros cinco, suficientes para permitir que não houvesse mais ninguém naquele pátio. Com menos barulho, o ambiente pareceu mais calmo. E com mais calmaria, Rachel conseguiu pensar melhor.

E num de seus pensamentos percebeu que seu ódio por Quinn, algo que fora sustentado até pouco tempo atrás, nada mais era do que um sentimento de amor disfarçado. Disfarçado porque não podia ser real. Orgulhosa como era, Rachel imaginava que, se não podia ter algo, devia odiá-lo para não sentir sua perda.

Uma perda que nunca fora sofrida, de fato.

Afinal, não era Quinn Fabray, a líder de torcida, que estava ali, ao seu lado, aproveitando de sua presença?

Numa sincronia absurda, algo que jamais poderia ser feito se tivesse sido combinado, as mãos de Rachel e Quinn se juntaram sobre a pedra do banco em que estavam sentadas. A de Rachel ficou embaixo, já a de Quinn, em cima. Para muitos, aquilo talvez não significasse nada, mas para Rachel significava muito mais do que um simples toque de mãos entre amigas.

Pela primeira vez, ela deixava que alguém colocasse uma mão sobre a sua, como se fosse responsável por ela. Finn nunca fora capaz de fazer isso, porque não tinha responsabilidade ou maturidade o bastante para isso, além do que Rachel não sentia vontade de ser sua menina enquanto estavam juntos. Para ela, ele era seu e apenas isso. E era evidente que o mesmo não podia ser aplicado naquele momento.

Rachel Berry notou que o que sentia por Quinn Fabray era mais forte do que podia imaginar. Esboçou um pequeno sorriso nos lábios ao pensar isso, feliz por finalmente ter percebido aquilo que já devia acontecer há muito tempo. Quando voltou seu rosto para Quinn, agora sorrindo pelo motivo certo, percebeu que a garota já olhava pro seu há muito tempo.

Um rubor tomou conta de Rachel Berry naquele momento.

A mão de Quinn, sobre a de Rachel, apertou-a com consentimento.

- Você acha que daria certo, Quinn? – Rachel deparou-se perguntando, uma melodia tocada por piano e harpa tocando em sua mente, como se a música que desse início ao segundo ato de sua vida estivesse para começar.

- Acho que sim, por que não? – Quinn respondeu, decidida, sorrindo.

Rachel nunca achou o sorriso de Quinn tão bonito.

E Quinn, contente, o manteve à tona por muito tempo mais.

Quando o sol se escondeu atrás de um prédio, anunciando o início da tarde, a vontade que Rachel tinha de beijá-la não pôde mais ser contida.


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Notas finais do capítulo

Essa foi a primeira vez que escrevi Yuri, e decidi que ia começar me aventurando no mundo Faberry! Espero que one-shot tenha ficado boa para o pessoal que curte Faberry :)



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