POV Frank

Saí da casa de Gloria, ligeiramente irritado e preocupado com o que Gerard poderia fazer lá. Eu sei que ele só queria ajudá-la e tudo o mais, mas... Sei lá... Essa menina não é lá muito confiável no quesito “ações”. Por isso mesmo, achei melhor ver o lado do Christian nessa história toda. Andei rapidamente até a casa do... “Amiguinho” de Gloria e toquei a campainha.

–Quem é?! – gritou a voz, vinda lá de dentro.

–Uhm... Frank... Amigo da Gloria...

Ele bufou e abriu a porta bruscamente, encostando-se no portal.

–O que quer, baixote?

Christian era alto (bom, qualquer um é mais alto que eu), tinha os cabelos negros e repicados, olhos verdes e pele clara. Um sorrisinho sarcástico estava estampado em seu rosto, como se estivesse esperando que eu falasse algo engraçado ou imbecil.

–Uh... A gente pode conversar?

Ele deu de ombros e se afastou, para que eu pudesse passar. Entrei na casa, observando a bagunça do lugar. Garrafas de álcool jogadas no chão, pedaços de pizza... Estava até pior do que Gloria. Franzi a testa e perguntei a ele:

–O que aconteceu com você, Christian?

–Eu senti a força desafiadora desse inferno moderno. Recebi a carta de rejeição através do correio, e ela já estava toda rasgada. – ele sorriu enigmaticamente. Detesto quando ele fala desse jeito misterioso.

–Tá bom, Christian. Tá bom. – segurei seus ombros e o fiz sentar – Agora é sério, diz o que aconteceu. Por que você e Gloria andam brigando tanto? Vocês se conhecem há anos!

–Mas as estações estão em ruínas agora, Frankie. – replicou ele, com um olhar sanguinário – E essa pílula amarga está gravada com sangue. Há fogo nas minhas veias e ele está jorrando como uma inundação.

–Christian, olha para mim. – segurei seu rosto, obrigando-o a olhar em minha direção – Pare com isso, ouviu? E responda minha pergunta: por que está chateando tanto as ideias de Gloria?

–Eu não fiz nada. Ela que é fresca demais e não suporta minhas ideias.

–Ela suporta suas ideias, Christian. O que ela não suporta é essa sua fraqueza de espírito.

–E quem é você pra me falar disso? – disse ele, com sarcasmo na voz.

–Alguém que quer mudar o mundo. – cerrei os punhos – Que, ao invés de só falar, começa a agir. Em quantas passeatas você já esteve? O que já fez contra os políticos? Nada, Christian. Você só fala.

–Não. Eu dou ideias. A ação já não é mais por minha conta.

–Exatamente. E não é assim que as coisas funcionam. Você pode até viver no seu próprio mundo destruído, o “Inferno do Christian”, mas, aqui na vida real, as coisas acontecem de forma diferente. E eu tenho certeza de que Gloria já te disse isso inúmeras vezes. E... Olhe seu estado, Christian...

–Me deixa em paz, Iero. Este estado diabólico está adornando minha existência, como um bebê catastrófico. Eu estou bem assim.

–Fingindo-se de drogado revolucionário? – arqueei uma sobrancelha – Christian, lembra de quando nós éramos crianças? Éramos bem felizes... Não se lembra disso?

–Isso é passado. Você não pode voltar ao passado e mudar tudo, Iero. – retrucou ele, com acidez.

–Não, mas eu posso mudar o presente. Pare de se destruir assim, eu e Gloria sabemos que você não é revolucionário, muito menos drogado, agora pare de se fingir assim...

–Eu sou a bomba atômica, eu sou o “escolhido”. Sobrevivi por longos anos, fui protegido por várias pessoas e, hoje, todos se procuram a mim quando precisam de ajuda. Sou eu quem protege os fracos e oprimidos. – ele sorriu maniacamente – Intoxique o seu reservatório e retorne de homem a macaco.

Arregalei os olhos. Ele estava ficando insano. O brilho em seus olhos começava a me assustar, era um brilho possessivo e estranho, como se ele fosse capaz de fazer qualquer coisa. Suas mãos procuraram a sua cintura, revelando uma faca visivelmente afiada. Meus olhos se arregalaram ainda mais e eu andei para trás, incerto.

–C... Christian... O que vai faz-zer... ?

–O que eu deveria ter feito antes, Iero.

–N-não... Não se lembra de como nós três éramos amigos no passado? Por favor, lembre-se disso!

–Você roubou a Gloria de mim...

–Eu roubei?! Eu nunca quis nada com ela, pelo amor de deus! Ela que ficava se jogando em cima de mim!

–Cala a boca! – gritou ele – Eu tentei... Ah, sim, eu tentei ficar normal... Mas você sempre é melhor que eu... Ganhou o concurso de poesias... Ficou com a Gloria... Ganhou uma guitarra... Você sempre, SEMPRE consegue tudo o que eu quero!

–E me matar vai te fazer melhor do que eu?! Christian, você vai para a cadeia! Aí sim é que você vai parecer pior do que eu! P-por favor, não faça isso... – implorei, andando ainda mais para trás, tentando não tropeçar em nada. Christian apenas avançava lentamente, a faca reluzindo ameaçadoramente.

–Iero, sinto muito, eu não queria ter que fazer isso, mas você não me deixa escolha... Você e esses seus sucessos inesperados. – disse ele, sem nenhum vestígio de seu antigo sorrisinho sarcástico no rosto. Observei seu braço se erguer e descer novamente, indo em direção ao meu estômago.

E... Tudo ficou escuro.