Sentia o bafo quente em meu rosto e havia com um melecado de baba em minha bochecha. Estava totalmente paralisada. É mesmo um puma em cima de mim? Tinha lindos olhos e dentes brancos afiadíssimos. Pensei que fosse negro enquanto estava nas sombras, mas agora enxergo que é um castanho-avermelhado pálido. Ele fez um barulho estranho, algo entre um rosnado e uma risada? Não sei bem. Ainda estava chocada, sem poder me mover.

O puma estava me machucando com sua pata grande e cheia de unhas afiadas em meu peito, e soltei, sem querer, um gemido. Ele levantou as duas orelhas e levemente começou a aproximar a cabeça ainda mais de meu rosto. Subitamente recebi uma lambida.

–Eca! -não consegui deixar de pronunciar.

Ele se arqueou ao som e deixou escapar um leve rosnado. Sua pata saiu de cima de mim. Enquanto seu corpo se mexia era possível enxergar algumas manchas escuras em seus flancos. Então eu percebi que não era adulto. E que filhote grande e forte. Deveria ter sido já deixado pela mãe... Mãe? Se aquele monstro em cima de mim, filhote, já poderia me matar em instantes, assim que quisesse... Imagine sua mãe.

Os barulhos devem ser frutos de sua mãe procurando por ele. A vontade de chamar por Dean e Joseph era grande, mas me acalmei. Tentei me mexer, mas não bruscamente. Comecei a impulsionar o corpo para longe dele. Deu certo! Ele levantou as orelhas e começou a se afastar também.

Ele não podia ser um filhote. Nem um adulto, acho. Acho que jovem seria a palavra correta. O jovem puma.

PLÉFT! Só deu tempo de ouvir o estrondo do tombo no chão. Isso que acontece quando uma garota e um filhote jovem crescidinho de Puma se juntam no mesmo galho. Ele quebra.

O puma estava há alguns metros de mim, com as quatro patas no chão, sem se mexer. Apenas me observando. Talvez seja verdade o ditado que gato sempre caiu de pé, e talvez se eu ficar quietinha no meio dessas folhas que caí ele não venha ao meu encontro.

Não era o momento certo para me certificar de fraturas. Elas teriam que esperar. Comecei a sentir cheiro de sangue. Ótimo! O que eu mais preciso para essa fera me atacar. A sorte resolveu me deixar, afinal?

No silêncio da noite ouvi uma coruja. Comecei a pedir desesperadamente para Atena me ajudar, ou qualquer outro deus da mitologia grega. Então ouvi também rugidos e o puma adolescente há poucos metros de mim começou a se mexer. Então além de se mexer ele começou a fazer barulhos com a garganta, ou seja lá o que. Algo como um ganido.

Chega! A mãe dele viria até aqui. Apoiei minhas mãos no chão e com um impulso saltei. Droga. Na hora da queda da árvore torci o tornozelo, e fiz um corte na barriga. Barriga, isso mesmo. Estava com um corte sangrento. Rolei quando caí, e os galhos serviram pra isso. Já o tornozelo torcido era o resultado do impacto da queda e meu esforço para cair de pé. Foi tudo tão rápido.

Saí de meu mundo de pensamentos. O 'adolescente' puma a minha frente começava a caminhar em minha direção. Sim, ele iria me alcançar fácil numa corrida. Me apoiei a árvore, e escalar não adiantaria nada, também. Simplesmente fiquei parada.

Então os barulhos de passos perto me alertaram, porém não podia fazer nada. Então desesperadamente quase desmaiei de alegria ao ouvir a voz de Joseph e Dean chamando por 'Cathy'.

–Aqui! -Gritei uma vez, apenas.

O puma já tinha saltado pra alguma árvore com os gritos. Enxerguei os cachorros correndo, Dean, o garoto magrelo Josh e um pouco do cabelo loiro de Joseph...

–Tudo bem? -perguntou Dean, perto de mim.

Comecei a chorar compulsivamente. Talvez essa fosse uma resposta a sua pergunta.

Dean correu até mim e me pegou nos braços, mas sem tirar meus pés do chão.

–O que aconteceu? -sussurrou em meu ouvido com uma voz calmante.

Há alguns metros estava Joseph, nos encarando preocupado. Esperando respostas. Não esqueçamos o detalhe que ele estava segurando nos braços um flácido puma. Um flácido, e belo puma. Com marcas de sangue em seu pescoço. Por que diabos ele trouxe isso pra cá? Pra me fazer chorar... Só pode.

Medo começou a me dominar. Medo de Joseph, que poderia me matar em instantes se pode matar um puma adulto. Medo pelo jovem puma. Como ele sobreviveria sem a mãe? Medo por Dean, que há pouco tempo atrás descobri ser um lobisomem. Medo por...

Só medo. Puro medo. Uma hora isso iria acontecer. Estou há pouco mais de um dia e, vamos contar:

Já matei esqueletos. Um lobo e um vampiro me sequestram. Arrombamos uma loja. Fugi. Conheci minha mãe, que por sinal é a deusa grega Afrodite. Roubei um helicóptero e o explodi. Soltei presos de uma cadeia. Fugi com presos de uma cadeia. Machuquei policiais. Beijei um lobisomem, em duas ocasiões. Enfureci um vampiro. Um puma jovem me atacou, praticamente. Me machuquei caindo de uma árvore com um puma.

Passar esses acontecimentos por minha cabeça só me deixava com mais medo. Mais e mais... O que aconteceria? Será que enlouqueceria? Deveria ser forte. Deveria lutar. Deveria...

Um clarão. Eu desmaiei.