O Casamento da Problemática escrita por Lila


Capítulo 1
CAPÍTULO I




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Em uma tarde tipicamente quente de Suna, tudo estava atipicamente tranqüilo no escritório do Kazekage - Gaara. Depois de dez anos exercendo o ofício, o ex-Jinchuuriki aproveitava o silêncio apreciando a moldura com a foto de sua mulher e filhos quando o irmão mais velho irrompe pela sala com um ar de quem tem notícias muito graves a serem discutidas.

 

-Gaara, precisamos conversar. Tem um minuto?

 

Gaara apenas levantou os olhos, fitando Kankurou seriamente.

 

- Podemos. – Respondeu o Kazekage - Não tenho nada a fazer agora... O que tem de tão importante e urgente, Kankurou?

 

-Temari! - Exclamou Kankurou lançando um olhar expressivo para o irmão como uma namorada nervosa que diz "Você sabe qual é o probelma!Precisamos discutir esta relação!"

 

Gaara suspirou pesadamente, levando uma das mãos ao rosto e fitando novamente o irmão com intensidade.

 

 -Qual o problema com Temari agora? Ela espancou algum outro criado?

 

-Humpf!- Kankurou bufou - Antes tivesse espancado a criadagem inteira, DE NOVO!Mas o que ela fez foi pior, muito pior! Sabe aquele médico nin, pupilo da velha Chyio com quem ela andou saindo? Aquele em quem nós depositávamos todas as nossas esperanças?

 

-Sei sim... O que aconteceu, Kankurou? O que ela fez agora?

 

-O que ela fez? Temos que perguntar isto para ela!Agora mesmo, quando estava entrando no prédio, ele saiu correndo tão desesperado que derrubou metade das velhinhas que passavam! E quando eu me aproximei para perguntar o que estava acontecendo ele ficou lívido e gritou: "V-Você! Você que me apresentou a ela! Desgraçado! Eu vou me mudar para Konoha! N-Não, para a Névoa! Uma vila não aliada!" Agora que ela afugentou o último com coragem, o que nós vamos fazer?

 

-Realmente, estou sem idéias... – O ruivo parou, pensativo, escorando os cotovelos na mesa - Precisamos de ajuda feminina. Já vi que não levamos jeito pra isso, Kankurou...

 

Kankurou deu passos nervosos pela sala, pensando e murmurando:

 

 -Ajuda feminina...Pode dar certo! Eu já não tenho mais amigos para pedir este favor... Além disso, a cada dia que passa, Temari fica mais irritadiça. Não sei se as edificações de Suna agüentam outra tempestade de vento...

 

-Kankurou, pode parar de andar de um lado pro outro? - fitava-o meio irritado - Temari está passando dos limites... Quem sabe se falarmos com Cari, ela não nos dê idéias melhores? Ou se irrite de uma vez... Ela não aprova muito nossos métodos.

 

Kankurou atendeu ao pedido de Gaara e parou, olhando esperançoso para o irmão e concordando:

 

 -Cari pode nos dar uma perspectiva menos desesperada para resolver o problema. E eu posso falar com a Natsumi também... Ela vem conversando muito com a Temari. Acho que se dão tão bem por terem gênios tão parecidos... Dou graças a Deus por ela ter a Nin-chan para tomar conta agora... - Disse com um suspiro de explícito alívio.

 

-Talvez elas possam ajudar de algum modo, Cari deve estar em casa... Satoshi está de férias e Hikari parece que encasquetou em andar pela casa inteira carregando tudo pela frente. Acho que pode falar com ela lá. Só espero que Temari também não esteja em casa.

 

-Talvez esteja, o que torna a ação perigosa. É mais seguro chamá-las para cá. - Kankurou foi até a porta e fez sinal para o subordinado de plantão se aproximar, depois o instruiu - Vá até a residência do Kazekage e peça para Cari-sama vir até aqui. Diga que é para debater...Hum...Os planos para o próximo festival da vila. E o mesmo vale para a minha esposa.

 

 

Depois que o shinobi bateu continência e foi cumprir as ordens, Kankurou comemorou consigo mesmo:

 

-Duvido que a Temari se interesse por preparações de festivais. Ela não vai chegar nem perto daqui.

 

Cerca de meia hora depois que o subordinado partira, Cari adentra o escritório.

 

-Desculpe a demora... – Disse, ofegante - Hikari está me enlouquecendo...Que história é essa de festival?

 

Sem dar tempo para qualquer um dos dois responder, um vulto passa correndo pela porta e vai se abrigar no local mais seguro possível. Ledo engano inocente de criança... Mal acomodou-se às costas do pai e o furacão Natsumi podia ser ouvido há metros da porta:

 

 

 - SABAKU NO NINGYOU!!! - O nome completo geralmente significava uma travessura de alto nível e das que geralmente a pequenina não passava impune.

 

 

Natsumi fuzilou o marido por vê-lo dando abrigo à menina... Ele sempre arruinava toda a educação e corretivo que ela se esforçava em dar à pequena - que ela praticamente criava sozinha.

 

- Então quer dizer que além de não me ajudar em casa, não me ajudar a cuidar da NOSSA filha você ainda precisa de mim para fazer o SEU trabalho, Kankurou??? - Era sempre assim, ela ignorava completamente a figura do Kazekage e de sua esposa na sala.

 

Aliás, ninguém conseguiria falar mais alto que a mulher de qualquer maneira...

 

Kankurou ficou tão lívido quanto o pretendente de Temari fugitivo que agora atravessava o deserto ainda desesperado.

 

- Na-Natsumi... - Ele gaguejou ao ver o nível de ira da esposa - Não é exatamente isso, meu amor. É algo que te interessará mais, eu garanto. É sobre a sua cunhada e amiga: Temari... Precisamos ajudá-la...

 

O mestre de marionetes ainda escondia a filha e rezava silenciosamente para Natsumi se interessar o suficiente pelo assunto para se esquecer da travessura da sua pequena cúmplice.

 

Parece que a menção da melhor amiga aquietou a mulher e atiçou-lhe a curiosidade. Seria tempo de corrigir a filha e o marido depois. Encontrou uma cadeira e sentou a espera de maiores detalhes.

 

Gaara levava as mãos às têmporas, por causa dos gritos da cunhada, recebendo o pequeno abraço nas pernas da filha. Erguendo a filha nos braços, virou para a irada cunhada:

 

-Natsumi-san... Por favor, se acalme... – Voltando-se para a esposa, começou a explicar a situação - Hana, não existe festival nenhum. Estamos aqui para falar sobre Temari e em como ela anda mais temperamental que o normal. E isso não está sendo bom para ela e nem para os moradores da vila.

 

-Nós estamos preocupados com ela e com a segurança de quem está ao redor também, é claro.  – O irmão complementou os argumentos - Temari tem piorado com o tempo. Esperamos que vocês tenham alguma idéia para que possamos auxiliar a Temari a encontrar alguém que a... Ahm... tranqüilize.

 

- Vocês são mesmo uns idiotas, não são? – Cari indagou, levemente irritada -Ainda não perceberam que o único problema da Temari é um ninja preguiçoso que reside em Konoha? Ela nunca vai se aproximar de ninguém aqui a não ser para dar umas boas pauladas! E bem dadas! Se vocês querem saber, acho ridículo isso que vocês fazem.

 

Natsumi tinha os olhos revirados em profunda feição de desagrado e inconformismo:

 

- Eu não acredito que vocês dois conseguiram casar, sabia? Aliás, eu mesma me pergunto onde estava com a cabeça quando caí na sua conversa fiada Kanlurou! Cari-chan está coberta de razão! Temari-chan só vai casar se for com aquele professorzinho idiota de Konoha. Vocês não podem forçá-la a escolher alguém de Suna... Ela vai esperar por ele a vida toda.

 

-Natsumi, nós NÃO estamos tentando empurrar alguém de Suna para a Temari, mas estamos fazendo o que está ao nosso alcance. - Kankurou olhou um tanto desagradado para a esposa. - O que você preferia? Que deixássemos nossa irmã perder a beleza e nos matar em alguns dos surtos de frustração dela?

 

- Você é um egoísta, Kankurou! E você também Gaara! – Natsumi disse, apontando para o cunhado - Os dois estão preocupados com o que Temari-chan pode fazer de mal à Suna... Mas e o tanto que ela já fez por vocês dois??? Ou se esqueceram que essa maneira dela durona de ser é porque teve que ser assim para criar um irmão vadio e um caçula problemático? Esqueceram de tudo que ela fez por vocês? Ora essa! Eu não vou ficar aqui vendo vocês confabularem contra a pessoa que mais merece ser feliz nesta família! Se vocês quiserem minha ajuda para fazer aquele Preguiçoso de Konoha tomar uma atitude, sabem bem onde me encontrar!

 

Natsumi foi até o marido para pegar a filha e voltar para casa, encontrando alguma dificuldade em desgarrar a pequena.

 

Gaara ficou em silêncio observando a conversa. Depois de alguns segundos voltou-se para Kankurou, ainda impassível:

 

- Por mais descontrolada que sua mulher seja, ela tem razão. Quem sabe não fazemos alguma coisa como desculpa para trazer o Nara até Suna?...

 

Kankurou pensa por um breve instante e decide se arriscar. A adrenalina cotidiana era um dos combustíveis desse casamento explosivo. Ele puxa a mulher pelo braço, embora gentilmente, e a leva de volta até a cadeira em que ela estava sentada, dizendo:

 

-Você está certa, Natsumi... Todos nós concordamos. Agora, fique para nos ajudar a trazer esse Shikamaru de Konoha até a nossa doce Temari, certo?

 

- Hum... - Embora ela implicasse um bocado com o marido, sabia que ele só funcionava no tranco e aquela atitude mais autoritária causava nela um frisson de obediência que certamente resolveriam mais tarde em outras circunstâncias... - Certo. Para trazer o Nara até aqui vocês precisarão ser mais espertos que ele. E claro que não vão dar conta sozinhos... - Voltou-se para a cunhada - Vamos organizar um baile, e dar um ultimato à Temari: Ela terá que escolher um futuro esposo e não poderá mudar de opinião. Ela não vai gostar nem um pouco, mas se vocês disserem que a posição indefinida dela está trazendo problemas para o governo de Suna, a sustentabilidade da autoridade do Gaara, ela não vai se recusar, embora não goste. Não é de hoje que ela se sacrifica por vocês...

 

Cari erguia a pequena herdeira de Gaara nos braços, dizendo:

 

- Bom, ela com certeza vai ficar uma fera. Mandaremos um comunicado ao Hokage para que dê ao Shikamaru uma missão em Suna. Não é de hoje que sabemos que ele e Temari são loucos um pelo outro. Ela só precisa saber da presença dele na festa e, com certeza, amolecerá diante dele.

 

 - Espero que estejamos fazendo o certo agora... Não creio que ela agüente mais decepções... – Gaara puxou a mulher a filha para si, carinhosamente - Ela faz de conta que não se importa, mas já a vi choramingando pelos corredores tantas vezes...

 

Kankurou não se atreveu a fazer demonstrações de amor tão explícitas para a esposa. Incrivelmente, os carinhos mais quentes entre eles eram constantes entre quatro paredes. Mas só entre quatro paredes.

 

-Tudo bem, Kazekage-sama, creio que isto faz parte das suas responsabilidades. - Sorriu para o irmão - E não estou falando do serviço diplomático. É que a segurança da vila está em suas mãos cabe a você providenciar este encontro o mais rápido possível.

 

- Isso não vai ser problema... Faremos o baile este fim de semana creio que 5 dias são suficientes para que o Nara chegue de konoha... Mas teremos que falar com Temari Kankurou...temos que ser nós a dar esta noticia para ela...- Gaara diizia enquanto firmava afilha na outra perna, tentando não mostrar irritação pelo interesse constante da menina na gola de seu manto.

 

- Ah, mas vocês não têm a mínima noção das coisas, né? VAmos fazer tudo escondido, mas cinco dias nãos dará mesmo! Pode ser para a outra semana... Cari e eu podemos preparar as coisas sem levantar suspeitas e também temos que contar com o fato de que o Professorzinho possa lá ter suas tarefas em Konoha e não possa ser dispensado com facilidade... Agora no mais deixem conosco. A tarefa de vocês é falar com o Hokage e com a Temari-chan... -Finalmente levantou-se com a filha nas mãos, deixando um permissivo olhar para o marido - Vocês sentirão falta dela quando for para Konoha... ah se vão... - Deixou sua gargalhada alta e divertida ecoar pela sala antes de sair, tão intepestuosamente quanto entrou.

 

Kankurou entendeu perfeitamente o olhar da esposa e murmurou:

 

-Ah... Esta mulher é realmente um anjo na Terra.

 

Gaara não entendeu uma só palavra e Kankurou continuou, despertando do seu devaneio particular:

 

-Vamos em dupla. Temos mais chances de conseguir viver para assistir aos nossos filhos se casando.

 

Gaara levanta-se entregando a filha a esposa e logo retirando-se em seilêncio pelaporta sem esperar por kankurou.

 

Temari vivia para seu trabalho nos últimos anos... não satisfeita em dominar o leque, poderia considerar-se uma especialista em qualquer arma que pudesse ser potencializada com o futon... mas aquela vida cheia de realizações tornava-se vazia quando ela ia sozinha para seu apartamento imenso... um espaço sem utilidade para uma só pessoa. Não... a melhor época do ano era quando o exame Chuunin aproximava-se e, não importava em qual vila, ela o veria também. Nos primeiros anos as insinuações preencheram seu coração de menina, depois os olhares aumentaram suas expectativas de mulher... mas nos últimos anos, a falta de ação frustrava a jounin ... Tanto que naquele ano ela perpassara a tarefa de acompanhar a equipe de gennins de Suna para outra pessoa... não havia motivo para mais um ano de torturas... Neste momento, um pedaço de madeira pendurado na área de treinamento era o alvo de descarrego de toda sua frustração...

 

A zona de treinamento ficava um tanto distante do palacio de Suna, mesmoassim chegar lá não foi dificil.Temari treinava mesclando suas kunais com o vento. Fora o tempo do kaze erguer a cortina de areia para defender-se de uma nova leva de kunais. Aproveitou a pausa da irmã ao nota-los para aproximar-se da irma. - Podemos conversar Temari? - parou debraços cruzados e o semblante impassivel de sempre afita-la.

 

Não foi um chamado ao escritório, ele veio até aqui... ou melhor ELES vieram... por que o Kankurou sempre acha que se esconde quando o Gaara está aqui?" - Temari estava preocupada com aquela urgência toda e apenas por isso não questionou muito, terminando de lançar certeiramente as duas kunais que restavam na mãos nos respectivos alvos. Pegou um cantil com água e uma toalha para secar o rosto ao sentar no toco próximo de onde eles estavam... - Então, qual a emergência?

 

-A emergência - respondeu Kankurou, com tom de quem conta que "dois mais dois são quatro" - se deve ao fato de a princesa de Suna permanecer solteira, Temari. Sinto muito te informar, sabemos que esse assunto não é do seu agrado, mas esta situação começou a afetar a diplomacia da vila.

 

Ela bufou, já muito incomodada: - Se tivesse alguém decente nessa vila, com certeza eu já estaria casada... e os tipinhos que vocês andaram me apresentando não são qualificados em nada... ora essa! Onde que as pessoas tem que se meter na minha vida PESSOAL??? Gaara já é Kage há dez anos, por Kami-sama! Não há mais nada a provar!

 

-Os conselheiros me pressionaram... não estamos sendo vistos com bons olhos... A princesa de suna já devia estar comprometida, ou melhor casada... Sabemos que édificiltemari mas estou com as mãos atadas...

 

Kankurou foi tomado por uma onda de coragem ao se lembrar do amigo assustado - aquele mesmo que estava fugindo pelo deserto - e aproveitou a deixa para perguntar a respeito: - E o que é que você fez para o último pretendente, pode nos dizer? Eu o encontrei em petição de miséria mais cedo!

 

Temari quase riu ao lembrar-se do idiota... ainda podia ver a cara dele de assustado... - Ora... eu sou uma kunoichi, logo meu "companheiro" deve conhecer minhas habilidades shinobis... eu pedi para o imbecil servir de alvo para meus treinos e ele teve a audácia de dizer que não! Um Covarde! E ainda por cima insinuando que eu erraria a pontaria! Ora essa!

 

-Temari vc poderia se comportar melhor...Não achaque anda exagerando demais nos seus motivos? Deve se comportar comouma dama daqui para a frente! vou mandar os convites aos pretendentes... a festa será proxima semana. Esperove-lapronta ese comportando como a princesa de suna que é! - falava no tom irritado fitando-a seriamente. - espera que entenda nossos motivos temari... a segurança da vila esta em jogo espero que reflita bem sobre isso!

 

Kankurou se virou para sair, dando a sabatina por encerrada, enquanto murmurava: -Do jeito que eu o encontrei, parecia que ela o utilizou como alvo móvel absoluto mesmo assim...

 

-Espero que tenha entendido, Temari... Encerramos nossa conversa por hoje. E desculpe-se com o rapaz mais tarde, ele vai estar entre os selecionados.

 

-SE conseguimos alcançá-lo - Kankurou completou em voz alta.

 

-Já chega, Kankurou... Creio que ela sabe o que fazer agora. É melhor assim para ela e para a vila!

 

Assim que os dois viraram as costas, Temari sacou o leque, descarregando toda sua fúria na, agora extinta, área de treinamento. Como eles ousavam manipulá-la daquela maneira! Isso era tão injusto! O toco de madeira era a única coisa ainda em pé, e nele ela sentou e chorou. Se ao menos tivesse dado suas esperanças por encerrada antes, poderia ter sido menos rigorosa...

 

Mas nenhum deles parecia tão inteligente... Ou travava uma disputa intelectual, ou mesmo sabia usar de sarcamo como o maldito Nara de Konoha!...

 

- Mais uma vez esse preguiçoso atrasa a minha vida! E agora eu não tenho como escapar... Não posso deixar que por minha culpa o governo do Gaara seja prejudicado... - Entre soluços solitários ela chorava por uma escolha que nunca teve.

 

oOoOoOo

 

Naruto recebeu a notícia com um certo alívio. Como esperado do líder da Vila, ele se preocupava com todos os moradores dela e Shikamaru não era diferente. Ainda mais sendo um amigo de longa data que tanto ajudou. Sabia que para aquela missão o escritório do Hokage não seria pessoal o bastante e rodou Konoha inteira até localizar o professor observando as nuvens, como se existisse algo de muito interessante ali.

 

O Hokage trazia nas mãos o pergaminho de Suna e tinha decidido que se Shikamaru soubesse que era uma armação, não iria. Em todo caso, ele seria enganado também...

 

- Yo, Shikamaru! O que anda fazendo por aqui?

 

- Yo, Hokage-sama! - Shikamaru cumprimentou dando ênfase ao título, para brincar com o amigo - Estou observando os movimentos das nuvens. É muito relaxante... Nada melhor depois de uma missão. - O shinobi das sombras focou o documento na mão de Naruto, completando - E, por falar nisso, vejo que já tem outra para mim.

 

- É... Mais ou menos... - Coçou a cabeça, mostrando o selo de Suna - Não é bem uma missão normal, por assim dizer... É uma coisa meio inusitada... - Ele pensava na hora uma desculpa e a cabeça do Kage fervia. Tinha que enganar o melhor estrategista da Vila... Ora essa, porque o Gaara não tinha mandado o plano PRONTO???

 

-Não é uma missão normal? - Shikamaru repetiu, tentando imaginar o que estaria acontecendo em Suna.

 

-É... Não mesmo... - Sentou-se ao lado do amigo - Bem... Eu não sei se você sabe, mas a irmã do Gaara ainda não casou e parece que isso está causando um problemão prá ele por lá... E parece também que ela não é uma pessoa lá muito fácil... O que acontece é que eles montarão um baile nos próximos dias com candidatos para que ela escolha um azarado e se case de uma vez e cesse o falatório... - Naruto interrompeu-se, pois queria ver a reação do Nara.

 

-Temari precisa casar? - Shikamaru não era adepto da mania da repetição, mas a estranheza das informações o obrigava a repetir para assimilá-las bem. Ainda mais se tratando de Temari. A problemática que mais vezes vinha ao encontro da sua mente enquanto observava nuvens.

 

Rapidamente previu o que a carta pedia, mas desejou que Naruto confirmasse a missão despropositada que seria MUITO... problemática.

 

- E o que Konoha tem a ver com isso? - Perguntou.

 

- Bem... Eles querem colocar pessoas que tenham alguma proximidade com a moça, afinal vão se casar e passar o resto da vida juntos, mas parece que o Kankurou e o Gaara estão assoberbados com planos de expansão das defesas de Suna e não podem tomar a frente... Então pediram que você vá até Suna e faça essa compilação, porque passou muito tempo com Temari e aparentemente a conhece bem. Eles confiam que você fará uma seleção apropriada... - Naruto sentia-se beirando a genialidade, mas tinha que esconder seu sorriso de satisfação num semblante quase pesaroso.

 

-Tsc... Isso vai ser problemático. - Shikamaru reclamou, como sempre.

 

Não queria aceitar aquela missão mais do que qualquer outra. Não conseguia sequer se imaginar escolhendo um marido para Temari. Justo para Temari! Por mais que não quisesse admitir, seu cérebro genial já o informava que ele estava mais chateado por causa da kunoichi estar envolvida do que a natureza do trabalho em si.

Tentou uma última chance de escapar:

 

- Eu ainda posso recusar, ou é mesmo uma ordem?

 

- Você pode recusar, claro... - Naruto começava a duvidar da eficácia de seu plano - Mas eu pensei que seria bom responder a um pedido do Kazekage... É quase um favor pessoal, eles ficariam eternamente gratos à Konoha e a você, Shikamaru.

 

-Nós devemos muito ao Kazekage, não é? - Shikamaru considerou por um segundo. Ainda que o incomôdo persistisse, imaginou como Temari estaria encantadoramente nervosa. Se a amizade que nutria por Naruto não fosse suficiente para fazê-lo aceitar, isso teria sido. - Está certo. Meu time está mesmo precisando de férias...

 

- Ótimo! Eu tomei a liberdade de arrumar sua liberação para o final da tarde, creio que você ainda tem uma hora. O quanto antes chegar à Suna melhor, mais rápido seu retorno! Transmita minhas felicitações à Temari no nome de Konoha e fique bem atento à missão!

 

Naruto deixou o pensador com suas nuvens e voltou para casa, vangloriando-se de ter logrado êxito na sua pequena empreitada.

 

Shikamaru continuou a olhar para o céu, mas não observou sequer uma nuvem. Seu pensamento estava voando ainda mais alto - na direção da Princesa de Suna. "Casar...? A problemática vai mesmo se casar!... E por que eu me importo tanto com isso?"

 

oOoOoOo

 

 

Em Suna, Temari realmente tentara de todas as formas adiar ou reverter a situação, mas todos pareciam unânimes na opinião de que aquilo era o melhor para a Vila. A kunoichi não conseguia entender o que um matrimônio de alguém como ela seria tão pertinente à saúde das relações diplomáticas dentro e fora de Suna. Mas depois ela lembrava que ocupava uma alta posição e era também irmã do Kazekage. Nunca foi uma mulher estúpida e sabia que casamento arranjado era uma tradição. Apenas achou que sua sorte seria tal qual a de seus irmãos.

Inclusive ela inquiria Natsumi sobre seu azar naquele exato momento, quando a cunhada e melhor amiga tentava fazer com que ela escolhesse entre azul ou rosa.

 

- Natsumi-chan... Eu não quero fazer parte desse circo! Não sou uma mercadoria para ficar exposta dessa maneira!

 

- Claro que não é! - Natsumi respondeu ainda avaliando os tons das peças ricas de roupa - Mas encare da seguinte forma: você não será o prêmio e sim o jogador. Estarão presente os melhores solteiros de Suna e arredores, minha querida. Você escolherá o que mais te agradar! O mais bonito e menos idiota, se preferir assim...Ah! Acho que deve usar o azul, destaca os seus olhos.

 

Pegou a peça sem o menor interesse. Não fazia questão alguma de ressaltar nada para ninguém.

 

- Eu não quero ninguém de Suna, nem dos arredores! Ora essa! Será que ninguém entende que eu não sinto necessidade de me casar? Eu não quero isso, não quero, não preciso e não posso! - Era como um mantra que repetia vezes e vezes para ter certeza que ela não precisaria mesmo daquilo.

 

Natsumi cruzou os braços com ar duvidoso e perguntou:

 

 - Quando diz que não quer, você está tentando convencer a si mesma, não está?

 

A loira desviou o olhar da cunhada, fixando-o na figura da sobrinha.

 

- Eu não sei... Mas quando eu vejo vocês com as crianças eu... Eu sinto vontade de ser mãe algum dia. Não sei se tenho vocação pra isso. E sei que para criar um filho a gente precisa de uma família. Às vezes eu acho q posso fazer sozinha, mas outras vezes.... - Bufou de raiva - Eu não me vejo casada com nenhum imbecil, Natsumi-chan!

 

- Eu ouço minhas próprias palavras vindo de você, Temari-chan.  - Natsumi sorriu indulgente - Olha com quem me casei! E, vou te contar, não me arrependo nem por um instante. Agora eu me sinto completa... Não me imagino de outra forma. Seu irmão é muito mais do que os olhos vêem e a Nin-chan despertou em mim mais amor pela vida do que eu poderia mesurar.Temari-chan, eu jamais estaria participando disso se não soubesse que te fará bem. Dê uma chance a si mesma!

 

- Mas... Natsumi-chan... Você tem sentimentos pelo Kankurou... Eu vou me casar com um completo desconhecido! Não acredito nessas coisas de amor com o tempo... Ah... - Secou as lágrimas antes de mancharem o rosto - Vou encarar iso como uma missão. Quem sabe assim não me conformo? - Forçou o sorriso, voltando o olhar para o vestido - Escolha o que achar melhor, Natsumi-chan, confio no seu bom gosto.

 

Natsumi bufou sem sinceridade para demonstrar irritação para a amiga.

 

-Temari! Pare de chorar agora mesmo! Aquele pátio lá embaixo está lotado de homens maravilhosos que vão se jogar aos seus pés. - Jogou o vestido azul-turquesa no colo da noiva desolada - Você é uma princesa! Aja como tal! Além disso, quem sabe você não se depare com alguém que seja uma agradável surpresa?

 

-Isso tudo é culpa daquele preguiçoso! E minha também! – Temari se levantou, furiosa com a lembrança do Nara - Se eu não tivesse interpretado errado aqueles sinais, não teria ficado como uma boba, sentindo besteiras por um... por um... preguiçoso!

 

-É. Você já disse isso e repetiu quantas vezes mesmo? Não importa! - Natsumi se aproximou da amiga e abrandou o tom de voz - Temari-chan, não adianta se martirizar. Agora temos a grande chance de recuperar todo o tempo perdido, não acha? Se Vista e desça sem esta barreira de mágoa que criou. Vou estar lá, torcendo por você. Ah, e se eu vir algum espécime interessante, eu aponto!

 

Natsumi deu uma piscadela cúmplice para Temari e se virou para a filha que brincava indiferente em um canto do quarto:

 

 -E você, senhorita Ningyou, trate de chegar ao chuveiro antes que eu te alcance!

 

Temari observou com um sorriso a pequenina Nin-chan correr com as perninhas curtas o mais rápido que podia para o chuveiro. Natsumi poderia parecer severa demais, porém ela entendia bem o cuidado excessivo. A menina era a preciosidade de Natsumi e Kankurou.

 

Depois que as duas partiram, ficou pensativa por muitos minutos. Segurava ainda os vestidos, voltando os olhos vez ou outra para o relógio.

 

O coração palpitou descompassado como todas as vezes ao ouvir aquele chamado tão peculiar e que há mais de um ano não ouvia...

 

- Yo, problemática...


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