– Alô?

– Ah! Kosaka-kun!

– Ah, é você Sakaki-chan.

– Sim, sou eu. O Yuuki me ligou. Ele vai estar esperando nós dois lá no início da floresta. Sabe? Perto da placa?

– Sei sim. E os outros?

– O Kei vai com a irmã dele, Inoui. E a Mikono também vai com o Saoki. Não entendo porquê não podíamos todos juntos.

– Você sabe... Eles moram um pouco longe daqui.

– Claro... Ah, droga! Esqueci de comprar repelente. Odeio pernilongos! Como se não bastasse aquela espinha enorme que apareceu no meio da minha testa. Não quero ficar cheia de marcas na pele...

– Eu estou com um aqui. Posso levar. Não se preocupa, são só 3 dias.

– O ônibus de viagem do pai da Inoui vai passar pela floresta às 6:00 da manhã daqui a três dias, então, vamos pegar carona nele, certo?

– Foi com a Inoui disse, etão vamos contar com isso.

– Está quase na hora. Vou terminar de me arrumar e chego ai na sua casa para irmos juntos.

– Ok. Te espero aqui.

– Ei! Kosaka-kun! Acho que minha mãe quer falar com você! *Mãe! Não precisa!*

– Ahm?

– Kousaka-kun. Aqui é a mãe da Sakaki. Eu só quero te pedir que cuide bem dela. *Mãe!* Aquela floresta não recebe visitante faz muitos meses.

– Não se preocupe, nós vamos ficar todos juntos. Não vai acontecer nada. Eu prometo.

– *Mãe! Me dá isso aqui!* Ahh! Desculpe Kousaka-kun! Ela acha que eu sou um bebê.

– Me parece que ela está bem preocupada. E não é só com você...

– Esquece, ela é meio paranóica... Bye, bye! Chego logo!

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Depois de 20 minutos, Kousaka e Sakaki chegam na floresta de táxi e encontram todos lá. Yuuki estava com três latas de refrigerante, enquanto Kei tentava acalmar a Inoui. Ela parecia ter levado alguma queda. Já a Minoko estava comendo macarrão instantâneo perto de uma árvore. Saoki como sempre, no celular. Provavelmente dizendo para seus amigos que aquele acampamento seria um saco. A Inoui se levantou rápido quando me viu e percebi que não tinha se machucado, apenas estava com medo de ficar na floresta por três dias. Estava na cara dela.

– Ah! Kousaka-kun! Estava com muitas saudades de você.

– Bem... Esse é o objetivo do acampamento, não é? Se encontrar com quem estava distante esse tempo todo.

Foi por isso que eu aceitei ir. Depois do 2º ano, todos se separam. Éramos amigos desde a 6º série. Mas cada um teve que seguir seu rumo. A maioria porque os pais tinham que trabalhar em outras cidades, mas sempre tentávamos nos comunicar à distância. A Sakaki foi a única que ficou perto de mim. Somos amigos de infância na verdade.

– Eu acho que devíamos ir armar as barracas e preparar uma fogueira - Alertou o Kei - Vai escurecer daqui a pouco.

– Certo. - Respondeu a Sakaki.

– É bom te ver, Kousaka-kun.

– É bom te ver também, Kei.

Nós 4 não falávamos muito com o Saoki, a Minoko e o Yuuki. Eles eram do tipo que te davam um fora bastante chato e de te deixar sem auto-estima por dias. Mas por algum motivo, a Minoko ainda era bem legal.

Armamos a barraca em menos de 30 minutos, e ninguém deu uma palavra. Comecei a achar que tava ficando bem chato, e quando eu ia tentar puxar assunto, o Saoki puxa um videogame portátil da mochila, e começa a jogar. O barulho me irritava. Mas mesmo assim, todos continuavam ao redor da fogueira.

– Acho que três dias é muito tempo. - Soltou a Inoui.

– Você diz isso porque está assustada. - Responde o Saoki, ainda com o videogame na mão.

– Não, não é isso. Acho que não temos o comida o bastante.

Ela estava realmente assustada. Mas não era por acaso... Sempre fomos um bando de irresponsáveis. Eu tentei ajudar:

– Ah! Inoui-chan, não se preocupe... Eu e a Sakaki trouxemos comida para uma semana!

Sim, foi uma piada. Mas ela não entendeu e apenas deu um sorriso de lado.

– Minoko, você trouxe o que eu pedi? Sabe que não é seguro e precisávamos daquilo tudo. - Disse o Yuuki.

– Não, não tudo aquilo. Eu ia parecer uma louca se--

– Quê?! - Yuuki interrompeu. - Você acha que estamos num campo? Num clube cheio de piscinas e com segurança total?

– Eu não--

– O que você trouxe?!

– Bem... Bolachas e metadade do que pediu. A Inoui e o Kei já trouxeram coisa o bastante!

– Estúpida!

– Ei! Não fale assim com ela. Você não tem esse direito! - Sakaki grita.

– Eu deveria ter lembrado que era difícil passar um dia de aula com vocês... Imagina três dias! - Disse o Yuuki.

Nós ficamos totalmente sem reação. O Yuuki era uma pessoal tão simples e... nerd?! Nunca havia escutado sequer um grito da boca dele. A Minoko ficou sem dizer uma palavra. Mas eu percebi que ela estava cheia de lágrimas nos olhos. E só um movimento, viríamos uma cachoeira descer dali.

Depois disso ele simplismente pegou suas coisas e entrou na barraca. Cada um havia a sua própria, então, ficou mais fácil de manter longe algumas discórdias.

Depois de um tempo comendo e bebendo perto da fogueira, decidimos todos ir dormir. Já eram 11:30 da noite, e parecia que todos estavam assustados.

– Boa noite pessoal. - Disse a Inoui.

– Boa noite. - Todos respondemos juntos.

O Yuuki já estava dentro da barraca. E não tinha feito nenhum barulho. Já o Saoki, continou até meia-noite com aquele barulho irritante de jogos. Até que, finalmente, eu dormi.

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* PAM! PAM! PAM! *

– Ahh! Merda! Inoui! Desliga esse despertador! - Gritou o Kei de dentro da barraca.

– Ahm?! Não é o meu!

– Então quem é que está com o despertador tocando e não teve a boa vontade de desligar!? - Continuou o Kei.

De repente, todo mundo começou a sair das barracas. E com caras terríveis... Ah, mas eu também ainda estava desmaiando de sono.

– A Minoko ainda não saiu da barraca... Acho que ainda está chateada. - Disse a Inoui.

– Ta bom, admito que exagerei. Vou me desculpar logo que ela se levantar. - Falou o Yuuki. - Saoki! Levanta logo! Ainda vamos fazer a trilha, certo?!

– Nossa. Sono bem pesado o deles, não? - Brincou a Kousaka. - Deixa que eu chamo a Minoko.

Kousaka se aproximou da barraca da Minoko, e quando ia colocar as mãos na fenda que estava um pouco aberta, o Kei fala:

– Ei! Ei! Não tem ninguém aqui! O Saoki sumiu...

– Se aquele idiota tiver planejando alguma coisa. Eu juro, quebro aquele joguinho no fucinho dele, e-- Kei, que cara é essa?! - Falou o Yuuki assustado.

– O videogame... Está em pausa.

– Ah, então ele deve voltar logo. - Falou a Inoui.

De repente a Kousaka também se assusta e cai para trás batendo no joelho da Inoui que também se assusta. Mesmo tremendo ela continuou a falar:

– N-Não... V-Venham ver isso!

O Kei continuou ajoelhado e pensando no que poderia ter acontecido com o Saoki. Ele não era do tipo que acordaria cedo para fazer um esforço e caminhar pela floresta. E muito menos, acordar cedo para pregar uma peça em alguém.

– Ah, meu Deus! - Gritou a Inoui.

– Isso são fotos? - Perguntei olhando para as fotos que estavam na mão da Kousaka. - E... sangue?!

Kousaka ainda tremia. Virou a cabeça lentamente e olhou para mim com lágrimas nos olhos. Eu queria entender, mas ela não parava de falar o meu nome e não sabia como explicar.

– K-Kousaka, K-Kousaka-kun...

Por instinto, eu puxei as fotos da mão dela. Estavam sujas de sangue. A única coisa que eu conseguia ver era a perna de alguém.

Quando passei a mão para tentar ver o que tinha na foto, me arrependi na hora de ter pegado naquilo. E soltei-as no chão.

Sim, era uma perna. Mas descolada de um corpo. E naquele momento, eu não queria saber de quem era. Eu estava muito assustado para descobrir que poderia ser um dos meus amigos. Mas o Kei pegou-as e falou alto:

– É a Minoko... E ela está com as pernas e os braços separados do corpo.

Eu olhei para ele com uma cara cheia de raiva. Não acredito que ele falou aquilo alto. Sabia, a Inoui não iria aguentar. Ela simplismente desmaiou no chão.

– Inoui! Inoui-chan! - Kousaka colocou a cabeça dela no seu colo ainda no chão.

Sua lágrimas continuavam a descer.

Eu não tinha noção do que falar para acalmar as pessoas.

– Vamos para a estrada. Esperamos um carro ou alguém para pedirmos carona. - Soltou o Yuuki. - Não quero ficar aqui mais nenhum segundo. Eu avisei pra ela. Ela não me escutou! Ela não me escutou!

– Não podemos abandonar eles assim. Isso pode ser uma brincadeira ainda, certo? - Tentei acalmá-los.

– Eles nunca fariam isso. Sabem qual seria a reação. - Respondeu o Kei. - Eles são bem racionais, não acha?

– E a foto do Saoki?! - Eu ainda tinha esperança que nada tivesse acontecido com ele.

– Bem, na foto da Minoko, ela está no chão... Aparentemente dessa floresta. Já o Saoki na foto, está dormindo na barraca. - Terminou o Kei.

Ficamos sem falar por 30 segundos, até que a Inoui começou a acordar. De repente, um som de uma música começa a tocar. Vinha de muito longe.

*When you're alone, and life is making you lonely, you can always go... Downtown!*

– Downtown... Petula Clark... - Falou a Inoui ainda tonta.

– Ahm? - Perguntou o Yuuki.

– Downtown... Uma das música preferida da Minoki... - Continuou.

Eu sabia que ela amava músicas clássicas e antigas. Mas não era o momento certo para ouvir a música.

– É o celular dela! Está vindo dali! - Kei correu para a floresta. - Venham comigo!

Todos fomos atrás dele. A Inoui ainda estava nos braços da Sakaki. Mas mesmo assim, conseguimos acompanhar.

Era verdade. O celular dela estava bem perto do rio. E a música continuava... Por algum motivo, ninguém tinha coragem de tocar no celular.

*The lights are much brighter there, you can forget all your troubles, forget all your–-*

Perdemos a sintonia da música por um barulho de água. Algo havia caído no rio. Não demorou muito tempo até o Yuuki conseguir ver alguém nadando de longe, até a nossa direção.

– Espera ai... É o Saoki! - Gritou a Inoui.

– Saoki-kun! Nade para esse lado! Vamos! - Gritava o Kei.

A cada braçada que ele dava, era uma agulhada de aflição em cada um. Mesmo assim a Sakaki soltou um sorriso de despreocupação. Eu também estava muito feliz. Mas estaria mais se conseguisse abraçá-lo quando ele chegasse até nós.

Apenas dei uma piscada, e até abrir os olhos, tinha tido os melhores momentos de esperança. O Saoki não estava mais nadando.

– O que foi isso? - Perguntei.

– Uma flecha. Uma flecha! - Yuuki começa a se desesperar.

O Saoki estava boiando em pé ainda. Parecia que estava tentando nadar. Mas foi só virar para frente, que eu consegui ver. Havia uma flecha, não tão grande, na parte de trás da cabeça dele. Em 1 segundo, ele caiu para frente e começou a boiar deitado, enquanto a água ficava vermelha e o rio levava ele para longe. Ele tinha acabado de ser atingido enquanto nadava.

Não tivemos nem tempo para refletir ou sequer reagir. Logo fomos surpreendidos por outra flecha que passou perto do rosto do Yuuki e atingiu o braço da Sakaki. Tinha sido atirada de um lugar alto. Só poderia ser uma árvore.

A Sakaki caiu no chão dando um giro, e a Inoui a pegou.

– Não se preocupem, foi de raspão. - Falou a Inoui.

Mesmo assim a Sakaki continuou no chão chorando. A ficha caiu. O Saoki acabou de morrer na nossa frente. E nós estávamos sendo caçados.

Só tínhamos um plano...

Correr para a estrada e esperar ajuda.

Mas... Será que consiguiríamos chegar, ao menos, na metade do caminho?