As Letras Mortais escrita por Reira chan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Eu não sei exatamente quando foi seu aniversário, mas sei que está atrasado. De qualquer forma... Feliz aniversário, Guardian-sama ♥ e espero que você goste.



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M

“Matt, você morreu por minha culpa... Sinto muito”

Matt. Aquele poderia não ser o seu nome verdadeiro, mas para o loiro não importava. A amizade que ele tivera e alimentara por ele todo esse tempo não poderia ser mais verdadeira, e apenas aquilo lhe bastava. Desde pequenos, andavam juntos e juntos cresceram, com a amizade acompanhando-os na proporção. Matt era uma das únicas pessoas que não tinha medo dos acessos de fúria de Mello e que sabia que na verdade toda aquela sua frustração escondia uma enorme tristeza, bem como um grande complexo de inferioridade, mesmo que Mello nunca tivesse precisado explicar-lhe isso. Matt simplesmente sabia, como ele em geral sabia tudo sobre o loiro. E, ao mesmo tempo, o ruivo era a única pessoa para quem ele jamais teria coragem de contar algum de seus problemas. Matt ouvia. E era ele quem limpava cada uma das lágrimas que desciam ardendo, gélidas, em sua face.

I

Incrível como eles se entendiam e podiam conversar sem uma palavra; incrível como eram parecidos, e ao mesmo tempo, quase opostos. Matt e Mello eram igualmente orgulhosos, teimosos e perfeccionistas. Odiavam errar, e no caso de Mello, perder. Mas ambos sabiam que na verdade, isso era apenas insegurança do loiro. Ao mesmo tempo, Matt era mais simples e, sobretudo, mais feliz. Não sorria muito; mas tinha o sorriso que mais valia a pena ver. Seus lábios repuxavam tão naturalmente, com uma curva suave para cima, sincera como seu bom humor. Os dentes e os olhos brilhavam, em sincronia. Aquela simples imagem estava gravada irrevogavelmente na memória de Mello, bem como as sensações que lhe causava, o que na verdade não o incomodava. Adorava ver como o ruivo sorria por coisas bobas, e se justificava com um simples: “eu quero curtir a vida”. Matt não tinha medo de morrer, mas prezava a vida, e queria simplesmente vivê-la do melhor jeito possível.

E tinha escolhido fazer isso ao lado de Mello.

H

Há muito tempo, o loiro sabia o que aquela aproximação, aquele tempo juntos, causara. Matt era o único a acalmá-lo quando estava bravo, fazê-lo sorrir quando estava triste, rir das besteiras que fazia e fazê-lo rir junto. Matt era o único que o entendia, mesmo quando ele não se explicasse. E depois de vários anos em sua companhia, mesmo que alguns deles tenham sido entrecortados pela captura de Kira, ele já sabia o fato inegável. Que era: Mello o amava. Amava como amigo e qualquer coisa mais que ele pudesse ser. Amava-o como irmão, como namorado, como amante. Amava-o de cada jeito idiota e desprezível que sua mente e seu coração eram capazes de formular.

A

 Aquele garoto o enlouquecera, de todas as formas possíveis. O enlouquecera de medo, de preocupação, de dor. O loiro nunca se esqueceria daquele dia – o dia em que L morrera. O dia em que o seu legado, capturar Kira, fora deixado para ele e Near, o garoto que odiava. O dia em que o medo de Mello de por em risco a vida do ruivo ultrapassasse o seu desejo de estar com ele, a ponto de o loiro ir embora sozinho. O dia que precedeu milhares de outros dias de saudade, de dor, de insegurança e ansiedade, não apenas pela falta do ruivo, mas pelo grande desafio que a captura de Kira representava. Até que Matt o reencontrara, e, sem dizer uma palavra, o abraçou, com a simples palavra “tadaima” estampada em sua voz.

Nem mesmo naquele momento, Matt deixou de entender o que ele queria e sentia. Até ali, o ruivo soube que Mello apenas se preocupara, e nunca o julgou por isso. Simplesmente ficou ao seu lado, e o ajudou. E com ajudar, a mente do loiro não se referia apenas à captura do criminoso. Ele salvou a sanidade do loiro, mesmo que muitas vezes tenha sido ele a roubá-la.

Absurdo.

E

Ele gostaria que sua mente parasse de devanear no garoto; mesmo que o loiro olhasse agora para o para-brisa do carro, tudo o que via era a imagem do sorriso de Matt, gravada em sua memória desde a infância. Não via a igreja destruída cujos pedaços enegrecidos caíam ao seu redor. Não via o volante. Só via lembranças, memórias, e um enorme borrado que formava um caleidoscópio com todas as cores e imagens reais.

Dessa vez, o ruivo não estava por perto pra parar aquelas lágrimas.

L

Lá estava, bem à sua frente, a imagem irrefutável, inegável, que uma pequena TV lhe mostrava. Por que logo agora? Por que daquele jeito? Mas que merda! Aquilo não fazia parte do plano. Mello havia, sim, sequestrado Kiyomi Takada, e sabia de todos os riscos que estavam sobre ele, mas apenas sobre ele. No fundo, sabia que morreria, e talvez fosse mesmo essa sua intenção. Queria livrar-se de Kira, livrar-se do stress e do medo que sua presença causava a todo mundo que tinha alguém amado para proteger.

Inclusive ele. Que foi quem decidiu fazer a coisa mais tola para impedi-lo. Porque ele sabia que Near não havia captado totalmente o plano de Yagami Raito. Tinha certeza, mas não ia se rebaixar ao ponto de ajudar diretamente ao homem que ele odiava com todo o seu coração. Preferia morrer a isso. Literalmente. E assim fez, com a puta intenção de livrar-se, livrar-se dele.

Mas quem ele queria proteger, agora já não o precisava.

Morto.

Ele sentia o cheiro de ferrugem do seu sangue mesmo que só o visse pela pequena tela.

Ele não estava mais na realidade.

Seu mundo, sua situação, sua posição, seu lugar, tudo se resumia àquilo que se refletia lentamente na retina de orbes azuis que se derramava em lágrimas, assistindo ao horror que aquele jornal descrevia.

K

Kamikaze. Ele se sentia um kamikaze. Havia dado tudo de si, todo o seu esforço, para vencer. E agora, que já fora totalmente derrotado, por Near e por Kira, o que restava se não morrer?

De qualquer forma, esse já era seu plano original.

E depois, quando morresse, poderia pagar por ter levado Matt à morte no inferno.

Um sorriso se formou, ironicamente, enquanto uma lágrima atrasada o atravessava com velocidade. Sorriu, simplesmente. Era mesmo um excelente plano.

E

Esse era o seu legado, afinal. Pelo menos Near jamais teria o direito de reivindicar a vitória só pra ele. Mello tinha ajudado. Matt tinha ajudado. E Near nunca poderia fugir disso, nunca poderia se glorificar sem mencioná-los. Aquilo já estava de bom tamanho. Ele tinha participado. Ele tinha parado o seu maior inimigo, e ao mesmo tempo mostrado o valor ao seu rival. Estava de bom tamanho.

E

Era o bastante. Era o bastante com certeza. Ele sabia disso. As lágrimas já haviam secado, ele já havia desistido de chorar. Mas o mar de seus olhos ainda expressava aquela calmaria melancólica e deprimente que não era típica de sua vivacidade e irritação. Eles só assumiam esse tom quando não tinha ninguém vendo, ou quando quem o via era o ruivo. Mas agora tanto fazia. Olhou ao lado, para a caixa que ele havia colocado na igreja, que tinha dentro de si as roupas de Kiyomi Takada.

A qualquer momento, agora.

H

Havia como evitar? Merda, não tinha nenhum jeito. Queria que fosse diferente, queria que ele não fosse tão idiota. Se fosse mais inteligente, se fosse melhor, se fosse L, o segundo homem que ele mais admirara (e não é necessário mencionar o primeiro), poderia ter criado um plano melhor. Poderia ter feito algo que não pusesse a vida de Matt em risco. Poderia viver ao lado dele. Ou, pelo menos, mantê-lo vivo. Poderia ter feito algo. Mas não. Ele não era capaz. Era orgulhoso, mas não tinha sobre o que sustentar o seu orgulho. Não havia pedra sobre pedra em sua cabeça. Era apenas uma confusão melancólica e insegura de um garoto que descontava o seu stress por não ser o bastante em seu humor. Ele era apenas Mello. O que ele poderia fazer?

Não havia qualquer jeito de ele evitar.

L

Longe dele, mas não tanto, uma contagem regressiva acabara de começar. Takada contava lentamente, segundo por segundo, esperando. Mello ouvira, mas não se importava. Nas mãos trêmulas da japonesa, com a letra tão trêmula quanto, finalmente, depois desses longos minutos em que Mello apenas devaneava dentro da igreja, ela havia conseguido escrever seu nome legivelmente, e era ele quem estampava o papel.

Mihael Keehl.

E ele já esperava por isso.

37... 38... 39...

40...

Uma tontura extra se misturou àquela que as lágrimas já causavam em seus olhos. O loiro sentiu-se estremecer, pesadamente. Sentiu seu peito implodindo, como se tentasse esmagar seu coração. O que era bem provável. Sentiu que aquela última bombeada, mais forte que as outras, havia enviado um jato de algo quente que agora jorrava para sua boca. Sangue. E ele soube. Em seu último segundo, ele soube. Havia dado certo.

E ele havia morrido.


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Notas finais do capítulo

Se vocês quiserem, eu escrevo um capítulo extra, contando sobre os momentos pós-morte, que vai ser bem mais fofinho e menos dramático.
Mas só se vocês quiserem. Deixem um review com a sua opinião ^^
Eu já tenho a ideia aqui, só preciso escrever.
Enfim...
Ja nee