Fim de tarde, quarta feira, o sol se escondia debaixo dos morros, os cigarros esquentavam-me por dentro, o coração congelando-se a cada palavra que não me foi dita; fim de tarde, sentada na mesma praça, olhando as mesmas pessoas, sentindo as mesmas coisas, ou não sentindo. Já senti demasiadamente, e talvez seja por isso que hoje encontro-me assim, virada em pó de sonhos que já me foram dados, roubados, e usados... fim de tarde, o mesmo suspiro, o gosto amargo do café, os olhos vermelhos de insonia, a vida inteira perdida em castelos quebrados — Deixei o vento bater no fio das pontas, deixei-me esquecer da solidão que me assombrava, deixei-me a voltar a ser aquela miúda de coração inteiro, sorriso no rosto, e livre.

"Tem fogo?"

Tal voz me pareceu demasiadamente irreal com tal toque amadeirado, indiferente, encantador.

Demasiadamente, por sinal, apenas continuei com os olhos fechados, com o vacilo de achar que tudo não me passava de imaginação; mas o suspiro e o cheiro amargo conhecido de Lucy Strike me fez acordar de um sonho para outro sonho.

"Desculpe?"

"Perguntei se tem fogo."

"Ah."

Baguncei a bolsa, procurando o isqueiro velho, desviando o olhar a cada careta que ele fazia ao colocar o cigarro na boca, ou quando seus tais cabelos ruivos balançavam ritmicamente, e não pude deixar o rubro vermelho nas bochechas, quando o rapaz, o qual nunca realmente soube o nome, sentou-me ao meu lado, e no silêncio do sol que se punha atrás de nós, segurou-me o rosto preciso, e em um piscar de olhos, roçou-me os lábios gelados nos meus, e tão rápido quanto se aproximou, afastou-se, e sem olhar para atrás disse adeus.

Era fim de tarde, a lua já se aproximava formosa, o céu escurecia e o meu rosto entristecia. Era fim de tarde e no mesmo que o conheci, lhe disse adeus.

Adeus.