O Clube 5 escrita por marvinkira


Capítulo 6
O Duro Treinamento de Lilith




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Fiz como Lilith me pediu. Liguei para casa e Blair atendeu, pelo visto, preocupada.

-Onde você está? – ela perguntou – Tio Bruno está te procurando que nem doido.

-Estou na casa da Lilith. Volto mais tarde. Avisa para ele. Beijos. – eu disse desligando o telefone.

Lilith me olhava com ar de graça.

-O que foi? – perguntei.

-Sua família é bem unida, não é? Blair parecia estar preocupada e seu pai também. – ela disse me olhando.

-Você ouviu? – perguntei admirado.

-Não é difícil ouvir, só basta você controlar sua audição. – ela me disse – Eu te ensino depois.

-Parece que você vai me ensinar um bocado de coisas. – eu disse mais para mim do que para Lilith.

Ela apenas riu. Olhei pela janela aberta. O sol batia no meu rosto e braço, e nada acontecia.

-Do que é feito essa pasta? – perguntei.

-Não faço a menor idéia, mas acho que é de alguma flor, sei lá. – ela falou.

-Mas, quando a descobriram? – perguntei.

-Foi recentemente, acho que faz menos de vinte anos. – ela disse – Sabe, antigamente era um enorme problema para os vampiros andar de dia, por isso o mito de que dormíamos de dia e só acordávamos à noite para sugar sangue dos humanos.

-E é verdade? – perguntei.

-É claro que é. O que você faria se não pudesse andar de dia? A gente só dormia oras. – ela disse rindo.

-Faz sentido. – pensei alto.

-Bem. Acho melhor eu te ensinar a controlar seus sentidos. Sabe, estão completamente aguçados agora. – ela me disse – Bem. Tente ouvir o que eu vou sussurrar na cozinha.

Ela disse isso e foi andando até a cozinha.

-Mas como eu faço isso? – perguntei.

-Bem, tenta se concentrar. Imagine como se não houvesse paredes nos separando, como se estivéssemos lado a lado. Faça tudo isso e se concentre nisso. Se concentre no pensamento de que eu estou do seu lado. – ela disse em voz alta da cozinha. – Comece a tentar.

Fechei meus olhos para facilitar a concentração. Tentei imaginar Lilith ao meu lado, sussurrando ao meu ouvido. A imagem que veio na minha mente foi altamente pervertida e perdi a concentração. Tentei me recompor e voltei a me concentrar. Imaginei Lilith ao meu lado, usando vários sobretudos que ela geralmente usa. Ela estava pelo menos um metro distante de mim. A frase que eu ouvi foi:

-Tiago tem hálito de cebola.

Abri os olhos e a boca ao mesmo tempo. Levei minhas mãos na boca e assoprei. O cheiro era normal. Lilith apareceu nessa hora e riu.

-Nossa. Você ouviu. Fiquei repetindo isso toda hora. E, aliás, é brincadeira. – ela disse rindo.

-Eu sei, só chequei. – eu disse sem graça.

-Primeira etapa concluída. Agora seu olfato. Esse é mais fácil. Vampiros estão quase sempre em contato com seu olfato. Sabe, por isso sentimos o cheiro de outros vampiros há quilômetros de distância e sentimos o cheiro do sangue de humanos. – ela me disse.

-Como uso isso? – perguntei.

-Só respire forte. – ela disse sorrindo.

Respirei forte e comecei a tossir. Lilith tinha um cheiro estranho, era forte e fazia lembrar enxofre.

-Sentiu? Esse é o nosso cheiro, pelo menos entre nós. Sentimos o cheiro da morte há quilômetros. – ela me explicou.

-Como assim entre nós? – perguntei.

-Humanos sentem um cheiro completamente diferente. Cada vampiro tem um cheiro único para um humano diferente. Mas não conseguimos enganar nossa própria espécie. Isso mostra que somos amaldiçoados. – Lilith falou e olhou pela janela – Não morremos, se nos machucamos nos curamos tão rápido que nem percebemos que nos machucamos, não envelhecemos. Isso sim é ser amaldiçoado.

-Aquele que não ama, é amaldiçoado. – eu disse.

-Vampiros não amam. Não podemos ter nenhum sentimento. Existe apenas o prazer. – Lilith disse. – Bem. Vamos seguir em frente.

Fiquei pensando naquelas palavras e quase não ouvi o que Lilith dizia.

-Tiago. Vem comigo. – ela me chamou e seguiu pelo corredor. Corri para alcançá-la, o que era difícil devido à velocidade de Lilith.

-Você é forte, agora, mas vou te tornar mais forte ainda. – ela pegou as chaves e abriu a porta. – Vamos indo.

-Para onde vamos? – perguntei curioso.

-Treinar na academia do meu amigo. – ela respondeu – Ele é um vampiro também.

Não disse mais nada. Saímos do apartamento de Lilith. Por incrível que parecesse, ela tinha vizinhos humanos. Sempre que eu passava por um humano no edifício ou até mesmo depois na rua, eu sentia um cheiro e um sentimento estranho.

Parecia um instinto de assassino. Na hora eu achei aquilo bizarro, mas depois fui me acostumando. Eu tinha vontade de pular em cima de cada humano que eu via rasgar sua carne e principalmente beber seu sangue.

O cheiro era doce e suave. Percebi na hora do que se tratava, era o sangue deles. Dava para ouvir o barulho que o sangue fazia nas veias e aterias de cada humano que eu olhava.

Lilith me olhou e sorriu.

-Não se preocupe você está alimentado.

O sol batia na minha pele e nada acontecia, pelo jeito, a pomada de Lilith ajudava mesmo. O único incômodo que ele causava era na minha vista, que ardia enquanto eu caminhava.

-Me desculpe, eu esqueci. – Lilith me entregou um óculo escuro a me ver coçando os olhos – Depois você se re-acostuma.

Pus o óculo e melhorou um pouco.

-Onde fica a academia desse seu amigo? – perguntei.

-Na outra rua. Depois da sua casa na verdade. – ela me disse.

-Sério? Espera. É em uma academia de artes marciais? – perguntei.

-Sim. Por quê? – ela perguntou.

-Eu sempre quis entrar lá quando pequeno, mas depois achei karatê inútil. Agora vejo que salvaria minha pele do Pedro faz tempo. – eu disse rindo.

-Verdade. – Lilith respondeu sorrindo.

Acompanhei-a até a academia. Não demorou muito até chegarmos lá. Cada humano que passava por mim tinha o mesmo cheiro doce e suave do sangue. Passe por uma garota que era minha amiga de infância da rua, ela me olhou intrigada, talvez fosse pelo o que a Lilith falou, o cheiro que cada vampiro tinha para cada humano.

A academia era enorme. Quando chegamos em frente a ela, Lilith foi a primeira a entrar. Entrei logo atrás dela.

A academia era enorme por dentro. Havia vários tatames espalhados por ela e pelo menos, três portas na outra parede. Um homem negro e alto descia uma escada ao lado da porta de entrada.

-Quem é vivo sempre aparece. O que você quer comigo, Lilith? – o vampiro perguntou – Parece que tem companhia, outro vampiro.

Realmente, dava para sentir o cheiro da morte em quilômetros. O cheiro de enxofre que exalava do vampiro na nossa frente era muito forte, mais que o de Lilith.

-Quero que você treine minha nova cria. – Lilith falou – Castiel, esse é Tiago. Tiago, esse é Castiel, perito em armas de fogo, armas brancas e artes marciais, além de líder dos Vigilantes, assim como eu.

Olhei para aquele vampiro com certa admiração. Pelo jeito, ele era tão bom quanto Lilith. Castiel também ficou me encarando.

-Vai colocá-lo nos Vigilantes? – ele perguntou sustentando o olhor sobre mim.

-Vou. – Lilith respondeu.

-E o conselho aceitou? – ele perguntou.

-Não falei com eles e nem vou falar. – ela disse.

-Ótimo, odeio aqueles velhotes. – Castiel disse sorrindo – Prazer Tiago.

Apertei a mão que Castiel tinha estendido para mim. Ele apertou minha mão forte que quase quebrou meus dedos. Retribuí a força no aperto de mão e ele me soltou.

-Você é forte. – ele disse.

-Obrigado. – respondi sem entender.

-O que você quer que eu ensine para ele? – Castiel perguntou para Lilith.

-Tudo o que você me ensinou. – ela respondeu.

Olhei para os dois, que me olharam com uma cara de risos. Percebi que iria ser o inferno aquele treinamento que planejavam para mim.

-Vem comigo. – Castiel me chamou.

Ele seguiu em direção de um tatame. Acompanhei-o e ele pegou um tipo de luvas.

-A primeira coisa a se fazer é aprender a lutar. O básico é que você chute pelo menos dez vezes a minha mão. – Castiel disse.

-Ok. – eu respondi.

Olhei minha calça jeans e fiquei imaginando se conseguiria levantar minha perna. Castiel levantou a mão não muito alta, mais ou menos na altura da cintura dele.

-Chuta. – ele ordenou.

Levantei um pouco minha perna. Não era tão difícil, pois parecia que meu equilíbrio fora melhorado. Tentei acertar os chutes na mão de Castiel.

-Vamos lá. Faltam mais dois. – Castiel me dizia, enquanto eu chutava.

Dei os últimos dois chutes na mão de Castiel. Ele me olhou e sorriu.

-Bem, vamos treinar seus socos, vou te ensinar karate e depois, vou te ensinar kendo, luta com espadas, e a atirar. – Castiel me disse.

-Tudo hoje? – me assustei.

-Não, só o básico, socos e chutes, para te treinar em combate desarmado e a curta distância. – Castiel me explicou.

Fiquei imaginando o quanto eu ia sofrer. Castiel treinou comigo durante muito tempo. Por incrível que pareça, eu não sentia fome e nem cansaço. Quanto mais Castiel me ensinava os golpes e chutes, mais eu queria aprender, parecia que eu era uma super esponja que queria absorver os ensinamentos de Castiel.

Quando Castiel disse para pararmos e continuarmos no dia seguinte, eu não havia percebido ainda, mas o que parecia ter sido no máximo uma hora, tinham se passado seis horas, já estava anoitecendo.

Lilith sorriu para mim e Castiel, ela parecia uma criança feliz.

-Bem. Melhor você ir para casa, Tiago. – ela disse sorrindo como sempre.

-Cabelo Dourados, treine com ele enquanto não estiverem aqui na academia, quero ver se a resposta dele aos golpes e movimentos do oponente vai melhorar. – Castiel disse para Lilith.

-Pode deixar. – disse Lilith fechando um pouco a cara.

Castiel fechou a porta da academia depois que eu e Lilith saímos.

-Cabelo Dourados? – perguntei rindo.

-Era meu apelido antigamente. – Lilith disse me olhando séria.

-Gostei. Vou te chamar assim agora. – eu disse.

-Cada vez que você me chamar assim eu vou te dar um soco. – Lilith disse enquanto caminhava pela rua.

Eu ri e a acompanhei.

-Sua casa é logo ali Tiago. Volte para casa antes que sua prima e seu pai desconfiem de algo. Eu tenho alguns assuntos para resolver. – ela me disse apressando o passo.

-Que assunto? – perguntei.

-Seu abraço. Eu serei sua tutora de agora em diante e tenho que resolver isso com os conselheiros. – Lilith disse fazendo careta – Coisas diplomáticas. Até logo.

Lilith literalmente sumiu no ar. Sua velocidade era enorme, que eu só vi um vulto correndo.

Olhei para os lados. O vento frio da noite bateu no meu rosto. Então, tudo que eu pensava que era uma lenda realmente existe. Pensei nisso e percebi que enquanto eu tivesse uma família, eu não seria um completo monstro. Mas quando todos morressem o que seria de mim? Meu pai e Blair não viveriam para sempre, eu tinha que me acostumar com esse fato.

Atravessei a rua e segui em direção da rua da minha casa. Olhei para o céu. A lua cheia em cima da minha cabeça, junto com algumas estrelas, iluminava meu caminho. Foi então que eu pensei. Será que lobisomens e zumbis também eram reais? Ri daquele pensamento e achei que seria uma boa pergunta a se fazer para Lilith.

Quando cheguei em casa, Blair me deu um sermão. Fingi que não ouvi e subi as escadas. Por um lado para não ouvir o sermão, por outro, para não sentir o cheiro do sangue da minha prima. Deitei-me na cama e fiquei olhando para a janela. Em tão pouco tempo, minha vida inteira havia mudado. Tiago Mendes havia morrido e renascido no mesmo dia. De pior para melhor.


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