O Clube 5 escrita por marvinkira


Capítulo 1
Os Estranhos Homicídios




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Era de manhã cedo. Eu fui acordado pelo despertador do meu celular. Como de costume, me levantei e fui fazer minha higiene pessoal. Eu tinha que tomar o café rápido, minha prima Blair iria chegar à uma hora na rodoviária e meu pai pediu para que eu a buscasse.

Meu nome é Mendes, Tiago Mendes. Apesar de eu ter feito uma paródia ao estilo James Bond de se apresentar, eu não tenho nada incomum, não sou nenhum agente secreto, ou algo do gênero. Sou apenas um garoto normal, de 17 anos, no último ano do ensino médio.

Eu nunca fui especial em nada, nunca fui bom nos esportes, nos relacionamentos, nunca fui bom em conversar com alguém. Meu pai sempre dizia que quando eu era pequeno, era hiperativo e gostava de falar, mas na adolescência eu mudei e muito, para ele era coisa da idade, logo eu voltaria ao normal.

O que ele mais esperava na verdade era um milagre. A sociedade de hoje em dia é, digamos, um pouco seletiva demais. Depois que eu me tornei um estranho, um esquisito, seria sempre assim. Sempre foi assim na era medieval, quem nascia pobre morria pobre e quem nascia rico morria rico. Por isso que aos olhos da sociedade, eu seria sempre esquisito.

A única coisa que chamava a atenção em mim era minha inteligência. Na minha sala, acho que até na minha escola, não havia ninguém mais inteligente do que eu. Creio que por isso me deram o pior apelido de todos: “Autista”.

Enquanto eu pensava na minha vida escovando os dentes, me lembrei de Blair. Como ela seria? Não me lembrava dela de jeito nenhum, mas meu pai afirmava que a gente sempre brincava junto. Ela iria começar a morar com meu pai, já que o meu tio e minha tia morreram em um acidente de carro, como meu pai é o único parente consangüíneo dela, ele ganhou a guarda dela.

Eu nem ligava muito para isso, pelo que parecia, ela deveria ser uma patricinha idiota. Eu desci as escadas que davam acesso ao meu quarto e fui para a cozinha preparar o café. Meu pai estava na mesa, bebendo uma enorme caneca de café.

-Nossa. Você ainda não foi trabalhar. – eu disse surpreso.

-Meu turno começa dez horas. – meu pai explicou. O nome dele é Bruno Mendes, mas na delegacia é apenas detetive Mendes - Você não vai buscar sua prima não é?

-Sim, eu vou, só vou comer uma torrada antes de ir. – enquanto falava, eu pegava duas fatias de pão de forma e colocava na torradeira. Em dois minutos as duas torradas pulavam de dentro dela.

-Você vai conseguir reconhecê-la? – meu pai tocou em um assunto que eu não sabia.

-Não faço a menor idéia.

-Meu deus! Tiago, vocês dois eram grandes amigos na infância, como não se lembra dela?- meu pai estava surpreso de verdade.

-Faz tempo, pai. – eu me defendi – E também, ela já deve ter a minha idade, deve ter mudado muito que nem eu. Ela já é uma mulher.

-Por sorte, eu tenho uma foto dela, é de uns dois anos atrás, mas dá para você reconhecê-la. – meu pai disse, puxando uma foto da carteira.

-Espera, você tem uma foto dela na sua carteira? – eu fiquei surpreso – Que pervertido!

-Deixa disso garoto. – meu pai riu me entregando a foto – Pode ficar com essa, para te ajudar a achá-la no meio da multidão.

Eu olhei para a foto. Blair era morena, talvez por causa do sol da praia, ela era muito bonita, tinha um sorriso lindo também, cabelos ondulados e grandes, olhos castanhos escuros, assim como os meus.

-Uau. – eu disse.

-Ela é bonita, né? Só não baba na foto. – meu pai disse rindo mais ainda.       

-Não estou babando, seu tarado. – eu respondi sem jeito – Onde ela vai estudar?

-Junto com você, eu já a matriculei, ela vai começar junto com você. – meu pai pensou em tudo.

-Ela está no mesmo ano que eu? – eu perguntei intrigado.

-Acho que ela é um ou dois anos mais nova que você. – meu pai respondeu e depois sorriu ao dizer – Ficou interessado na própria prima é? Depois eu que sou pervertido.

Eu me aproximei do meu pai e dei uma tapa na nuca dele.

-Idiota. Cadê as chaves do carro? – eu perguntei.

-Espera aí, espertinho. Você sabe que só pode dirigir depois que receber a carteira. – meu pai, mesmo sendo meu pai, ainda era um policial.

-Deixa disso velho, eu vou ter que buscá-la, mas de ônibus não vou nem a pau. Muito menos metrô. Anda cadê as chaves do carro?

-Aqui. – meu pai me entregou as chaves muito a contra gosto.

-Bom menino. Eu vou tomar cuidado, não se preocupe não.

-Tome cuidado e não fale com estranhos. Esse país está pior a cada dia. – meu pai resmungou.

-Certo. Te vejo de noite. – eu me despedi, saindo pela porta da frente.

Meu pai tinha um gol preto. Eu entrei no carro e abaixei as janelas. Estava dando a ré quando vi pelo espelho retrovisor a mulher mais bonita do mundo. Ela tinha os cabelos loiros e longos, a pele bem branca, quase pálida, e usava um óculos escuro. Ela estava sentada, em um restaurante que havia em frente à minha casa, no Flamengo.

Quando pus meu olhar sobre ela, parecia que não podia mais parar de olhá-la. Ela estava lendo um jornal, o Extra e parecia ser totalmente diferente desse mundo. Ela vestia uma roupa preta, um enorme casaco e um chapéu, parecia uma viúva de filmes antigos. E a pior, ela usava aquela roupa escura e estava um calor intenso.

Eu tirei meus olhos finalmente dela e comecei a dar ré com o gol do meu pai. Saia da garagem, o portão automático fechou logo após eu sair e dei ré, até ficar em frente à rua principal e segui viagem. A imagem daquela estranha e bela mulher não saía da minha mente. Quem era ela?

Depois de quinze minutos de viagem, eu cheguei na rodoviária. Havia vários ônibus, mas pelo que meu pai dissera, só havia um vindo de Campos. Eu estacionei na entrada da rodoviária e fui à pé para o terminal B, que era onde o ônibus de Blair havia parado.

Eu me aproximei e fiquei observando atrás de uma pilastra. Lá estava ela, era inconfundível. Ela era bem mais baixa que eu, os cabelos escuros e ondulados, que caiam até abaixo do pescoço, estavam presos naquela hora. Ela usava um boné listrado e carregava duas malas. Eu tentei imaginar que tipo de patricinha ela era, até notar que de patricinha ela não tinha nada.

Blair ficou procurando por mim, mas como estava escondido não me viu. Eu me aproximei sorrateiramente dando a volta pelo ônibus e a surpreendi por trás.

-Você é a Blair? – eu mantive minhas mãos nos bolsos enquanto falava.

Blair deu um salto para frente e se virou para mim. Ela estava realmente assustada. Depois de me olhar de cima para baixo, sem graça pelo susto, ela perguntou:

-É você, primo? – sua voz tinha um tom mandão, de alguém que não gosta de demonstrar seus sentimentos facilmente.

-Hum, posso ser qualquer um. Se fosse meu pai, você teria que pedir várias lembranças em família e que ele mostrasse a identidade ou alguma foto com seus pais. Mas em todo caso, sim, sou eu. – eu peguei as malas dela – Vamos indo.

-Eu posso carregar minhas malas sozinha, muito obrigada. – ela pegou as malas e saiu andando na minha frente.

-Legal. Mas você sabe onde está o carro? – eu mostrei as chaves para ela.

-Então o que você está esperando? – Blair era realmente mandona e durona.

-Hum, ok chefe. – eu sorri e fui caminhando ao lado dela – O que você está tentando fazer, sendo desse jeito? Afastar as pessoas de você?

-Isso não é da sua conta. – Blair respondeu olhando para o lado.

-Entendo. Sinto muito pelos seus pais. Eu também sou assim na escola desde que minha mãe morreu. – eu tentei consolá-la.

-Isso não tem nada a ver com meus pais. – ela retrucou.

-É o que então? – eu perguntei, estávamos chegando perto do gol.

-Nada. Só estou em um mundo estranho e pelo que parece, meu primo é um idiota. – ela disse.

Eu dei uma risada.

-A gente vai se dar muito bem. – eu disse rindo.

Ela pareceu não entender nada.

-Você é doido, né? – ela perguntou sem acreditar.

-Um pouco, mas normalmente me chamam de autista, só não me chama assim, está bem? Eu vou te apresentar o Rio, é uma cidade estranha e às vezes muito violenta, mas não vou deixar nada acontecer com você. – eu disse abrindo a porta do passageiro para ela.

-Legal, tenho um primo super herói. – o jeito irônico dela me fazia rir.

-Você é uma graçinha, é bem fofinha também. Qual sua idade? – eu disse pegando as malas dela e colocando na mala.

-Você vai descobrir de qualquer jeito mesmo. Tenho quinze anos. – Blair abaixou o boné, tampando um pouco seus olhos.

-Hum. – eu me sentei no banco do motorista – Fique longe dos caras chatos da escola.

-Eu estou tentando ficar longe de você, mas vai ser difícil. – pela primeira vez ela riu.

Eu ri também.

-Eu sou um pouco chato mesmo. – eu concordei – Mas você vai se acostumar. Aliás, segundo meu pai, nós éramos grandes amigos, não é?

-Eu não me lembro disso, éramos muito pequenos. Pode ser verdade. – Blair encostou a cabeça no banco – Eu posso dormir um pouco?

-Fique a vontade. – eu dirigia o gol.

Blair virou o rosto para a janela e fingiu que dormia. A viagem foi muito calma e silenciosa. Em menos de dez minutos estávamos chegando à rua da minha casa. Eu estacionei o carro na garagem e balancei Blair, para que ela acordasse.

-Eu estou acordada. – ela disse.

-Chegamos. Vou levar suas malas pro seu quarto. – eu disse pegando as malas da mala do carro.

Blair saiu do carro e caminhou em direção a mim. Ela tinha a mesma mania de caminhar com as mãos nos bolsos que eu tinha.

-Então, estudaremos juntos? - ela perguntou.

-É. Vai ser legal. Minha escola não é lá das melhores, mas é suportável. – eu disse sorrindo.

-Ótimo. – Blair respondeu com aquele jeito dela.

Eu levei as malas dela para o quarto de hóspedes, que agora era de Blair.

-Espero que você goste. Te vejo por aí. – eu disse fechando a porta.

Eu não sei o que Blair fez nesse tempo, acho que ela estava arrumando o quarto novo. Eu fui para a sala e comecei a assistir à televisão.

Por pura curiosidade eu me aproximei da janela e olhei para o restaurante. Aquela linda mulher havia sumido.

Eram exatamente oito horas da noite. Depois de passar o dia inteiro assistindo televisão ou jogando vídeo game, eu pensei em dar uma volta pela rua. Blair aparecia de vez em quando na sala e ficava calada assistindo a TV comigo, mas agora ela estava no quarto, provavelmente no computador que meu pai deu para ela.

Eu peguei as chaves da casa e gritei:

-BLAIR! VOU SAIR, TRANQUE TUDO E NÃO SAIA.

Eu bati a porta e a tranquei com a chave. Fiz isso não por achar que Blair tentaria fugir, mas por achar que alguém tentaria entrar.

Comecei a caminhar pela rua. O céu de noite estava estrelado e com uma lua cheia iluminando a cidade. Apesar de noite ser bem mais perigoso do que andar de dia, se é que o perigo tinha horário, eu sempre me senti seguro andando de noite.

Eu fui caminhando até chegar à praia, quando vi várias viaturas da polícia parada na encosta da praia. Eram no mínimo 6 viaturas e 3 papas-defunto. As viaturas estavam cercadas de curiosos e os policiais faziam uma barreira para que ninguém passasse. Eu fui me aproximando para ver melhor, quando vi meu pai conversando com um dos legistas.

-Pai! – eu gritei – Sou eu, Tiago!

Meu pai me ouviu e se aproximou de mim. Alguns jornalistas estavam lá, querendo notícias quentes e os fotógrafos tentavam tirar a foto da primeira página.

-O que você faz aqui? Onde está sua prima? – meu pai me perguntou, sua voz mostrava uma mistura de medo e repugnância.

-Eu resolvi dá uma caminhada. O que está acontecendo aqui? – eu perguntei, enquanto observava dois legistas carregando, pelo que parecia, o último dos corpos.

-Nada. – meu pai disse, ao perceber que dois jornalistas estavam prestando atenção na nossa conversa – Eu vou te levar para casa, vá para minha viatura.

Meu pai fez uma coisa que há muito tempo ele não fazia me abraçou.

-Eu te amo filho. Tome cuidado. Esse país está cada dia pior. – ele disse ao fazer o gesto – Vai pra viatura agora.

Eu fui caminhando até a viatura. Os jornalistas me perguntavam se eu sabia de alguma coisa e eu respondia que não. Quando cheguei à viatura, entrei nela imediatamente, quando eu vi, ao longe, um grupo com sete pessoas, todas de preto. Usavam sobretudos pretos e óculos escuros. Eu fiquei imaginando o que eles faziam ali, e até me perguntei se eram algum tipo de góticos doidos que gostavam de ver corpos de mortos, ou só um grupo estranho de curiosos. Mas diferente das outras pessoas, eles me faziam lembrar a loira de preto, que havia visto mais cedo. Mesmo no escuro, a luz da lua mostrava que eram extremamente pálidos.

Eu fiquei imaginando o que eles faziam ali, quando meu pai entrou na viatura dele. Ele vinha com o parceiro dele, o detetive Gomes.

-Oi Tiago. Como vai? – Gomes perguntou para mim.

-Bem, estou curioso. O que houve lá? – eles haviam tirado minha concentração no grupo de preto, e quando procurei por eles, haviam sumido.

-Eu já disse. Conversamos em casa. Esses repórteres são como urubus. – meu pai resmungou.

Os três papa-defuntos estavam saindo da praia, iriam para o instituto médico legal. A multidão já estava indo embora também, e a força policial estava “limpando” o local.

Meu pai foi para a delegacia do Flamengo e deixou o Gomes lá. O turno do meu pai já estava acabando e ele já ia sair. Da nossa casa para a delegacia eram duas ruas pequenas de distância, e voltamos a pé.

Quando chegamos em casa, meu pai trancou a porta imediatamente e foi para a sala. Eu o acompanhei.

-Sabe o que houve lá? – meu pai começou.

-Estou esperando o senhor me contar. – eu disse calmamente. Meu pai riu, mas foi um riso amarelo. Ele estava muito abalado com o que houve e isso me deixava mais curioso ainda.

-Bem. Foram encontrados doze corpos, todos com várias mordidas pelo corpo, marcas de canibalismo. Segundo o doutor Pereira, o chefe dos legistas, eram mordidas, mordidas humanas. Quem seria doido de fazer isso? Deve ser alguma seita doida. Deixaram os corpos no esgoto e as ondas os trouxeram para a margem. Isso é um absurdo meu Deus do céu. – meu pai começou a desabafar. Eu ouvia a história, um pouco chocado e cada vez mais curioso. Quem teria feito aquilo? E aquele grupo de preto, eles tinham algo a ver com isso? A possibilidade de canibalismo dava um frio na minha espinha – E tem mais. – meu pai continuou – Todos os corpos estavam completamente secos.

-Secos? – eu perguntei sem entender.

 -Sem uma gota de sangue. – meu pai me explicou. Foi como uma panelada na minha cabeça. Era possível? Se for, só a idéia de ser possível me deixava excitado. Eu tinha que ter certeza. Eu nunca acreditei em filmes de monstros. Talvez fossem alguns doidos imitando vampirismo. Ou talvez não. Eu tinha que ter certeza. Sem que meu pai soubesse, eu iria investigar a fundo os assassinos vampiros.

Nesse momento, Blair tropeçou e caiu da escada. Pelo que parecia ela tinha escutado a história. Meu pai olhou para ela e a ajudou a se levantar. Ele parecia um pouco preocupado se Blair tinha escutado tudo.

-Oi querida. Sou o tio Bruno. – meu pai disse, tentando formar um sorriso no rosto e não demonstrar preocupação.

-O...oi tio. – Blair disse forçando um sorriso também.

-Melhor irmos dormir, prima. Já está tarde. – eu sorri e peguei na mão de Blair e a puxei escada acima.

-Eu não preciso de ajuda. – ela disse, puxando a mão da minha.

-Me esqueci que você é durona. – eu sorri – O que você conseguiu ouvir da conversa?

-Um pouco. Isso está me parecendo histórias de vampiros. – ela disse olhando para baixo. Pelo jeito, ela pensava que nem eu.

-Eu também acho. Por isso vou começar a investigar. – eu comentei para ela, quando chegávamos à porta do meu quarto – Vou investigar sozinho. Boa noite. – eu disse ao ver que ela ia pedir para ir junto e fechei a porta na cara dela.

Eu me deitei na cama. Era muita coisa para um único dia. Eu fechei os olhos e fiquei imaginando aquela loira. Será que ela era vampira? Pálida, linda, charmosa. Coisas notáveis nos vampiros. Eu resolvi parar de pensar nisso, estava começando a me assustar. Relaxei na cama e logo em seguida consegui dormir.


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