Last Train escrita por _Mihi


Capítulo 1
Last train


Notas iniciais do capítulo

- Esta fic é uma grande metáfora, então espero que não tenha ficado confusa.
— Peço desculpas pelos eventuais erros de Português... Fazia um tempinho que eu não escrevia, então aquilo que já era meia-boca pode ter se tornado ruim... -QQ
— Parte histórica da fanfic: quando eu me cadastrei no Nyah, jamais imaginei que um dia escreveria um shounen-ai... Aí eu conheci a Cris e minha vida nunca mais foi a mesma. ♥ HSAOIHSA
~ Cris, FELIZ ANIVERSÁRIO, sua FOFA! ~



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Era um ruído característico de trem correndo sobre os trilhos, que começou baixinho, mas aos poucos foi se aproximando até tornar-se ensurdecedor. Foi assim que despertei, sem que me lembrasse ao certo quando havia pegado no sono. Um leve vento gelado soprava na mesma direção do ruído e fazia minha pele se arrepiar.

O barulho continuou alto e incessante. Começava a me irritar. Mas, de repente, foi abafado por um abraço — um meio desajeitado de Matt, que estava sentado ao meu lado, de olhos fechados, como se cochilasse. Senti uma sensação serena ao meu redor, de certa forma até confortável. Tentei vasculhar a minha memória, estranhamente bagunçada, mas não conseguia lembrar como fomos parar ali. Aquele vazio dentro da minha mente começou a me fazer ficar inquieto novamente.

— Shh...

Matt pediu para eu me aquietar enquanto afrouxava o abraço, até então apertado a ponto de me sufocar. Provavelmente porque ele sabia que era só daquele jeito, com um gesto nada sutil, que eu perceberia a intenção dele de me fazer ficar mais calmo, talvez até me proteger. Com a mão, encostou minha cabeça em seu ombro e voltou a fechar os olhos. O trem ainda corria com velocidade máxima, sem parecer ter a intenção de um dia parar.

A calma de Matt diante da minha irritação não me espantava. Sempre fora assim e, no fim, era este um dos motivos de nós nos darmos tão bem. Seus gestos também não me incomodavam. Talvez devessem, já que jamais havíamos nos aproximado dessa forma — embora vontade não fosse o que realmente faltava nas horas em que essa aproximação era possível. Oportunidades também não nos faltaram. A companhia um do outro era o que mais tivemos desde pequenos — e, na maioria das vezes, era a única coisa que tínhamos. O que faltava, ou melhor, o que nunca tivemos, foi coragem para demonstrar sentimentos que nunca nos foram ensinados, e que, ainda assim, surgiram entre nós: consideração, carinho e, por fim, amor.

— Porque tá fazendo isso agora?

Não era irritação nem repreensão. Era apenas uma dúvida como outra qualquer.

— Eu acho que tinha medo.

A franqueza dele me surpreendeu.

— Do quê?

Silêncio. Apenas por parte dele, já que o trem continuava fazendo aquele barulho enorme — embora agora parecesse estar, aos poucos, diminuindo. No entanto, o silêncio dele parecia me irritar muito mais do que aquele ruído barulhento tão próximo dos meus ouvidos.

Repeti a mesma pergunta. Matt se virou para mim. Seus olhos pareciam dizer que a resposta era tão óbvia quanto a minha irritação.

— De você.

— É estranho ouvir isso de você, Matt...

— Você é inconstante.

— E você já não se acostumou com isso?

Eu estava admitindo abertamente, em alto e bom tom, que tinha consciência da minha personalidade difícil. Era isso mesmo? Acabei rindo ao perceber isso. Estranhei a forma como esse riso saiu: meio contido e pouco audível, totalmente diferente de todas as outras vezes. Naquele instante, eu tinha a consciência — que vinha de algum lugar desconhecido por mim — de que não havia problemas em falar ou rir alto, já que não havia mais ninguém mais ali além de Matt e eu... E aquele trem comprido e barulhento. Mas sentia que aquele momento não era o mais adequado para rir alto e acabei por respeitar esta sensação, mesmo não a entendendo direito.

— É fácil ler sua irritação, porque você só sente isso quando fica irritado. Mas era difícil saber como você se sentia... De vez em quando...

“... Quando ele se aproximava” foi a continuação sussurrada, que quase não pude ouvir por causa do barulho. Ele parecia meio triste, sem jeito. Indaguei-me sobre o motivo de tamanha franqueza naquele momento. Seu semblante me fazia ter vontade de abraçá-lo novamente, e, desta vez, nunca mais soltá-lo.

Mas, antes disso, Matt virou o olhar em direção ao trem, que havia parado sem que eu percebesse quando isso acontecera. Estava vazio e apenas uma das portas abriu — a que estava bem na nossa frente.

Matt se mexeu, obrigando-me a levantar a cabeça, que estava, até então, encostada em seu ombro. A mão do braço que me envolvia saiu de perto de mim e escondeu-se no bolso da jaqueta dele. Ele estava de pé agora. Acendeu um cigarro e tragou demoradamente enquanto fitava a entrada aberta do trem. Antes que começasse a andar, pediu para que eu não fosse atrás dele. Eu ainda não havia compreendido nada até aquele momento.

— Se você vai sozinho, porque me trouxe com você?

Ele se virou para mim, com a mesma expressão serena de sempre.

— Mas foi você quem me seguiu até aqui...

Ele riu, e, em seguida, virou-se novamente, caminhando até o trem.

Eu o segui? Mas não lembrava nem mesmo como havíamos chegado até a estação...!

— Ei, Matt! Para onde você vai?

— Foi mal. Desta vez, eu não vou poder estar do seu lado. Vê se não faz nenhuma merda sozinho, viu.

Ele deu um sorriso estranho, meio melancólico. Não saberia bem como descrevê-lo, mas ver aquilo automaticamente me deixou em pânico. Corri do banco até o trem, mas as portas se fecharam. Matt estava lá dentro e eu do lado de fora.

— MATT!! O que tá acontecendo aqui?

Ele soprou contra o vidro da porta que acabara de se fechar e rabiscou com o dedo indicador sobre a parte embaçada.

“F a r e w e l l” *

Soltei um pontapé contra a porta, mas ela sequer mexeu. Um novo ruído começava a se formar no ar. Era o mesmo barulho de antes, que novamente ia aumentando. Matt sorriu enquanto a palavra escrita sob o vidro desaparecia rapidamente.

— MATT!!

O trem partiu. E levou com ele a pessoa que mais me era importante.

[...]

Aquilo era apenas um sonho...? Não sabia a resposta. Mas havia sido real a ponto de me fazer “acordar” ofegante. Meus olhos permaneceram abertos o tempo todo, mas minha mente parecia ter estado longe durante alguns breves instantes. De fato, Matt não estava mais ao meu lado. Havia ficado para trás há algum tempo, depois de um erro no plano de sequestro de Kiyomi Takada. E, apesar dos tiros disparados, lá no fundo, talvez eu ainda tivesse alguma esperança de encontrá-lo novamente. Era como se Matt tivesse vindo se despedir e concretizar sua partida. Ou, segundo o próprio Matt, talvez fosse eu quem o tivesse seguido.

Eu não fazia idéia de nada: como eu havia alcançado aquela estação, para onde Matt havia ido ou mesmo até onde aquele trem poderia levá-lo. Mas, de repente, já havia decidido embarcar também...

[...]

Estava escuro mais uma vez. Novamente, meus olhos haviam sido fechados sem que eu me lembrasse quando. Aquele barulho de trem se aproximando novamente soou em meus ouvidos. Abri os olhos e estava novamente naquele mesmo banco.

Desta vez, porém, sozinho. E, de alguma forma, carregava algumas lembranças comigo. Lembrava das minhas ações finais antes de ser mandado para aquele local. Lembrava, por exemplo, de não ter tido tempo de fechar os olhos antes de cair gelado e pálido sobre o volante do caminhão — uma lembrança um tanto irônica tendo em vista a forma como cheguei à estação. Também estava ciente do fato de que jamais poderia voltar. Era como se fosse a minha única certeza naquele momento. Acreditei que Matt também sentira o mesmo da outra vez.

Demorou, mas trem parou. Novamente, somente uma porta se abriu. Um leve cheiro de cigarro parecia sair daquele vagão e invadir toda a estação. Um cheiro familiar e que, desde há muito tempo, fazia com que eu me sentisse bem, como uma espécie de conforto.

Desta vez, havia alguém dentro do trem.

— Eu achei que havia pedido para não me seguir. — ele suspirou e pude ver a fumaça que saía de sua boca se dissipar rapidamente no ar. — E nem fazer merda sozinho.

— É mesmo? — respondi com sarcasmo.

— Idiota.

— Eu? Quem foi que praticamente cometeu suicídio por outra pessoa?

— Ah. Então fizemos o mesmo? Será que é por isso que estamos no mesmo vagão agora?

— Não me faça perguntas que eu não sei a resposta, droga.

— Ele não merecia isso.

“Ele”. Era assim que Matt costumava falar quando estava aborrecido e queria fazer referência a... Near. Falava o que bem entendia sem citar nomes. Esta mania dele jamais havia sequer me incomodado, mas agora parecia ser completamente diferente. Uma mísera frase fez com que uma porção de sentimentos mesclados me subissem à garganta, que eu já conhecia de longa data e que jamais havia deixado sair do controle, por medo das consequências.

Matt ainda estava sentado no mesmo lugar de quando partira, bem próximo à porta. Aproximei-me dele e puxei-o em minha direção.

O toque dos nossos lábios foi brusco, seco e desajeitado. E eu não saberia explicar se foi causado pela irritação, pelo descontrole ou apenas pelo momento. Talvez tenha sido um pouco dos três.

— Não foi por “ele”. Foi por você. Quem é o idiota agora?

O rosto dele estava com a mesma tonalidade das mechas de cabelo que lhe caíam sobre a face. Ele sorriu. E estava definitivamente diferente da última vez. Parecia triste, mas ao mesmo tempo feliz — tentava balancear esses dois sentimentos numa só expressão, tentando não deixar o segundo sobressair-se ao primeiro.

— Está feliz, desgraçado? — perguntei meio irritado, por não compreender bem o que se passava dentro dele naquele momento.

— Hm?

— Você está sorrindo. Muito.

— Feliz? De certa forma, sim... — confessou ele. — ... Isso não te deixa bravo?

— Por quê?

— ... É um sentimento egoísta.

Arqueei uma sobrancelha.

— Explique isso direito. Se não for direto não vou compreender.

De fato, eu poderia entender rapidamente quando o assunto era uma perseguição ou uma emboscada, mas não era assim quando se tratava de sentimentos. Matt suspirou, como se estivesse dando-se por vencido.

— Estamos só nós dois, mas não é como antes. Antes, apesar de estarmos sempre isolados, ainda havia um mundo ao nosso redor. E, às vezes, alguém conseguia se aproximar da gente. Mas, desta vez, somos só nós dois mesmo... “Ele” não pode te alcançar aqui... Ninguém pode.

Ri. Queria que ele tivesse visto para se sentir envergonhado do que acabara de dizer, mas tive que esconder o rosto com uma das mãos — porque era eu quem sentia o rosto queimando naquele instante. Perguntava para mim mesmo como um cara tão bobo havia se tornado meu parceiro para solucionar casos e criar emboscadas.

— Quantas vezes vou ter que te seguir para você perceber o que já tá na sua cara? — perguntei, ainda escondendo o rosto.

— Não precisa mais. Este é o último trem.

Ele sorriu, sem esconder nenhum sentimento. Em vida, nunca havia visto Matt expressar tamanha felicidade em seu semblante.

— Para onde isto aqui vai? — indaguei, enquanto me acomodava no assento do vagão.

— Não sei. Tive que voltar por causa de um certo cabeça-dura.

Sorri. Estávamos em situações semelhantes, como sempre. Havíamos chegado naquele local pelo mesmo motivo e iríamos para o mesmo destino. E só isso já era mais do que suficiente.

Morrer um pelo outro; um sacrifício mais constrangedor do que o outro, agora que ambos tínhamos consciência de que nossas motivações haviam sido as mesmas. Mas já não importava mais. O ruído dos vagões começando a se deslocarem iniciou-se de forma gradativa.

Não sabíamos para onde este trem nos levaria, mas, ao mesmo tempo em que a incerteza era enorme, algo parecia nos manter calmos. Estávamos um na presença do outro, como sempre, afinal. Matt e eu nos abraçamos, como da outra vez, e esperamos que o trem partisse — desta vez, sem volta.


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Notas finais do capítulo

* "Farewell" significa "adeus" em inglês.

Aí está, o meu primeiro shounen-ai! Podre, pobre, bobo... *insira aqui o adjetivo de sua preferência*
Mas é um shounen-ai de DN feito com o coração... ^^ /levapedradanoolho.
A fic, apesar de ser narrada pelo Mello, gira em torno da morte dos dois, por isso acabei optando por uma narração mais calma e meio dramática... E sim, foi a imagem da capa me inspirou completamente para a fic inteira! hehe

Criiiiiiiiiis, parabéééns!!! Aqui na fic eu vou fingir ser normal (-q) e dizer apenas: mil desculpas pelo atraso!! Desejo a você muitas felicidades, conquistas, inspiração e muuuuuito yaoi!! (YAY! õ/) HUAHUA. Obrigada por tudo!