Fogo.

Verde e vivo espalhando-se por todos os lugares. Devorando barcos e pessoas.
E aquele calor infernal...

Não tinha grandes medos. Na verdade, somente quem tem algo a perder teme. O Cão de Caça não tinha nada... Não poderia perder nada. Era evidente que suportaria qualquer coisa, menos o fogo. Não novamente. Virou as costas para aquele anão estúpido e cavalgou para longe, sem se importar em manter aparências. Odiava tudo aquilo: Porto Real, Jofrey, a rainha e toda aquela podridão que envolvia a coroa.

Odiava os jogos, os jogadores e principalmente as peças. Como alguém se permite ser manipulado? Odiava a si mesmo, por saber que era somente um dos peões. O caminho pareceu não existir quando, sem se dar conta disso, chegou aos seus aposentos. Precisava de ouro, somente. Ouro, seu cavalo e sua espada.

Arrebatou a jarra de vinho que descansava em cima da bancada. Sempre tinha vinho em seu quarto, só assim conseguia fechar os olhos e deixar-se levar pelo sono. Sentou-se em sua cama, permitindo que seus músculos relaxassem. E o vinho. E mais vinho.

Precisava recolher algumas coisas. Roupas e ouro. Talvez algum alimento. Roupas, ouro, alimento, seu cavalo, sua espada... E algo que não se permitia pensar.

Avançou a passos largos pelo corredor indo por um caminho não planejado anteriormente. Entrou como uma sombra no quarto suave. Sentou-se em seu colchão de penas, que jamais seria dele também. Não poderia deixá-la... Não poderia levá-la... Não poderia desejá-la.

Tinha medo. Seria chamado de covarde, sem honra. Mas só cavaleiros possuem honra, e ele não passava de um cão.

Os passos delicados quase não fizeram barulho ao entrar no quarto e ele mal percebeu ao segurá-la pelo braço.

Ela lhe devia uma canção.

Ele iria embora, ela não acreditava nisso. Teve ganas de bater nela por ser tão medrosa... Pode-se até ter medo, mas não se deve mostrar, será que ela ainda não tinha aprendido isso?

Por que tinha ido até ela? Nem ele mesmo sabia... Precisava apenas de roupas, ouro, seu cavalo, sua espada, talvez algum alimento... E precisava dela. Poderia protegê-la de todos. Poderia protegê-la de si mesmo? O medo em seus olhos azuis.

Não se importava com que pensassem dele, mas jamais conseguiria viver com o terror na face macia, emoldurada pelos cabelos vermelhos de fogo, dela quando o encarava. Seus dedos apertados ao redor do pulso dela, e quando ela fechou os olhos, desejou que desejasse um beijo seu...

Com o punhal em sua garganta alva, roubou-lhe a canção, deixando chover em sua face desfigurada... Porque não poderia roubar-lhe um beijo? Por que ela não poderia lhe entregar um beijo com carinho e perfume de flores?

Sua mão tão macia em suas cicatrizes... Tão macia que doeu.

- Passarinho...

Levantou-se bruscamente rasgando o manto branco que caiu ensangüentado para o chão.

Deixou-a para trás. Sansa seria apenas um estorvo em sua fuga... A chama em seus cabelos. E ele tinha tanto medo do fogo...