‘’ A verdade meu amor, a triste verdade é que não existe saudade, nos braços de outro alguém. E mesmo quando eu peço piedade, a liberdade opcional descobre o seu próprio fim’’ – A musica que provinha dos fones de ouvido tinha uma melodia melancólica e suave.

- Que musica é essa? – Ri Ellen.

- R.Sigma, sua infame. – Sorri Annah.

Annah e Ellen eram nada menos do que melhores amigas há quase oito anos.

Ellen, com seus curtos cabelos castanhos e lisos, acompanhados de olhos também castanhos expressivos, era uma pessoa doce, brincalhona e divertida. Talvez até hiperativa. Já Annah, era dona de grande calma e seriedade. Podia parecer indiferente e fria, mas era uma pessoa até gentil. Com seus cabelos louros e compridos, sempre fitava todos de modo tão frio que o tom verde de seus olhos chegava a lembrar um cubo de gelo.

As duas estavam deitadas na cama de casal do quarto da loura. A janela estava fechada, porém o luar conseguia transpassar pela cortina fina de cetim claro, iluminando levemente o quarto perfeitamente organizado. Elas estavam deitadas uma de frente para a outra, levemente próximas, pois os fones do celular eram curtos.

A morena remexia distraidamente a barra de sua blusa cor-de-vinho, enquanto a outra olhava para a janela perdidamente. A musica mudara.

‘’ If you, if you could return, don't let it burn, don't let it fade. I'm sure I'm not being rude, but it's just your attitude, It's tearing me apart, It's ruining everything.‘’

- De novo uma musica triste?! – Reclama Ellen. – Você só tem musica triste nesse celular?

- Não. – Responde, pegando o aparelho e procurando algo. Logo, a melodia trocara novamente para algo mais ‘’animado’’.

‘’ I love playing with fire, And I don't wanna get burned. I love playing with fire, And I don't think I'll ever learn ‘’

- Melhorou... – Sorri a outra, fitando Annah. – O que é?

- I Love Playing’ With The Fire – The Runaways.

- Ah, aquele filme. – Ri.

Instantes se passaram em silêncio, até que a voz da morena pudesse ser ouvida.

- An... – Chamara a outra por seu apelido.

- Sim? – Incentiva aparentemente desinteressada.

- Você nunca... – Murmura, envergonhada. – Você nunca beijou alguém, não é?

- Não, você sabe. – Responde sem sequer corar. Tinha plena e total confiança em sua melhor amiga.

- Mas você nunca me contou por que. Você nunca me disse o porquê de ter recusado tantos convites de garotos. – Sussurra.

- Ora... – Annah arqueara sua sobrancelha, fitando sua amiga. – Nunca aceitei porque nunca me interessei.

- Mas você não tem curiosidade de saber como é beijar alguém?

- Sinceramente? – Pergunta, ainda com sua sobrancelha esquerda arqueada.

- Sim.

- Tenho.

- Eu gostaria de saber como é... – Sussurra Ellen, encabulada.

- Como é beijar uma garota? – Questiona naturalmente.

- Isso. – Sorri corando.

- Vá em frente. – Incentiva.

- Será? – Franze seu cenho.

- Beije a pessoa que você mais deseja beijar. Simples assim.

- E se ela não quiser me beijar? – Pergunta magoada.

- Ela vai querer. – Sorri.

‘’ Memories consume
Like opening the wound
I'm picking me apart again
You all assume
I'm safe here in my room
Unless I try to start again ‘’

De repente, Annah pode sentir o toque quente da mão de Ellen sobre sua bochecha direita. A ponta de seus dedos fazia o contorno de seu lábio inferior, suavemente.

- Posso? – Sussurra a morena, aproximando-se lentamente da loura, que nada respondera. Apenas assentira silenciosamente.

Ellen fechara seus olhos, roçando seus lábios nos de Annah. Sentira-se confiante para prosseguir, porém fora interrompida ao sentir que sua amiga contornava seus lábios com sua língua. Sentiu-se estremecer. Logo, seus lábios realmente tocaram os de Annah, iniciando um beijo superficial, até que a loura a puxasse para mais perto, assim dando inicio ao beijo real.

Era quente, lento e doce. E ainda mais ao som da musica favorita das duas.

Instantes após, o corpo de Annah estava sobre o de Ellen, ainda com seus lábios unidos aos dela.

As mãos da morena se entrelaçavam aos cabelos louros da outra, enquanto o beijo era alternado entre pequenos selinhos e beijos reais. Instantes mais tarde, ele fora extinto por pequenos beijos nos cantos dos lábios da morena.

- O que achou? – Pergunta Ellen, fitando a loura, que ainda estava sentada sob sua cintura, e com seu tronco curvado, ainda com seus rostos próximos. As mãos de Annah estavam descansadas no pescoço da outra, enquanto seus polegares acariciavam seu maxilar.

- Interessante. – Sorri levemente, beijando suavemente o canto dos lábios de sua melhor amiga.

- Pode trocar de musica? – Pergunta Ellen distraidamente.

- Você e a sua mania de não gostar das minhas musicas. – Suspira Annah, sorrindo e mexendo no aparelho, que no meio de tantos movimentos, ficara na beira da cama. A canção fora trocada.

- Você vai ficar sentada em cima de mim muito tempo? – Pergunta a morena.

- Se você quiser, eu posso deitar em cima de você... – Sorri.

- Boba. – Ellen ri, brincando com uma mexa dos longos fios dourados que caiam suavemente em seu peito.

- Boba, Maçã? – Pergunta Annah enquanto sorria com sua sobrancelha arqueada.

- Você sabe que eu odeio esse apelido. – Resmunga.

- Maçã. – Ri. – Eu adoro te chamar de Maçã.

- Maldita.

- Maçã. – Responde, por fim, deitando-se sobre o peito de sua melhor amiga, a abraçando e sendo abraçada também. Afinal, a maçã sempre foi ‘’do amor’’.