Duas Vezes Amor escrita por Luisavick


Capítulo 3
CAPÍTULO III


Notas iniciais do capítulo

Agora a Sam está mais teimosa como nunca esteve e as coisas só vão complicar. hmmm. Como tudo irá se resolver? E a Marisa e o Lewbert estão nesse capitulo. Sera que vai complicar ou vai melhorar a situação seddie?



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Freddie foi sentar-se ao lado dela e passou um braço sobre seus ombros.

— Vai dar tudo certo — prometeu. — Conseguiremos uma licença na segunda-feira, e então poderemos...

Ela o empurrou.

—  Freddie, não vou me casar com você! Será que não entende? Não daria certo.

— O que está dizendo? É claro que vamos nos casar!

— Não há nada de tão óbvio nisso. Você só está fazendo planos para se casar comigo porque estou grávida.

A mandíbula tensa a fez lembrar como ele podia ser teimoso quando tomava uma decisão.

— Não pense que vai me fazer desistir disso, Sam. É tudo muito simples. Está esperando um filho meu. Por­tanto, vou me casar com você.

— É exatamente o que estou dizendo. Jamais teria se casado comigo de outra maneira.

— Como pode saber? Talvez tenha voltado antes da data prevista justamente para pedi-la em casamento.

Sam riu, mas o som era mais desesperado que divertido.

—  Você, me pedir em casamento? Por favor, Freddie! Com quem pensa que está falando? Nós nos conhecemos bem demais para esse tipo de jogo. Não há nada de errado com minha memória. Você sempre disse que não preten­dia se casar.

— Sim, sei que disse isso há alguns anos, mas ainda era um garoto, e garotos vivem dizendo coisas que não significam nada.

— Freddie, discutimos sua postura com relação ao ca­samento na última vez em que esteve aqui, e você disse que não havia mudado de idéia. Deixou claro que não quer nenhum tipo de compromisso, e até comentou como seria injusto esperar que alguém convivesse com essa sua ânsia de liberdade.

— Só repeti uma opinião antiga por força do hábito. Havia dito tudo isso durante tantos anos que... — Parou, passando a mão na cabeça. — Essa discussão é ridícula, Sam. Temos de nos ater aos fatos, e o mais importante é que você está grávida. Já confirmamos esse dado atra­vés de um teste, e agora é hora de pensarmos no próximo passo. Casamento.

— Isso é o que você pensa. Tenho pelo menos meia dúzia de opções relativas ao próximo passo, Freddie. Posso ser mãe solteira, se quiser. Mamãe cuidou de mim e Melanie sozi­nha, e sou perfeitamente capaz de fazer o mesmo por esse bebê. Não pode me obrigar a casar. Não estamos na Idade Média, lembra-se? As mulheres adquiriram al­guns direitos nos últimos anos. Não tantos quanto me­recemos, mas alguns.

Freddie suspirou com evidente frustração.

— Sam, deixe de ser teimosa. Sei que a situação é difícil, mas somos adultos e podemos lidar com ela. — Levantou-se, andando de um lado para o outro enquanto pensava numa maneira de persuadi-la.

Sam fechou os olhos e respirou fundo. E pensar que a indisposição estomacal deveria ter sido o pior momento desse dia confuso! As coisas pioravam a cada minuto desde que levantara-se para abrir a porta e encontrara Freddie na soleira!

Por que diabos voltara antes da data prevista, afinal?

Como se pudesse ler seus pensamentos, ele parou e virou-se.

— Estou feliz por ter voltado. Meu Deus, é assustador pensar que eu poderia ter passado dois anos fora, sem saber que era pai. — Riu, saboreando a última palavra como se experimentasse o novo conceito.

Sam não acreditava no que ouvia, Freddie estava rindo. A situação mais embaraçosa que viveram juntos e ele estava rindo.

Sam tinha pavor do desconhecido. Aprendera ain­da criança que não podia confiar em muita gente. Havia visto a mãe lutar com unhas e dentes pela sobrevivência das três e isso ficara gravado em sua memória para sem­pre. Por isso não conseguia acreditar que a vida podia ser fácil.

Sim, tinha de admitir que sempre admirara o entu­siasmo de Freddie, e chegara até a invejar sua coragem em algumas ocasiões, como agora, por exemplo.

Ele cruzou os braços e plantou os pés no chão com firmeza.

— Tem razão — disse. — Não posso obrigá-la a se casar comigo. Está sendo teimosa, mas sei que a novidade da situação a assusta. Por isso voltou a adotar a velha atitude do posso-fazer-tudo-sozinha. Não sei por que ain­da me surpreendo. Você sempre foi assim! Mas de uma coisa quero que tenha certeza, Sam, porque não pretendo mudar de idéia. Não vai enfrentar essa gravidez sozinha, e está acabado. Não pense que...

— Freddie, por favor, ainda não tive tempo para pensar coisa alguma! Até algumas horas atrás, nem sonhava que pudesse estar grávida!

— Quer dizer que, depois de pensar e refletir com calma, pode mudar de idéia sobre meu pedido de casamento?

— Quem sabe? Talvez decida praticar bungee jump, também. Seriam duas possibilidades bem parecidas. Uma queda livre sem nenhuma garantia de que não vou me arrebentar no chão antes de perceber o que está acontecendo...

— Ei, obrigado pelo voto de confiança! Reconheço que nunca pensei em desempenhar o papel de marido, mas estou disposto a me empenhar na tentativa. Isso tudo é tão novo para mim quanto para você.

Sam levantou-se.

— Vou preparar uma xícara de chá. Quer um pouco?

— Prefiro uma cerveja.

— Desculpe, mas ainda não fiz as compras da semana.

— Oh, então costuma ter cerveja em casa?

— Não. Estava apenas sendo educada. – Sam começou a resmungar “Nem quando sou educada as pessoas valorizam” e foi em direção a cozinha e Freddie a seguiu.

— Precisa de mais alguma coisa? Posso ir às compras para você.

— Não está satisfeito com a faxina? — ela disparou irritada. — Vejo que terminou de passar o aspirador de pó e tirou a poeira dos móveis.

—  Sim, estava ansioso e...

—  Ah, cale a boca!

— Isso é maneira de falar com o pai de seu filho? Que tipo de exemplo pretende oferecer? Esperava poder ensinar algumas regras de educação e cortesia ao bebê, mas...

— Freddie, acho que ainda é cedo para esse tipo de preocupação.

— Talvez, mas li em algum lugar que os bebês podem ouvir algumas coisas quando ainda estão no útero da mãe. Música, sons mais agudos... Quer que nosso filho ouça a mãe dizendo coisas rudes ao pai?

Sam encheu a chaleira de água e sorriu.

— Ei, eu vi isso! Você sorriu! Vamos lá, Sam, não precisa ser tão séria o tempo todo.

— Sim, preciso, porque sei que você jamais será sério.

— A vida é importante demais para ser encarada com mau humor. Temos de desfrutá-la, abraçá-la, celebrá-la.

— Mmm-hmm — ela afirmou com a cabeça, prepa­rando a xícara com um saquinho de chá enquanto espe­rava a água ferver.

— Case-se comigo, Sam — Freddie pediu, deixando-se cair de joelhos. — Por favor, eu imploro. Meu filho está implorando. Não nos torture dessa maneira cruel.

— Acho melhor levantar-se, antes que eu tropece em você.

— Podemos nos divertir muito como marido e mulher. Viajaremos juntos, levaremos o bebê para conhecer novos lugares e sons... Pense em todas as coisas que podemos dividir com ele. Ou ela.

— Esse argumento jamais me convencerá a aceitar seu pedido de casamento. — Ela suspirou, levando a xí­cara de chá para a bancada e acomodando-se num dos bancos. — Odeio estragar seus planos, mas alguém teria de ficar em casa para ganhar a vida.

— Ah, então é isso! Pois deixe-me tranquilizá-la, meu bem. — Saiu da cozinha, levando com ele uma grande dose de energia e euforia.

Sam apoiou a cabeça em uma das mãos. Desde que abrira a porta no início da manhã, sentia-se como se houvesse sido colhida por um tornado. Freddie sempre exer­cera esse efeito, e chegara até a apreciar a maneira como encarava a vida quando ainda eram adolescentes.

Mas agora... Como poderia lidar com alguém tão cheio de energia e vitalidade numa rotina diária?

E se o bebê fosse como ele?

Freddie retornou e jogou um pequeno volume sobre a bancada, diante dela. Um cartão magnético e um talão de cheques presos por um elástico.

— O que é isso?

— Retire o elástico.

— O QUE É ISSO? – ela gritou insistindo.

Ele removeu o elástico e abriu o talão de cheque no último canhoto preenchido.

— Sei que gosta de dinheiro e não irá se casar sem algumas garantias básicas, e por isso estou provando que posso cuidar de você.

Sam leu o valor no canhoto e piscou. Estaria vendo direito?

— De onde veio todo esse...? — Parou, percebendo que a pergunta poderia ser mal interpretada.

— Das fotos e videos que já consegui vender. Além desse valor depositado em conta corrente, tenho alguns investimen­tos, uma boa poupança e um excelente seguro de vida.

— Não sabia que suas coisas vendiam tão bem. Parabéns Fredward, algo útil!

— Na verdade, não preciso de muito para viver. Estou sempre viajando, e costumo ser econômico com minhas despesas.

De repente via outro aspecto do homem que pensava conhecer tão bem. Fitando-o nos olhos, podia perceber a maturidade sob a aparente jovialidade, e a combinação era quase irresistível.

— Vou pensar — prometeu, esperando ganhar tempo com a resposta evasiva.

— Ótimo! Enquanto pensa, onde posso dormir?

— Que tal em sua casa?

— Em Bonney Lake? Acho que não. Seria terrível ter de viajar todos os dias até aqui.

— Viajar todos os dias...? O que quer dizer, Freddie?

— Bem, mesmo que o casamento não aconteça ime­diatamente, preciso estar por perto para cuidar do bebê que está em seu ventre.

— Sou perfeitamente capaz de cuidar de mim mesma. É o que tenho feito durante boa parte de minha vida, lembra-se?

— Sim, e por isso acho que precisa de um descanso. Especialmente agora, quando tem mais alguém para cuidar.

— Não vou vencer essa batalha, não é? — Ela suspirou, olhando para o peito amplo e recordando coisas que, nesse momento, só poderiam prejudicá-la. — A casa só tem dois quartos, e um deles eu transformei em escritório. Vai ter de dormir na sala íntima. O sofá se transforma numa cama bem confortável.

— Ou... posso dormir com você.

— Minha cama é estreita demais. Se não me engano, você mesmo notou esse incômodo em sua última visita.

— Não faz mal. Compraremos uma cama de casal. Iremos a Bonney Lake e traremos as coisas que guardei na casa de mamãe. Depois...

— Não.

— Não o quê?

— Não posso ir a Bonney Lake.

— É claro que pode. Peça uma licença, tire férias, qualquer coisa. Temos de contar aos velhos que...

— Esse é o problema. Não serei capaz de enfrentar sua mãe. Ainda não. Não teria coragem de encará-la e admitir que... que nós...

— Acha que nos condenariam pelo que aconteceu?

— Não consigo nem imaginar como reagiriam.

— Minha mãe ficará tão feliz com a chegada do primeiro neto, que nem pensará em recriminar nossa impetuosidade.

— Impetuosidade? Conheço palavras melhores para descrever o que aconteceu.

— Não na frente do bebê, por favor. Vejo que teremos de cuidar desse seu vocabulário. Não sente-se feliz por saber que estarei por perto para ajudá-la a monitorar seu discurso?

— Oh, céus!

Freddie debruçou-se no balcão a fim de encará-la de perto.

— Tudo bem, você venceu.

— Venci... o quê?

— Não precisa ir a Bonney Lake comigo. Embarcarei no vôo do final da tarde, passarei a noite na casa de meus pais, alugarei um caminhão para transportar as coisas e...

— Um caminhão? Pelo amor de Deus, não tenho tanto espaço disponível. Que tipo de coisas pretende trazer para cá?

— Meu equipamento de de fotos e videos, roupas, objetos pes­soais... E estou pensando num caminhão pequeno — ex­plicou, sem desviar os olhos de sua boca. Quando parou de falar, inclinou-se e roçou os lábios nos dela. — Diga que está bem, por favor. Preciso ter certeza.

Sam fechou os olhos, incapaz de sustentar o olhar in­tenso. Quando se deu conta ele já havia contornado o balcão e a tomava nos braços. Agora que o sentia tão perto, era obrigada a admitir que o calor daquele corpo a fazia sentir-se muito bem. Protegida, segura, forte...

— O teste pode falhar — disse, disposta a fazer um último esforço para deter o que quer que estivesse acon­tecendo entre eles.

— Estarei de volta na segunda-feira. Então iremos a um médico e você poderá ter certeza.

— Não acha que devíamos pensar nisso antes de se mudar para cá?

— Quer dizer que só aceitará viver comigo se estiver grávida?

Havia algo estranho em seu tom de voz, alguma coisa que não conseguia identificar.

— Se entendi bem, você só deixou o Tibet para saber quais haviam sido as consequências daquela noite que passamos juntos. Teria voltado, se eu não estivesse grávida?

— Podemos discutir isso mais tarde. Por enquanto, viveremos juntos nesta casa até você decidir me aceitar como marido. Precisa me tornar um homem honesto, Sam! — ele brincou.

— Você sempre foi um homem honesto. E honrado. Senão, por que estaria fazendo tudo isso?

— Sim, por quê? — Freddie sorriu antes de beijá-la.

— Mamãe? Sou eu, Freddie. Pode vir me buscar no aero­porto, por favor?

Havia parado numa cabine telefônica logo depois de desembarcar do vôo que o trouxera de Los Angeles.

— Freddie! Meu Deus, pensei que estivesse do outro lado do mundo! Sim, é claro que irei buscá-lo. Lewbert está jogando golfe, mas irei imediatamente — Marisa Benson afirmou entusiasmada antes de desligar.

Freddie devolveu o fone ao gancho e abaixou-se para apanhar a valise que deixara no chão. Deixara a maior parte de suas coisas na casa de Sam, que insistira em passar as roupas com que viajava. Sorrindo, pensou em como ela já se comportava como uma esposa dedicada, antes mesmo de dizer que o aceitava. Talvez fosse capaz de domesticá-la, afinal.

Pelo menos conseguira superar o choque de descobrir que seus piores temores haviam se tornado realidade. Estava prestes a se tornar pai.

A idéia jamais fizera parte de seus planos. Na verdade, nunca fizera sexo sem tomar todas as precauções, mas com Sam deixara as precauções de lado como se as consequên­cias não o assustassem. Como se quisesse engravidá-la.

Quem poderia saber que tipo de força primitiva o do­minara naquele momento? Só lembrava do choque que experimentara ao descobrir que era o primeiro homem da vida dela. Como uma mulher tão atraente conseguira preservar a virgindade até vinte e cinco anos?

Inconscientemente, devia ter presumido que ela usava anticoncepcionais. Não havia perguntado, apesar de te­rem passado a noite toda nos braços um do outro, fazendo amor e conversando sobre diversos assuntos, inclusive os mais íntimos.

E se não houvesse voltado? A idéia provocou um ar­repio. Sam já havia sofrido demais, e não precisava de mais essa provação. E se ela quisesse localizá-lo para contar que estava grávida, onde o teria encontrado?

Havia partido no dia seguinte como se fazer amor com a melhor amiga não tivesse nenhum significado especial, mas logo descobrira que aquela noite havia mudado sua postura diante do mundo e da vida.

A verdade era que não conseguira tirá-la da cabeça.

Sentira necessidade de revê-la, e a necessidade viera acompanhada da certeza de que não poderia esperar al­guns anos pelo reencontro. Perdera a habilidade de con­centrar-se e focalizar apenas os alvos de suas lentes, e felizmente havia cedido ao impulso de embarcar no pri­meiro vôo de volta a Los Angeles.

Freddie dirigiu-se à saída do aeroporto para esperar pela mãe.

Não estava exatamente ansioso para revelar a novi­dade aos pais. Tinha vinte e cinco anos e conquistara a independência financeira aos doze anos de idade, mas de repente sen­tia-se um menino prestes a dizer a mãe que havia sido repreendido na escola.

Mas o tipo de situação que vivia era a maior prova de que há muito deixara de ser um menino.

Freddie estava estendido numa das espreguiçadeiras do quintal, cochilando. Haviam acabado de sair quando o telefone chamara sua mãe de volta ao conforto do ar-condicionado do interior da casa.

A brisa morna e a sombra de uma árvore formavam uma combinação irresistível para alguém que, como ele, não dormia há dias. Sentia-se relaxando aos poucos, e sabia que, caso a mãe demorasse a voltar, já o encontraria dormindo. E se adormecesse agora, demoraria um bocado para voltar ao mundo dos vivos!

Não. Tinha de manter os olhos bem abertos até explicar por que voltara antes da data prevista. Ela não havia feito perguntas no trajeto desde o aeroporto, e por isso decidira adiar o momento de dizer que partiria nova­mente dentro de um ou dois dias, assim que encontrasse um caminhão para transportar suas coisas.

A sra. Benson voltou trazendo uma bandeja com uma jarra e copos, e Freddie levantou-se para ajudá-la.

— Por que não me avisou que estava preparando uma bebida gelada? Podia ter ido buscar a bandeja para você. Pensei que ainda estivesse falando ao telefone.

— Oh, não! Era Lewbert retornando o recado que deixei na secretaria do clube de golfe. Ele ficou surpreso e en­cantado por saber que está em casa, e disse que virá para cá assim que terminar de resolver algumas coisas na cidade. Quer limonada?

Freddie depositou a bandeja sobre a mesa entre as duas cadeiras de plástico e serviu a bebida gelada para os dois.

— Bem, se Lewbert ainda ficará algum tempo fora, acho que podemos aproveitar esse tempo para discutirmos um assunto importante.

— Sabia que havia algum motivo para ter voltado antes do previsto — ela disse, sentando-se com o copo entre as mãos e fitando o filho com expressão preocupada. — Aconteceu alguma coisa no Tibet? Sei que a situação política por lá não é muito estável...

— Não se trata de nada relacionado à política do Tibet, mamãe. O assunto diz respeito a Sam.

— Sam Puckett? Aconteceu alguma coisa com ela?

— Bem, ela... está grávida.

— Oh, meu Deus! Quer dizer que ela se casou? Não sabia que havia alguém especial, mas não a vejo há tanto tempo que...

— Ela não se casou, mamãe.

— Oh, pobrezinha! A vida não tem sido muito fácil para ela, não é? Sua mãe ficaria arrasada se soubesse... E pensar que lutou tanto para dar alguma coisa à filha! Ela sempre dizia que queria preparar Sam para enfrentar o mundo de cabeça erguida e cuidar de si mesma.

— Não me lembro bem da mãe dela.

— Porque a moça estava sempre trabalhando apesar dos apesares. Pelo menos a avó de Sam estava lá para cuidar dela, já que a mãe sempre foi obrigada a aceitar dois ou três “empregos” ao mesmo tempo.

— Sam parecia ser uma criança feliz.

— Oh, sim, ela sempre foi capaz de lidar com todas as dificuldades com equilíbrio e segurança, mesmo sendo daquele jeito dela. Acho que por isso fiquei tão chocada com a notícia. E tudo tão inesperado! Sam deve amar muito o pai desse bebê, ou não teria permitido que isso acontecesse.

Freddie sentiu o comentário atingi-lo como uma chico­tada. Não sentia-se capaz de falar, pois temia revelar as emoções confusas que o tomavam de assalto.

— Existe alguma possibilidade dela se casar com o pai da criança? Quero dizer, essa é sempre a melhor solução, se houver alguma possibilidade do relacionamen­to dar certo.

Freddie esvaziou o copo de limonada e deixou-o sobre a mesa antes de responder.

— Eu sou esse homem, mamãe. Sou o pai do filho de Sam.

— Você... o quê? Freddie, está dizendo que você e Sam...? Não, acho que não entendi. Quero dizer, como...? Você engravidou Sam Puckett? — Marisa  Benson disparou horrorizada.

— Passamos a noite juntos na véspera de minha partida para a Ásia. Aconteceu, mamãe... Não foi nada planejado. Não sei nem como explicar, e mesmo que soubesse, acho que o assunto só diz repeito a mim e a Sam. Mas, assim que parti, percebi algumas coisas sobre nosso relaciona­mento e compreendi que ela era mais que a irmã que eu nunca tive. Era parte da minha vida, sim, e uma parte muito importante, mas num sentido diferente.

— Entendo. Percebeu que estava apaixonado por ela, certo?

— Você não parece surpresa. — O sorriso de Marisa  era triste.

—Eu sempre soube que ama essa moça há anos, e eu tinha certeza de que um dia saberia entender seus sen­timentos. Espero que não seja tarde demais para realizá-los.

Nenhum dos dois disse nada por alguns instantes. Freddie pensava em como havia sido estúpido por não ter percebido antes o amor que sentia por Sam, surpreso com a própria ingenuidade.

Depois de alguns instantes Marisa  encarou-o como se saísse de um transe.

— É estranho. Passou anos de sua vida protegendo essa moça, e de repente descubro que foi descuidado a ponto de...

— Eu a pedi em casamento — Freddie revelou.

— Era a única atitude que poderia esperar de você, meu filho, e fico feliz por não ter perdido tempo. Sei que será difícil ajustar-se à vida de um homem casado, mas pelo menos terá o conforto de saber que tomou a atitude correta. E você a ama, e ela...

— Ela ainda não aceitou meu pedido.

— Não?

— Acho que Sam não me considera exatamente o ma­rido ideal. E quanto a ser pai... bem, acho que sua opinião não é muito diferente.

— Oh, Deus!

— É claro que pretendo fazê-la mudar de idéia, mas vou precisar de algum tempo. Felizmente ainda temos alguns meses antes da chegada do bebê.

—  Ela tem certeza de que está grávida?

— Sam consultará um médico na semana que vem, mas tudo indica que espera realmente um filho.

—  E o que pretende fazer agora?

— Vim buscar minhas coisas para... bem, vou me mu­dar para a casa dela. Sei que essa não é a melhor solução, mas é melhor do que permitir que ela crie uma rotina da qual eu não faça parte. Quero estar perto dessa criança desde o início. Não pretendo permitir que Sam saia do meu campo de visão pelo menos até dar à luz.

— Pobrezinha! Se está mesmo decidido, ela não tem chance de escapar — Marisa  sorriu com tristeza. — Não se preocupe, Freddie. Sam vai aceitá-lo como marido. Ela só precisa de tempo para ajustar-se à situação, pois é sensata demais para se deixar apressar. Ela fará tudo que puder para dar ao filho o lar estável que nunca teve.

— O problema é que ela não me considera capaz de construir esse lar estável.

— Mas Sam logo compreenderá que você mudou. Agora está preparado para assumir responsabilidades e criar raízes... não?

— Oh, assim que soube da gravidez...

— Antes disso, querido. O velho Freddie ainda estaria no Tibet, ou no Caribe, ou na Rússia, ou em algum lugar exótico do mundo. Não teria voltado tão cedo se já não houvesse se dado conta do que sente por Sam. Assim, acho que a melhor maneira de convencê-la a aceitá-lo é dizer que a ama, e já estava disposto a pedi-la em ca­samento antes de saber sobre a gravidez. Aliás, por que não a trouxe com você?

— Eu tentei, mas ela disse que não seria capaz de encará-la, pelo menos por enquanto.

— É como eu disse. Sam precisa de algum tempo para ajustar-se. E também precisa de você, e vai precisar cada vez mais ao longo dos próximos meses. Só terá de fazê-la entender que quer se tornar parte da vida dela e do bebê. E o fato de ela amá-lo já é mais um ponto a seu favor, meu filho.

— Não tive a impressão de ser muito amado nas úl­timas horas. Na verdade, se conseguisse fazer uma mi­niatura minha, ela já estaria espetando o pobre boneco com agulhas.

— Bobagem! — Marisa  riu. — Ela o ama. Sempre o amou. Assim que puder passar algum tempo com ela e provar que está realmente disposto a cuidar dela e dessa criança, verá que tenho razão.

— Espero que sim, porque não pretendo desistir.

— Por que não vai descansar um pouco? Contarei tudo a Lewbert assim que ele chegar, e poderão conversar amanhã. Há muito tempo para isso. Tudo vai acabar bem, Freddie. Espere e verá.

Marisa  estava sorrindo quando acabou de falar. Freddie levantou-se e foi para o quarto que costumava ocupar quando visitava os pais. Quando estava passando pela porta da cozinha, ouviu uma gargalhada e soube que a mãe acabara de assimilar a notícia.

— Um bebê! — ela disse, seguindo para dentro de casa. — Mal posso esperar para dizer a Lewbert que serei avó!


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Notas finais do capítulo

E ai. Sam está ou não grávida? Aquilo foi apenas um teste de farmácia, mas e a consulta dará positivo? *-*