Duas Vezes Amor escrita por Luisavick


Capítulo 1
CAPÍTULO I


Notas iniciais do capítulo

Curtam o primeiro capitulo da minha fic. Esta fic já esta terminada, então vai ter ela completa. :D



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Seattle, ano: 2020.

O som persistente da campainha eventualmente penetrou na mente sonolenta de Samantha Puckett. Tonta, conseguiu abrir os olhos e fixá-los no relógio digital ao lado da cama.

Menos de seis da manhã!

De uma manhã de sábado!

Uma manhã na qual, em vez de trabalhar, as pessoas costumavam dormir.

Quem quer que estivesse em sua porta certamente decidira fazer carreira apertando campainhas, porque mantinha o dedo sobre o botão como se o fato de ninguém responder não fosse suficiente para diminuir seu entusiasmo.

Samantha não sabia se poderia responder, mesmo que quisesse saber que tipo de idiota podia ser tão grosseiro. Seu corpo recusava-se a obedecer as ordens enviadas pelo cérebro.

O visitante inoportuno não parecia sentir o menor remorso por perturbar alguém em tão lastimável estado físico, pois a campainha ecoava pela casa em Seattle, com persistência irritante.

_ Já vou, já vou – finalmente resmungou, sentando-se e apoiando o corpo nos braços trêmulos. Passara quase a noite inteira no banheiro, exibindo os horríveis sintomas de algum tipo de vírus estomacal, e só conseguira deitar-se depois das quatro, quando o organismo descobrira que não havia mais nada para expulsar.

Os músculos sobre suas costelas doíam, e sentia-se fraca e esgotada.

E a campainha continuava soando.

Nitidamente embriagada de sono, procurou o robe nos pés da cama. Quem quer que fosse ouviria poucas e boas! Pelo menos era o que pretendia, se tivesse forças para isso. A mente parecia ter saído de férias, sem dúvida movida pela certeza de que o corpo passaria muitas horas na horizontal.

Uma dedução sensata, considerando a noite horrorosa que tivera. Pena que o imbecil na porta não compreendesse que uma campainha que não obtinha resposta devia ser tratada com um pouco mais de respeito e ignorada depois de certo intervalo de tempo.

Pensamentos sombrios e assassinos a acompanharam pela escada, através do corredor e até a porta. Quando conseguiu abri-la, sem remover a corrente de segurança, já havia pensado em uma dúzia de métodos de tortura, todos voltados para o indivíduo que tivera a infeliz idéia de tocar sua campainha a essa hora da manhã.

_ Será que não tem nada melhor pra fazer a essa hora?... – a voz desapareceu quando encarou o visitante madrugador, os olhos arregalados e a boca aberta numa expressão incrédula.

O sujeito apoiado no batente mantinha o dedo sobre o botão da campainha e parecia tão elegante quanto um sem teto, com exceção do equipamento de vídeo e imagem de última geração pendurado no pescoço e a mochila de marca colocada displicentemente em um dos ombros, os quais contrastavam com a imagem miserável.

O cabelo escuro e rebelde precisava de um corte e as mandíbulas fortes estavam cobertas por uma barba de dois ou três dias. Os olhos cor de mel pareciam cansados e estavam congestionados.

E as roupas? Quanto menos olhasse, melhor. O jeans desbotado e rasgado, uma camiseta que talvez tenha sido branca e uma jaqueta que já tinha visto dias melhores.

Mas o sorriso era espetacular como o sol nascendo nos trópicos.

Samantha fechou os olhos e respirou fundo, esperando estar sofrendo uma alucinação ou enfrentando um daqueles terríveis pesadelos que, às vezes, sucedem uma virose.

Infelizmente, o homem continuava lá quando abriu os olhos. Pelo menos tivera a decência de remover o dedo da campainha antes de enlouquecê-la.

_ O que está fazendo aqui? – Sam finalmente perguntou, constatando que nunca mais conseguiria ficar zangada com ele enquanto lhe sorrisse daquela maneira encantadora. _ Você não ia passar dois anos no Tibet? Não sabe contar os dias, Benson? Você partiu há um mês. Volte daqui a vinte e três, está bem? E não antes do sol nascer. As pessoas dormem nesse horário, sabia?

Odiava-se por ter notado que, apesar de magnífico, o sorriso parecia cansado. O problema não era seu, era? Seattle estava repleta de hotéis e pousadas, muitos deles próximos ao aeroporto internacional de Seattle e Tacoma. Ele não precisava ter vindo até sua casa para...

_ Isso é jeito de cumprimentar seu melhor amigo, Sam? – ele perguntou com olhos brilhantes, dando um passo em direção à porta e chamando-a, como sempre, pelo apelido de infância.

_ Não me lembro de ter sido sua amiga, Freddie e, se um dia aceitei isso, tive motivos de sobra para rever essa opinião nos últimos dez anos – ela respondeu de forma rabugenta.

Os dois sabiam que ela não falava a sério, pois sempre puderam contar um com o outro ao longo desses anos, mas ele foi gentil o bastante para deixar o comentário atravessado sem resposta. Afinal, já a conhecia o suficiente para saber que considerava o próprio sono sagrado e, no entanto, viera bater em sua porta às seis da manhã de um sábado, um severo teste até para a mais sólida das amizades.

Freddie levou os braços acima da cabeça e espreguiçou-se.

_ Sei que ainda é muito cedo. Não pretendia chegar a essa hora, acredite. Tenho a sensação de que passei dias dentro daquele avião pra chegar aqui. Precisamos conversar, Sam. Não vai me convidar para entrar?

_ Tenho outra escolha? – ela perguntou mal-humorada, empurrando a porta para soltar a corrente de segurança e abri-la completamente. _ Entre, mas não espere que eu fale com você tão cedo. Voltarei para a cama, onde pretendo passar as próximas horas e, mais tarde, conversaremos. Sinta-se em casa.

A batida da porta do quarto ecoou por toda a sala. E ele ficou plantado lá por alguns minutos. Balançou a cabeça. Algumas coisas não mudavam nunca.

Freddie tirou a mochila das costas e jogou-a no chão, aliviado por ter conseguido chegar, apesar de exausto. E Sam falara com ele, o que era um bom sinal. Colocou seu equipamento de imagem e vídeo num local seguro.

Sabia que ela não se mostraria eufórica por recebê-lo às seis da manhã. Conhecia a amiga há muitos anos e sabia como era mal-humorada nas primeiras horas da manhã. O presidente do país ou o seu cantor de rock favorito teriam sido recebidos com o mesmo tipo de tratamento, em iguais circunstâncias, e, por isso, não se importava.

Eventualmente ela desceria e, então, discutiria com ela as revelações que tivera no último mês. Sobre ela. Sobre ele. Sobre os dois.

Nunca se sentira tão nervoso em relação a qualquer outro assunto em toda sua vida, como agora quando se preparava para dizer coisas tão importantes. Qual seria a reação dela?

Parado no meio da sala, tomou consciência do silêncio que o cercava. Podia ouvir o refrigerador na cozinha, o relógio de parede na sala de estar e a própria respiração.

E agora, o que faria? Um banho quente parecia ser uma boa idéia. Sim, um banho e uma xícara de café fresco. Estava farto de café requentado e pão duro.

Freddie dirigiu-se à cozinha e procurou nos armários até encontrar o que queria. Depois, dedicou-se à conhecida rotina de preparar o café. Enquanto esperava que a água fervesse levou a mochila para a sala íntima, cuja parede do fundo, quase inteiramente de vidro, dava para o quintal cercado por um muro muito alto.

Esvaziando a mochila no chão, vasculhou o conteúdo em busca das roupas menos sujas e depois se dirigiu ao banheiro social, entre a sala e a cozinha. Enquanto esfregava o rosto e os ombros com um sabonete, cuja fragrância feminina lhe era bem conhecida, Freddie tentou esvaziar a mente de tudo que não fosse relacionado ao momento presente. Recusava-se a ensaiar o que queria dizer, porque esse tipo de coisa nunca dava certo com ele.

Depois de enxaguar toda a espuma, permaneceu sob o jato de água quente na esperança de oferecer algum conforto ao corpo castigado. Por mais que apreciasse capturar a beleza selvagem de alguns dos mais exóticos lugares da Terra, em alguns momentos sentia falta de prazeres mundanos como água quente, energia elétrica e todos os confortos que a tecnologia moderna criara para tornar a vida mais fácil. Quanto mais viajava, mais gostava de voltar pra casa.

Desligou o chuveiro e, usando uma lâmina descartável, barbeou-se.

Quando terminou de se vestir e jogou a primeira porção de roupas sujas na máquina de lavar instalada na área de serviço, Freddie estava mais que pronto para tomar o café. Serviu-se de uma xícara e voltou à sala íntima, onde se acomodou no sofá com os pés sobre a mesa de centro.

Sentia-se bem na casa de Sam. Desde criança. Apesar das brigas ferrenhas que eles tinham naquela época, ele frequentava a casa dela assim como ela frequentava o apartamento onde ele morara com a mãe, Marisa Benson. E ambos frequentavam o apartamento de Carly e Spencer Shay. Tinham brincadeiras e tarefas escolares em comum, o iCarly, passeios e as brigas. Nossa! Como brigavam naquela época! Mas acima de tudo, eram amigos.

Depois que concluiu a faculdade de cinema e vídeo, Freddie passou a viajar e passar longos períodos fora de Seattle. Quando vinha à cidade, hospedava-se com a mãe. Agora ela havia se mudado para Bonney Lake, uma cidade menor, após seu casamento com Lewbert. Os dois queriam descansar da vida agitada. Mas ele próprio ainda gostava de Seattle. Passara sua infância e adolescência ali. Fizera amigos.

Não sabia se dessa vez iria visitá-los. Na verdade não tinha certeza sobre uma série de coisas, pois muito dependeria de Sam.

Havia sido um tolo em sua última visita. Voara do Arizona para Washington, dois dias antes de partir para Ásia, com a intenção de rever alguns amigos e Sam, com quem não se encontrava há quase dois anos.

Reservara um quarto num daqueles hotéis perto do aeroporto e depois telefonara para ela. E fora então que descobrira o que ela havia sido obrigada a suportar desde a última vez em que se viram.

Sam perdera a mãe há alguns meses para um câncer que parecia querer devorá-la viva. Quando descobriram a doença, já não havia mais nada que pudesse ser feito. Ela tinha se afastado do trabalho para cuidar da mãe doente. Fez tudo sozinha, já que sua irmã Melanie havia se casado com um sueco e fora morar na Noruega. Seu pai nem quisera saber do assunto.

Naquela mesma noite ele levou-a para jantar e haviam conversado como jamais fizeram antes. Tivera oportunidade de conhecer um lado de sua personalidade que nunca sonhara existir, já que sempre a considerara uma garota forte e independente, diferente da mulher desamparada e vulnerável que vira naquela ocasião.

Vê-la tão sozinha e insegura o abalara profundamente, mas decidira seguir em frente com seus planos de viajar para o Tibet. Esse havia sido o primeiro engano. Não devia tê-la deixado naquele momento, mas insistira e, uma vez longe dela, não conseguira tirá-la da cabeça.

Ainda lembrava-se quando a conheceu na escola fundamental: uma menina magricela com cabelos loiros que não conheciam pente, sem um dente na frente, cheia de energia, que escalava árvores melhor que qualquer menino e distribuía tabefes em quem atravessasse seu caminho. Ela não gostava de estudar. Ele adorava. Foi antipatia à primeira vista. Mais tarde tornaram-se amigos por intermédio de Carly Shay que era amiga de ambos. Os três formaram um grupo que produzia um programa adolescente, ao vivo, pela internet, o iCarly. Fora uma excelente experiência.

Ele havia tido uma paixonite pela Carly, mas seu primeiro e inesquecível beijo havia sido com Sam. O primeiro beijo de ambos. Tímido. Indeciso. Incoerente. Eles prometeram nunca mais se beijarem novamente ou tocar nesse assunto, nem entre eles, nem com ninguém. Afinal, se odiavam. Pelo menos, era o que pensavam na época. Meses depois Carly descobriu sobre o beijo, mas ele nunca soube direito de que maneira, pois ele não havia aberto a boca pra falar sobre esse assunto com ninguém.

No ensino médio, continuaram fazendo parte do mesmo grupo.

Ele vira Sam sair com outros garotos, mas nunca soube que ela tivesse tido um namorado firme. Ele jamais pensara em sair com ela. Não no sentido romântico do termo. Até o dia do baile de formatura do ensino médio. Mas seus sentimentos em relação a Sam sempre lhe foram confusos e isso também foi algo que caiu no esquecimento de ambos.

Nesse baile, eles viveram um momento mágico. Tinham ido juntos, pois ambos ficaram sem par e, nessa época, já não brigavam mais como antes.

Ainda se lembrava do momento em que ela abrira a porta da casa quando ele foi buscá-la e, então, ficou estupefato e paralisado. Não se lembrava de, algum dia, ter visto Samantha Puckett tão linda. Diante de sua imobilidade ela apenas dissera:

_ Fecha a boca, Benson.

_ Nossa, Sam... – foi o que conseguiu dizer. _ UAU!

_ Se isso foi um elogio, obrigada. – respondeu ela, com seu habitual sarcasmo.

Suas mãos tremiam quando ela lhe entregara a flor de tecido para que a ajudasse a prender no pulso. Nesse momento ele percebera que a pele dela era macia como seda. Por que nunca havia notado isso antes? Sentia uma descarga elétrica a cada roçar de pele.

Não desgrudou dela à noite inteira, mas também não teve coragem de fazer o que estava com vontade, pois ela ainda lhe metia medo, de uma forma diferente agora. Seu porte altivo e independente não o animava a tentar...

Até que Carly se aproximou de onde estavam sentados, com o namorado Griffin a tiracolo, e perguntou se eles não iriam dançar. Ainda se lembrava de suas palavras:

_ Como podem passar a noite inteira sentados numa festa tão bonita? Vão dançar antes que a festa acabe! É a nossa formatura!

Nesse momento ele, Freddie Benson, criou coragem e convidou Samantha Puckett para dançar, ao que ela aceitou de imediato, para sua surpresa. Mas ele não questionou isso.

No salão, outros casais dançavam alegres ao som de uma melodia agitada e outros já não dançavam mais. Só se agarravam... Entre eles dois, havia certa tensão.

Conversaram bastante enquanto dançavam, tentando afugentar sentimentos que não entendiam. Até que uma música suave tocou, levando-os a dançarem lentamente. Suspirando fundo, Freddie puxou-a para junto de seu corpo e enlaçou-a pela cintura. Ficou feliz quando ela repousou a cabeça em seu ombro. O ambiente ficou à meia-luz e eles se beijaram. O segundo beijo deles. Inebriante. Intenso. Apaixonado.

E mais uma vez eles decidiram que aquilo estava errado e não deveria ter acontecido. Ele, covardemente, aceitou todas as imposições dela sem questionar, e não falaram mais no assunto nos últimos dez anos.

Então, quando seus sentimentos por ela haviam mudado?

Não saberia dizer. E talvez jamais descobrisse. E que importância tinha isso agora?

Tudo o que sabia era que, depois de sua última visita, há um mês, nada mais voltara a ser como antes em relação a Sam. O que fazer com essa certeza era mais um de suas dúvidas e indagações. E só ela poderia oferecer uma resposta.

O aroma sedutor de bacon frito e café fresco a acordaram pela segunda vez naquela manhã. Sem abrir os olhos, Sam respirou fundo e sorriu.

Mamãe estava de pé, pensou sonolenta, e a surpreenderia com...

Abrindo os olhos de repente, sentou-se na cama e balançou a cabeça para clarear as idéias. A mãe morrera três meses antes e, mesmo antes disso, estivera doente demais para sair da cama. Então, quem...?

As lembranças das primeiras horas do dia invadiram sua mente e ela gemeu, deixando-se cair no travesseiro.

O que Freddie Benson estava fazendo em sua vida novamente? Que força do destino o arrastara de volta a Seattle, justamente agora quando partira para passar dois anos fora? E como conseguiria lidar com os sentimentos que ele lhe provocava, se não podia nem ao menos ter certeza de que não tropeçaria com ele na próxima esquina?

Um som na direção da porta chamou sua atenção. Pensara no diabo e lá estava ele! Freddie empurrou a porta e olhou pela fresta, retribuindo o olhar contrariado com mais um de seus sorrisos devastadores antes de entrar no quarto.

_ Seu café, Princesa Puckett. Espero que esteja a seu gosto.

_ Que horas são? – ela perguntou, erguendo-se na cama e estendendo a mão para a xícara sem encará-lo e ignorando completamente aquele apelido de infância.

As manhãs eram sempre o pior período do dia, mas depois da noite que tivera as primeiras horas haviam se transformado numa verdadeira provação.

Os cabelos loiros, num corte mais adulto, ainda conservavam o comprimento da adolescência e os cachos caíam desalinhados sobre os ombros. Vestia uma camiseta velha e uma calcinha-short. Nada sensual ou provocante. Mas ele não achava isso. Imediatamente reparou nas pernas dela quando o lençol escorregou.

_ Pouco mais de onze. – respondeu, procurando desviar os olhos daquele corpo sedutor. _ Lamento tê-la tirado da cama essa manhã. Devia ter chegado ontem à noite, mas enfrentei todos os tipos de problemas e atrasos no voo. Suponho que seria melhor ter ido para um hotel...

_ Não precisa se desculpar, Freddie. Você apenas me pegou num mau momento. – ela puxou o lençol novamente para cobrir as pernas. _ Passei a maior parte da noite lutando contra um maldito vírus estomacal e, só havia dormido algumas horas quando você tocou a campainha. Desculpe pela terrível recepção, ok?

_ Está doente? – Freddie perguntou preocupado, como se o resto do que acabara de ouvir não tivesse nenhuma importância. _ Sabia que essa palidez tinha alguma razão. Chamou um médico?

_ No meio da madrugada? É claro que não! Além do mais, nem tenho um médico para chamar. Normalmente sou forte e saudável como um cavalo.

Freddie observou-a por alguns instantes com evidente insegurança. Não queria perturbá-la comentando sobre sua palidez, o ar cansado e os quilos que certamente perdera. Sam sofrera muito com a morte da mãe, sabia disso, mas já deveria ter começado a recuperar-se a essa altura, não?

_ Certo cavalinho louro, mas se perceber que os sintomas persistem peça ajuda a algum amigo ou vizinho. Isso é perigoso, sabe? Pode acabar anêmica ou algo parecido...

_ Bobagem! Devo ter comido alguma coisa que me fez mal. Fui ao cinema depois do trabalho com alguns amigos e decidimos jantar num desses restaurantes italianos. Acho que a comida pesada e gordurosa àquela hora da noite não caiu muito bem. Mas agora me sinto bem melhor. – concluiu, mudando de assunto em seguida. _ E então, o que faz aqui? Foi expulso do país?- diante da careta que ele fez, ela se justificou. _ Ouvi dizer que a situação política por lá é bastante complicada nesse momento e...

_ Sam?

Estranhando o tom sério e a súbita interrupção, ela parou para encará-lo. “Oh, céus, o que podia estar errado?”

_ O que aconteceu? – ela preocupou-se. Conhecia-o há anos para saber que alguma coisa não estava bem com ele.

Freddie sentou-se na beirada da cama e olhou para a xícara de café que tinha nas mãos.

_ É possível que... – parou, limpando a garganta antes de erguer os olhos para fitá-la. _ Estava apenas imaginando se está realmente bem. Quero dizer, quanto ao restante...

_ Do que está falando?

_ Francamente, Sam. Não pode fingir que não houve nada entre nós na última vez em que estive aqui.

Ela engasgou-se com um pedaço de bacon. Dentre todos os assuntos que imaginara discutir com ele nesse momento, os dois dias que passaram juntos há um mês eram sua última opção. Nunca falara sobre isso com ninguém e nem pretendia. Acontecera. O que poderia haver para ser dito? Tossiu, enquanto ele batia de leve em suas costas.

_ Ah... isso. – resmungou, certa de que o rosto brilhava como um luminoso de neon. Sem saber o que fazer ou dizer, bebeu mais um gole de café.

_ Você não vai fugir de mim dessa vez, Samantha. Não vai mesmo! Dessa vez vamos conversar. – Freddie a viu ruborizar e isso lhe causou um misto de prazer e espanto. Era a terceira ou quarta vez que a deixava vermelha na vida.  _ Está tudo bem nesse sentido?

Notando que ela demorava a responder, sentiu um estranho pressentimento, como se algo se contorcesse em seu estômago. Ela ficou mais ruborizada ainda. Freddie jamais sonhara viver para testemunhar isso.

_ E então? – insistiu impaciente.

_ Ainda é cedo demais. – foi a resposta apressada. Constrangida, olhava em volta como se qualquer coisa fosse melhor que encará-lo.

_ Não sei por que está tão embaraçada. Achou que eu não pensaria nisso, que não me preocuparia? É inútil fingir, Sam. – ele a encarou. _ Um mês se passou e a essa altura já deve saber se...

_ Nunca fui muito regular, e com a morte de minha mãe não sobrou muito tempo para prestar atenção em certas coisas – ela respondeu apressada. _ Acontece quando tem que acontecer, só isso.

_ E aconteceu nesse último mês?

Sam balançou a cabeça sem encará-lo.

_ Não fez nenhum tipo de teste para verificar?

_ Freddie, por favor! Isso não tem importância. Se estiver, estou e pronto. O problema é meu, está bem?

Agora voltava a falar com a Sam que conhecia, a inatingível, a durona que não se deixava abalar por nada. Mas dessa vez seus olhos a traíram, como se só agora se desse conta da possibilidade. Era como se, até ouvi-lo abordar o assunto, jamais houvesse considerado uma provável gravidez. E o medo que se estampou em seu rosto era impressionante.

Freddie aproximou-se e retirou a xícara das mãos dela., deixando-a sobre o criado-mudo antes de segurá-las entre as suas. Estavam geladas, especialmente para alguém que passara os últimos instantes segurando uma xícara quente.

_ Sam, escute-me. Precisamos ter certeza, entende? Talvez tenha sido a comida gordurosa, talvez tenha sido o horário em que se alimentou, mas também pode ser seu corpo tentando dizer alguma coisa.

Os olhos grandes e azuis pareciam ainda maiores no rosto pálido.

_ Tenho uma idéia – ele prosseguiu. _ Vou preparar uma omelete para o café da manhã e, depois, se estive melhor, iremos à farmácia e compraremos um desses testes que...

_ Não. Não quero ir à farmácia alguma.

_ Então me dê as chaves do carro e eu mesmo irei comprar o teste. – Há muito tempo Freddie aprendera a lidar com a teimosia de Sam. _ Não me importo. O importante é que possamos ter certeza de que...

_ Está falando sério? – ela o interrompeu com um fio de voz.

_ Logo depois que parti, comecei a pensar nisso e compreendi que, se houvesse acontecido algo, não saberia onde me encontrar. Naquela noite eu não deveria ter permitido que as coisas fossem tão longe sem usar algum tipo de proteção. – Sam nem piscava, escutando ele falar. _ Nós dois sabemos que não planejamos nada, mas aconteceu e não pude esquecer. Descobri que pensava em você o tempo todo e não consegui me concentrar em mais nada do que fazia. Por isso decidi voltar.

As mãos dela pareciam um pouco mais quentes, e Freddie interpretou a mudança como um sinal positivo.

_ Não acha que um telefonema teria sido suficiente? – Sam perguntou.

_ Não. Senti sua falta e quis vê-la novamente.

_ Hum. E provavelmente não teria acreditado no que quer que eu dissesse se não pudesse ver com seus olhos.

_ Você acreditaria?

Ela baixou a cabeça.

_ Suponhamos... Apenas suponhamos que eu esteja grávida. Que diferença isso pode fazer pra você?

Freddie abraçou-a, apesar da tensão evidente no corpo debilitado pela noite de indisposição.

_ Se estiver grávida, então terei que ficar por aqui.

_ Não. Minha mãe cuidou dela mesma muito bem, sem jamais precisar de qualquer tipo de ajuda de meu pai. Se estiver grávida, saberei cuidar de tudo sozinha.

Talvez nem houvesse percebido, mas Sam tremia como uma criança assustada. A situação seis muito mais difícil do que Freddie pensara a princípio. Esperava que ela não estivesse grávida. Não agora. Ainda não. Queria ter a chance de revelar seus sentimentos primeiro e descobrir o que ela sentia, se havia alguma chance de construírem um futuro juntos. Eventualmente gostaria de ter muitos filhos com ela, mas depois de terem tido tempo m

Abraçá-la foi o bastante para lembrar-se de como ela era frágil, apesar da aparente coragem. “Oh, Sam, não tente me afastar. Deixe-me ultrapassar as barreiras como naquela noite, há um mês.”

_ Não sou seu pai, Sam. – ele finalmente respondeu. _ Não sei por que ele não estava lá para amparar as mãe e conhecer as filhas, mas pretendo estar por perto para ajudá-la em tudo que for possível. Não conseguirá livrar-se de mim mesmo que tente, sabia?

Ela o empurrou e o fitou nos olhos.

_ Não estou grávida. – disse.

_ Tem certeza disso?

_ Acabei de dizer que não sou regular e...

_ Então faremos um teste para descobrir, certo?

_ Nós faremos um teste?

_ É só uma maneira de dizer. Irei comprar o teste e você o fará.

Sam emitiu um suspiro exagerado que não o enganou.

_ Oh, está bem, Freddie Benson! Farei o tal teste só para você deixar de me importunar. Afinal sei o quanto pode ser impertinente e desagradável quando decide insistir num determinado assunto.

_ Tive uma excelente professora. – ele riu, marotamente, enquanto se levantava, sentindo que havia vencido uma batalha crucial, embora tivesse consciência de que a guerra estava muito longe do fim. _ Vou fazer aquela omelete. Estarei esperando lá embaixo.

_ O nerd aqui é você. – ela lhe sorriu de volta.

Era um bom momento para retirar-se e deixá-la sozinha e à vontade para lidar com as recentes alterações no antigo relacionamento e com as novas probabilidades.

Sam viu Freddie sair do quarto e esperou estar sonhando.

E agora, o que faria?

Não havia considerado a possibilidade de estar grávida. Como pudera ser tão ingênua? Havia tentado bloquear as lembranças da última visita de Freddie, pois muitas coisas aconteceram e não se sentira pronta para lidar com o assunto.

Havia ignorado tudo o que aprendera sobre homens por ser ele, Freddie, o amigo de infância a quem confiaria a própria vida. Ainda sentia vergonha ao lembrar como tinha se atirado nos braços dele e praticamente suplicara para que a amasse.

Não. Definitivamente, não estava preparada para isso.

A única coisa que podia fazer era rezar para que o resultado do teste fosse negativo, pois então poderiam esquecer tudo isso e seguir em frente. Freddie voltaria a cuidar da própria vida e a deixaria em paz para fazer o mesmo. Então se esforçaria para esquecer aquela única noite quando Freddie Benson a fizera entrar em contato com um lado dela que jamais sonhara existir, um lado que poderia vir à tona com um mínimo de estímulo. E só em olhar para ele já se sentia estimulada...

Resignada, levantou-se e constatou que o estômago permanecia dócil. Na verdade, estava até com fome. Seria esse um bom sinal?

No banheiro, olhou-se no espelho e constatou que estava pior do que se sentia. Os olhos fundos pareciam querer saltar do rosto pálido e círculos escuros em torno deles era a única cor que possuía.

Oh, Deus!

Adoraria voltar para a cama e cobrir a cabeça para esperar que Freddie a esquecesse e voltasse para o lugar de onde viera, mas sabia que isso não aconteceria. Conhecia o amigo a tempo suficiente para saber que nada o fazia mudar de idéia, uma vez tomada uma decisão. Quanto mais cedo fizesse o tal teste, mais cedo conseguiria livrar-se dele.

Era o que esperava.

Suspirando, abriu o chuveiro e deixou um jato de água morna cair sobre sua cabeça, tentando não pensar em nada além das sensações deliciosas que começava a experimentar.

Quando voltou ao quarto para vestir-se, Sam sentia-se voltando à vida. Ainda estava preocupada com a nova possibilidade aberta diante de seus olhos, mas Freddie sempre fora responsável. Por que mudaria justamente agora?


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Notas finais do capítulo

*-* e ai tão gostando? posso postar mais. sam esta ou nao gravida? :O