A Stopped Clock escrita por Nekoclair


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Opa! Desculpa a demora! Eu sei que atrasei, mas a culpa é da escola. Sorry~
Bem, para compensar, caprichei no capítulo. Realmente deu muito trabalho, mas os resultados de todo o meu esforço foram bons, ou pelo menos essa é a minha opinião.
Tenho que agradecer, ou melhor, LOUVAR a French Lily. Ela tem me ajudado muito e 70% do meu empenho nesta fic se deve a ela. Obrigada por betar minha fic, minha amiguinha querida~ ♥
Boa leitura!



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Estou encurralado.

Não demora muito para que eu finalmente chegue à minha residência, mas, ainda assim, já passa do meio-dia. Eu terminava de trancar a porta quando a chuva voltou a cair na rua.

Caminho até a sala, com minha atenção sendo logo atraída para a pequena mesa de centro, onde uma pizza ainda se encontrava repousada desde o dia anterior - mas agora, exalando um odor um tanto desagradável. Aproximo-me e a observo atentamente, logo pegando com as mãos uma de suas fatias. Afinal, não podia estar assim tão ruim, e sempre considerei comida algo que não deve nunca ser desperdiçado.

Levo a fatia à boca, mordendo um pequeno pedaço e sentindo instantaneamente o gosto de queijo amargo preenchendo o meu interior. Engulo com certo desagrado e não penso duas vezes antes de jogar o restante da pizza no lixo, inclusive o pedaço que eu mordera. Uma coisa é desperdício, outra totalmente diferente é intoxicação alimentar...

Dirijo-me ao sofá e me sento. Sinto meu corpo pesado e minha cabeça lateja um pouco em dor, e, resumindo, estou exausto; completamente exausto. Apóio o rosto nas mãos e, por um momento, deixo que minha mente se esvazie, mas logo os meus pensamentos voltam a me perturbar. Isso tudo é muito confuso, digo... Essa briga toda. E o pior é que eu acabei me envolvendo - se bem que foi decisão minha me envolver, então não tenho o direito de reclamar...

Deito a cabeça para trás e fico a encarar a brancura do teto. O que eu deveria fazer agora? Por que sinto que estou me esquecendo de algo importante? Lembranças dos últimos acontecimentos me invadem a mente. Vasculho cada frase, atrás de algum significado escondido por detrás de alguma de suas palavras, mas não encontro; afinal, o albino nunca me dizia nada - o que somente me fazia voltar a questionar de quanto seria, realmente, a sua confiança em mim.

No entanto, como pretendo ajudá-lo, se desconheço a gravidade do problema, ou mesmo a atual situação financeira dos Beilschmidt? Eu nem sei ao certo o que me leva a ter esse sentimento de obrigação em ajudá-lo - pois certamente não é problema meu o que acontece na vida dos outros. Será que o que tenho é medo de que, caso ele não seja capaz de quitar as dívidas, ele tenha de ir para longe de mim? Será que o que eu sinto de verdade é medo de perdê-lo?

...

Não. É algo maior e muito mais significativo do que isso. Eu posso até reconhecer os meus sentimentos por ele como sendo quase amorosos, mas ainda não cheguei ao ponto onde tudo o que rodeia minha vida são pensamentos melosos e apaixonados, que servem apenas para me levar a atos impensados e impulsivos, e provavelmente seguidos de arrependimento.

Porém, não é isso o que realmente importa agora. Nem sei explicar como minha mente foi parar em um assunto tão sem nexo. Bem... Tudo o que sei é que não há nada que eu possa fazer por enquanto - não com o pouco conhecimento do assunto que tenho no momento e eu sei que tentar obter mais informações de Gilbert é algo impossível, ainda mais quando não se deseja iniciar mais uma discussão infundada sobre o meu envolvimento neste caso. Ou seja, estou em um beco sem saída, afinal, como eu iria ser útil sem ter total conhecimento sobre a situação?

Realmente, não vejo outras opções... Mesmo que a minha vontade de ajudá-los seja pura e sincera, não pretendo discutir com Gilbert novamente. Mas... Por que ainda continuo com o mesmo sentimento estranho? Aquele pressentimento de que realmente estou esquecendo algo importante...

Foi como em uma flechada que as minhas respostas vieram. Levantei-me do sofá apressadamente e parti em direção ao átrio novamente, desta vez me lembrando de pegar o casaco e o guarda-chuva que estavam apoiados ao lado. Abri a porta e caminhei para o exterior, onde nuvens escuras dominavam o céu, e comecei a caminhar apressado sob a chuva fria e o forte vento, protegido pelo grosso casaco de veludo preto e pelo guarda-chuva.

Eram duas da tarde, o que significava que eu estava a apenas meia hora de caminhada do meu destino e de minhas respostas.

Como é que eu pude me esquecer do Ludwig?

-|-

Toquei uma, duas, três vezes a campainha, e já me preparava para tocá-la pela quarta quando a porta foi finalmente aberta pelo pequeno e confuso italiano.

– Roderich? O que houve? – ele se afasta ao mesmo tempo em que entro na casa, apressadamente.

– Perdoe-me pelo incômodo, Feliciano, mas o Ludwig está aqui? – digo, em um único fôlego, as palavras saindo quase que aos tropeços.

– Está, sim. Aconteceu alguma coisa, senhor Roderich?

Um alto e robusto alemão surge então do interior da casa, com as feições sérias e um tanto surpresas pela minha presença. Muito provavelmente, estava apenas curioso para descobrir quem era o inquietante e insistente visitante.

– Ludwig, precisamos conversar – apresso-me em dizer, antes que eu fosse interrompido e aquela conversa assumisse outro rumo.

O alemão nada diz e apenas concorda com um aceno de cabeça enquanto me encara fixamente, ainda muito confuso. Também permaneço em silêncio, observando-o.

– Err... Então, vamos para a sala? – diz o italiano, após alguns segundos de silêncio, um tanto apavorado pela tensão que pairava no ar.

Nós dois concordamos com acenos e, ainda em silêncio, seguimos o italiano até a pequena e modesta sala de estar, onde nos acomodamos confortavelmente: eu na singela poltrona acolchoada e os dois no pequeno sofá.

Eu e o loiro continuamos a nossa silenciosa troca de olhares enquanto Feliciano, que virava o rosto de tempos em tempos, dividia-se entre observar a mim e ao alemão. Meus olhos só se desprenderam de Ludwig quando o italiano levantou-se subitamente, quebrando meu transe e tornando-se o novo alvo de minha atenção.

– E... Eu vou preparar um pouco de chá! – disse ele, trêmulo, enquanto se levantava.

Sem esperar por qualquer resposta ou consentimento, ele caminha apressado por uma porta, que devia levar à cozinha, e desaparece. Depois de encarar por algum tempo o local por onde Feliciano sumira, volto a virar os olhos na direção do loiro, que até agora continuava a me encarar fixamente.

– Então, Roderich... – ele faz uma rápida pausa, mantendo o contato visual entre nós. – Em que lhe posso ser útil?

Respiro fundo, juntando toda a minha coragem. Eu tinha medo da resposta que ele me daria... E se ele não quisesse me falar de seus problemas? E se ele me enchesse de perguntas sobre o motivo do meu desejo de me envolver? Motivo do qual, aliás, eu também não fazia a menor ideia. Mais uma vez puxo forte o ar para meus pulmões, levando os óculos até o topo do nariz, sem desviar o olhar.

– Indo diretamente ao assunto... Desejo mais informações sobre a dívida dos Beilschmidt. E, se possível, o motivo da discussão entre você e seu irmão.

Ficamos em silêncio, apenas focando nossa atenção um no outro. Ele está sério - não que esse tipo de feição lhe seja rara - e os olhos azuis parecem distantes. Ele apoia o rosto nos nós dos dedos, talvez pensativo.

– O Gil te mandou vir, não foi?

– De forma alguma – respondo de imediato – Muito pelo contrário. Por isso peço que mantenha essa minha visita em segredo, se isso for possível.

– ...Certamente. – diz ele, após pensar um pouco. – Deixemos de lado minhas próprias dúvidas, afinal, nem mesmo sei como você soube a respeito de meus problemas com meu irmão, e ir direto ao ponto principal... Qual seria o motivo dessa sua repentina... curiosidade?

– Eu desejo apenas poder ajudá-los.

– Por quê? – ele faz a pergunta mais óbvia possível, erguendo firme uma de suas sobrancelhas.

Direciono o meu olhar ao chão. Aquela era realmente uma boa pergunta e era certo que ele a faria alguma hora.

– Eu... Não sei. – respondo com sinceridade, logo voltando à troca de olhares.

Ele me olha, um tanto confuso, e novamente o silêncio se forma entre nós. Eu me sentia mais e mais constrangido com minha situação, que aparentemente não me levaria a nenhuma resposta. Porém, ainda assim eu nunca me arrependeria de minhas decisões... Volto a fitar meus próprios pés, um tanto incomodado com toda aquela quietude.

– Roderich...

Logo volto a levantar os olhos. Ludwig estava ainda sério, porém algo me parecia diferente em suas feições.

– Quando foi a última vez que você viu o Gil?... – pergunta, um tanto constrangido, enquanto desvia o olhar pela primeira vez desde o início de nossa conversa.

– Na verdade, eu o vi ainda hoje.

– E... Como ele estava?

– Se não me engano, em seu nível normal de idiotice. Mas ele me parecia bem, de certa forma pelo menos...

Ele abre um sorriso tenro. Encaro-o, um tanto confuso e curioso: é impressão minha ou ele está preocupado com o Gil? Sem o meu consentimento, um tímido sorriso se forma em meus lábios. Por alguma razão, eu me sentia aliviado.

– Por que você não volta para casa? – arrisco, atraindo novamente o olhar do alemão para mim.

– Não é tão simples assim, Rod.

– Você não quer falar sobre isso? Eu realmente queria entender melhor a situação de vocês.

– Me desculpe. – foi a única coisa que ele me disse antes de voltar a se calar.

Eu mexia os dedos, passando-os impaciente uns nos outros. Depois de algum tempo, o alemão voltou a quebrar a quietude da sala, para o meu alívio.

– Sabe... Fiquei surpreso por você ter descoberto essas coisas todas pelo Gil. – ele dá uma pausa que não ouso interromper. – Ele estava tentando ao máximo impedir que você descobrisse, mas acho que ele não aguenta mais mentir para você, Rod. O Gil nunca consegue tentar te enganar. É surpreendente.

Encaro-o, surpreso e ainda calado. Ele suspira e seus olhos azuis nunca me pareceram tão sufocantes.

– Sabe... Eu queria que ele não levasse tudo na brincadeira, como ele sempre faz. Ele não percebe que não somos mais crianças, e que agora, como adultos, temos responsabilidades e muitas coisas a nos preocupar. Emprego, contas, manter o nosso nome limpo...

 – Será que você não está levando tudo isso a sério demais?

– Certamente que não. – ele me respondeu de imediato. – Diferente do meu irmão, sou uma pessoa realista. Os nossos problemas não vão simplesmente desaparecer de um dia para o outro. As soluções não vão cair do céu.

Ajeito novamente os óculos e permaneço quieto para que ele continue.

– O Gil tem que crescer e perceber que a infância acabou. Ele devia ser o mais preocupado com tudo isso, MAS NÃO É. – sua voz aumentou no fim da frase e Ludwig me parecia, de repente, ainda mais perturbado e irritado com tudo aquilo.

Mais alguns minutos de silêncio se seguem, ainda mais sufocantes que os anteriores.

Ergo-me da poltrona, sendo seguido pelos olhos azuis do alemão. Viro-me impaciente à entrada, por algum motivo misterioso, e caminho apressado até ela. O outro apenas observa meu gradativo distanciamento, em silêncio. O italiano enfim aparece na porta da cozinha, carregando consigo uma bandeja com um bule e algumas xícaras, mas, quando me vê, larga sobre a mesa o que segurava e corre em minha direção, seguido por um curioso e confuso Ludwig.

– Roderich, você já vai? Mas e o chá? – perguntou o italiano, enquanto eu segurava calmamente a maçaneta.

Ludwig permanece quieto, apenas me observando com atenção.

– Desculpe, Feliciano, mas o chá terá que ficar para outro dia. – eu digo, com um sorriso educado no rosto.

– Ah... Ok... – lamenta ele, de cabeça baixa. Ele sabia que nada que dissesse iria me fazer mudar de ideia.

Ludwig dá um passo à frente, ficando diante do italiano. Ele está muito sério novamente.

– Desistiu de se envolver?

– Obviamente não, mas acho que já ocupei demais o seu tempo.

Abro a porta, segurando firmemente o guarda-chuva fechado. O sol finalmente apareceu, e, por um tempo, eu não teria que me preocupar com a chuva. Viro para o loiro uma última vez.

– Porém, Ludwig, talvez você devesse tentar prestar mais atenção em seu irmão. Na realidade, ele me parecia bem mais preocupado com tudo isso do que você imagina.

Depois de uma última troca de olhares, eu já me virava novamente à rua quando fui interrompido por ele, que me chama pelo nome mais uma vez e suspira, cansado.

– Se você está tão obsecado em ajudar quanto parece estar, procure pelo Zwingli. Ele tem a resposta para todas as suas perguntas.

– Era de se esperar, afinal, ele é o gerente do maior banco da região... – digo, mais para mim que para ele. – Acho que já estava mais do que na hora de fazê-lo uma visita. Faz tempo que não vejo a pequena Lili.

Ele faz um aceno positivo com a cabeça e me estende a mão, que aperto sem demora. Despeço-me do italiano com uma rápida reverência e me viro novamente à rua, caminhando calmo até a calçada. O som da porta se fechando ecoa no ar, mas meus pensamentos me levavam para longe.

Eu podia até não ter conseguido descobrir nada através de Ludwig, mas ao menos agora eu sabia onde arranjar informações sobre as tais dívidas. Isso, claro, se ele estivesse disposto a me ajudar e contar.

As memórias de um passado tortuoso, vivido junto daquela pessoa, são as únicas que sobreviveram ao tempo. Meus passos são pesados contra o concreto da calçada, mas continuo a caminhar determinado na direção de minha casa, ou melhor, da de meu vizinho, Vash Zwingli: aquele que um dia eu amara como a um irmão.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem e estou ansiosa pelos reviews de vocês! E se não me mandarem eu vou perseguir vocês (não duvidem - eu sou bem esse tipo chata de autora).
Agora mudando totalmente o assunto para um nada a ver com esta fic...
Eu gostaria de recomendar minha nova longfic, a Moonlight, para vocês, meus amados leitores. É uma DenNor que tenho me dedicado muito. Não estou obrigando ninguém a ler, mas quem tiver um tempinho e quiser me fazer a autora mais feliz do mundo, sinta-se a vontade! =D
Acho que é só isso então.
BJJS e até o próximo capítulo!
Juro que vou tentar não atrasar (muito). ♥