A Stopped Clock escrita por Nekoclair
Notas iniciais do capítulo
Desculpem pelo atraso, eu estava em provas e vestibular. Sabe como é. =/
Tenho mais algumas notícias a dar, mas vamos deixar para as notas finais! Ok? ^^
Boa leitura. o/
Estou desconfortável.
O albino deposita algumas panelas na mesa, enquanto é seguido por meus olhos a todo instante. Um silêncio desconfortável reina já há um bom tempo na cozinha, para ser mais exato desde que Gilbert mandou-me sentar, enquanto terminava as preparações para a refeição.
Eu observo cada movimento do albino com enorme atenção e compenetração: a forma como os fios claros balançavam levemente quando ele caminhava, o jeito como seus orbes vermelhos se movimentavam rapidamente de canto a outro da cozinha, as feições sérias e maduras deitadas na face serena e até mesmo o movimento sutil de seus dedos, quando se punham a dobrar para segurar alguma travessa.
No momento, tudo nele é, por demais, interessante. Ou assim me parece. Faz tanto tempo assim que eu não o vejo? Sinto ter me desacostumado completamente com a sua presença e com seus gestos.
– Rod... – o albino pousa uma panela de tamanho mediano no centro da mesa e finalmente se senta na cadeira diante de mim. Ele encara-me e sua voz transparece certo desconforto. – Eu sei que sou interessantemente incrível, mas pare de me encarar dessa maneira... É constrangedor perceber tão facilmente o seu interesse pela minha inestimável pessoa... Você nem tenta esconder!
– D-Do que está falando? Não comece com suas teorias totalmente infundadas. E-Eu não estava te encarando... – minto, apenas para não satisfazê-lo com uma resposta positiva. Eu realmente o estava encarando, mas geralmente as pessoas, quando se notam sendo observadas, não comentam sobre o fato!
– Certo. Certo. – ele responde, monotonamente, enquanto se serve.
Não que eu esperasse que ele acreditasse numa mentira tão evidente, mas aquela resposta desanimada também não era o que eu esperava. Um nervosismo sobe-me a garganta.
Novamente voltamos ao silêncio, o qual me parece um inferno. Eu desejo falar com ele. Eu não desejo ser odiado. Eu quero desesperadamente que nossa relação volte à normalidade.
– Gi-Gil... Você está bravo? – digo a primeira coisa que me vem à mente.
Ele pousa os talheres no prato, encarando-me fixamente. Ok... Talvez eu não tenha escolhido o melhor assunto. Sinto-me tomado por arrependimento e o silêncio nunca me fora tão desejado. Onde eu estava com a cabeça?
– Com o que exatamente eu deveria estar bravo?... Ah! Por você ter mentido para mim, ter agido pelas minhas costas e ter se metido em assuntos totalmente sem nexo com você. – seu tom era de puro sarcasmo.
–... Eu não desejava te irritar. Eram boas as minhas intenções. – digo, desconfortável com a situação.
– Eu sei que suas intenções eram boas, afinal eu te conheço muito bem, mas, Rod, eu pedi para que você não se envolvesse. Eu não queria sequer ter te contado sobre a dívida, porque sabia que nada de bom resultaria disso, mas você insistiu, e insistiu tanto, que acabei cedendo.
– Desculpa, mas eu não queria que você vendesse a casa... Não sei porquê, mas não queria.
– Pare de mentir.
– Do que está falando?
O albino levanta-se brutalmente da cadeira, puxando-me pela gola da blusa. Nossos rostos pararam a centímetros um do outro.
– Até quando você pretende me enganar? Até quando você pretende se enganar? Por que não simplesmente admite? Você sabe muito bem o motivo!
– D-Do que está falando? Eu não sei de nada... – respondo, um tanto nervoso. A distância de nossas faces também em nada colaborava.
– Eu fui o motivo! Você fez tudo isso porque percebeu o quanto eu me importava com aquela casa, e por isso vendeu seu melhor amigo!
Sinto um aperto forte repentinamente tomar-me o peito, acompanhado de um indescritível constrangimento. Afasto-o e me pus a sentar novamente. Os olhos do albino ainda permanecem raivosos, mas agora ele não é o único bravo naquela cozinha.
– Como pode dizer tamanha tolice?! O que te faz pensar que meu melhor amigo é um objeto? Eu vendi o piano por me importar demais com você, e essa é uma forma de mostrar que, nos meus parâmetros, você é uma prioridade muito maior do que qualquer instrumento musical com o qual eu me importe! Você é alguém importante para mim e acho que não faz ideia de como suas palavras, às vezes, me machucam!
Paro para recuperar o fôlego, mas meu olhar agora se direciona à parede, estando eu, agora, bem irritado e constrangido.
– Desculpe... – diz ele, baixo.
– O quê? – pergunto, virando-me rapidamente ao albino, que tinha feições arrependidas na face. Ele também aparentava certo constrangimento.
– Não vou repetir! – ele diz, fazendo cara de desgosto e vergonha.
Encaro-o, sem nada pronunciar. Ele me olhava, vez ou outra, de esguelha, nada discretamente.
– Eu disse desculpa! E-Eu não queria te ofender... E... O-Obrigado pela ajuda! Eu não sei o que teria feito sem a sua ajuda. E eu não estava realmente bravo com você, como poderia? Você estava pensando em mim e no Lud e nos livrou de uma enorme enrascada.
Ver o enorme constrangimento na face do albino era algo não muito comum, por isso senti-me um tanto surpreso, mas, ao mesmo tempo, satisfeito.
Eu estava feliz. Muito feliz.
Sorrio levemente ao albino, cuja face é tomada por uma perceptível vermelhidão; não que ele fosse o único corado naquele cômodo.
– Obrigado, Gilbert. – digo, calmamente.
– Pelo quê?
– Não sei... Apenas, obrigado.
O silêncio retornou quando voltamos a comer, mas agora ele não era mais tenso e desconfortável, mas agradável - apesar de que o constrangimento não tivesse se esvanecido por completo.
Era bom ficar perto de Gilbert novamente, sem ter que me preocupar com quaisquer complicações...
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Depois do almoço, Gilbert não me permitiu ir embora. Forçou-me a fazê-lo companhia, para recompensar pelos meus atos. Acabei por aceitar, afinal não havia realmente algo que eu tivesse que fazer urgentemente em casa - além de que, eu desejava prolongar um pouco mais o nosso tempo juntos.
– Então, o que vamos fazer? – pergunto, enquanto termino de ajeitar uma louça que eu insistira em lavar para ajudá-lo.
– Mas que pergunta tola, jovem mestre! Não é óbvio que quero te ouvir tocar?
O movimento de minhas mãos subitamente parou, e, quando dei por mim, eu já encarava o albino fixamente, questionando-me sobre um possível mal-entendido.
– Como? – pergunto, desacreditado, pousando o restante da louça nos armários.
Ele encara-me em silêncio, talvez surpreso ou satisfeito. Provavelmente tudo sequer não passara de uma piada por parte do albino - a qual eu levara muito a sério. Porém, tudo que ele fizera foi me agarrar pelo pulso e puxar-me em direção ao porão. Ele tinha um sorriso nos lábios, e meus olhos insistiam em observá-los atentamente, com enorme deleite.
Na parte inferior da casa tudo permanecia da forma como eu me lembrava: as várias prateleiras enfileiradas pelo salão e o piano ao fundo. Era uma visão realmente agradável.
Andamos, ele ainda segurando o meu pulso, em um ritmo um tanto acelerado. Eu sentia sua ansiedade através do toque de nossas peles, cujo contado me agradava - apesar de que eu soubesse que esse não era um pensamente adequado, pois eu assim só ficaria ainda mais nervoso.
Sentamo-nos no banco e me pus a encarar o instrumento. Gilbert, depois de uns instantes daquele silêncio inexplicavelmente agradável, virou-se em minha direção, os olhos incentivando-me para que eu iniciasse logo alguma partitura.
Suspiro calmamente e deito os dedos nas teclas do piano, esperando que o impulso simplesmente surgisse - o que não demorou muito. Logo, o ambiente já era preenchido pelos mais variados sons. O albino encara-me surpreso, mas se mantém quieto.
As notas sobem e descem, sem um ritmo definido, variando a todo instante. A velocidade, ora calma, punha-se de repente a correr desesperadamente. Os sons eram como uma tormenta, indefinida e imprevisível, mas que me fazia sentir bem em meio a confusão presenciada até então.
Desligado do mundo ao meu redor, permito que, naquele instante, minha vida seja aquela melodia tão conflituosa. Apenas a voz do albino fora capaz de trazer-me de volta à realidade, instantes depois.
– Err... Rod, o fato de você estar misturando várias composições é algo proposital e que você geralmente faz quando toca em casa, certo?
– Não. – respondo, simplesmente, sem tirar os olhos do instrumento.
– Então por quê?... – ele aparentava confusão.
– Incomoda-te? Sinto-me confortável com um pouco de confusão vez ou outra.
– Não é que incomoda... É apenas estranho uma coisa dessas vindo de você. Você é sempre tão certinho e pacato...
– É... Acho que sim. Essa é a primeira vez que faço esse tipo de coisa enquanto toco.
Passou-se alguns instantes sem que qualquer um de nós falasse qualquer palavra - tudo que se ouvia era o piano, cujo som, no instante, corria mais e mais rápido. Senti meus dedos se afastarem momentaneamente do instrumento, silenciando por completo o ambiente por poucos milésimos de segundos, até que uma melodia um tanto triste começasse a surgir aos poucos.
– Deve ser por causa da minha incrível presença, que está te deixando aturdido perante minha superioridade.
– Talvez seja isso mesmo, quem sabe...
Ele encara-me, surpreso e com aparente dificuldade para acreditar em minhas palavras. Ele corou um pouco e virou um rosto, decidido a deixar-se inundar pelos sentimentos variados que as ondas sonoras transportavam.
Eu sentia-me confortável, e esse sentimento permanecera por horas, as quais me passaram despercebidas.
O piano realmente me fazia falta, mas, graças a sua ausência, tive essa oportunidade de passar a tarde na companhia de Gil. Sem brigas ou discussões - o que me era previsto pela manhã -, mas numa enorme tranquilidade.
Ele acompanhou-me até a porta, eu seguia na frente e ele atrás. Palavras não eram trocadas desde que saímos do porão.
– Olha as horas... Já são cinco da tarde. Ainda bem que você me avisou, ou eu teria continuado tocando. – digo, com um leve sorriso direcionado ao albino que vinha logo atrás com as mãos nos bolsos.
– Você desejava torturar-me ainda mais, jovem mestre? Não acha que teria sido crueldade demais para um só dia? – ele diz, irônico.
– Pelo que me lembro fora sua a sugestão para que eu tocasse. – ergo os óculos ao topo do nariz, insatisfeito com o descaso com meu reconhecido talento musical.
– Certo. Então volte outro dia para que eu possa ouvi-lo mais. – ele sorri e estende a mão, que logo aperto.
– Claro.
O contato das peles não demorou mais de dez segundos, mas quando nos separamos e parti pelo meu caminho, a sensação agradável permanecia. Caminho rapidamente para casa, com a mente repleta por pensamentos sobre os fatos ocorridos à tarde.
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Fora surpresa que eu sentira ao chegar em minha residância e perceber o alemão e o francês diante dela, conversando, enquanto homens saiam dela e iam embora por um caminhão. Apresso ainda mais meus passos, até os alcançar.
– Oh, não! Acho que fomos descobertos, Lud. O que faremos agora? – o francês diz, em aparente ironia.
O alemão nada responde.
– O que está acontecendo aqui? Como entraram em minha casa? – as palavras saiam aos tropeços de minha boca.
– Já ouviu falar em ferreiro? – diz o francês, cobrindo um largo sorriso com uma das mãos.
– Vocês invadiram-na? Ludwig, o que está acontecendo aqui?
–... Isso foi ideia do Gilbert. – foi tudo que o alemão respondeu.
– Relaxe, Rod! Eu apenas vim entregar uma encomenda. – diz Francis.
– Na minha casa? – pergunto, incrédulo.
– Exatamente! – ele agarra-me pelo braço e me puxa casa adentro. Sinto meu coração bater em falso por um instante.
Lá, ao canto da sala, reluzente como em minhas lembranças, estava meu piano. Minha boca abriu-se, mas não havia palavras que fossem merecedoras de tal momento. Uma felicidade imensurável invadiu-me o peito, mas logo esse sentimento fora substituído por confusão.
Caminho em direção ao instrumento e passo meus dedos pelo verniz escuro: liso e impecável. Uma leveza tomou-me o corpo e senti-me suspirar pesadamente, em alívio; alívio este que não durou muito. Mas por que ele estava ali? O que estava acontecendo? Não me diga que é uma brincadeira, pois seria de muito mal gosto. E o que o Gilbert tem a ver com isso? Viro em direção aos loiros, perplexo.
– Por que...? – balbuciei, sem saber ao certo o que dizer.
– Não estou fazendo nada por simpatia, acredite. Só estou pagando uma dívida com os Beilschmidt.
– O quê? Dívida? Mas você é rico! – viro em direção a Ludwig, que permanecia calado até então – E se ele devia a vocês, porque não pediram para que ele pagasse a dívida de vocês?
– Como eu já havia dito... Isso é coisa do meu irmão.
– Bem, acabamos o nosso serviço por aqui. Vemo-nos outra hora, meus caros. – o francês diz, em seu sotaque carregado, enquanto joga, em minha direção, um pequeno objeto.
Abro as mãos, notando a chave que ali repousava. O alemão também não se demorou por ali, e logo eu já o seguia porta afora.
– Ludwig, espere. Você me deve explicações.
– Desculpe, mas o Gil disse que queria ser ele a te explicar tudo isso.
– Eu passei a droga da tarde toda com ele, por que ele não me disse nada?!
– Talvez seja uma forma dele te recompensar. Vai ver ele queria que você tivesse uma surpresa... Ou então era vingança, por ter feito tudo as escondidas dele... Quem sabe. É difícil saber exatamente o que aquele meu irmão cabeça-dura pensa. Ele é muito mais complexo do que parece.
Sinto-me constranger levemente. Apesar de conhecer o albino desde os oito anos, e ter vivido a vida toda com ele, eu também não o conhecia tão bem quanto supunha, e apenas hoje percebi isso.
– Então acho que ele ainda me deve explicações... – digo, enquanto caminhava até a calçada.
– Ah, sim... – o loiro parou de andar e virou para mim, as expressões calmas – Não sei o que significa, mas Francis queria que eu te lembrasse de que você ainda não o pagou. Ele disse que quer que você pare de enrolar e cumpra logo sua parte do acordo. Bem, é isso. Então até mais, Rod.
O loiro pôs-se a caminhar rua afora, no sentido a casa de Feliciano. Paro na calçada e ponho a encarar suas costas por breves instantes. O que diabos está acontecendo agora?
Indiferente a minha casa, cuja porta permanecia destrancada, ou ao piano que agora repousava em minha sala de estar, pus-me a correr novamente em direção à casa dos Beilschmidt. Nada passava pela minha mente, apenas um sentimento de querer entender o que ocorria.
Como? Por quê? Desde quando?
Quando cheguei à casa do albino, as pancadas na porta nunca foram tão impacientes. Depois de quase um minuto o albino abriu a porta e adentrei sem sequer o olhar no rosto.
– Rod? – ele diz, um sorriso torto deitado nos lábios e uma expressão surpresa na face.
Atrás de nós o sol de punha, escarlate e indiferente a tudo que acontecia bem diante de si.
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Obrigada aos que leram até o fim.
Bem, primeiramente tenho uma notícia muitoooo importante a dar: 99% de chance do próximo capítulo ser o último. Falta muito pouco para acabar, notei isso quando escrevia esse cap, e se não ficar enorme finalmente chegaremos a um final! ^^ Sim esta fanfic tem um final, eu também não acreditava até duas semanas atrás!
A outra notícia é que provavelmente não vou atrasar tanto o próximo capítulo. Tecnicamente tenho as tardes/ manhãs livres a partir de agora, por isso terei tempo de escrever. Agora é só torcer para a inspiração não me deixar na mão. .-.
Agradeço aos que tem comentado e me acompanhado, mas tem gente fugindo do serviço! Hunf! Eu faço minha parte escrevendo o capítulo, então reviews seriam uma boa recompensa pelo meu esforço. =/ Poxa! Não é pedir de mais! xD
Bem, é isso.
Se acharem erros me avisem. E sua opinião sobre o cap será sempre bem vinda. .-.
Até uma próxima e deixem de preguiça! Quero reviews! Sim, sou exigente e tenho esse direito! BJJS o/