Você a vê, você não pode tocá-la.

Você a ouve, você não pode abraçá-la.

Você a quer, você não pode tê-la.

Você quer, mas ela não permitirá.

A dor comprime meu peito quando vejo seus olhos marejados. Eu não suporto te ver sofrer assim, não suporto assistir e não poder fazer nada. Amigos deveriam poder fazer mais do que dar somente algumas palavras de consolo.

E talvez o que mais me machuque é perceber que ela não te merece. Ela não está sendo cruel; simplesmente não é certa para você. O coração dela bate em outro ritmo, ela está distante. Mas você não consegue se afastar, consegue?

Também sinto raiva por isso. Você deveria tentar! Não está dando certo, será que você não vê? Você está se afundando cada vez mais sem nem tentar ficar de pé. Acho que o fracasso lhe subiu à cabeça.

— Ela não é tão especial — eu te digo repetidamente. — Olhe o que você fez, garoto!

Você vê, mas ainda assim continua a chorar, e é como uma faca enfiada em mim. Como eu queria fazer alguma coisa, Gerard! Se eu pudesse eu traria Lindsey para seus braços agora mesmo, sem hesitar, somente para poder ver seu sorriso novamente. Se eu pudesse eu colaria os lábios dela aos seus, eu juro. Mas eu não posso, e só resta a você se livrar dessa paixão.

Você me diz que vai tentar. Diz que agora você deseja que ela nunca volte de novo. Eu gostaria de acreditar nisso, mas nem você acredita. Você a vê e não pode tocá-la; você a quer e não pode tê-la. As coisas continuam iguais.

Ela não é tão especial, e você ainda não vê direito o que você fez, os pecados que você cometeu contra si mesmo por causa dela. Eu começo a me desesperar. Você precisa ser feliz novamente, você precisa recuperar aquele brilho que eu tanto amo em seus olhos. Ela não vai te dar isso, nós dois já percebemos agora. Mas eu tenho que tentar te fazer feliz de outra forma...

Será que... eu deveria? Não, não deveria. Mas estou entrando em pânico.

Então eu vou até você. Digo que precisamos conversar. Meu coração bate descontrolado, minha mente imagina mil e uma reações e minha língua trava por vários minutos. Finalmente, eu consigo falar, consigo colocar para fora.

— Agora estou pregado à sua frente — começo, nervoso. —, empurrando a minha parte...

— O quê? — você parece confuso. Eu respiro fundo e me organizo melhor.

— Com seus pecados você me matou, Gerard. Pensando nos seus pecados eu morro, pensando em como você os deixou te tocarem.

— Que pecados? — você soa triste, mas não mais confuso. — Meu amor pela Lindsey?

— Seu amor assassino por ela — confirmo. — Você não percebe que estou morrendo por isso, pensando nisso? Pensando em...

Eu paro, tentando arrumar coragem, e você me incita a prosseguir. Eu finalmente solto tudo de uma vez.

— … Em como você nunca percebeu que eu estou dilacerado, e pendurado abandonado, sabendo que nunca mais vou me erguer de novo.

Olho para você, lágrimas borrando minha visão de seu rosto assombrado. Vejo sua expressão.

É o que eu mais temia.

Você entendeu. Entendeu o que eu quis dizer. Entendeu que eu te amo, que eu estou aqui esse tempo todo, invisível. Entendeu que te ver sofrendo acaba comigo, e que saber que eu não resolvo seus problemas dói ainda mais.

Em seus olhos, eu também entendo o que você quer me dizer, mas não consegue falar.

Entendo que não há mudança nenhuma. Você não me ama desse jeito. Você sente muito por não poder me corresponder. Eu sei que você sente de verdade. Eu entendo que seu coração nunca será meu, que ela te domina.

Porque, sim, você ainda a vê. Você a escuta, você a quer.

A verdade absoluta do seu amor por outra pessoa me atinge de uma vez.

Você a vê, você ainda a escuta.

Você a quer, você ainda quer...

E eu não sou nada além de uma simples ferrugem no eixo do seu coração.