As Cem Melhores Historias Da Mitologia escrita por Allan
O interior de uma grande tenda de campanha. É noite. Agamenon está deitado de bruços e chora
convulsamente. Depois volta para cima o rosto coberto pelas mãos e exclama:
Agamenon — Júpiter supremo, o que foi que fiz? Minha Ifigênia adorada ofertada em
holocausto! Oh, crueldade atroz! Ter o peito rasgado pela lâmina do sacrifício! Como pude
permitir tal monstruosidade?
Depois de chorar mais um pouco, no entanto, Agamenon cessa abruptamente as lágrimas. Uma idéia lhe
ocorreu.
Agamenon, pondo-se em pé, de um salto: — Não, não permitirei tal coisa! Desfarei o que
maus conselhos me induziram a fazer!
Imediatamente pega uma tabuleta e põe-se a escrever freneticamente.
Agamenon — Eis o que escreverei a Clitemnestra: "Minha esposa, atente bem para o que
lhe digo: não mande para cá a nossa querida Ifigênia. Guardou a tabuleta num invólucro e voltou-se para
a entrada da tenda. — Soldado! Venha já até aqui!
Um soldado entra rapidamente.
Agamenon — Está vendo esta mensagem?
Soldado — Sim, senhor.
Agamenon — Quero que a leve, sem mais perda de tempo, até a minha esposa. Não dê
descanso a seu cavalo, nem faça pouso ou parada alguma sob pena de sua própria vida, entendeu?
Soldado— Sim, senhor.
Agamenon — Vamos, retirá-se e vá dar cumprimento à sua missão. Agamenon fica só outra
vez.
Agamenon, caindo outra vez no leito: — Que os deuses protejam minha Ifigênia e façam
com que esse mensageiro chegue ainda a tempo!
As luzes apagam-se. Alguns instantes depois acendem-se novamente. Agamenon está adormecido. O dia
amanhece. Menelau irrompe tenda adentro segurando algo.
Menelau, em altos brados: — Vamos, levante!
Agamenon acorda, assustado: — O que foi, meu irmão?
Menelau— "Irmão"! Falta pouco para que o proíba de me chamar por este nome,
asseguro!
Agamenon -Por que as flamas da ira abrasam tanto seu coração? Menelau, lançando às faces
do irmão a carta que este enviara às ocultas: — Aqui está, tratante, o motivo de minha ira!
Agamenon reconhece o objeto e fica revoltado.
Agamenon — Então você ousou me espionar e interceptar uma carta que mandei à
minha esposa? Com que direito o fez?
Menelau -Com mais direito que você, que torna atrás de um compromisso solene que
assumiu diante de mim e de meus generais. Acaso está brincando com a minha honra? Quer
espalhar o escárnio e o deboche na boca de meus soldados?
Agamenon, tornando à humildade: — Um pai não tem, então, o direito de tentar salvar sua
filha da morte cruel?
Menelau — Você não tem o direito de sobrepor à honra do Estado os seus mesquinhos
interesses pessoais! Ifigênia terá a honra de ofertar sua vida em prol de milhares de seus cidadãos
e de restaurar a honra de sua pátria. É pouco? Não basta?
Agamenon— A mim bastaria tê-la ao meu lado, mesmo no infortúnio, pois o que é a
alegria e a honra sob uma ausência terrível?
Menelau— Basta de choradeiras! Ifigênia deve chegar em breve. Devemos avisar o
sacerdote para que prepare logo o local do sacrifício, diante de nossas tropas.
Menelau sai da tenda e Agamenon, prostrado pelo insucesso de sua tentativa, cai derreado ao leito.
Cai o pano.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Amanhã continuarei.