Quando tinha 13 anos, resolvi sair de casa. Estava exausta de tudo aquilo, eles gritavam a noite toda. O dia todo. O tempo todo. Eu não poderia suportar mais. Peguei uma sacola com algumas coisas e sai pela janela. Abandonei tudo. Deixei todos aqueles que me maltratavam, me esculachavam, simplismente joguei tudo para o alto. Mas o que eu não sabia, era que pararia aqui. Em um lugar completamente fora dos meus planos, fora da minha realidade comum.

Precisava de um pouco de ar puro, ar fresco, precisava espairecer a mente. Por sorte estava na hora de eu ir para o pátio. O agente penitenciário abriu a solitária e eu pude ver um pouco da luz das 15 horas. Sentei-me em um tronco e pude sentir o vento bater em meus cabelos, desarrumando-os mais ainda. O meu único problema, era o policial ao meu lado. Melhor dizendo, os POLICIAIS me segurando e não me deixando encostar em nada. Fiquei 1 ano sem entrar na solitária, mas alguns acontecimentos me levaram até lá de novo. Fiquei no pátio poucos minutos.

– Vamos vagabunda, levante-se! Sua diversão acabou.

Sim, eles se referiam a mim como queriam. E se eu cogitasse me defender, eles me machucavam. Me levantei e voltei para a escuridão. Pouco tempo depois, um general entrou e se aproximou de mim:

– Você tem visita. Se comporte.

Pela primeira vez em três anos, alguém havia se lembrado da minha existência. Mas quem seria ?

Andei até um sala fechada e de costas estava quem eu menos esperaria receber. Ele, o motivo pelo qual eu estava aonde eu estava.

–Demetria, eu pensei que nunca mais a veria.

Eu estava tentando acreditar que realmente aquilo que meus olhos enxergavam era verdade. O policial me soltou, me empurrou para dentro, saiu e trancou a porta da pequena e fresca salinha.

–Demetria, meu bem, eu senti sua falta.

Ele foi se aproximando e, com aquele olhar vunerável, foi me fazendo lembrar porque eu estava ali. Me fazendo lembrar de coisas que não precisavam ser lembradas. Não naquele momento.

–Eu senti sua falta, Demetria.

Eu não podia render, não podia ser a mesma fraca e tola de antes. Mas, pude perceber através de seu olhar, que ele pela primeira vez estava sendo sincero comigo.

Flashback [On]

–PARA O CARRO, EU QUERO SAIR !

–E desde quando você opina em algo aqui ?

–EU PRECISO DE ÁGUA. ESTOU COM SEDE, FOME. ESTOU COM FRIO !

–CALADA! Não quero ouvir mais um 'piu'. Eu vou ali naquela loja de conveniências e volto já. Ouse sair deste carro e você nunca mais verá a felicidade em sua vida!

E assim foi feito. Eu sai do bendito carro e estou aqui, sendo infeliz desde sempre. O idiota havia deixado as chaves dentro do carro. Não sei se isso foi algum tipo de armadilha, mas se foi, ele conseguiu o que pretendia. Peguei as chaves e sai do carro. Ele me viu de longe, deixou tudo que estava fazendo e saiu correndo para me impedir de fugir. Eu não estava suportando mais. Tentei correr, mas estava completamente fraca. Dois dias sem ao menos beber um copo de água, eu mal conseguia respirar. No que estava pensando ? Que irira conseguir correr ? E ele me pegou, ele conseguiu me alcançar. Não foi tão dificil.

–Então é assim, né ? Vai me desobedecer ? Escreve o que estou te falando, EU VOU ACABAR COM A SUA VIDA GAROTA!

Novamente, assim foi feito, ele cumpriu o que havia dito. Realmente acabou com a minha vida.

Flashback [Of]

–O que está esperando ? Vem, me dê um abraço.

Eu estava ouvindo direito ? Ele queria um abraço meu ? Como era capaz vir até aqui, de me procurar ?

–Não vai vir ? Não quer me fazer chorar, quer ?

E ele foi se aproximando mais e mais, até que me jogou contra a parede.

–Estou esperando meu abraço.

–Eu nunca vou te abraçar de novo, Robby !

O empurrei e sentei em uma única cadeira que estava em frente a uma mesa. Ele se sentou na mesa e passou a mão em meu rosto.

–Minha princesinha, trouxe algo para você.

–NÃO ENCOSTE EM MIM SEU MONSTRO !

–Que agressão Demetria, não foi assim que eu te criei.

Robby se achava meu pai, quer dizer, ele nunca seria isso. Pai não abusa de pessoas inocentes. Ele me encontrou na rua pouco tempo depois que sai de casa. Como meus pais não deram falta de mim, ele 'me pegou para criar'. Sendo que foi completamente ao contrário disso. Ele então jogou na mesa uma foto.

–Veja, lembra deste dia ? Achei esta foto hoje, pela manhã.

Eu estava cara a cara com o meu passado. O pedaço bom do meu passado. O pedaço que havia sumido completamente de minha mente, mas ao ver aquela foto, consegui voltar no tempo e relembrar de algumas pessoas que realmente se importaram comigo.

Flashback [On]

–Demi, volta aqui ! ~Risos altos e longos~

–Não Zayn, você não vai conseguir me pegar. 'LALALALA'

–Buuu! ~Risos~

–AAAH ! Como me achou ? ~Risos~

–Você não sabe se esconder!

–Crianças, pausa para a foto ! Digam 'X'

–XIIIIIIS !

Flashback [Of]

Não consegui me conter e as lágrimas começaram a escorrer pelos meus olhos.

–Viu como era bom ? Você não soube aproveitar ! Mas... estou disposto a te dar uma nova chance.

–Você vai me tirar daqui ?

–Claro, por que não ? Tenho dinheiro Demetria. Muito dinheiro. Posso fazer coisas que você não acreditaria que é possível...

–O que você fizer, eu acredito que é possível. Depois destes anos aqui cheguei a uma mera conclusão, de que não tenho dúvidas de sua capacidade de impressionar as pessoas.

Ele pegou em meu rosto e se aproximou.

–Lembra daquela noite ?