15th Hunger Games escrita por Primrosers


Capítulo 14
O Lago


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Com a minha mão direita carrego o arco, enquanto a mochila e a aljava de flechas estão presas em meus ombros. Grudada à minha mão esquerda está Melissa, com seus pequeninos dedos tremulos. Estamos andando há cerca de 15 minutos, em silêncio. Eu queria parar em algum lugar, abraça-la e tentar fazer com que tudo pareça bem, mas não posso. Temos que continuar andando, temos que achar o Alex. Só assim conseguirei pensar melhor, pois eu mesma preciso de consolo neste momento. A pergunta é: para qual direção ele foi? Melissa olha para mim, como se estivesse fazendo a mesma pergunta, mas tudo que eu digo é "vamos acha-lo''.

Olho para ela, uma criança tão inocente e pura. Assustada, com medo, tentando se agarrar a uma última esperança. Olhando para seus olhos, é como se eu estivesse olhando para os de Milly. Como elas podem ser assim tão parecidas? Sei que jamais terei coragem para ferir Melissa, mesmo que seja para proteger Alex. Machuca-la seria o mesmo que machucar minhas irmãs, e eu jamais faria isso. Minha família é o que mais importa para mim. Mas... Alex também faz parte da minha família, e não posso deixa-lo.

Respiro fundo, tentando se concentrar em meus passos, olhando para todos os lados em busca de algum sinal de perigo. Não há nada além do barulho de pássaros e de água caindo... - Água!– dou um grito baixo, tapando minha boca com uma das mãos. - Esse barulho... Há uma fonte perto daqui!

Melissa e eu começamos a tentar localizar de onde vem o barulho, e não demora nem 5 minutos e já temos mais uma pequena garrafa cheia da substância líquida, além de bebermos diversos goles com a ajuda de pequenas folhas. Voltamos a andar, com passos leves porém precisos. Onde ele está? repito para mim mesma, em meu pensamento. Conforme as horas vão passando, a noite se aproxima. Temo ter que passar a noite sozinha com Milly. Os tributos mais fortes sempre saem para caçar a noite...

Paramos diante de uma pequena clareira, escondida por arbustos e flores. Olho para Melissa e parece que ela já sabe no que estou pensando. – Vamos montar acampamento aqui. – digo.– A noite já está se aproximando, precisamos descansar um pouco.

Enquanto preparo nosso saco de dormir e divido uma pequena porção de biscoitos para nós duas, o canhão começa a desparar. Os corpos do banho de sangue já devem estar sendo recolhidos agora. Cinco desparos de canhão, igual a cinco mortos. De noite o rosto deles serão anunciados no céu, junto com a insignia da Capital. Mas a noite mal chegou ainda, outros rostos também podem estar iluminando o céu esta noite... Só espero não ser um deles.

Quando me viro, vejo que Milly está parada olhando atentamente para mim, com uma rosa vermelha recém colhida em sua mão esquerda. Dou um leve sorriso, lembrando de momentos com a minha família. Só então me lembro de que estamos na televisão agora, para toda Panem. Minhas irmãzinhas, minha mãe, a família de Alex e de Melissa... Todos estão assistindo. Faço um gesto para que ela se aproxime, e ajudo-a a entrar em seu saco de dormir. Ela é tão magra e pequena que consigo me acomodar junto com ela com muita facilidade. Abraçadas, já com a noite caindo sobre nós, há somente o barulho de nossa respiração. Aqui é um bom lugar para passar a noite, com os altos arbustos e flores para nos camuflar. Melissa ainda está segurando a rosa, olhando atentamente para suas pétalas.

– Eu costumava achar flores como essa na época de primavera. – digo. – Na campina, perto de casa. – Melissa sorri, olhando para mim como se estivesse pedindo para que eu continuasse. – Tenho duas irmãs, uma de cinco e outra de doze anos. Eu colhia flores para elas.

– Qual é o nome delas? – pergunta Melissa.

– A mais nova se chama Milly, e a mais velha Katie.– Lágrimas começam a escorrer de meus olhos, mas tento me manter forte. Não posso deixar que Melissa me veja chorar, ou minhas irmãs em casa. Tenho que conforta-las, não demonstrar que estou sofrendo.

– Milly. – Repete Melissa.– É parecido com o meu nome.

– Sim. – digo, meio que soluçando.– É como uma abreviatura para Melissa.

Melissa sorri.

– Elas têm sorte.

– Sorte? – digo.

– Sim, de ter uma irmã como você.

Um flashback surge na minha cabeça. Estou na praça de meu distrito, já no meio da multidão. Vejo de relance o rosto de minha irmã Katie, concentrada em um ponto distante. Vejo um papélzinho ser sorteado entre milhares, o nome de minha irmã sendo lido em voz alta. Sinto a dor que senti naquela hora, os segundos de agonia que se seguiram. Me vejo andando atrás dela, me oferecendo como tributo em seu lugar nos jogos... O que me trouxe aqui agora.

– Eu só... Sou capaz de fazer tudo por elas. – digo.

Não falamos mais nada. Apenas acaricio seu cabelo até ela pegar no sono. A noite vem, e os nomes e rostos surgem no céu com a insignia da Capital. A garota do distrito 5, que eu mesma matei; o garoto do distrito 7, a garota do 9, e ambos do 10. Olho para o lado e vejo que Melissa continua dormindo. É melhor assim.

Passo a noite meio que dormindo, meio que cochilando. A maioria das vezes tento me esforçar para ficar de olhos abertos, vigiando tudo a nossa volta. Pela manhã, o sol já está quase surgindo no céu quando decido acordar Melissa para continuarmos andando. Me certifico de que não há ninguém nos vigiando, enquanto tomamos longos goles da pequena garrafa de água e deixamos a de 1 litro para depois. Assim continuamos nosso caminho, dessa vez mudando a direção. Melissa parece tão tremula que não resisto em lhe dar um biscoito.

– Obrigada, Abbie. – diz ela.

Estamos quase chegando a uma outra parte da floresta, quando algo me chama a atenção. Em cima de uma árvore há alguém, tremendo com o frio da manhã. Escondo Melissa rapidamente atrás de um arbusto, e peço para que ela fique abaixada. Estou com uma flecha posicionada no arco, quando uma voz pede para que eu pare.

– Não... Não me mate agora, Abbie.

Eu reconheço essa voz. Mesmo estando rouca pela falta de água e pelo frio. Eu reconheceria essa voz em qualquer lugar.

– Alex!– largo o arco no chão, e começo a escalar a árvore. Melissa vem correndo em nossa direção e me ajuda a desce-lo.

– Bom dia, Abbie. - diz ele, do mesmo jeito que fazia quando estávamos na Capital.

Não resisto ao impulso de beija-lo.

– Essa eu não esperava.– diz Alex, e nós três rimos.

Sua boca está tão ceca que me lembro de que ele não pegou nenhuma mochila. Deve ter passado a tarde inteira caminhando ontem, até achar essa árvore e decidir parar. Pego a garrafa de água na mochila e dou para ele, junto com três biscoitos. Lá se vai o primeiro pacote, agora só resta um. Precisamos achar algum meio de conseguir comida.

– Estou melhor agora. – diz ele. – Obrigada.

O que você acha que devemos fazer?– pergunto, enquanto ajudo-o a se levantar. – Precisamos achar uma caverna, algo assim. Precisamos nos esconder.– diz ele.

– Devem ter cavernas perto do lago.– diz Melissa.

Alex e eu nos voltamos para ela.

– Como você sabe?– pergunta ele.

– Ontem, enquanto eu estava esperando pela Abbie, subi em uma árvore e consegui ver lá de cima. Há várias rochas perto do lago, que formam pequenas grutas, escondidas por arbustos e plantas.

– Mas os carreiristas foram para lá.– digo

– Eles não vão ficar lá por muito tempo.– diz ela. – Eles vão se apossar da cornucópia, e logo vão se adentrar na floresta e outros irão na direção da montanha para caçar.

– Ela está certa.– diz Alex. – Eles não vão ficar lá parados.

– Em quanto tempo você acha que conseguiremos chegar até o lago ? – pergunto.

– Acho que pela noite. O que vai ser bom, porque é o horário que eles costumam sair para caçar. – diz Alex.

Um barulho de canhão faz com que fiquemos em silêncio. Quem será que morreu agora? E, mais preciso, como? Não questionamos nada. Alex pega algumas folhas de menta enquanto eu e Melissa colhemos duas maçãs de uma árvore próxima. Colocamos tudo dentro da mochila e seguimos caminho em silêncio. Com a minha mão esquerda, agarro o medalhão com a rosa em meu pescoço. Isso me dá um pouco mais de coragem, faz com que eu me lembre o motivo pelo qual devo lutar. Caminhamos com passos silenciosos e precisos. Espero que pela noite já tenhamos alcaçado o lago, como Alex disse. E rezo para que nenhum dos nossos nomes apareçam no céu hoje a noite.



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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando. Deixem reviews :) xx



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